quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vida Nova?

Saí da mansão do mal e fui morar, primeiro, em Lewisham por uma semana, a semana em que ninguém pôde me dar um sofá para eu dormir e eu não quis de jeito nenhum pagar mais uma semana na casa de Soudemorte. Eu preferiria dormir debaixo da ponte, num desses túneis de entrada pro metrô á morar mais uma semana na casa desses seres do mal.  Estava disposta a pagar diárias em abergue por uma semana, já que ninguém poderia me estender a mão.
O novo Landlord, GG, tinha um quartinho que fez de cozinha para a mulher, Pureza (lembram do Apollo e Pureza do Chico Anysio? Rs), eu poderia ficar uma semana lá, pagando 50 libras a semana enquanto a menina não desocupava meu futuro quarto. Aceitei. Eu só tinha que arrumar minha cama à noite, todo dia, porque era um colchão de casal que eu colocava no chão e virava minha cama, mas pelo menos eu tinha tv com sky, geladeira só pra mim.
Foi uma semana leve, apesar de ser só um quarto improvisado. Fui dar minhas aulas, estava começando a dar aulas de português e falei isso para a Collorida quando fui à casa pagar as 20 libras, mas falei do tipo “estou bem, ganhando bem”, não ia dar o braço a torcer que não era bem assim. Fui a um feira de línguas, ver se achava um emprego de professora de português ou qualquer coisa, mas só ganhei foi um monte de papel e ainda paguei barato num dicionário da Oxford e num livro da gramática que todo mundo usa: Grammar in Use.
Lewisham era bem diferente da vida que levava em Richmond, já era um bairro, pelo menos perto da estação de New Cross Gate, mais pobre e também com muito comércio. Depois vim a conhecer o resto do bairro e tem casas muito boas, com familia com grana, principalmente na parte de Blackheath. Uma coisa legal é que era super perto de Greenwich e fui até lá. Conhecer o meridiano, o parque, lindo, e ver se ainda aconteciam as gravações de Piratas do Caribe 4, mas infelizmente não tive essa sorte. Foi bem na época que Johnny Depp foi na escola da menina vestido de Capitão Sparrow... só ela teve sorte rs
Comecei a conhecer meus novos landlords, pareciam gente boa, pelo menos me trataram bem, Pureza não saía da cozinha, o dia todo, todo dia fazendo salgados e docinhos, pois tinham anúncio e lugares certos para vender, além de encomendas de festas. GG alugava algumas casas e parece que fazia mais algum trabalho que eu não descobri qual.
Ela era bem mais nova que ele, mas parecia muito centrada no trabalho e no que ela queria: não queria voltar a morar no Brasil, Londres era a casa dela, não queria voltar para uma cidadezinha pequena perto de BH, onde GG a conheceu e a trouxe pra cá.
GG tinha morado nos States – ilegal, of course! – aqui acredito que tinha feito algum casamento com alguma inglesa ou qualquer outra coisa que deu uma cidadania para ele, parecia muito seguro morando aqui há dez anos e me disse que tinha pedido um visto para os States, que o sonho dele era voltar para lá, conseguiu e não foi ainda e acha que está bem em Londres. Conseguir visto pros States só porque você mora em Londres não me parece assim tão simples, se não for papo também.
Na casa que fiquei por uma semana também moravam brasileiros, havia uma moça que morava sozinha, e duas famílias. Sim, famílias. Um casal de goianos que tinham chegado na mesma época que eu e as duas filhas pequenas e outro casal de uma mineira casada com um português e o filho que era o terror, e deveria ter no máximo quatro anos.
Até esse momento não sabia dessa coisa da má fama dos goianos e nem que eles existiam aos milhares pela Europa, talvez por isso não se ouça falar deles no Brasil...
Achei estranho alguém sair da sua cidade com duas meninas pequenas e  tentar uma vida nova em Londres, sem trabalho certo, o pior foi quando a mineira me disse que estavam ilegais. Fiquei chocada: como alguém sai da sua cidade com duas meninas pequenas para viver ilegalmente em outro país e viver o resto da vida ou escondido ou passar pela humilhação de ter suas filhas pequenas escoltadas de volta para o Brasil com eles, pela imigração?
Não entra na minha cabeça fazer esse tipo de coisa, é se arriscar demais! Mas é comum, enfiar crianças em quartinhos sem condições, dormindo com os pais e no meio de um monte de gente sem um lugar para se chamar de lar. É comum aqui, mas se o que seria uma espécie de conselho tutelar descobrir, mesmo que você esteja legal, é motivo para multar os pais, ou até processá-los porque isso não é condição para criança. E eles protegem muito as crianças aqui, cada criança tem que ter seu próprio quarto, sua individualidade logo cedo e eles cuidam disso. Talvez por isso sejam tão individualistas para o resto da vida.
O certo é que as casas são enormes,  você não dá nada pela  fachada da casa, quando entra, se espanta, são andares e mais andares e bem espaçosas e, claro, cheias de quartos.
Voltando às famílias, a mineira trabalhava na National Gallery, limpando de madrugada – das 6 às 10 -, até me indicou para a mulher de lá, que nunca me deu retorno. E ela falou pra mim:
Você está legalmente aqui? Porque a outra lá não está e lá eles não aceitam, então eu não posso arrumar emprego para ela.
Eu respondi que sim, que estou legal, tenho documento europeu legítimo.
E foi assim que soube da condição da outra família e de  tantas outras famílias malucas que estão por aqui, porque eu acho maluquice você sair sem perspectiva para um outro país carregando seus filhos.
O filho dessa mineira era uma peste, ela poderia se gabar de estar legalmente, casou com um português..., mas que o filho era terrível, era. Ele subia até na mesa da cozinha,  tentava subir numa mesa acima dessa para apertar os botões da tv que ficava nesse cômodo. Pureza era obrigada a sempre trancar a porta da sua cozinha “industrial” (mais meu quarto) enquanto estava lá por conta do menino que mexia em tudo (um dia quis pular a janela – segundo andar – e mãe lá, fazendo a comida dela na outra cozinha livre e feliz do moleque dos infernos). Aí essa mineira veio me dizer que a filha que mora no Brasil, com uns 11 anos de idade, está rebelde que não acha justo que o filho do novo casamento dela esteja em Londres e ela lá no interiorzão e ela achava absurdo a filha estar assim brava com ela. Eu não acho, eu me sentiria igual se fosse a menina, mas na cabeça dela a menina está errada e com frescura. Claro, ela teria também que viver assim, dividindo quarto com padrasto e com o irmão dos infernos. Parece maldade minha falar assim do menino, mas ele realmente era uma peste que não deixava nada no lugar e ainda xingava a mãe de bitch. E ela dizia:
Ah, ele aprendeu isso na outra casa...
Sim, aprendeu na outra casa, com outras pessoas e isso não tem nada a ver com o fato de eu ter visto ela no celular com o marido e falar “p*rra, tô te ligando faz tempo, por que não me atende, caralh*?
Com certeza, isso não faz diferença nenhuma, nem o fato de ela não falar absolutamente nada para o menino enquanto ele apronta.
Finalmente o sábado chegou e lá fui eu para Dalston, para um quarto só pra mim, com tv com sky e frigobar. Parecia que as coisas mudariam para a melhor, pareciam.

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