quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A BuRRocracia Inglesa e o Jeitinho Brasileiro

Depois das simpáticas patadas de Soudemorte, comecei a sair de casa todos os dias, todos os dias eu inventava o que fazer: distribuir cv, comprar algo, ver emprego etc.
Alguns empregos era só preciso ligar, mas eu já estava traumatizada com o telefone, não pela questão do Soudemorte, mas porque uma atendente não me entendeu e pediu pra que eu chamasse alguém pra falar com ela... uma atendente do insurance number. Só tinha o Soudemorte para fazer isso, eu NUNCA pediria um favor para ele e não pedi, pedi para a Ad e disse que Soudemorte foi rude comigo e não iria pedir para ele, pedi para que ela não contasse à Collorida, mas do jeito que aquelas duas falam mais que a boca, nunca vi duas pessoas se juntarem pra falar e nem pararem pra respirar, duvido que Collorida hoje não saiba, só não sabe o que aconteceu exatamente porque não contei para Ad.
Para se trabalhar aqui e fazer tudo, você precisa de um número, de um documento que se chama “nacional insurance number”, para tirar o negócio é simples: você precisa apresentar uma carta, uma conta, para confirmar o seu endereço. Se não for uma conta sua, não vale. Eu tinha acabado de chegar e não tinha conta nenhuma em meu nome... bem, então, abra uma conta de banco aqui para mandarem correspondência pra você: o banco só abre conta pra vc de cartão de débito pra tirar dinheiro no caixa eletrônico, nada de compras; nada de compras, nada de dívidas, nada de contas a pagar que vai até o seu endereço... e minha conta no banco de 4 letras que tem no mundo todo? Só posso transformar minha conta numa conta inglesa depois de um ano aqui... e então vou mudar meu celular de pré-pago para pós-pago, terei uma conta pra pagar e provar meu endereço! Pós-pago só pode com cartão de crédito de conta inglesa...
E estou esperando, até o momento que escrevo esse post, um caridoso empregador que me empregue e tire o insurance pra mim... pelo empregador seria a outra maneira...
Para se ir ao médico também, há os postos de saúde daqui que se chamam GP e o INSS é o NHS.
Estava com uma alergia que não aguentava mais, com certeza tinha sido ainda em Portugal, tinha sido mordida por algum bicho e não aguentava de coceira nas pernas e braços há dias... Resolvi ir no GP, eles fariam meu cadastro e poderia começar a usar o posto de saúde. Ledo engano: quanto tempo você vive aqui: 3 semanas. Ah, então não pode... você precisa ter 6 meses pra ter um cadastro/ficha aqui, mas pode ir ao hospital que atende a região pra ser medicada...
Foi o que eu fiz, fui até ao hospital e a médica me pergunta porque eu tinha ido a um hospital por conta de uma alergia simples e eu disse o que a mulher do GP me falou... ela ficou quieta, pegou a pomada, marcou quantas vezes eu deveria usar e sai com a pomada – de graça – do hospital.
Mais uma: ia fazer um curso de inglês perto da estação de Richmond, todo mundo falando que os cursos são bons e não são caros por ser uma escola do governo e tem desconto pra união europeia. Vou lá.
Chego, faço prova de nível, passo por uma outra professora para escolher horário de acordo com o nível que tenho e vou fazer a matrícula...
Há quanto tempo você mora aqui?
Há algumas semanas.
Algumas semanas e antes você não morava em Portugal, morava no Brasil? (por conta do passaporte português)
Sim, morava no Brasil.
Então, sinto muito, você terá que pagar o preço normal porque você precisa estar há 3 anos num país da comunidade europeia pra ter direito ao desconto....
Eu entendia mal o que a menina dizia e tentei falar mais com ela, ela correu e chamou outra mulher pra falar comigo... se descontrolou total porque, eu acho, já estava o dia todo fazendo matrículas de estrangeiros que não a entendiam direito... deve ser desgastante, eu sei, mas ela saiu da poltrona dela e chamou a outra moça, bem mais simpática, que falava devagar e com calma do que ela, saiu da cadeira como se eu a tivesse ofendido, sei lá... saiu na maior braveira... eu não tenho culpa se o trabalho dela é esse: atendente numa escola de idiomas em Londres... e olha que a moça deveria ser descente de indus e tal... alguém da família dela também já deve ter passado o mesmo que eu ...
A burrocracia, sim, buRRocracia aqui chega à enésima potência... Tudo o que você ganha e está no banco é sabido pelo “tax” se aparece uma dinheiro a mais, eles vão querer saber de onde saiu aquele dinheiro... se você não está enganando o governo...
Todo mundo que tem outro emprego aqui, informal tipo manicure, pede pra se pagar em dinheiro, pra não ir para a conta da pessoa. Os brasileiros sempre sabem dar seu jeitinho...
Tanto jeitinho que tem ilegais aqui que tem insurance number, falso, claro, mas tem! Tem insurance number, visto falso, passaporte português ou italiano falsos para estarem “elegíveis” para trabalhar aqui, conta pra compravar endereço que também é falsa. Aqui, você pagando consegue tudo! E me ofereceram! Mas como eu não sou ilegal, ando na lei e me ferrando com a burrocracia, crente que uma hora ela venha a sorrir pra mim... espero!
Porque, eu acredito, que quem está ilegal é como um assassino: não fica só em um, tem que matar os outros que descobrem o que ele fez... cada vez a coisa complica e aumenta mais o seu trabalho pra parecer na lei...
Três meses em Londres e finalmente consegui abrir uma conta no banco de 4 letrinhas! Eu não sei o que acontece... cada agência que você vai a pessoa tem que ir com sua cara, talvez... tenho um cartão de débito, acho que vou poder com ele transformar em pós-pago meu celular, porque pré-pago aqui é um absurdo! Você põe 10 libras e acaba em menos de uma semana! Um horror! E o pós-pago tem promoções do tipo “pague 35 por mês e ganha 2 mil minutos...”
Num banco muito famoso aqui, quase consegui abrir uma conta porque tem duas atendentes brasileiras, mas também precisava da tal conta com meu nome. O que brasileiros me disseram para fazer: pedir para alguém colocar uma conta de gás, água etc no meu nome por um mês para a conta vir no meu nome... brasileiros e seus jeitinhos.
Resisti até o último momento e deu certo, não precisei de conta com meu nome, só disse que estava trabalhando e tinha um cheque pra depositar (o que era verdade) e a menina não viu o cheque, não comprovou meu endereço, só pediu uma conta do Brasil, do mesmo banco, mostrei e ela abriu com meu passaporte português (original). No banco famoso aqui – um Brad... daqui, o Barcl... – elas queriam uma conta comprovando meu endereço no Brasil também, mas só poderia ser conta de telefone FIXO (celular não vale aff!), água, luz e estrato bancário, nada de fatura de cartão...
Estava já ficando de saco cheio, liguei pro meu irmão e desabafei: esse bando de idiotas pedem um monte de coisa, só dificultam a vida de quem está certinho por culpa desses fdps ilegais e que ainda se dão bem porque usam tudo falso e ninguém se toca!
Estava revoltada... como podem ser tão idiotas... não saber que alguém pode mudar por um mês a pessoa que vai pagar a conta ou qualquer outra coisa assim... (Collorida deveria saber disso, mas nunca se ofereceu, sempre pôs dificuldades) ou outro caso que fiquei sabendo aqui.
Celulares tem um seguro irrisório, todo mundo aqui, ou 80% da população londrina (seja inglês, ilegal, legal, adolescente) tem ou blackberry ou iphone. Você paga quando compra esse valor mínimo e quando diz “fui roubada, perdi meu celular” eles te dão um novinho em folha, não questionam, não pedem B.O. simplesmente você angaria blackberries ou iphones pra família toda... Isso é o mais engraçado, enquanto em algumas coisas eles desconfiam demais, em outras “abrem as pernas” (odeio esse tipo de termo, mas é a verdade). Depois, quando descobrirem (ohhhhh!) o que o povo faz, farão nova lei, nova burrocracia, que eu duvido parará o jeitinho brasileiro!
Como o outro dia uma menina me falou:
Só preciso de 100 libras para meu insurance number e a identidade de imigrante legal, sai em 2 dias
E eu, tonta:
Ah, você conseguiu tirar tudo?
Ela, sussurando: É falso!!
Ainda não tenho um insurance number, mas acho que agora as coisas ficarão mais fáceis com a conta aberta... foi um sufoco, foi angustiante esse tempo, mas acho que agora vai... e graças a Deus não preciso me sujar para nada aqui, estou limpa, sou legal, sou honesta e sou brasileira, mas não compactuo com erros, safadezas, sujeiras dos meus conterrâneos.
Parece que estou sendo má com os brasileiros ilegais, né? Mas se eu contar o que fazem aqui, vão me entender, num próximo post.

domingo, 14 de novembro de 2010

Um mês, dois meses, três meses em Londres!

Quando fiz um mês aqui estava totalmente deprimida. A única coisa que pensava era:  o que eu vim fazer nesse lugar, Deus?
Sem emprego, sem perspectivas de tirar o tal insurance (um documento pra trabalho aqui que conto em outro post), querendo mudar de casa logo e não sabendo onde fazer um curso de inglês bom e barato... comecei a me deprimir...
Eu tinha um pc, mas... a net sumia da casa onde morava... Disseram que roubaram os cabos de cobre... a telefônica resolvia isso no máximo em 3 dias... estava sem net há mais de duas semanas... não conversava como nos primeiros dias de pc: no skype com meu tio, no msn com amigas, primas e tia, me exibindo na webcam... mandando emails pra meu irmão... nada... estava sozinha... me sentindo cada vez mais sozinha... sufocada numa casa onde não era bem vinda, apenas meu dinheiro.
Tinha acabado de perder um emprego que achei que era meu, mas não botava mesmo fé...  outro post...
A única coisa que conseguia pensar era em ir embora! Mas pensava: e o resto da Europa, quando eu volto pra conhecer? Tem que ser agora, Menina!
Consegui conversar com alguns amigos em lan houses da vida, telefonei pro meu irmão... coisa que não parei de fazer desde a primeira patada de Soudemorte e todos me deram força pra ficar e esperar porque era cedo e algo bom ainda iria acontecer, eu estava no começo...
Tinha vontade de ligar pra minha mãe e falar pra ela: mãe, cansei da brincadeira! Quero voltar pra casa! E eu sabia que ela iria dizer sim pra mim...
O pior de tudo é estar sozinho, se você vem com amigos, tem amigos próximos aqui, vem com parentes, namorado etc  a situação é outra, você tem alguém pra compartilhar as coisas. Agora, quando você está numa casa em que parecia que estava de favor, dada a cara de c* de todos os dias de Soudemorte para mim quando me dizia Morning... e os outros da casa mal se importam com você, não parecem fazer grande esforço para serem seus amigos, só dá pra deprimir...
Essa fase passou, percebi que tinha muito pouco tempo aqui e estava me cobrando demais, mas a ansiedade mesmo assim é grande.
Encontrei uma casa espírita aqui, vi 3 anúncios na www.leros.co.uk e na palestra a mulher diz que temos que nos perguntar o que queremos realmente de nossas vidas. O que eu queria realmente vindo pra Londres? Por que estava/ estou aqui? Comecei a me perguntar, a tentar descobrir, o que, afinal, eu tinha vindo fazer aqui... porque eu me sentia como na música do U2 I still havent found what I looking for.... se me sentia perdida no Brasil e agora aqui, o problema estava dentro de mim... e como resolver era uma grande interrogação... que precisei de vários dias procurando a resposta dentro de mim... eu acho que encontrei, mas não tenho certeza.
Quando fiz dois meses aqui, estava saindo da casa de Soudemorte, estava desesperada procurando outro lugar para morar e não achava nada que fosse barato e num bom lugar. Eu me acostumei mal morando num bairro sossegado, numa casa de família bem cuidada... Comecei minha busca na Leros, a revista brasileira aqui, e com as poucas pessoas que conheciam e poderiam me indicar. Casas longíquas, gente mal educada (essa merece um post, só da procura), casas sujas, gente que não me dava nunca a resposta se teria um quarto pra mim, porque eu queria um quarto pra mim, não queria dividir com ninguém.
Quando encontrei um lugar bom, com tv , frigobar e internet, fiquei felicíssima, era mais cara que na casa do Soudemorte, mas Soudemorte Family  até me falaram que se eu quisesse ficar, poderia, mas pagando mais. Imagina!!!! pagar mais pra morar com Soudemorte e sem internet, tv dos outros que ligam e desligam, mudam de canal na sua cara? Nem pensar! Eles pensavam que eu era uma grande idiota que não entendi a história da internet, bloqueada pra mim.
Acertei o quarto novo, finalmente, só que a menina que morava no quarto e ia sair não pode sair naquela semana combinada, o outro lugar pra onde ela ia morar a pessoa também não saiu, entrei num efeito dominó e fiquei mais uma semana insuportável na casa de Soudemorte e companhia dos infernos.
Como entrei num domingo na casa, poderia sair na segunda se quisesse e mais um problema se fez, a menina não pode sair na outra semana também e eu não tinha pra onde ir, o meu prazo pagando 70 libras pra família soudemorte tinha acabado...
Fiquei desesperada... pensei em ficar uma semana num albergue, mesmo pagando a diária de 25 libras, mas não ia pedir uma semana pra Soudemorte, entrei em desespero, ninguém que eu conhecia poderia me ajudar... ninguém!! E olha que houve pessoas que me disseram que eu poderia contar com elas sempre... não nesse momento! (outro post)
 Aí o dono da casa onde iria morar me ofereceu um quartinho que ele e a mulher usavam como uma extensão da cozinha para os salgados e bolos que vendem. Fui conhecer o lugar, em Lewisham, sul de Londres, perto de Greenwich, era um lugar só pra uma semana, teria que armar minha cama, um colchão de casal, todos os dias e ficaria com tudo sem desmanchar, só pegaria o que fosse mais importante pra usar nessa uma semana, ele me cobraria menos que no Soudemorte, era temporário. Aceitei.
No sábado, quando ia mudar, o dono da casa me entendeu mal sobre a mudança, que ele também faria, e não poderia me buscar no sábado, pediu pra eu falar com Soudemorte se eu poderia fazer a mudança no domingo de manhã (era um direito meu, como já disse). Muito a contragosto fui falar com o Mal em pessoa...  E a resposta foi:
Tem muita gente por aí pra fazer mundança, chama outro, pega um táxi. Sinto muito, mas dê um jeito, seu prazo acabou.
Fiquei desanimada... liguei para o cara e ele deu jeito, atrasou as entregas dele pra me buscar no fim do mundo.
Depois de um sábado cheio de trânsito, levamos mais de uma hora pra chegar na minha casa temporária...
Paguei pelo novo aluguel, pusemos minhas coisas no novo quarto, ele foi embora e a única coisa que consegui fazer foi chorar compulsivamente e me perguntar por que eu tinha feito aquela escolha de ir pra tão longe, longe das pessoas que me amam...
Liguei pra casa, comecei a falar com meu pai e no final comecei a chorar, tentei disfarçar e desliguei, no outro dia ele falou comigo e perguntou o que estava acontecendo, por que eu estava chorando e disse que era saudade. Ele me disse que ele sabia bem o que era aquilo, ele também tinha vindo pro Brasil com quase 18 anos, deixado os pais, mas morava com os irmãos, mesmo assim, ele só pensava em voltar, em ir embora e chorava e um dos meus tios disse pra ele, parar e pensar que era o melhor pra ele. Não esperava isso do meu pai, foi incrível.
Mas foram dias de muito choro e tristeza...
Hoje completo 3 meses aqui, já estou no quarto definitivo, meu cantinho, arrumadinho do meu jeito, organizado, limpinho. Com internet, tv, frigobar e liberdade pra cozinhar na cozinha
Ainda sinto muitas saudades do Brasil, ainda mais que daqui 12 dias será o casamento do meu irmão e eu não estarei lá, meu único irmão que amo tanto. E fico muito chateada com isso. Sinto falta do meu gato e do meu cachorro, não consigo falar com eles quando ligo pra casa rs Sinto falta da minha mãe, do meu pai, de todos. Mas não sinto nenhuma falta do meu emprego, do bairro onde morava, da casa onde morava, sinto só falta das pessoas.
 Acho que estou me acostumando a morar sozinha e estou gostando muito, é díficil não ter com quem conversar, mas é bom ter sua privacidade, seu canto sem ninguém pra se meter na sua vida. Estou me acostumando a Londres e gosto daqui, apesar de aproveitar pouco a cidade porque não posso gastar muito, mas sei que tenho uma passagem de volta comprada, devo mudar a data dela pro outono daqui e aproveitarei o verão da Europa pra ver shows aqui em Londres e conhecer outros países.
Finalmente acho que coloquei metas: ter um certificado alto de Cambridge, muita experiência dando aulas de português para estrangeiros e conhecer tudo que eu tiver vontade de conhecer na Europa e até fora dela.
Voltar pro Brasil está nas minhas metas, voltar e ver se me “reacostumo” a tudo e tentar melhorar minha condição profissional. Quem sabe ainda ter um filho? Acho que talvez dê tempo rs

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Camela

Como eu ia dizendo anteriormente, para não ficar em casa em vou a todos os lugares, mesmo que só por telefone eu resolvesse, tudo pra não ficar com Soudemorte.
A primeira camelagem (ou camelajem? Rs) foi um anúncio que vi para ser cleaner, salário: 12 libras a hora! Uma maravilha! Tentava entrar no site deles e nada, não funcionava, não quis ligar porque é uma encrenca se não me entenderem...
Resolvi ir até o local, a estação de metrô mais próxima era de Old Street e de trem a de Hoxton. Preferi o metrô e fui procurar a tal rua...
A sinalização de informação em Londres é bem feita, ou pelo menos em 90% dos casos. Sempre os pontos de ônibus mostram um mapinha do local, onde você está, as linhas que passam naquele ponto – que é por letras – nos outros pontos,  uma lista de ônibus que passam nos locais mais próximos dali etc...
Mas no começo eu não conseguia me guiar muito bem pelas ruas... pra que lado seguir... hoje estou até melhor, mas eu tenho problema de sentido de direção, não adianta rs
Não achava a tal rua que deveria ir... e andava pra um lado, andava pra outro, voltava pro lugar inicial, queria um bus que passasse na estação de trem de Hoxton que aí eu ficaria mais perto... nada... andei por muito tempo, mais de uma hora, por vários lugares até acertar o esquema das letras dos ônibus e começar a caminhar na direção correta... e depois de muito andar, pensei, agora devo estar perto... claro que não... andei mais ainda e comecei a entender outras coisas, a questão do nome das ruas e das “courts”... As courts são prédios residenciais e também, alguns têm outro nome... acho que assemble, não lembro agora... o endereço que eu procurava era dentro de uma dessas courts. O que acontecia nesse bairro era que em cada court existia um prédio diferente, com outro nome, então, depois de achar a rua principal, achei a court e dentro dela teria que achar a rua do prédio que estava procurando... simples, não? NÃO!
Achei o lugar... quando dei por mim... me senti na cohab josé bonifácio... sim, parecia estar diante de uma grande cohab! Vários prédios iguais pelas ruas, mesma estrutura... um  do lado do outro, muitos prédios... e achei aquele que procurava.
Aí ficava ligando no interfone pra falar com a pessoa... nada... mas alguém abriu o portão e eu entrei... não gostei de lá... era sujo e o elevador cheirava a urina... queria ir embora correndo dali, mas fui até o sexto ou quinto e último andar do prédio. Chamei, chamei e nada... e até preferi... comecei a achar muito estranho tudo aquilo e fui embora correndo.
Dessa vez peguei um ônibus até o metrô...
A segunda grande camelagem que fiz por aqui foi para o show do Fran Healy, eu quis ir ao local antes do show, um dia antes, só que o nome da rua era Uxbridge, só que eu não sabia que existia sei lá quantas uxbridge por Londres e, claro, fui na errada...
O mapa que estava no site que vendia ingressos me deu a Uxbridge perto da estação de Uxbridge, extremo norte de Londres, praticamente no Acre.
Fui até lá de metrô... umas 2 horas de metrô até chegar lá e... não acho a rua no mapa da estação... o guarda do metrô me diz que eu teria que pegar um ônibus ali na estação. Tudo bem, mesmo vendo um prédio da Herbalife enorme em frente ao ponto do ônibus, pego o bus... eu vou............... vou..........................................vou.........................Chega uma parte que me sinto no Brás dado o comércio nas ruas de roupas e tecidos, deveria ser um bairro mulçumano pelas túnicas e lenços de cabelo que vendiam, andei muito mesmo de ônibus, devo ter visto uma parte de Londres que poucos conhecem, quer dizer, uma boa parte de Londres, porque eu andei muito nesse ônibus...
Acho, depois de uma hora ou mais de bus a tal Uxbridge, desço e vou procurar o número... estava muito longe... era pra eu estar no 300 e alguma coisa e estava no 85, tudo bem... vou andar um pouco... e ando... ando... até o número 200 e qualquer coisa e... cadê o resto??? Já era outra rua!!! Voltei uma parte que tinha feito de ônibus e vi num ponto que Uxbridge tinha a Brodway Street no meio e depois voltava a ser Uxbridge, ok! Vamos até a outra parte... e lá eu ando mais um pouco, voltando todo o caminho que tinha feito de ônibus e não entendendo porque a porr@ do ônibus não me informou como sempre faz onde estava e que eu já tinha passado pela Uxbridge!!
Nos ônibus, há uma espécie de navegador de bordo, como é o nome mesmo daquilo? GPS! Isso! Uma voz de mulher fala as ruas que passa e o ponto, nem sempre funciona, como nesse caso... Então, fiquei esperando a voz da mulher – a mesma em todos os ônibus, essa teve trabalho! – falar Uxbrigde e nada!!!
Ia voltando e achei de novo a outra Uxbridge, outra porque ela começava de novo do número 1. Quis morrer de ódio!!! E lá vou eu andar mais um pouco e não acho mesmo o número que seria o local do show do Fran. Perguntei pras pessoas, ninguém sabia onde era aquele lugar... Depois de uma  tarde e começo da noite andando pelo fim do mundo, pego um bus que volta, de novo, todo esse caminho que fiz a pé pra ver se entendendo o que fiz de errado. Pego um bus que vai até a estação de Earling Brodway, perto da Uxbridge onde desci...
Em Earling, procuro uma internet, eu precisava tirar aquela dúvida... como iria no show do Fran??? Achei uma e pesquisei pelo nome do local do show... era uma terceira Uxbridge em Shepperds Bush Market... muito mais perto de onde eu morava e perto do centro...

(Lá em cima Uxbridge, a estação, caminho até Earling Brodway, marquei onde seria o show do Fran e em vermelho onde morava)

Não acreditei que tinha feito todo aquele caminho em vão... E agora anoto o código postal de todas as ruas que tenho que ir pra não acontecer de novo isso... mas ainda bem que fui um dia antes procurar o lugar... imagina se fosse no dia do show? Teria perdido o Fran!!!!!!!

domingo, 7 de novembro de 2010

Desmitificando Londres

Vou sair da ordem dos fatos e contar minha segunda-feira passada por aqui... esse vai ser um post de muitos, com certeza, que tiram a áurea mítica de Londres  rs

Segunda-feira, primeiro de novembro de 2010 foi um dia bizarro para mim...
Fui toda feliz a um local ligado ao Consulado Brasileiro e ao Imaraty (é a mesma coisa? Rs) porque recebi um papel com vagas de empregos e eles estavam intermediando esses empregos. No papel que recebi dizia que era para estar lá pessoalmente. Chego lá e me dizem que era por e-mail o recrutamento...
Mesmo assim uma mulher me atende, brasileira, ela fica com o meu cv e pergunta qual a vaga que desejo, quando digo que é para arrumaderia, ela faz cara de quem acha estranho e fala pra mim “mas você tem pós-graduação!” e eu “tenho, mas estou aqui estudando inglês, meu inglês não é bom o suficiente para outro cargo e preciso de um emprego”. Parecia que o que eu disse tinha entrado por um ouvido e saísse pelo outro da mulher... e olha que conversamos em português...
E ela me diz: bem, tem a vaga de auxiliar administrativo, você tem inglês fluente?
Disse que não, não tenho mesmo... aqui eu descobri que meu inglês falado não é nem intermediário...
Ah, mas então, tudo bem, mas precisamos de copeiras, arrumadeiras com experiência.
Minha vontade era virar pra ela falar: tá, eu sei limpar minha casa, não serve?  O que tem de tão complicado em levar um café para alguém? Tem uma arte para isso?
Deixei meu cv, mas ela pediu para mandar via e-mail novamente e quem sabe não apareceriam outras vagas que tivessem mais o meu perfil...
Sai de lá frustrada, pensando que é assim que a pátria amada ajuda seus filhos... fiquei  muito irritada com essa coisa de experiência... se é pra alguém experiente, então são pessoas que já se viram bem por aqui e não alguém que acabou de chegar e está perdida... Eu pensei que o Itamaraty servisse pra isso... e não pra mais um bando de brasileiros indicados fazerem poucocaso de você, porque brasileiro só faz pouco caso de brasileiro...  (e essa é outra história)
Tinha que ir ao dentista dali, até aí tudo tranquilo... Só que precisaria almoçar antes e a consulta era só as 3:30 da tarde.
Estava perto na Picadilly e resolvi ver algum lugar para comer próximo à Picadilly Circus...  achei um restaurante japonês, como tudo por aqui, muito mais take away do que comer nas mesas. Achei uma mesa, sentei, comi um yakisoba de frango porque eu não aguento mais comer lanche nessa cidade, só de olhar para um panini já sinto náuseas...
Sai, andei, tirei fotos e resolvi comprar uns postais na Cool Britannia, uma das maiores lojas de lembranças londrinas e quando chego no caixa... cadê minha bolsinha de moeda?
Revirei a mochila toda e nada... antes de chegar ali na Cool Britannia, fui guardar um catálogo da Boots (uma farmácia e perfumaria que tem em cada esquina daqui) e vi um dos bolsos da mochila aberto. Como sou distraída, já pensei “Regina, sempre deixando tudo de qualquer jeito” e aí entendi...  eu não tinha deixado aberto, no meio daquele monte de gente andando pela Picadilly eu fui furtada! Como o lugar onde fui comer era essa porcaria mais de take away do que comer ali, como já disse, mal tinha mesas pra sentar, e eu pra correr pra pegar um lugar de um cara que ia sair  (só tinha 3 mesinhas pequenas e a fila de gente pedindo comida só crescendo) e joguei todo o dinheiro na bolsinha de moedas, ou seja, 25 libras mais as moedas que já estavam ali. A pessoa que me roubou deve ter feito um bom proveito, não é toda hora que você pega uma bolsinha de moedas de uma mochila com um pouco mais de 25£ e o dinheiro que já anda escasso pra mim, ficou um pouco mais com essa “perda”.
Fui pra dentista desarvorada... aquele dinheiro ia me fazer falta, voltei no restaurante para ver se tinha esquecido por lá e nada... eu não tinha deixado o bolso aberto, alguém abriu e pegou e foi muito rápido...
Fui à dentista e minha sorte que o que eu tinha pra pagar para ela estava separado na carteira, pelo menos não roubaram a carteira com cartões, 50£ e meus documentos.
Liguei para a minha aluna de português que aula seria às 7:30 na casa dela, como a menina já tinha me dado o cano, queria confirmar e ela disse que não poderia, que EU não entendi que ela queria a aula às 4 da tarde. E eu disse a ela que tinha enviado um torpedo  no domingo perguntando se aula da segunda ou da quarta ela queria às 4 porque em ambos os casos eu não poderia.
Bem, pelo menos não fui até a casa dela, como na semana anterior, já estava chegando na estação da casa dela quando ela me avisou que não poderia porque estava ainda no trabalho...
Voltando para casa peguei o metrô até uma estação para troca pelo overground, um outro trem, entre trem e metrô, que passa perto de onde moro...
Durante o percurso, depois da demora do trem e ir em pé, vagão cheio, mas não abarrotado de gente, dois caras falando numa língua entre o russo e alguma língua eslava, conversavam alto e pareciam bêbados... atrapalhavam as pessoas que iam descer e não se importavam, ainda riam. Um outro cara perto deles, com certeza indiano pelos traços, se meteu na história:
Man, speak in English, you’re in Great Britain! Stop to disturbe!
Russos ou sei lá o quê: Fuck you, man! You indian, you dirty!
E começou uma discussão, o indiano ligou para a polícia ou para a CCTV (empresa que está em todos os cantos xeretando sua vida pelas câmeras) e disse que estava sendo ameaçado dentro do trem. Chegamos na próxima estação, Finchley Road & Frognal, uma moça tentava descer esses caras a atrapalharam, o indiano continuou falando com eles para deixarem a moça passar e pararem de atrapalhar... na hora que a porta do trem ia fechar (eles estavam do lado da porta), um dos russos atirou o indiano fora. Todo mundo se assustou... não vi o que aconteceu, pois eu estava do outro lado, na outra porta, mas pelo que percebi os dois espancaram o indiano e sairam correndo... todo mundo transtornado no trem, assustados. Apertam o botão de emergência e mesmo apertando umas três vezes e maquinista ia sair com o trem e o povo segurando a porta e cuidando do indiano. Chegou o pessoal da estação, os russos voltaram pra brigar, não sei se não conseguiram sair porque o indiano avisou como estavam vestidos os caras e pelos walkie talkies avisaram, só sei que os caras voltaram, na frente dos guardas do trem e de todo mundo e continuaram a xingar o indiano e querer bater nele... uma mulher pediu encarecidamente para o indiano entrar no vagão, ele disse pra desculparem-no por assustálos e a mulher estamos assustados, mas é mais por causa do que eles podem fazer a você, por favor, entre no vagão”.
Não entendi muito bem o que se passava, mas ficamos parados por mais de meia hora na estação até que as coisas se resolvessem, o indiano queria seguir com a gente e tiveram que fazê-lo entender que ele teria que ir com os guardas e os caras para fazer algum registro, outras pessoas foram junto como testemunhas, inclusive essa mulher e todo mundo ali atônito esperando terminar aquilo... com medo, cansados, fatigados...
Até cheguei a pensar em gritar “Chama a imigração aí, gente!” rs aquele vagão, ia esvaziar rapidinho e eu ia apanhar também rs
O indiano ficou com o rosto machucado, principalmente no nariz.
Fomos embora e, como o trem atrasou, o trem foi abarrotando durante as demais estações e eu pensando que dia do caralh*, no mau sentido, claro...
E também pensei, poxa, nem tem muito palavrão em inglês rs os russos só falavam fuck pra cá, fuck pra lá... que coisa sem graça rs
Cheguei em casa podre, liguei pra minha mãe e não contei nada do meu lindo dia, apenas disse que estava tudo bem... quem ia imaginar que seria furtada em Londres e ainda presenciaria uma senhora briga no trem?