terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Marciana... e quem foi que disse que as mulheres são de Vênus?

Marciana é o exemplo perfeito do imigrante que o único objetivo é juntar, pensar, falar e se obcecar por dinheiro.
Ela está há quase 7 anos em Londres, chegou com um filho de 9 anos que, quando fez 15 (ano passado) não quis mais ficar, mas vocês entenderão o porquê...

Como boa parte dos imigrantes sem formação alguma no Brasil, ela também mente ou manda a família mentir no Brasil sobre seu trabalho: faxineira "horista", como já expliquei que diarista aqui não existe. No Brasil, a mãe diz para todo mundo que a filha é babá de uma família bem sucedida espanhola e que a filha fala o inglês e o espanhol na casa. E não que ela fala o português da maioria: pra MIM comprar, pra MIM ganhar... e assim por diante além do famoso bordão que ela sempre usava: "o tempo não passa, Avoa em Londres".
Avoa é a mulher do avon, né? Pois é...
Não que tudo isso fosse problema se ela fosse uma pessoa humilde. Se você é humilde, diz que estudou pouco e tenta aprender o correto, eu sempre lhe verei como uma pessoa boa e esforçada, mas quando você mente e ainda por cima quer dar aula de "ingrêis", portunhol e português pra mim, perdeu! perdeu!
Além de querer da aula de lição de moral ou qualquer outra coisa sem ter o mínimo de, digamos, jeito pra coisa, por favor: não se meta no meu caminho porque eu não aturo!

Uma das palavras mais famosas no meu twitter é: puMbi.
Quem ainda não sabe, Marciana queria dizer pub.
Como ela nunca se mostrou uma pessoa que quer aprender o correto, deixamos que falasse errado, ela se achava superior, então... pumbi é pumbi!
Ou pãmbi, na sua pronúncia que daria inveja à duquesa de Cambridge. A qual marciana diria: QUEM???

Sim, quase 7 anos no Reino Unido não fizeram com que ela soubesse algo do lugar onde estava, como muitos dos brasileiros ilegais (e acho que legais também) que lá vivem (sim, já estou no Brasil, primeira postagem aqui).

Marciana é o tipo de pessoa que confia em quem não deveria e desconfia de quem não merece desconfiança...
Por exemplo, em seus 6 anos dividindo casa com brasileiros, ela acreditava mesmo que alguns dos seus "convivas" eram ricos no Brasil - e, pelo menos, 3 contaram essa história da Carochinha pra ela - diziam ser fazendeiros em... adivinhem...
E uma dessas tantas vezes eu perguntei:
Como assim se ele é filho de fazendeiros vem trabalhar como cleaner em Londres? Não era pra vir pra estudar e morar sozinho?
E ela:
Você não está entendendo! Ele quer ser independente da família! Fazer as coisas dele! Fazer a vida dele! Está batalhando!

Sei... acredito... e... não saber falar inglês, né? A família má nunca pagou um curso pro coitado que vivia rodeado por ectares e ectares de terra e cabeças de gado... devia até estudar na escola da fazenda, nunca foi até a capital... que judiação!

Ela acreditava em coisas imbecis como essa... e realmente, ouvi outros brasileiros contarem essa asneira de serem ricos no Brasil e trabalharem na faxina etc em Londres... mas... era eu só fazer a minha cara de "como eu acredito em você, tá escrito trouxa na minha testa?" que paravam, mudavam de assunto ou tentavam dar como verdadeira essa história pra outro...
Comigo, só mostrando a escritura da fazenda, que ainda assim desconfiaria se era verdadeira...
Bem, a pessoa pode ser rica e querer fazer sua própria vida, claro, mas se você fica ilegal em Londres, por favor, né? E se teve tanto dinheiro a seu favor, nunca aprendeu nem a falar sua língua direito?
Me engana que eu gosto! Já diria Marciana!

Ela ficava a noite toda brigando com os filhos no Brasil.
Ela e a Bruxa e ainda ouvi uma mulher no ônibus também fazendo isso: se eu estou pagando tudo e me matando aqui, vocês têm que fazer o que mando aí no Brasil! (acho que é melhor fazer uma postagem só sobre isso...)

Minha outra roommate, a quase do bem (claro que isso vai ter postagem rs) tentava ser legal com ela na maior parte das vezes, ela como uma pessoa extrovertida, tentava animar Marciana para fazer outras coisas que não apenas juntar dinheiro pros filhos gastarem no Brasil.
(Marciana acredita piamente que ainda vai comprar uma casa BOA e MOBILIADA DO JEITO QUE ELA QUER e ainda ter um carro BOM na garagem no Brasil, depois de 6 anos em Londres e mal conseguir comprar um apartamento num local que foi um lugar de brigas entre polícia e ex-moradores que lá tinham se assentado - na zona leste de Sampa - ela tentou comprar e não deu certo, então... )

Bem, a roommate tentava animá-la a sair com a gente nos finais de semana.
Marciana sempre cuidava do que fazíamos, sempre dava um jeito pra "jogar o verde" pra descobrir, como se não soubéssemos que ela estava se mordendo de curiosidade pra saber onde estávamos, mas muitas vezes nem adiantava dizer, ela simplesmente não sabia onde ficava a maior parte das coisas em Londres, só conhecia  "ócsfórrrdí" porque era lá a agência de remessa de dinheiro pro Brasil e alguns outros pontos que ela era obrigada a passar de busão pra ir até a Oxford St.
(as filhas devem ter passado o Natal com ela e no telefone ela falava pra filha: o que vocês vão fazer no Natal aqui? ué? eu vou fazer um almoço e a gente vai ficar aqui em casa, não tem NADA pra fazer em Londres - né verdade?)
Ela também cuidava se chegássemos mais tarde que o horário costumeiro de semana e, se ela pudesse, cuidaria até do que fazíamos quando ela não estava presente.

Numa dessas "animações" da roommate, que adorava mostrar as roupas etc que comprava nas lojas em liquidação depois do boxing day, Marciana também se animava e comprava coisas que via na casa das patroas.
Ela comprou uma dessas bandejas de plástico (tipo loja de um real) com a Union jack flag (QUÊ???? HÃ??? diria Marciana) e falava toda feliz:
Vocês não acham o máximo, super chique levar pro Brasil pra receber as pessoas na minha casa?

A Roommate sempre dizia "fan-tás-ti-co" (era a palavra preferida dela), ela queria encorajar Marciana, deixá-la alegre, eu no começo também queria porque sabia que ela sofria por estar longe dos filhos, mas quando você começa a conhecer melhor as pessoas você entende porque os filhos devem preferir ficar longe...
Achei brega, claro e uma coisa que na 25 você vai achar, não precisa trazer de Londres, foi feito na China mesmo!

Daí, numa dessas compras, Marciana comprou um livro absolutamente interessantíssimo e muito bem feito sobre a Segunda Guerra, capa dura, páginas com fotografias e documentos de época. Ela tinha visto um igual na casa de uma das patroas e comprou, falou que era muito "fã" da Segunda Guerra que sempre pesquisava sobre o assunto e tudo mais.
E então eu olho pra capa e digo:
Churchill!!!
E ela: HÃ????
Churchill! O Primeiro Ministro na Segunda Guerra!
E ela continuou com cara de paisagem... parecia que eu acabei de falar em grego com ela... quer dizer, em inglês.

Marciana queria ser igual suas patroas ou melhor - mania de toda brasileira em Londres ou no Brasil... e que deveria mudar, cada um ser o que é e não ser igual ao outro ou melhor -  então, comprou o livro porque deveria ser chique tê-lo e não porque, talvez, alguém da família dessa patroa presenciou a Guerra... imagina! Não pode ser História da família da patroa, é minha também! Meu pai foi amigo do Churchill... quem?

Com essa história de Marciana ser "fã" da Segunda Guerra e morávamos super perto do Museu da Guerra, a Roommate sempre falava de irmos, mas com a Marciana junto. Ficava na minha, estava me adaptando à casa e tentando fazer amigos.

E fomos! Depois de inúmeras vezes que Marciana não pode, conseguimos.
O Museu, para quem gosta de História é maravilhoso! Eu adorei!
Mas só eu levei a câmera para tirar fotos...
Daí Marciana queria MANDAR nas fotos que eu tirava, falando pra tirar foto daqui e dali, porque depois ela ia querer as fotos pra pôr no orkut...
Já cheguei de saco cheio, já tive que virar fotógrafa dos outros na entrada, onde tem até um pedaço do muro de Berlim, mas marciana queria tirar foto do jardim e os canhões do jeito dela (depois quando viu a foto que tirei e pus de capa do álbum ficou: é, você tirou uma boa foto, né?)
Você querer tirar fotos suas é uma coisa, outra coisa e encher o saco falando onde e como quer as fotos e ainda queria que EU fizesse pose pra ela tirar fotos minhas tipo... na frente de canhões... adoro!
E naquele momento da minha vida, eu estava passando por uma crise brava de depressão... amigos chegados devem lembrar de como fiquei, afinal, não dormi à noite e dividir quarto num moquifo não era nenhum pouco fácil.
Daí ela queria que eu fizesse pose pra fotos e eu falava: ESTOU GORDA! e ela ficava falando que eu não tinha que ficar deprimida que isso, que aquilo, pra eu me animar...
Really? No Museu da Guerra na frente de um canhão?

Bem, resumindo, visitar o Museu foi uma bosta com elas. A Roommate já tinha visitado com umas amigas e ficou dando uma de guia chata de turismo que controla sua visita, sabe?
Ah, essa galeria é chata! Só tem quadros! Vamos pra outro lugar.
Que ódio!
Eu estava em menor número e tentando ser legal, mas quando vou num lugar como esse e GRATUITO eu quero ver tudo!
E, claro, galerias têm quadros...
E a cada sala que passávamos, as duas entendiam muito pouco e eu toda animada só dizia "ah, isso é aquele acontecimento tal, igual no filme tal" e as DUAS com cara de paisagem e eu:
Vocês nunca viram a Lista de Schindler? Resgate do Soldado Ryan? O Pianista? Arquitetura da Destruição (é, esse eu forcei ahahaha) etc; não sabem quem é Anne Frank?

Quase virei pra elas e disse: por que vocês não morrem e me deixam curtir esse momento de cultura em paz? Se vocês dizem saber bastante da Segunda Guerra não precisam de mim...

Em um dos momentos altos da visita, Marciana vira para a Roommate e diz: nossa, essas crianças morreram de anemia! (vendo uma das fotos de uma das salas de exposição)
E a Roommate ri a plenos pulmões fingindo ser de outra coisa que ela lembrou e eu de saco cheio, já não prestava mais atenção nas placas etc
deixei passar...
Ela foi me contar em casa que estava escrito "enemy" (inimigo, Marciana, é inimigo em inglês!) e Marciana achava que era anemia...
Perdi a piada bem na hora que aconteceu!

Em um dos locais, havia como era a vida nos anos antecedentes à Guerra, uma casa montada no estilo inglês da época e tudo mais, além de uma estrada de tijolos amarelos e uma tv na parede passando cenas de O Mágico de Oz, 1939. E Marciana simplesmente NUNCA tinha ouvido falar do filme...

Foi aí que eu fiquei ainda mais indignada...
Como alguém que nasceu em 1962 (gente! ela nasceu numa época de mudanças!) nunca na vida tinha ouvido falar em Mágico de Oz e nunca visto nem a propaganda da exibição dele na Globo??? Como????

Daí eu tirei a conclusão: ela não é desse planeta!
Ela é de Marte!

E daí surgiu o apelido...

Não se preocupem, logo vocês saberão ainda mais dessa figura... como no episódio, do show dos Manic Street Preachers, em Brixton, que ela falou: mas você vai naquele bairro de PRETO?

Detalhe, Marciana é afro-descendente.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Vida de Gado, Vida de Cleaner - parte 2 (terça-feira e sexta)

Como andei contando sobre os donos das casas, terça-feira era pior dia, era o dia da casa da "Feiona" ou porcona mesmo... o nome dela é o mesmo da esposa do Shrek, daí feiona...

Bem, começávamos por ela... era uma casa longe... longe... longe... todas as casas de Marciana são longe... na região de Lewisham, sul de Londres, e do outro lado da rua ficava a casa da amiga dela que também era cliente de Marciana, iriamos pra lá depois... e mais história...

Mas Feiona tinha dois filhos e uma casa como as tradicionais inglesas e não lembro se já falei aqui sobre isso: por fora, você não dá nada, por dentro, ela expande para o fundo e para cima... são enormes!

A Feiona deixava a casa simplesmente emporcalhada... eu não cheguei a conhecer uma pessoa mais imunda que ela, mas várias que chegaram beeem perto, porque inglesa não liga muito pra manter a casa limpa, acha que é só se faxinada algumas horas na semana por uma cleaner...

O primeiro dia que cheguei, já assustei com a cozinha: ela também deixa a louça naquela bacia nojenta, só que a bacia nojenta dela é mais do que nojenta! Toda a louça estava lá no meio da gordura e restos de comida.
Marciana não sabia ligar a máquina de lavar louça (já estou dando uma pista do porquê do apelido dela...) e não me avisou que havia uma e lavei aquela nojeira na mão, claro, jogando beeem longe aquela bacia imunda. E Marciana reclamando comigo porque tem um jeito próprio de se lavar louça na bacia, que é uma combinação com as torneiras fria e quente e eu pouco ligando pro puxassaquismo dela. Combinação de água quente com fria? Jeito certo de lavar? Economizar água?
O caralho pra aquela porquice!

Imagine: o fogão estava todo cheio de porridge, o mingau de café da manhã dos ingleses, cheio de leite grudado com aveia e... Feiona é tão boa dona de casa que para fazer tudo mais rápido, pelo rastro que deixou no chão, tirava correndo do fogão imundo e jogava na mesa de jantar para que comessem, também tinha restos do café da manhã pela mesa e chão, claro!
Todos os cereais das crianças e suas canequinhas etc.

A cozinha, como deu pra perceber era imunda. E Marciana ficava mandando eu limpar melhor a cozinha. Juro que quando vi aquela cozinha desanimei e fiquei pensando que dar uma enganada naquela casa seria o melhor, mas Marciana ia lá e falava pra eu deixar brilhando o vidro do fogão... era pra tirar uma meleca danada! E imagina que Marciana fazia isso toda a semana!
Quer dizer, só uma vez na semana o fogão era limpo.

A sala era enorme, dividida em sala e sala pras crianças brincarem, ou seja: muita bagunça. Era fácil achar pedaços de doces no meio dos sofás.
O banheiro não era tão imundo, afinal, ainda bem! Era janeiro e eles não tomam banho! Mas... a mulher deixava cabelo por todo o lado...acho que ela precisava de um tratamento pra queda de cabelo porque era um inferno de cabelo pra todo canto!
Eu não tinha muito saco mesmo pra limpar aquela imundice toda e tentava dar um jeitinho, mas Marciana pra mostrar serviço (pra mim, claro) ia lá e mostrava como limpar bem. Então que limpasse, a minha mão estava bem, a dela que não estava e numa casa daquelas, não se merecia muita coisa.
O quarto das crianças também não eram tão problemáticos, mas o problema é sempre o carpete... aspirar os malditos carpetes...

Mas não é só isso!
Como diriam aquelas propagandas...
Tinha o quarto da figura pra limpar e eu já disse, elas querem que se faça até a cama, como se fôssemos camareiras de hotel.
Bem, cama desarrumada já era de se esperar, né? mas roupas todas jogada pelo chão?
As inglesas tem uma péssima mania de largar todas as roupas pelo chão ao invés de guardarem no armário ou pôr numa cadeira... fica tudo jogado... não jogado porque ela e o marido tiveram muito o que fazer durante à noite, jogado porque largam a roupa pra qualquer canto, bangunçado mesmo. No quarto que ela tinha pras roupas, com armários, era igual!
Só que ainda há o pior!
Entre os cantos que sobram entre o colchão e a cama havia vários papéis higiênicos dobrados... não tiramos... nem a Marciana dessa vez pôs a mão... e ficaram lá por quatro semanas, porque o casal Shrek não tirou (ogros...), daí, na última semana resolvemos fazer algo: aspirador neles! rs
Só poríamos a mão com luva, mas até assim ficamos com nojo!

Nas outras semanas, dona Marciana me falou da existência da máquina de lavar louça e eu joguei tudo lá, toda aquela melequice e não via a hora de passarem os dias pra não ir mais naquela casa e ao mesmo tempo pensava que precisava daquele dinheiro...

Ah! tinha que se passar a roupa também! E a feiona queria que passasse até a toalha de banho... mulherzinha dos infernos, a casa uma imundice e cada vez inventava uma coisa: pra limpar rodapé, limpar sei lá o quê... como se em quatro horas (quando eu ia era em 2 horas, duas horas pra cada) desse pra limpar a imundice que ela acumulava a semana toda e ainda queria mais coisas!
Só com um "spring cleaning" a casa ficaria decente.
Spring Cleaning é isso mesmo: a limpeza da primavera, porque no inverno (e em todo o resto do ano rs) a sujeira fica lá se acumulando até que um belo dia de "primavera" a dona da casa pensa: oh! essa casa precisa de uma limpeza pesada!

Marciana me pagava 7 libras a hora para ajudá-la. Nessa casa, na da segunda-feira e da próxima, elas eram amigas e pagavam igual: £8,50 a hora. Em algumas casas ela ganhava 12, em outras 10.

Dessa casa, íamos pra amiga da Feiona que tinha um casal de filhos, casa mais bem arrumada, tinham acabado de reformar e para me alegrar a vida colocaram nos quatro andares carpete creme... ah! como eu amava ir naquela casa e passar aspirador cômodo por cômodo, escada por escada... e sempre os malditos carpetes felpudinhos pegavam e não largavam os fiapos de roupa... ah, que lindo que era ver aquele monte de bolinha de roupa naquela merda creme...
E o aspirador que pesava uns 10 kilos... ah, que vontade de jogá-lo pelos 4 andares abaixo... ou na cabeça de quem comprou aquela merda que mal aspirava, só pesava.
A menina, de graça, tinha uma beliche no quarto, só pra ela e eu pensava: vc tem uma beliche porque é divertido quando é criança, né? Vai dormir na minha!

Eu ficava olhando... a mãe levava a menina pra escola e o menino, muito pequeno, pra passear no parque, aí ela voltava, mas como ela era uma mãe estranha... ou todas as inglesas têm essa estranhice maternal?
Ela não fazia almoço, comia um lanchinho como todo inglês e fazia o mesmo com o menino de uns 2 anos que amava Toy Story e tinha os bonecos. Um menino fofo!!
Um dia, ela voltava pra casa com o menino dormindo no carrinho e empurrava, empurrava o carrinho pra entrar e não entrava, tive que ir lá falar e mostrar pra ela: o pézinho do menino ia se enfiando cada vez mais debaixo do carrinho, dobrando por conta da pressão que ela fazia pra empurrar e o tapete de entrada.
O menino não chegou a chorar, mas eu a vi como uma louca que não reparou um só momento e que nem ficou preocupda quando mostrei, só tirou o pé do bebê... e ficou lá... mandando mensagens sem parar no celular, como sempre a via fazer.

Marciana, como boa puxa-saco, achando que a dona da casa se importava com ela, começou a falar que estava com saudade do filho que tinha ido pro Brasil (história pra outro post) e também comentou da enchente no Rio de Janeiro que aconteceu naquele mês de janeiro.
Falava no inglês dela: see the flódi in Rio de Janeiro? My son is in Brazil.
A mulher só olhou pra ela e disse: não sei disso não. E continou com a vida atarefada de mandadora de mensagens por IPhone.

Dessa casa, tínhamos uma terceira, ainda mais longe e que pra voltar tínnhamos que pegar o trem até London Bridge se estivéssemos com pressa.
Era a casa de um espanhol e como bom latino, a casa de um homem solteiro era mais limpa que qualquer casa de uma inglesa casada.
Aí sim fazíamos o que a faxineira faz no Brasil: limpa o que não dá pra limpar no dia a dia com a correria. Era uma casa tranquila, sem grandes problemas por ser muito limpa e organizada.

Mas Marciana acabou dando um grande fora e a máscara de boa mãe, religiosa, temente a Deus, fiel aos bons costumes e honesta começou a cair...
Ela, dias depois, acabou comentando que o espanhol era tão gente boa que como não a dispensou do trabalho por conta de ela estar com a mão operada resolveu pagar além da hora para ela, para a ajudante (ou seja, eu!). Ela sem perceber me contou que era pra eu estar ganhando mais, não só 7 por 1 hora e meia nessa casa... mas acho que 10 por 3 horas! 10,50 para 30 libras é uma boa diferença no bolso meu e, claro, de Marciana...

Quarta e quinta-feira as donas das casas, algumas a dispensaram e até pagaram pra ela ficar em casa, outras não queriam ajudante e só fui numa das casas de quinta, de, como diria a própria Marciana: a casa do gay. Nunca o conheci, mas era uma casa também tranquila e longe, essa era preciso pegar o metrô e era em outro sentido, noroeste de Londres, perto de Wembley.
Só tinha muitas camisas sociais para passar e aí aprendi a passar (ou a enganar) essas horripilantes roupas...
Ela o chamava assim porque fazia a casa do companheiro dele, então, ela sabia bem a vida dos patrões...
Ela não fala inglês, entende pouco, mas acredito que muita das coisas que tenha percebido sobre a vida deles, foi porque anotou e mostrou pro filho, não só esse casal, mas das outras famílias.
O filho mandava e respondia as mensagens do celular para ela. Como já disse, outra história.

E sexta tinha mais! Tinha uma casa também tranquila que era de 15 em 15 dias que se tinha que passar roupa e uma de uma professora quase para se aposentar que Marciana, finíssima, chamava de "a casa da sapatona".
A dona da casa era simpática e até deu uma garrafa de vinho para Marciana e outra pra mim, pelo Ano Novo que se iniciava - o vinho da minha mala, sabem já a história toda dele... - ela conversava bastante e saia para podermos limpar a casa tranquilamente.
Eu não vou esquecer de um dia, arrumando a cama de um dos quartos da casa, que era uma espécie de duas camas juntas formando uma cama de casal com um aparato tipo aqueles de deixar a cama mais alta igual em macas e a mulher de Marte disse: sei lá que cama maluca é essa, deve ser pra imundices de sapatona!
Não sei que tipo de cama era aquela, me parecia pra algum tipo de problema de coluna ou algo assim, mas Martian (rs) como uma pessoa sem preconceito, já tinha julgado e condenado a professora.

Salvem a professorinha!

Havia outra casa na sexta, mas era a mesma de uma mulher da quarta que a dispensou.
E assim minhas semanas de janeiro se passaram, mas antes que janeiro terminasse, tive que conciliar esse trabalho com um durante os finais da tarde, limpando escritórios, nooooooooooo

Império do Fado!
(próxima parada)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vida de gado, vida de cleaner - parte 1 - casas da segunda-feira

Comecei o ano de 2011 sem alunos de português.
A médica monstra sumiu - e eu não queria mais dar aulas mesmo pra ela -, o espanhol deve ter pedido outra professora para a agência, se continuou com as aulas; e o jornalista casado com um brasileiro disse que estava trabalhando muito e não ia continuar.
Sou muito perfeccionista e me cobro demais e acredito que por meu inglês ruim, minhas aulas de português não sairam bem, não só por isso já que os outros dois sabiam bem já o português, mas porque eu não conseguia me concentrar para preparar aulas boas... também porque era minha primeira experiência nessa área e estava mesmo perdida...
Eu não faria aulas comigo de novo naquele momento, sou sincera, precisaria ter melhorado muito e espero que se voltar a dar aulas no Brasil, eu esteja melhor preparada.
Primeiro, eu terei minha casa pra preparar aulas, ambiente com todos os materiais que preciso, principalmente um boa mesa grande pra espalhar as coisas, como gosto de fazer.

A questão é que ainda consegui uma aluna que morava na região de Greenwich (aprendam com os ingreis: "grênich"), mas não pude dar aulas pra ela porque ela só queria na parte do começo da noite e exatamente quando arrumei um emprego de cleaner de escritórios nesse horário...
Só que antes do escritório, mais conhecido como o Império do Fado (logo vocês conhecerão Darthvedrina e seu celular com toque musical do Robie Williams), vou contar a penúria anterior, ser cleaner de casa em Londres, ou diarista que aqui deveria se chamar "horista".

A horista é como o nome diz, trabalha por hora, não há faxineira diarista nas casas daqui. Como tudo gira em torno de se pagar a hora, a diarista não seria diferente e muitas casas pagam por 4 horas num dia ou essas mesmas 4 horas divididas em 2 dias e assim por diante... tudo depende da patroa e da "criná" para organizar os horários.

Como eu acho que contei um pouco aqui na postagem resumão de quando conheci a Marciana e suas amigas cleaners que passavam a perna nos patrões. Agora vou contar como é realmente todo o esquema delas.

Precisava de dinheiro e Marciana teve que operar perto do Natal uma das mãos, a outra também já era operada. Tudo isso graças ao esforço repetitivo de limpar até quatro ou cinco casas por dia na correria. Ela precisava de uma ajudante e me pagava 7 libras a hora, fui, precisava pagar o aluguel.

As casas da segunda-feira era a primeira de um homem, acho que polonês que morava só morava ele e seu rotweiller que veio pra cima de mim. O dono não o amarrava, o cão era bonzinho...
Pegamos uns 4 ônibus pra chegar lá.. era quase na cidade de Kent... sul de Londres.
A casa era um casarão, mas a parte toda de cima ele alugava os quartos. Nosso trabalho era só a casa dele que não tinha heating (em janeiro freezing...) e nas sala de jantar e na de estar não tinha luz também... tudo no escuro, sem aquecimento e os tapetes e carpetes imundos de tanto pelo de cachorro!
Fora os brinquedos do cachorro todos espalhados pela casa, brinquedos não, tinha um monte de garrafa de Lucozade (um refri meio redbull). Calma! São de plástico, mas os pedaços ficavam por toda a casa... fora os pedaços de bola e etc que a pequena criança destruia...
O nome do bichinho?
Jack e eu pus sobrenome, claro: Bauer rs

Tinha que ligar o aspirador na cozinha, imunda (que Marciana diz ter sido ainda mais imunda quando ela chegou e tirou um cascão do chão) e tentar ver se o fio alcançava toda a sala. Até ia... mas no escuro, no inverno, difícil limpar...
Mas como tudo é por hora, Marciana falava pra eu correr porque o tempo era pouco pra limpar aquela casa de cachorro...
Ela foi limpar o quarto do dono que estava inundado de pelo, inclusive na cama porque o cachorro dormia com o seu amigo dono. A casa fedia cachorro...
Tudo era velho e mal cuidado - meses depois o cara resolveu derrubar e começou a fazer a casa tudo de novo - ainda as escadas era preciso passar aspirador... correndo!
Tudo era com carpete... todos os corredores... e aja tomada pra achar ou extensão pra o aspirador...

Marciana é um tipo que tem preconceito de tudo, mas o dinheiro sempre é bem vindo. Ela desconfiava que o dono da casa, por dormi de dia, deveria trabalhar em boate, ela achava que ele deveria ser cafetão. Então, ela falava mal dele e das pessoas nas fotos da casa, tipo, achando que todas as mulheres nas fotos (tirando uma que era óbvio ser a mãe do cara) eram prostitutas.
Estava eu passando aspirador na escada e ele passou.
Daí Marciana veio falar pra mim:

Ele é assim, mas é respeitador! Os homens daqui são respeitadores, fiquei reparando quando ele desceu as escadas e ele não olhou pra trás pra olhar sua bunda!

Que simpático, né? Ela queria dizer: ele é cafetão, mas respeita as que não são suas empregadas à noite!
Achei imbecil o comentário... e mais ainda ela ficar reparando...
Corri como uma louca pra limpar toda aquele carpete... não estava acostumada com o hoover... e eles aqui são pesados e toda casa quer que você use...

Saimos dessa casa e pegamos mais alguns buses para a casa da "porquinha" porque Marciana disse que ouviu o marido da mulher a chamar assim... mas se Marciana não sabia quase nada de inglês... não sei como entendeu... acho que deve ter sido alguma vez que ela levou o filho e ele estava nas escolas daqui, já sabia entendia tudo em inglês. (ele terá sua história contada)

O caso é que era sim uma porca, mas perto da amiga dela (casa da terça-feira) ela era a limpeza em pessoa!
Os ingleses têm uma mania nojenta de usar uma bacia na pia pra lavar a louça, aí fica aquela água já suja pra lavar outras louças... coisas do tempos da guerra... mas é totalmente contraditório porque eu nunca vi tanta gente disperdiçando na vida e depois querem economizar água pra lavar louça... porquice total!
Aí eu joguei toda aquela água nojenta, cheia de gordura e resto de comida fora e fui lavar a louça!
Sim! Eles deixam TUDO pra cleaner limpar! Mesmo que ela só seja paga pra trabalhar por 2 horas...
Daí a correira: só tenho duas horas pra limpar tudo!
E o que dá?
Naquela velha história deeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!

Só pra inglês ver!!!!!

Sim, o que seria uma faxina, é só uma enganação porque não dá pra vc limpar uma casa inteira em 2, 3 horas, mesmo em quatro se deixam até camas pra fazer e jogar lixo fora... além da louça e da roupa pra pôr pra lavar, secar e, o pior, passar!

Lavei a louça, limpei a pia... e aí fui pro maldito hoover...
Como Marciana estava com a mão machucada é claro que eu teria que "hoovar" a casa...

O mais engraçado dessa casa é que ficava na única rua sem asfalto que vi em Londres... até pus foto dela no meu facebook...
Hoje não acho essa casa tão suja... vi piores...

Também tive que passar roupas... foi aí que aprendi a passar camisa social, coisa que nunca tinha feito na vida e Marciana me ensinou com aquela cara: essas moças de hoje em dia não sabem fazer nada!
Melhor não saber, assim se se vive com um cara que usa camisa social fala pra ele ir na tinturaria rs
Mas aprendi... naquelas porque eu não tenho saco pra passar roupa... mas dá pra enganar bem... acho rs

A casa era até bonita, cheia de fotos de lugares exóticos que o casal já tinha visitado e o pai da dona da casa, pela foto, deveria ser uma figuraça, tinha foto dele e da esposa quando eram jovens, nos anos de 1960, ele parecia um dos caras dos Animals... é muito interessante entrar em casas realmente inglesas pra ver a história vivida dentro delas...

E claro que eu não poderia terminar essa postagem sem uma linda observação de Marciana quando me mostrou a foto de casamento do casal: ele de camisa rosa e ela:
Só aqui que homem usa camisa rosa e no casamento e ninguém fala nada!

Já perceberam a figuraça, né?

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A Bruxa do Centro-Oeste (antes fosse só do leste...)

Bem, eu sei que todo mundo esta curioso pra conhecer a Bruxa do Centro-Oeste, entao vamos logo a ela!

Quando fui morar na Cobah de Elefante Castro (eu comentei na postagem anterior que a primeira vez que ouvi dessa forma o nome do bairro, Elephant & Castle, foi justamente falado pela iNgnorante que morou do lado da Abbey Road?). Sim, o Elefante tem sobrenome e é Castro, aquele castelinho nas costas dele nao quer dizer absolutamente nada! Ou vai ver acham que "castro" que dizer "castelo" em inglês... esse povo ilegal inteligente que mora aqui tem cada uma...

Voltando a nossa amiga: quando fui morar lá sabia que ia dividir o quarto com duas e sabia também que uma delas trabalhava nas famosas vans e que acordava beeem cedo (4:30) para trabalhar...
Tudo bem, eu sabia que teria que chegar no quarto de mansinho para não acordá-la pq ela ia dormir às 9 da noite...
Entendi tudo, para pagar menos aluguel e poder ainda sobreviver em "Landan"...
O problema e que ela ia dormir cedo, mas não ia realmente dormir: ficava no escuro pra dizer que ia dormir pra ninguém encher o saco no quarto, enquanto ela ligava pro Brasil e queria tomar conta das filhas que largou la há 6 ou 7 anos... (largou, sim! depois eu conto isso)

E acordava às 4 porque era uma GRANDISSIMA FILHA DA PUTA! Sim! Porque ela acordava às 4:30 e ficava ate quase 6 se arrumando e fazendo barulho...

Primeiro: a vaca, ops, bruxa tomava café DENTRO do quarto. Ela esquentava na cozinha, mas ficava comendo e parecia que eu estava com um novo rato roendo algo do meu lado, e toda hora fazendo barulho com a caneca de café... daí, ela esquentava a marmitinha de pães e levava pra embrulhar NO QUARTO.
No comeco eu pensei que ela embrulhava com sacola de supermercado, era esse o barulho infernal toda madrugada, depois eu e a outra roomate percebemos que era papel alumínio...
Ela escondia boa parte das coisas dela no "guarda-roupa"... então, tudo ficava lá enfurnado e de manhãzinha ela pegava o pão que esquentou e embrulhava correndo, fazendo mais barulho, pra sair, pq já tinha tomando banho, já tinha se enchido de creme pra pele de escama de cobra, já tinha passado protetor solar (pq ela nao vivia sem, devia ser vampira do mal também) e estava ficando atrasada!!!!

Fiquei várias vezes sem dormir, muitas vezes não consegui dormir de novo...
Como estava trabalhando com a Marciana limpando casas (e conto em breve) um dia eu caí de sono no ônibus e contei pra ela que não dormia mais depois que a Bruxa acordava.
(o celular tocava no vibrador que fazia falta pra ela... )
Daí Marciana disse que falaria com ela, o que não adiantou nada, porque a Bruxa simplesmente disse:
EU NÃO POSSO FAZER NADA!
Claro que ela não poderia, coitada! Tomar café na cozinha não era possível, assim como embrulhar pães pra João e Maria teria que ser no quarto...

Os pães. Como todo brasileiro morto de fome que vem pra essas bandas, ela tinha que economizar pra mandar dinheiro pro Brasil pros filhos usarem roupa e acessórios de marcas caras e falarem: minha mãe mora na Europa e manda pra mim e eu gasto todo dinheiro que a trouxa se mata pra ganhar!

Então, aí, como ela precisa economizar pras filhas, ela fazia os pães no final de semana, assava e colocava no freezer pra semana.
Ela é toda chata: sexta era dia de lavar roupa, azar o seu se deixou sua roupa no varalzinho do quarto, eu arranco tudo porque MEU dia é sexta! (mas nada é combinado)
Sábado ou domingo era dia de fechar a cozinha pra ela: fazia os pãesinhos, pães de queijo, bolo etc pra levar de marmita pra semana na van. E esqueça se você tem que fazer comida, a cozinha era dela!

Ela é assim: ela era a dona da casa.
Marciana, era um idiota, talvez porque tinha medo de falar e perder o dinheiro do aluguel, não se metia. E todo mundo só ficava muito puto...

Imagine você lavar sua roupa na quarta, só que com o heating desligado maior parte do tempo, sua roupa não seca. Daí você chega e sua roupa está numa cadeira, lá jogada e os trapos da bruxa no varal, mesmo sobrando espaço lá, sua roupa foi jogada de lado, porque era dia da bruxa lavar a roupa... Aí você fala com a Marciana e ela diz: mas é assim, mesmo, se o outro precisa pôr a roupa, vai tirar a do outro que está seca.
E eu dizendo que está molhada e ela só olhando tipo: ah, estava? mas não muito, você tem que se acostumar porque é assim mesmo!

Assim mesmo a PQP!!

As pessoas têm que ter respeito, ter um rodízio de dia de lavar a roupa e respeitar a roupa que está ali, pelo menos falar, mas como parte da minha fase gente boa eu comecei a lavar minha roupa na terça pra ver se até sexta estavam secas... isso quando lavava... ou lavava e pagava o "lauderete", levava lá pra secar...
Cheguei a ficar mais de um mês pra lavar roupa de cama... ainda mais que dormia na parte de cima da beliche... inferno!

Queria me ver puta de raiva era a Bruxa tirar minha roupa, mesmo quando ela não ia lavar a dela, ela tirava a roupa da gente do varalzinho só pra desarmar, porque ficava na porta do guarda-tralha dela. Só que eu cansei de pôr o varal em outra parte do quarto para não  ter problema com isso e a vaca ia lá e colocava do lado do guarda-lixo dela... Era de propósito! Não era possível!!!
Ela é tão controladora que ela tirava as nossas calcinhas do varal e colocava - certinho - na cama de cada uma (a minha e da outra roommate), ela sabia já de quem era cada calcinha...

Bem, já que dormir não ai ser possível, resolvi tomar rivotril pra dormir.
Tomava toda noite para poder dormir e não escutar a Bruxa e seus engasgos.
Além do meu QUERIDO colchão de faquir! (outra história)

Então era assim: dormir só com rivotril, fazer comida no final de semana nem pensar! E à noite, coitado de você que queria também, porque ela fazia comida TODO DIA, ela não comia comida requentada! Só pão...
Não lave roupa perto da sexta-feira porque é o dia da Bruxa.

...e o mais lindo de tudo: antes de dormir e antes de sair pra trabalhar, a bruxa lia a Bíblia!
Era uma coisa tãaaaaaaao reconfortante ver uma pessoa fudendo com você e por se achar a certa e temente a Deus ler a Bíblia!
Eu via que ela aprendia taaaaaanto! Cheguei a ver se era escrita em português e era sim, mas nem na língua mãe da Bruxa ela entendia uma palavra do que estava ali...
Era só ler pra dizer: sou religiosa! leio a Bíblia e vou na missa todo domingo! (outra história) E faço um inferno a vida dessas cidadãs europeias! (eu e a roommate do bem temos passaporte português o que todo ilegal ODEIA! finge que não, mas te odeiam - outra história rs)

Bem, acho que esse é um bom resumo da Bruxa... ela aparecerá muito mais por aqui.
Mas antes de terminar, só uma palavra que ela inventou: INDOCUMETADO -  é uma espécie de eufemismo para ilegal. Ela não dizia que era ilegal, era indocumentada, assim como boa parte dos "conhecidos" dela, ela sempre chamava o povo de conhecido...
Daí, eu por graça ou pra ficar mais fácil abreviei para "indoc", também fica mais english...
Quando eu falar em indoc já saberão do que eu falo...e muitas vezes será diretamente relacionado com a Bruxa... por que será?

domingo, 9 de outubro de 2011

Mês de Janeiro, Londres, Zona Centro Sul (Parafrasendo os Racionais)

Pessoal da feira: Vamô chegando!
Já diriam os Racionais... mais um pouquinho...

Sim, é verdade... eu morava numa Cohab e sim, tinha um feira na rua do lado, a East Street onde, curiosamente nasceu Charles Chaplin. E esse mesmo lugar se tornou um rua com uma feira numa parte e várias "cohabs" por sua extensão até a outra ponta, que era melhor do que a ponta onde eu morava, caminho para Canberwell Green.

Ah! Toda feira, ou market em rua é assim aqui: a rua todo dia é tomada pelos feirantes, só segunda a rua é livre... bonito, né? uma maravilha morar em rua de feira, ainda mais aqui, 6 dias por semana...

Final de dezembro, como eu havia contado, fui morar há dois pontos de ônibus da estação de Elephant & Castle. Uma região boa por ser muito perto do centro de Londres, em 10 minutos de ônibus você está no Big Ben e mais um pouco na Trafalgar Square. A localização é excelente, mas o lugar onde morava, horrível!
Não é que eu tenha preconceito da Cohab, morava no meio de várias em Sampa, a questão é que o negócio por lá era realmente feio e eu contarei porquê, calma!

Fui morar lá por não ter mais nenhuma aula particular pra me sustentar, estava realmente com a corda no pescoço quando perguntei para a Marciana se as outras meninas do quarto que ela tinha me oferecido e eu não quis - relembre as postagens... - aceitariam uma terceira no quarto.
De 65, elas e eu, pagaríamos 50 libras, seria bom pra todas.

Quando não aceitei, veio uma outra menina para o quarto, a qual pertencia a mesma igreja de Marciana, mas mudou-se porque o emprego dela era na zona norte de Londres, ficava longe...
Mas eu acredito que era porque ela não estava aceitando bem ou o controle de Marciana ou ficou de saco cheio da roommate, que agora vocês irão conhecer: a Bruxa do Centro-Oeste!!!!

Uma observação sobre essa garota: era uma ignorante imbecil!
Sim!
Ela tinha vindo com visto de turista pra cá (novidade!!!) para trabalhar de babá para uma prima que era casada com um cara de dinheiro (morava na região de Maida Vale, St John's Wood, algo como morar em Moema ou Itaim Bibi em Sampa) e precisava de uma babá, chamou a prima que virou escrava. E isso é muuuuito comum aqui: ela  ficava com a criança todas as horas do dia e da noite e ganhava uma miséria, porque morava com a "família" e estudar, não conseguia porque tinha uma criança pra cuidar.
A menina resolveu pedir ajuda para o pessoal da igreja que arrumou a casa da marciana e estava vendo um novo emprego pra ela.
Região em questão  é onde fica duas ruasfamosas no mundo da música: Warwick Avenue e Abbey Road.
Quando a imbecil me disse que morava perto da Abbey Road eu fiquei surpresa e falei de ser a rua dos... e ela já me cortou e disse:

É aquela rua mesmo que aqueles imbecis ficam tirando foto na rua e pichando o muro, bando de babacas! Nem sabem que ficam lá tirando foto (sic) e depois pintam aquele muro toda a semana! Bando de gente idiota! O que escreveram já era!

Quando passávamos pela rua e aparecia alguém vestido de algum jeito mais diferente ou as inglesas andando de bicicleta de saia (sim, elas fazem isso) ela ficava: olha que ridículo!
E eu só pensando: e você com esse seu cabelo destruído que nunca corta, com cara de ter mais de 40 e é mais nova que eu, com roupa de velha, parece o que, hein?
Daí ela estava preocupada porque precisava do dinheiro pra residência e o Insurance Number (lembram dele?) e que iria custar 100 libras...
E eu, muito da ingênua perguntei (e eu acho que já citei essa situação por aqui):
Tudo isso? Mas por quê?
E ela: é falso!
Mais um ilegal nessa Londres... e quem era mesmo o imbecil?
E aí ela falou que precisava fumar, disse pra eu não contar pra Marciana, mas era a única coisa que ela ainda não tinha conseguido se livrar e que o povo da igreja não poderia saber.
É claro que disse que não falaria e não falei, não era problema meu. Mas aí a ingênua era ela se achava que não Marciana não ia perceber o cheiro de cigarro... qualquer um que não fuma sente fácil o cheiro...

Eu conheci essa garota, Marciana me apresentou a ela para procurarmos emprego juntas, daí os diálogos acima. Fomos procurar um pub de brasileiros e poloneses em Victoria Station, centrão londrino, algo como trabalhar na região da Sé e República em Sampa.
Na casa, além de Marciana, a Landlady, essa garota e a Bruxa, também havia um terceiro quarto de um casal polonês. O polonês em questão falou sobre esse emprego para Marciana que nos avisou, as indicações do emprego?
Facílimas!
O pub - ou 'pumb' como diria Marciana, sim, ela dizia e deve dizer se ninguém a corrigiu "pâmbi" - ficava na saída da estação de Victoria, perto de um mercado Sansbury's e da Orange (mobiles).
Muuuuuito fácil!
Qual saída da estação de Victoria? Deve ter pelo menos 4, qual Sansbury's ? Havia 2 e não achamos nenhuma loja da Orange nesse lugar... andamos como camelas pela região e nada de pub de brasileiros e poloneses...
Nada!
Para depois a Marciana dizer que o pub era "orange" e não perto de uma Orange, e disse com uma cara de desconfiada, achando que não achamos porque não quisemos... uma das maiores irritações do tempo que morei com Marciana era isso: sempre, mas SEMPRE ela desconfiava da gente...

Bem, a menina foi, e veio outra, a Roommate do Bem, como comecei a chamá-la quando falei dela no Twitter, até pensei em ser Rutinha, porque a outra era a Raquel...

Com a Room do Bem e a Bruxa do 21 (nosso flat) eu fui dividir minha vida.
Marciana era de Marte, mas não era boba: o quarto dela, era só dela.

Então era assim começou meu ano de 2011 em Londres: um apErtamento caindo aos pedaços literalmente (em breve fotos, vão se preparando psicologicamente...), 3 quartos com: 1 marciana, 3 estranhas e 1 casal polonês; uma cozinha minúsculas com janelas que não abriam, só a parte de cima e a fumaça da comida impregnava por todos os (in)comôdos e nos casacos de quem deixava no lugar perto da porta, um banheiro só com o "toilet' e outro com  pia e a maldita banheira (é costume aqui nas casas divididas por muitos a privada ser separada da banheira, para não haver muitos problemas, só o problema de não ter pia e a pessoa sair do vaso e ir lavar a mão na pia da cozinha... claro, quando lava a mão ou quando resolve escovar os dentes na pia da cozinha). Ah, nos banheiros também só se abria as janelinhas finais e muitas vezes, Marciana e Bruxa sentiam frio e fechavam até a janelinha única do toilet, o que eu acho uma grande ignorância, afinal, banheiro tem que ficar com janela aberta até quando o inverno está tenebroso, porque... nem preciso dizer... ou preciso?

Os apelidos logo vocês entenderão...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sal Grosso!

Como disse uma amiga minha, quando voltar ao Brasil precisarei tomar um banho de sal grosso, porque só assombração me aparece...

Há um tempo eu devo ter comentado aqui sobre não ter respondido ao recado de uma pessoa que conhecia de algum tempo na internet.
Cheguei aqui e tive dificuldades no começo com a internet, lembrem que a Collorida me cortou o acesso ao invés de dizer: pague mais dez libras pra ter internet, mas preferiu mentir descaradamente dizendo que os cabos haviam sido roubados, sim, da internet hi-fi...

Também respondia muita coisa correndo e demorei meses para responder alguns emails...

O que percebo agora que não é diferente do que falo dos outros brasileiros aqui: se reclamo de eles nunca terem tempo para nada, que a vida de trabalho e problemas pra resolver consome, consome a mim também e deveria entender que aqui não é lugar mesmo pra fazer muitas amizades logo de cara...

Bem, com a demora de uma resposta para essa pessoa, recebi, DOIS dias depois a seguinte mensagem via direct message do Twitter:



Achei a coisa mais BOPE do mundo: primeiro atira, depois pergunta. Devo ter desabafado aqui e bloqueei a pessoa. Afinal, estava aqui há 2 meses, cheia de problemas de mudança de casa, de ter saída da casa do terror, sem trabalho, dinheiro acabando e vem alguém do nada, porque não respondi um recado do tipo "tenho novidades!", dizer que sou metida a besta SÓ porque estou em Londres...

Odeio esse tipo de coisa, é como minhas tias que citei antes, fazem o mesmo: primeiro eu te julgo e dou veredicto, saber o que é e o que não é, não é da minha alçada (só pra ficar tudo no mundo jurídico, a pessoa pertence a ele...).

Quase um ano depois e me aparece a pessoa com essa:


Bem, eu sou malcriada além de metida a besta, ok!

E eu queria muuuuito entender porque alguém que sabe que foi bloqueada (por que será?) me acha metida a besta e malcriada ainda quer falar comigo e, pelo jeito, me encontrar!!!!
Sim, eu preciso de um banho de sal grosso pra ver se todo esse povo me deixa em paz!

Será que a metida a besta e malcriada faz falta de alguma forma? Será que a minha amizade era importante?
Bem, se era, não tem volta: ou as pessoas primeiro perguntam pra poder entender os meus motivos ou, por favor, me deixem em paz e esqueçam que eu existo!
Não dá pra darem o veredicto de culpada sem um julgamento digno.
O dia que me julgarem de modo digno, podem vir falar comigo, se eu for culpada, eu aceiterei, porque se eu quero que sejam justos comigo, preciso ser justa com os outros.
Então, quando forem justos comigo, acatarei a sentença.


Desculpem amigos que aparecem aí acima, se quiserem eu apago todos.

sábado, 24 de setembro de 2011

Natal em Portugal etc

Ainda em dezembro, fui pra Portugal e tive um Natal digno. Junto com minhas tias fofas e conheci uma das minhas primas que mora nos States, uma pessoa muito bondosa.
Comi os mesmos bolinhos que meu pai sempre comentava que minha avó fazia pra ele e vi como era o original.
Conheci frio de verdade, sem aquecimento, só a bolsa de água quente nos pés e mil cobertores, além de lençóis grossos pro inverno.
Também vi essa minha rprima se desesperar quando  seu voo não saiu de Lisboa, por conta da neve nos States e justamente em New Jersey, onde ela mora.

Não que eu não tenha passado o mesmo na minha ida: o frio de -4 graus fez com que meu voo saisse, mas atrasasse e todos perdemos nossa conexão em Madrid, onde dormi para pegar o voo no dia seguinte. Infelizmente o hotel era perto do aeroporto e não vi nada da cidade...

O certo é que foi um dia estressante, mas que eu nem senti, sabe? Acho que sair de Londres e passar o Natal com família não tem preço.
Fiquei em Heathrow apavorada para que o meu voo estivesse entre os que não seriam cancelados e dei sorte, mas horas dentro do avião sem decolar, passando um calor horroroso foi barra pesada. Sim, o avião ficou hiper quente e as aeromoças tinham que trazer água toda hora para as pessoas...
Jogavam água quente no avião para tirar a neve de cima dele...
Eu entendi o problemão que ela traz, a conheci pessoalmente (ela e o trabalhão rs).

Meu laço com minhas tias, prima e os primos do meu pai ficaram mais forte: pessoas que guardo no coração com grande carinho e devo muito a eles todo carinho, dedicação, bondade e amor.
Não senti solidão e passei um Natal diferente: comendo bacalhau que eu nunca comi no Brasil (rsrs como a vida dá voltas rs) porque não aceitei que minha tia quebrasse uma tradição por minha causa. Minha prima me mostrou como se faz o arroz doce português, que é sequinho e eu achei mais gostoso que do jeito que fazemos no Brasil.
Além de ganhar roupas dela, uma colcha de cama feita de crochê pela minha outra tia.
A colcha ficou em Lisboa na casa da prima do meu pai, que é uma mulher fabulosa, me contou muito da vida dela e me mostrou o que é ser uma mulher de coragem, resignação e fé.

E, quando for a Portugal rever minhas tias e tio (que estava nos States com os filhos, netos e bisnetos - o tio do cd bonito), vou rever também os primos do meu pai, ela e o irmão dela (que é outro exemplo de vida), vou querer voltar sempre porque sei que não é só geneticamente que uma parte de mim está lá.



(voltei pra Londres pra nova casa e pra ver a desatrosa queima de fogos da London Eye)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

3 meses pra voltar ao Brasil

Exatamente de hoje há 3 meses estarei novamente no Brasil.

Existem dois lados pra comentar.

O primeiro é que muitas pessoas, quando digo que estou voltando acham super cedo minha volta. Muita gente que está aqui há um bom tempo diz que o primeiro ano é assim mesmo, depois as coisas entram nos eixos...
Pode até ser, só que eu acho que não tenho idade e nem saúde para esperar mais.
Tenho 36 anos, já percebi que envelheci horrores aqui, além dos 8 kilos a mais...
Não me reconheço quando olho no espelho e nem nas fotos que tiro.
Vejo uma mulher pálida, gorda e feia.
Que deve estar cheia de varizes na pernas (mas nem olho pra não me deprimir), com algum problema de coluna, com toda certeza, pelo "colchão" que dormia na casa da Marciana - e logo vocês saberão mais sobre minha cama de faquir...

Eu acho que se tivesse 10 anos a menos, talvez eu arriscasse ficar mais tempo, tipo, ver se as coisas realmente entrariam nos trilhos... mas não tenho, além do que disse acima, não tenho paciência...

Acho que depois de todas as humilhações e sufocos que passei aqui não tenho pique para aguentar mais...
Semana passada mesmo eu estava deprê total - acho que foi a tpm, mas... tem horas que é muito barra pesada estar sozinha num país já não tão estranho, mas sem com quem contar, sem ter onde chorar tranquila...
Ah, que saudade de chorar na minha cama! Nunca mais tive essa privacidade... acabei chorando em banheiro e ou na rua... que se dane, os outros não me conhecem...

O que acontece é que muita gente por aqui (Londres) não me entende...
Não só por tudo que falei acima, mas porque muitas pessoas vieram acompanhadas, estão com família, amigos, namorado, alguém que dê um apoio, que ajude nos momentos críticos e eu não, eu vim sozinha e continuei sozinha.
Fiz amizades, mas não é a mesma coisa de passar muita raiva e correr pra contar, ainda são amizades muito novas e que, a maioria das pessoas, como não passaram pelo mesmo, não conseguem, mesmo, me entender.

O segundo ponto é o do outro lado do Atlântico.
Voltar e encontrar minha família não será fácil. Os problemas que deixei continuam lá e prefiro eles a estar aqui, pelo menos é sofrimento coletivo, todo mundo junto, sofendo e se ajudando.

Mas o problema maior do outro lado da Atlântico, sim, serão minhas tias que fazem o favor de tudo ficarem no meu pé.
Tanto que teria o casamento de uma prima para ir e só volto dois dias depois.
Fiz de propósito.

Eu sei e já desabafei aqui como será.
Eu passei a vida inteira sendo vista como menos por elas, sempre minhas primas eram superiores a mim.
Então, chega, né?
A vida inteira foi:
"a F ganhou a boneca tal de Natal, você não".
Claro que eu não ganhei, meu pai nunca teve dinheiro pra isso...
"Nós fomos no Playcenter ontem! Fomos na Montanha Encantada que você queria ir, mas não fomos da vez que você foi!"
"Ah, você tá gorda! Essa roupa nunca vai servir pra você, serve na A"
"Você é muito portuguesa, mesmo, né? Por que não pode gostar de axé e pagode como suas primas ao invés desse barulho?"
"Ih, a S trouxe batons e perfumes pra todo mundo, mas esquecemos de guardar pra você... ah, tem esse aqui!"
sempre a coisa pior que ninguém queria...
"Nossa, como seu irmão é mole! Demora tanto pra arrumar uma antena de TV pra gente!"
Sim, meu irmão fazia as coisas e também sempre foi tachado.

E agora uma dessas minhas tias diz que eu sou antissocial e que se eu não arrumo inglês que eu deveria arrumar outra raça, assim, fácil, num estalo!
Antissocial foi porque disse que estava difícil dividir quarto - logo saberão o inferno que vivi.
Só que essa minha tia não me perguntou porque era tão difícil, não quis saber como era, como sempre, foi jogando tudo no ventilador. Não pensa, só fala o que vem na cabeça e, de preferência, tudo que seja pra detonar logo comigo.
Daí a bloqueei no msn e tive que bloquear todo mundo para, como disse pra minha mãe, os outros não ficarem com ciúmes.

Agora ela veio dizer pra minha mãe que tem saudades de falar comigo e que eu nunca mais falei com ela...
Já disse pra minha mãe: ou você diz que estou magoada ou ela espere pra eu jogar na cara quando voltar...
Infelizmente, anos e anos sendo tratada como lixo uma hora tem que acabar... Seja de forma doce ou amarga, acaba.
E sei que quando voltar e ter perdido o casamento todo mundo vai falar e eu vou dizer: pensei que eu não faria falta no casamento, ou eu fiz falta porque não estava lá pra fazer parte da turma de perdedoras que vocês queriam mostrar pros outros?

Não acho que sou perdedora, mas elas acham, sempre acharam e esse seria, pra elas, o momento de coroação da bela, classe média, doce, fã de axé e pagode sobre a pobretona, gorda, baixinha, portuguesa (por ser brava pra elas, e sim porque eu sempre tive opinião).

Acho que tive uma vida muito dura desde criança, com vários problemas familiares e me tornei uma pessoa extremamente tímida e sonhadora, cheia de traumas e se hoje estou sozinha, tenho certeza, não foi porque perdi, não se perde, não se ganha, pelo menos eu acredito nisso, diferente delas que acham que isso é uma vitória.
Talvez eu seja vitoriosa só por conseguir colocar tudo isso no "papel".
E serei vitoriosa só por ter feito o que sonhava, ter descoberto por mim mesma que Londres não é meu lugar.
Hoje sei que não vou passar o resto da vida falando "ah, Londres que era o lugar para eu viver"...
Eu sei por experiência própria que não é assim e se elas continuarão me criticando, seja pelo que for, só que talvez eu esteja mais preparada para dar um basta nesse bullyig familiar.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Mais coisas ainda do final de 2010

Quando trabalhava com o casal do sul, eles trabalhavam quase no esquema de vans, ainda em começo de carreira, mas é o que eles deveriam fazer em breve, pelo menos pretendiam. Tinha várias casas e pra trabalhar em várias no mesmo dia precisa-se de um batalhão.

Porque você ganha pra limpar uma casa em 5 horas, como já contei, e com um monte de gente, faz em 1,2 horas e paga uma miséria pros "assistentes".

Voltando, eles estavam procurando um ajudante pra todos os dias, integral e eu não quis, porque nunca foi esse meu objetivo aqui, por menos que ganhasse e passasse sufoco vendo meu dinheiro ir embora...
Trabalhei judando nos dias que pude e eles conseguiram um outro ajudante, um rapaz de São Paulo, de uma cidade próxima da capital, das várias dormitórios ao redor da big city.
Ele me disse que estava aqui há uns 2 anos, que em São Paulo trabalhava no palácio do governo, como garçom, um dia, encheu o saco, pegou férias e veio tentar a vida aqui...
Não fala praticamente nada de inglês, ilegal, procurava uma documentação ou um casamento fajuto. Eu fiquei beeem quieta...

O nosso grande amigo de trabalho é o famoso Henry, um dos aspiradores de pó mais usados nas casas aqui, ele tem uma carinha simpática:

Só a cara simpática... porque é pesado que a p*rr@! rs

O rapaz me disse que achava esse "hoover" (já até esqueço o nome em português de tanto que falo 'hoover', 'cleaner', 'shower', 'toilet', 'feather', 'mop', 'brush', 'brum', 'kitchen', 'tissue', 'wepping', 'bin', 'cloth'... esse é o vocabulário da "criner" rs), então, o rapaz achava que esse hoover é muito bom e disse que comprou um e mandou de presente pra mãe dele...
Eu fiquei só olhando e pensando: coitada dessa mãe, homem só acha que mulher tem que ganhar mais trabalho, né? aff mais uma vez, fiquei quieta...

A mulher só ouvia no rádio do carro, indo de uma casa pra outra, uma rádio no estilo Antena 1 e virou pra mim e disse: só músicas do NOSSO tempo!
E eu: ãh?????? Bee Gees e outros não são do MEU tempo... quem ela pensa que eu sou?
Mais uma vez, não lembro se falei minha idade pra figura... mas ela é mais velha que eu e tem um filho de 20 anos...
Não que eu não pudesse ser, se tivesse sido precoce... mas daí a ouvir Bee Gees e dizer que é do meu tempo??? Vai a PQP!!!!!

****
Nem tudo foi ruim na casa de GG, lá, finalmente, consegui ir em um Job Centre e tirar meu famoso insurance number e num GP (posto de saúde) e tirar minha carteirinha pra usar...
A carteirinha pra usar o GP do NHS (INSS daqui) eu consegui até mais fácil que da vez que tive alergia na casa da Collorida... depois, não sei se comentei, descobri que não era bicho que tinha me mordido em Portugal e sim, que naquele colchão tinha o famoso bedbug...
Imagine: só chove, faz frio, nunca a casa e o colchão tomam sol... o que acontece? Claro que não ia descobrir isso pela Collorida, por ela, que os bichos me comessem, desde que pagassem o aluguel...

Dessa vez quis marcar um médico porque não aguenta, achava que tinha gripe e era minha alergia ataca à enésima potência, graças ao meu amigo do coração: o heating, ou o aquecimento e o meu carpete fedido de rato e que a Pureza (lembram?) falou que se eu quisesse ela tinha a máquina pra EU lavar o traste...

O que acontecia era o seguinte: minha garganta ardia como fogo, não conseguia falar direito como se tivesse perdido a voz de tanta dor de garganta e nada disso era gripe.
Cansei de tomar chá de pomegranate, ou a famosa romã que todo mundo come aqui e eu só via se tomar chá pra garganta no Brasil. E lá se foi xarope, remédio pra gripe que diziam ser tiro e queda...
Claro que não faziam o mínimo efeito: o problema era a alergia.
O heating também devia ser tão limpo quanto o carpete e ficava bem na cabeceira da minha cama... troquei de lado, comecei a pôr a cabeça pra dormir no lado dos pés. O ruim é que era onde ficava a tv e ficava complicado. Desligava o heating durante à noite, deixava o quarto quente e desligava pra conter o transtorno...
Só depois percebi que a garrafinha de água que deixava no quarto enchia de bolhas, como se estivesse esquentando... não era só esquentando por conta do heating, era porque ela ia secando, como minha garganta, porque esses aquecedores dos infernos, para aquecer, precisam tirar toda a umidade do quarto, inclusive a umidade da pessoa que dorme ali...

****

Nesse mesmo período ia até a casa da Marciana, fiz amizade com ela, porque estava numa fase de quase perguntar a todo mundo: você quer ser meu amigo? eu queria taaaaaanto um amigo...

E é aquela coisa: você só conhece realmente a pessoa quando convive diariamente com ela...

Só que depois de quase 4 meses em Londres e sozinha, já não aguentava mais me sentir sozinha...
Um amigo que mora em Dublin até esteve aqui e me senti a pessoa mais feliz do mundo de ter alguém pra passar uma tarde de sábado batendo papo num Costa (uma cafeteria famosa aqui e mil vezes melhor que o Star-água-bucks). É horrível estar sozinha, tão sozinha...

Foi assim que comecei a engordar... descontava toda a minha tristeza na comida, comia potes de Haagen Dazs  (é barato, ainda mais no inverno), um chocolate delícia com gostinho de laranja... e eu nunca curti esse tipo de coisa, mas esse... nossa:
Ele é assim, todo em gomos, como se fosse laranja e eu comia sem ver assistindo Friends na TV rs
Entre outros quitutes... me enchia...

E aí resolvi ser amiga da Marciana, mas muito em dúvida se ia ou não pra casa dela... tinha que ter outro jeito... (mas não teve).

Um dos fatos mais loucos foi quando fui até a casa de um casal de amigos dela, eles voltariam pro Brasil e a moça trabalhava com casas, e um dessas casas que ela limpava era de uma italiana, como ela soube que eu estudei italiano, passou a casa pra mim, antes de voltar pro Brasil.

Dois jovens de BH que moraram aqui por 3 anos, se mataram de  tanto trabalhar, ela nas casas e ele em restaurante para juntar dinheiro.
Juntaram tanto que a primeira vez que juntaram, pra comprar um terreno na cidade onde moravam, deram pros parentes comprarem, segundo conta a história, compraram de uma imobiliária de mentira que levou o dinheiro deles...
Da segunda vez, não foram bobos, guardaram pra comprar quando voltaram...
Só que ele abriu um negócio e ela comprou seu próprio apartamento, fizeram bem, apesar de ilegais, como sempre...
Ele teve a graça de me mostrar o passaporte e identidade portugueses para comparar com o meu, original, pesado e bem feito. E ficava: nossa, o seu é bem pesado, mais bem feito (dã!).

Daí descobri a nova: inglês de rua...
Ele me disse que falava bem o inglês, mas o de rua, assim como a irmã dessa menina também me falou o mesmo...
Nova definição...
Não, não se trata de gíria, de slang, se trata de brasileiro que mal sabe falar seu idioma e falar o dos outros mal e porcamente... daí inglês de rua...
Não que ele falasse mal, o cara tinha fluência, mas não queria dizer 100% aprendizado Murphy rs - nem 50% acho rs
Porque você aprende falar inglês "na rua" com outros estrangeiros que também falam como lords na câmara...
Aí a irmã falava: eXcRusivi e me dizia:

eu prestei o IELTS, na parte de gramática eu não devo ter passado, mas na conversação eu passei! Eu falo inglês de rua, mas falo!

Ela fazia curso de inglês aqui só pra ter visto, mais faltava do que ia na escola, o que interessa é o visto de estudante... por 6 longos anos... (no caso dela).
Fazia numa das famosas escolas da chamada "fábrica de visto"... (já deu pra sacar o nível só pela aluna rs)

Eles juntaram dinheiro e coisas... mandaram por navio 200 kilos de coisas antes de viajarem... e fui com Marciana no aeroporto dar tchau pras figuras...
Levaram mais 4 malas, chegaram atrasados, se eu não tinha falado pra Marciana de ficar na fila, teriam perdido o voo...
Chegaram no guichê: peso extra (isso porque mandaram 200 kilos por navio...).
E vai a correria da irmã da menina ir comprar outra mala no aeroporto e eles abrirem mala pra todo lado, no meio do caminho e pesar na balança que fica perto do guichê da TAM... (o preferido pelos brasileiros).
E daí só se via tênis com perfume dentro, um monte de tranqueira saindo das malas... como até patins...
A menina tão simplória, eu diria, levava na mão um Toblerone enorme que comprou, queria comer dentro do avião... tive que avisar que ela não poderia fazer aquilo... que seria barrada, só se comprasse lá dentro e levasse na sacolinha do freeshop...
Ajudei com as malas e ficava vendo aquele desespero louco, primeiro porque chegaram atrasados, segundo porque não ia dar pra levar tudo...
E não deu: a irmã ficou com algumas coisas por aqui...
A maior parte das coisas que compraram eram futilidades para mostrar pros parentes e amigos no Brasil, como uma câmera digital que você pode fotografar no escuro que sai perfeito e que tira fotos de uma plano maior do que se consiguiria numa câmera normal: não se precisa tirar várias fotos pra pegar um plano todo... ela faz isso...
Babei na câmera, mas... não deixa de ser futilidade...

Conseguiram embarcar... na volta, de metrô, a irmã dessa garota e a prima falavam das casas que lipam aqui. Que fazem as casas de gato e sapato.
Limpam de qualquer jeito porque tem várias casas no mesmo dia (mesmo esquema do dono da van, mas sem escravos, digo, empregados), ou seja, eu tenho 4 casas de 4 horas. 16 horas de trabalho? Claaaaro que não! Eu faço a famosa limpeza "pra inglês ver", almoço na casa (pegam comida da casa ou fazem comida com os alimentos dos donos da casa) e vou pra outra!
Outra palavra bem comum entre as "cleaners" aqui é tapa "ah, eu dou um tapa" é, pra mim, de tapear...

Não que toda faxineira é desonesta, mas uma grande parte sacaneia o patrão na cara dura...

Soube de casos em que se a cleaner ficou cansada e tem tempo sobrando, dorme na cama do dono da casa, ele está trabalhando mesmo...

A maioria das faxineiras têm chave da casa, os donos foram trabalhar e deixam um chave cópia pra cleaner. Ela vai a hora que convir e limpa, do jeito que convir também...
Deixam também o dinheiro de pagamento. Bom para pessoas ilegais, bom para ingleses que querem fugir do "tax" (imposto) de ter um empregado em sua casa e parecer rico pro leão daqui.
Mas não se preocupem! Em breve eu vou contar o outro lado da moeda: de que muitos desses patrões ainda tem empregadas muito legais para a porquice que são as casas deles... não é porquice de falta de limpeza, em alguns casos, falta de higiene mesmo...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Mais acontecimentos, ainda na casa do GG

Durante os dois meses que morei na casa de GG e Pureza, além de morar com um rato, também passei por várias situações.

A primeira foi conhecer a neve, o primeiro dia que caiu neve aqui, dia 30 de novembro do ano passado, ainda me lembro, começou a nevar... estava na rua. Fiquei emocionada, ria como criança, deviam me achar uma boba no meio da rua, mas foi muito, muito legal!
Aquelas bolinhas que não eram gotas de chuvas e caiam forte, todos se protegiam, menos eu, eu queria sentir, ter certeza de que o que via era neve... incrível essa sensação... realmente voltei a ser criança naquele dia, de tão feliz.

Comecei a trabalhar numa escola para filhos de brasileiros, para que eles aprendam português e a cultura do Brasil, sou praticamente um voluntária, mas meus sábados mudaram e conheci pessoas diferentes que tenho amizade hoje.

Também comecei a trabalhar com faxina... infelizmente não  tinha como: meu dinheiro estava acabando, a semana a 85 libras de aluguel pra dividir com um rato e dormir com um carpete imundo que me dava uma alergia louca, não me davam alternativa: tinha que ver o primeiro trabalho que viesse e tinha que ver outro lugar pra morar.

Uma prima da minha mãe, contou para a minha tia que uma mulher que ela conhecia, que tinha uma perua em que vende ovos etc tinha uma filha que morava em Londres e ela alugava quartos.
Minha mãe achou que talvez esse fosse o caminho para eu mudar de casa.

Minha tia passou o contato da mulher e fui eu em Elephant & Castle (parte centro-sul de Londres, impregnada de brasileiros, latinos e caribenhos) é um lugar muito perto do centro. De ônibus você leva uns 15 minutos até o Big Ben, por exemplo.
Só que chegando lá, conforme as indicações da dona, fui achando o lugar extremamente horrível: me vi numa Cohab (desculpa você que mora na Cohab, mas aqui é pior) imunda, caindo aos pedaços, um lugar que não imaginava achar em Londres, pessoas com caras mal encaradas, rua principal entre as cohabs suja porque todos os dias tinha feira ali (aqui, a rua da feira, ou do market, é todo dia feira, menos segunda).
Ia andando e pensando: não pode ser nesse lugar! Prédios iguais, não pareciam velhos, mas muito mal cuidados. A mulher me disse pelo celular que me encontraria no caminho porque o elevador estava quebrado...
Eu pensei seriamente em voltar pra trás... mas não tinha dinheiro pra ficar de luxo e precisava pelos menos ver...
Encontrei a mulher, que nomeei de Marciana, em breve entenderão o porquê, uma mulher bem simpática e que me levou até o prédio certo que eu não acharia.
Entramos por outro prédio, pelo elevador do outro prédio.
Ela se gabava de morar tendo como vista a London Eye, se via quase todos os principais "heritages" de Londres dali: Big Ben, London Eye, Saint Paul...

Daí conheci a casa... cheia de mofos pelos cantos das paredes, meio escura, precisando seriamente de uma reforma e na qual teria que dividir com outra pessoa o quarto...
Até aquele momento, parecia até tranquilo, mas não queria, iria aguentar mais um pouco na casa do GG, o rato iria sumir...
Ela prometeu me ajudar, que logo eu arrumaria um emprego fixo, que ela tinha muitos contatos e dizia porque eu morava tão longe, ali era uma ótima localização!
Realmente, geograficamente, a localização é ótima, as moradias é que não prestam... por conta de seus donos e landlords... eles naõ cuidam como todos fazem: só querem dinheiro no bolso.

Para ir embora, ela me disse pra descer as escadas, que ficaria mais fácil...
Conforme descia as escadas, cinco andares, mal iluminadas e sujas... fui pensando que não queria morar ali de jeito nenhum! Encontrei até um absorvente feminino sujo na escada e sai como louca, corri nas escadas e só pensava: aqui eu não quero morar!!!

Marciana realmente me indicou empregos, falou porque eu não trabalhava nas vans (já contei aqui sobre elas, né?) e achei aquilo o fim da picada, mas ela me passou a indicação de uma mulher que precisava de ajuda apenas por alguns dias na limpeza de casas...

E lá fui eu acordar às 4:30 da manhã num domingo, o domingo em que o rapaz goiano levou peixe pra casa e ouvi aquela conversa que me pareceu muito estranha...
Teria que pegar o trem, era beeem longe onde encontraria a mulher para a limpeza... e teria que estar na estação certa às 7 da manhã.

Cheguei, a encontrei, ela e o marido, do sul do Brasil, me levaram até a primeira casa. Na verdade, não era a casa, só um escritório que ficava bem nos fundos do quintal. Um escritório que ficava cheio de folhas das árvores que caiam e só era limpado uma vez por ano...

Depois fomos limpar a casa de um senhor inglês viúvo e que tinha estado na 2a Guerra. Ele ficava na dele enquanto limpávamos e eu só pensava: cadê a família dele? é Domingo!
Daí ele foi no forno pôr um congelado pra ser o almoço dele... que vida triste, gente!
Só que no final eu entendi: quando íamos embora, ele dava bye-bye pra gente quase nos botando porta pra fora... educação britânica!

A moça me dizia que muita gente gostava de trabalhar com ela e o marido, porque as pessoas diziam que riam muito com eles.
Eu não ri nenhuma vez: só via ela dar altas cortadas nele e ele, quieto...
E ela ainda me dizia: já consegui casar, tá bom, ou seja: casei e pronto, ninguém pode falar o contrário, seja bom ou ruim.
Ele tinha cidadania italiana e ela ganhou de lambuja...

Nesse dia, voltei cedo pra casa, cansada, mas tudo bem...
O problema foram as casas que fiz durante a semana: 7 casas num dia...
E ela sempre me dizia:
Você fica com o banheiro.

E virei uma expert em limpar banheiro... morria de raiva, nem era raiva, era tristeza mesmo... tinha que me sujeitar porque as aulas eram poucos, o dinheiro acabava e o aluguel que eu queria manter era arrasador...

Cheguei em casa depois de sete casas e só quis deitar na cama.
Fiquei lá estirada, tentando descansar, não aguentava mais. Estava extremamente cansada, acabada, moída... e ainda tinha GG e Pureza no seu banho de espuma... e pra eu tomar banho?

Fiquei pensando enquanto estava derrotada na cama: se aquilo era vida, se isso seria só por aquele momento, que precisava fazer algo... pensar... pensar... sofrer... sofrer...

E nada mudou muito na minha vida, ainda comecei a fazer aulas de inglês, minha mãe mandou dinheiro pra que eu fizesse, e parti pras aulas particulares para ver se isso adiantaria meu aprendizado, fiz amizade com a professora e a mãe da professora que me ajudou em muitos momentos.

Tive que pedir dinheiro para o meu pai, para, pelo menos, ter um Natal digno: ir pra Portugal na casa das minhas tias, quando voltei de lá, voltei para morar na Cohab...não teve jeito, foi a única alternativa que me restou naquele momento.

domingo, 14 de agosto de 2011

1 ano em Londres

Dia 15 de agosto, amanhã, fará um ano que estou aqui em Londres e agora posso fazer um balanço melhor da vida na cidade.

Fiquei lembrando das discussões que lia nas comunidades, no orkut, de brasileiros em Londres. Uns odiavam Londres e não viam a hora de voltar, outros, amavam Londres e achavam babacas os outros que odiavam...
Nunca interferi nas discussões, afinal, eu não sabia exatamente o que me esperava e não sabia de que lado ficaria.

Na verdade, hoje, eu sei que não ficaria de nenhum dos lados, porque entendo ambos: adoro Londres, é uma cidade incrível para se viver DESDE QUE você tenha um bom emprego e um bom lugar para morar de forma confortável.

Muitas pessoas vêm para cá com um sonho de que tudo é perfeito, como eu, e se decepciona.
Sim, eu me decepcionei demais com a vida aqui, mas porque a vida não é fácil para uma brasileira que fala mal o inglês e que acabou perdidaça sem saber o que fazer direito... planejamento malfeito ou nem tanto... acho que  foi confiança nas pessoas que eu pensei que me ajudariam mais e acreditei que as coisas eram mais simples, como me diziam...

Então, como eu já disse aqui uma vez, que faria diferente muita coisa, não tem porque eu falar mal da cidade. A cidade tem sujeira, tem muita gente mal-educada, se paga mal - ainda mais com essa crise na Europa toda-, mas realmente, não posso culpá-la, me dei mal aqui, sim, estão todos cansados de saber, mas a verdade é que um conjunto de acontecimentos destruíram meu sonho.

Não sei se é a mesma coisa que acontece com as pessoas que odeiam essa cidade e querem ir embora correndo... mas muita gente vêm com uma ilusão diferente da minha: ganhar muito dinheiro e fácil. O que você não consegue em lugar nenhum, pelo menos de forma honesta.
Daí as pessoas reclamam da cidade, porque queriam poder mostrar logo pro povo no Brasil que está por cima da carne seca... e estão na verdade debaixo do quarter pound rs
Trabalham como eu: se sentindo escravizados, trabalhos duros, mal remunerados, sendo humilhados, vivendo mal, comendo mal e não aproveitando nada, fazendo contas para mandar dinheiro pro Brasil - o que não é meu caso, só vou levar dívidas pro Brasil, por escolha, escolhi não trabalhar como louca e aproveitar o que pudesse.

Os que amam, se apegaram demais à cidade, podem morar mal, podem trabalhar como condenados, mas amam as diferenças, amam o poder aquisitivo de andar com roupa de marca e ter um iphone ou um blackberry, amam se sentir livres, principalmente se não moram com um bando de brasileiros xeretas... o que acontece muito também.

Acredito que se as coisas tivessem acontecido de um jeito diferente na minha vida, eu moraria aqui de vez: a proximidade com o resto da Europa e poder viajar por ela, além ver os shows dos artistas que amo me prenderiam fácil aqui.

INFELIZMENTE as coisas que já contei por aqui e ainda irei contar - porque estou ainda em novembro pra dezembro do ano passado na trilha da história rs - só mostrarão o quanto foi difícil minha vida por aqui e uma coisa eu posso dizer: se soubesse de tudo isso, acho que viria do mesmo jeito, só pelos shows que acabei assistindo, os lugares que conheci e por toda a experiência de vida que, espero do fundo do coração, tenham me tornado uma pessoa melhor.

Porque, eu acredito, que nada do que vivi e ainda viverei são por acaso, acredito num plano maior que eu aceitei há muito tempo... numa galáxia distante (rs) e se eu não tinha cumprido no Brasil, tinha mesmo que quebrar a cara em Londres para aprender algumas coisas e, principalmente, ter certeza do que era viver em Londres e não passar o resto da vida me lamentando do tipo: ah, se eu tivesse ido pra Londres... aqui não é vida... Londres que é!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

imitando o classe média sofre

postando a conversa com a mala sem alça, reparem as datas...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O imbróglio mala e encomendas para o Brasil

Durante os meses de junho e de julho estive totalmente ansiosa por uma mala minha que iria mandar para o Brasil...

Tudo começou quando a irmã de um amigo viria para cá no começo de junho e ficou até 03 de julho. Ele me avisou que ela entraria em contato e se eu poderia ajudá-la. É claro que sim! Adoro ser guia! (Os amigos fora de Sampa, que a conheceram um pouquinho comigo, que levantem as mãos agora rs).
Sim, estava contente de ver um rosto conhecido e poder mostrar um pouco de Londres, dos lugares que amo e gostaria MUITO de compartilhar com quem quer que fosse que viesse para cá...
Adoro a cidade, apesar dos pesares, e adoro mostrar os lugares mais diferentes e legais que conheço, compartilhar tudo isso é muito bom.

Voltando, daí pedi para ela se poderia trazer umas roupas de verão pra mim - verão que não apareceu... - e ela disse que a mala dela estava bem vazia, que não teria problema. Meu irmão levou as coisas que minha mãe separou pra ela (inclusive minha meia de compressão porque o negócio de trabalhar como condenada tá f*dendo minhas pernas).
Ela trouxe, a encontrei e perguntei se ela poderia levar de volta uma mala minha, pois estou juntando muita coisa e seria bom ter essa oportunidade para conseguir levar aos poucos as coisas para o Brasil.
Ela me disse que tudo bem, disse para ela que me irmão buscaria as coisas no aeroporto, que eu levaria minha mala no aeroporto com ela e que se fosse coisa demais pagaria o excesso de bagagem e ela sempre dizendo: tudo bem, sem problema.

Liguei para a minha mãe e disse que mandaria uma mala para o Brasil. Como tenho vários parentes fazendo aniversário em julho (2 tias, 1 tio, 1 primo e meu irmão), minha mãe me pediu presentes daqui para todos, depositou até dinheiro na minha conta para isso...
E lá fui eu às compras...

Final do mês de junho, nem sinal da cara de banana (já sacaram o nome dela rs), não me passou o número do telefone que usava aqui, mesmo eu sempre pedindo e ligando para o número dela do Brasil que sempre ia pra caixa postal...
Cansei de ligar e deixar mensagens no Facebook da figura...
Estava preocupada, porque ela queria ir no show do Pulp no Hyde Park, só que a viagem de volta dela era no mesmo dia e não sabia se ela havia mudado a data ou não, se teria que ir de manhã no aeroporto com ela despachar as malas ou não... fora que pensava em ir no sábado, véspera da viagem e do Pulp, pra Kent ver um festival que fecharia, naquele dia, com o Morrissey.
Fiquei nessa de esperar uma resposta... que nunca chegava...
Até que na sexta, dia primeiro de julho, a banana me responde que tinha muita coisa pra levar pro Brasil, que a mala dela já não cabia mais nada e que havia comprado outra, que iria pesar e ver se dava pra pôr algo meu...
Isso na sexta à noite e eu já tinha desencanado do show do Morrissey, com raiva de perder, além dele, Lou Reed, Patti Smith e The Stooges... acabei resolvendo ficar por Londres e fazer outra coisa, já tinha combinado outras coisas porque já tinha perdido o tempo hábil que teria, principalmente porque achava que não conseguiria sair de Kent super tarde e voltar pra Londres no mesmo dia... já acreditava que teria que dormir por lá e como faria se tivesse que ir no aeroporto com a mala?
Além do mais, nem tinha procurado hotel em Kent pra dormir...

Só vi a mensagem da menina no sábado, quando tudo já estava terminado...
Daí respondi para ela que tudo bem, que já tinha perdido mesmo o show do Morrissey esperando uma resposta dela e que não precisava se preocupar com nada...
Daí, a menina só me responde, no domingo, acho que do aeroporto falando:

Cara de Banana 03 de julho às 20:51
ai, fui embora no hives... tive que deixar coisa por aqui, abandonei guias... droga! mas desculpa qq coisa?         

DESCULPA QUALQUER COISA?????


CLARO... eu vim pra Londres para, com toda a certeza, passar pela maior prova de vida que alguém pode ter... pra ser canonizada quando voltar pro Brasil rsrs

Não respondi, melhor do que falar um monte, não? Afinal, o malfeito estava feito...
Estava revoltada e fiquei mais ainda com essa respostinha infantil de uma quase trintona infantiloide que veio estudar aqui um mês e ainda fala que queria ir no show do "pÛlpi" (pior que pupil rs é, eu não perdoo, né? rs)

A preocupação veio: e os presentes que seriam entregues no dia 10 na casa da minha tia no aniversário do meu primo e que todos os outros iriam receber o seu presente também  eestavam todos comigo?

A ideia foi mandar por uma empresa de entrega rápida... minha mãe pagou para eu mandar, já que as coisas chegariam no máximo em 3 dias no Brasil. Fiz a caixa e mandei pela empresa de três letras nas cores linda que combinam tanto: amarelo e vermelho...

Mandei na segunda dia 4 de julho e chegaram no Brasil na quarta, dia 6, e ficaram paradas lá... e nada de entregarem em casa e o aniversário chegando... no sábado, vejo no site de rastreamento que as coisas iriam voltar pra mim e fiquei mais do que surpresa, fiquei sem entender e totalmente nervosa...
Tive que esperar segunda para entender o porquê da volta das coisas... as moças da loja de postagem achavam que tinha sido o perfume (é, a burra aqui colocou na lista "perfume, vinho, cd, dvd, azeite"). Eu achava que não teria problema discriminar nada disso, porque tinha pago imposto e tal na postagem...
Um primo da minha mãe que trabalha em outra empresa dessa disse ao meu tio - é, família toda acionada - que se disseram que iria voltar que não teria mesmo jeito...
Meu irmão ligou para a empresa em Sampa que disse que o problema todo era o vinho, vinho é proibido ser mandado, o azeite também, mas que o azeite ainda passando pela anvisa poderia liberar assinando um termo de responsabilidade...
A empresa aqui pediu se poderia tirar o vinho para fazer a entrega, mas não se poderia mexer no pacote que estava em poder da polícia federal... e que iria voltar mesmo...
A moça da loja me manda um email de que iriam me cobrar a viagem de volta das coisas, aí eu entrei em parafuso e falei pra ela que não queria mais nada de volta... que não aguentava tanto estresse (i couldn't cope all this!) e aí pedi pro meu irmão ligar de volta em Sampa e eles confirmaram que não me cobrariam porque as coisas não deram entrada no Brasil, só se tivessem legalmente entrado eu pagaria... ufa!
As coisas iriam voltar e não teria papo... uma pena não conhecer um corrupto numa hora dessas...
Revolta e mais revolta... e não tinha o que fazer... estressei legal... passei quase dois meses nervosona... nervos a flor da pele, mas não adiantou nada...
Só conseguia culpar uma única pessoa que se não tivesse fugido de mim e tivesse conversado como gente grande teria poupado muito sofrimento meu e da minha família. Afinal, ninguém recebeu os presentes e minha mãe ficou muito chateada e gastou uma grana...
Todo mundo ficou muito chateado...

Uma frase adulta teria mudado tudo isso: Regina, eu não posso levar suas coisas, me desculpe, mas acredito que voltarei com muita coisa para o Brasil.

Não ficaria bonitinho?
Minha mãe não teria pensado nos presentes, eu não teria ido comprá-los, eu teria ido pra Kent e dormido lá e ido pro Pulp sem preocupação e não teria rolado todo o grande estresse da transportadora...

O pacote voltou, chegou segunda agora, dia 25, fui buscar na loja e a moça me disse que se eu quiser mandar sem o vinho, eles cobrariam de mim SÓ (rsrs) metade do preço... e que nunca tiveram problema com o envio de vinho para países como States e outros da Europa...
Não sei se é verdade, mas uma outra menina que conheço, e trabalha em outra transportadora, investigou as coisas para mim e disse que deveriam ter me informado do que pode e o que não pode ser enviado, mas que se eu entrasse com uma queixa, elas poderiam alegar que eu insisti que fosse as coisas fossem enviadas - porque se o cliente insiste no risco eles mandam - e que seria a minha palavras contra a dela...

Bem, esse é todo o imbróglio...
E tudo que só consigo pensar agora é na música do Falcão , porque tudo é culpa de uma grandissima mala...