segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

de volta à saga... ou A Hora e a Vez de Stewart Leetle - parte I - a dama do busão e o marido from Goiás...

Na casa nova, em Dalston, Hackney, me senti bem melhor, com um quarto (minúsculo) todo só pra mim, com tv paga, frigobar... comecei a sentir que assim, sim, era vida! Ninguém cuidando da minha vida e ninguém se importando comigo.

Claro, é complicado viver com pessoas que não dão a mínima pra você, nem pra ajudar a dar uma dica de emprego... mas, tudo bem, já estava aprendendo a saber que ninguém ajuda ninguém aqui e manda você se virar rápido.
Estava com algumas aulas de português para estrangeiro e na escola para filhos de brasileiros, não era grande coisa, mas era melhor que nada... só que o dinheiro ia embora... aluguel por semana: 85 pounds.

Moravam na casa um rapaz num quarto grande, um casal no outro quarto grande e os donos da casa, na parte debaixo da casa, num quarto grande também. Aqui é assim: sua casa é um quarto, sua vida é ali, cozinha, banheiro é tudo dividido.
Todos eram brasileiros, o rapaz sozinho de Sampa, o casal que alugava de Goiás (ihhh) e os donos de Minas.

Todo mundo me cumprimentou quando cheguei e disseram: se precisar de algo, pode bater aqui na minha porta... ahã... bate na porta e dá com ela na cara... não beeem na cara, mas quase...
Eu acho que se você não quer ajudar ninguém não se ofereça, NUNCA!
Porque fica extremamente chato depois eu ir perguntar se sabem de algo de emprego e falarem "ah, vou ver..." e nada... deixam pra lá e tal...

A goiana, ao se apresentar pra mim, errou o nome, achei estranho, mas não liguei, disse que a irmã morou  com ela e ela sempre acabava confundindo...
Depois comecei a entender, perguntei para ela sobre trabalho e ela disse que ia ver com o marido, no emprego dele. Depois perguntei pra ele e ele disse que ia ver e perguntei do trabalho da mulher - tipo, por que não podem me indicar no dela???? (fui ingênua) e ele disse que ela trabalhava num pub, mas que ia ver no trabalho dele...
Certo, a menina mal falava inglês, com português "tiririco" e trabalhava de garçonete? então eu poderia!
Daí comecei a perceber que ela trabalhava pouco pra alguém que trabalha em pub e sexta à noite, chegava em casa, dei de cara com ela na cozinha, às 9 da noite... que pub é esse?
Até o dia que ela escondeu de mim que ia sair super maquiada (eu a encontrava sempre na cozinha, estava numa fase cozinheira, querendo reverter a situação fast-food instalada desde a casa de Soudemorte), bem, não precisaria esconder de mim, quer sair maquiadéssima, sai! Mas ela escondeu com a touca de frio do casaco... não queria de jeito nenhum que eu visse e aí reparei que ela usava umas sapatilhas e saía com uma maletinha... daí comecei a entender... ou não... ou pensar errado, sei lá... mas estava muuuuito frio, tipo zero grau para usar uma sapatilha à noite...
E ela ia sempre pra academia, ela e o marido, só que em academias diferentes porque ela me disse que na do marido era mais de homens puxando ferro e preferia a outra com mais mulheres.
Ela me encontrava na cozinha e falava, falava, falava... escutava sempre, sempre, ela no celular no quarto dela (ela falava sem parar e super alto, acho que é mal de goiana, já percebi... falar alto e muito).
Ela é aquele tipo de pessoa que se vê frequentemente aqui (dos brasileiros) está aqui ilegalmente, gasta rios de dinheiro com roupas de marca para mandar pros parentes no Brasil só pra mostrar para cidadezinha do fim do mundo que está ganhando horrores (mas não diz que se mata aqui pra isso, sempre quer estar por cima, mostrar que é o rei/rainha de Londres, Elizabeth que se cuide com esses brasileiros ilegais! só para todo mundo os invejarem lá em tiririca da serra)...

Então, é aquela história, a pessoa está aqui e, ao invés da pessoa abrir a cabeça, expandir os horizontes, não conhece nada (porque nem passa na imigração), não aprende o inglês e não entende a cultura deles nem um tiquinho! Vive como se estivesse no Brasil e vendo a Record rs (que é só ter parabólica pra ver)...

Voltando, aí comecei a perceber que ela sempre, mesmo quando não estava tão frio, chegava ou saía com o capuz na cabeça... daí comecei a ligar o fato dela errar o próprio nome, a maquiagem e a maletinha... gastar dinheiro com academia em Londres? mas você não tá juntando pra comprar casa no Brasil?
Tudo ficou meio estranho... fora o fato de eu ter ido perguntar pra ela sobre uma mulher que ela conhecia que fazia barras nas calças (que ficou igual a cara dela, um c*) e ela estava com uma amiga que ia fazer depilação nela e ela ficou conversando comigo e tirando a roupa na boa... eu é que fiquei com vergonha rs

O marido dela era uma figura também estranha... um dia, acordei hipercedo porque ia trabalhar numa faxina, uma mulher que fazia com ajudantes ia me pagar para fazer no domingo. Acordei tipo 5 da manhã naquele dia, estava tomando café na cozinha e ele chega da rua com um outro cara com vários peixes e começam a cortar na pia - estavam limpos já.
Daí o cara fala pra ele:
"Pô cara! De graça! Vamos faturar!"
E o marido da dama diz: "Não fala isso, não, cara!" e faz um gesto para o amigo lembrar que eu estava ali.

Estranhei... e estranhei mais num outro domingo que eu ia sair e uns caras o chamam na porta (caras que não falavam português e muito dos mal encarados, cara de bandido mesmo, maloqueiro, como se diz em Sampa, meu!) e ele foi lá conversar com os caras, que pareciam querer entrar de qualquer jeito na casa e ele pedindo pra os caras se acalmarem... assustei... mas não era da minha conta, desde que não invadissem a casa e levassem o Ewan (meu laptop).

Ele trabalhava num restaurante durante o dia e durante à noite também, fazendo entregas de comida chinesa, ele tinha uma moto, como muitos "brazucas", era motoboy...

Outra coisa muito estranha era o fato de ela sempre falar do sobrinho (com nome do rei da Távola Redonda) e sempre mandar coisas pra ele, até aí, tia mimando, mas uma tatuagem no braço com o nome do menino? Só mãe pra fazer essa breguice, que eu saiba...

Via as coisas, mas nada disso me importava se isso não fosse mexer com a minha vida... ainda bem que não mexeu... e fico até feliz de ela não ter arrumado um emprego onde ela trabalhava... acho que eu não iria, não iria com certeza se fosse realmente o que estava pensando...

sábado, 26 de fevereiro de 2011

sobre a italiana ainda

depois da postagem, depois de ter ido embora da casa da mulher, ela me mandou também uma mensagem pra eu verificar se meu dinheiro tinha caído na minha conta, ela tinha feito o depósito via internet.

claro que quando saí do trabalho olhei...
claro que não mandei mensagem pra ela confirmando na mesma hora... fui mandar só no outro dia depois do almoço e ela me respondeu

"Great. Thank you for helping over the past two months. Good luck"

Será que a mulher escreveu isso porque percebeu que pegou muito pesado?
Não sei, só sei que não respondi e não preciso responder nada.

E eu ainda mostrei que sou honesta pra ela: antes de ir embora, ela queria saber quantas horas eu havia trabalhado no mês de fevereiro e ela, contando pelo calendário, confundiu 31 de janeiro, uma segunda-feira e eu mostrei o erro pra ela. Poderia muito bem ter passado por "só poderia ser brasileira mesmo" e ganhado mais 4 horas, mas como sou uma pessoa honesta e que em nenhum momento tentou levar vantagem as custas dela ou de qualquer pessoa e sempre fui transparente, mostrei isso pra ela mais uma vez, como se adiantasse, né?

E outra, na última segunda ainda lavei os banheiros e organizei todo o quarto das crianças e tirei o pó da casa, coisas que não faço e que precisavam ser feitas... nunca que ela vai reparar nisso... mas tudo bem. O importante é ter consciência tranquila de ter feito sempre meu trabalho correto e honesto e, infelizmente, ter passado por uma fatalidade como a do gás.


++++
mais uma coisa: antes de ir embora da casa, ela queria que eu me despedisse das crianças, que estavam dormindo (às 4 e meia da tarde, que horas ela vão dormir à noite????) e eu disse que deixasse elas dormirem,,, que tudo bem...
cada uma...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Patada merecida?

Acabei de fazer um marcador novo: patadas, porque o que eu mais ganho aqui é isso...

Tá certo, a situação foi até grave, eu sei, eu admito, foi grave e a culpa é minha.

A história da casa em Dalston, região de Hackey, e Stewart Leetle vai ter que esperar mais um pouco, porque agora vem novo desabafo... senta e pega o lenço que lá vem história...

Antes, gostaria de agradecer todo mundo que anda me mandando emails e me desculpem por não responder, a minha vida parece que é uma sucessão de acontecimentos que não me dá tempo e, muitas vezes, ânimo de responder a todos, mas obrigada pelo carinho e espero responder todos!
Obrigada, de coração!

Bem, a história é a seguinte...
Estava trabalhando na casa de uma italiana que tem dois filhos gêmeos, um casal, de 4 anos. Limpava a casa, passava roupa e pegava as crianças na escola, isso toda a segunda desde o começo de janeiro.

Essa segunda as crianças não foram pra escola, porque aqui, de dois em dois meses, eles têm uma semana de férias que chamam de half term.

Aí ela tinha que resolver algumas coisas de manhã - porque no curso dela também é half term e ela não teve ou deu aula, até hoje não sei - e pediu pra eu ficar das 8:30 da manhã ás 15:30 com as crianças.

Daí fiquei, ia ganhar um pouco mais, as crianças já me conhecem, não vi problema, dei café, levei as crianças no parque, dei almoço... daí, na volta do parque, quase na porta de casa, a menina cai no chão, de cara no chão, e rala o nariz um pouquinho.
Tudo bem, limpei e tal, a menina chorou e logo parou e tranquilo, continuamos a vida.
Aí a mãe liga mais tarde, acho que depois do almoço e ela pergunta se está tudo bem, eu digo q sim... pra mim, tudo bem... 

Quando a mulher chegou em casa...  ela sentiu um cheiro forte de gás... ela ficou desesperada! e perguntava pra mim se eu não sentia, se as crianças não sentiam. E nós não sentíamos, estávamos dentro de casa todo aquele tempo, acostumamos com o cheiro... 

Ela foi olhar e uma das bocas do fogão e estava aberta, não tinha chama, mas estava ligada... eu devo ter limpado o fogão e virado o negócio e não percebi, porque os botões ficam de lado na parte de cima, do lado das bocas e é só virar que abre o negócio, só acende se você força, mas o gás sai e estava sumindo as letrinhas de informação...  (tipo que lado está ligado e tal, qual boca é aquele botão...)

A mulher surtou, claro e ainda viu o nariz da menina raladinho e eu falei pra ela que a menina tinha caído a mulher abriu toda a casa, ajudei a abrir, eu também fiquei assim, sem ação... eu também me assustei... ela abriu a casa pegou as crianças e foi com elas pro parque, antes, ela abraçava as crianças como uma desesperada e olhava feio pra mim...  me senti arrasada, como se eu fosse um monstro...

Bem, eu sei, foi gravíssimo, eu não me conformava, eu fui embora transtornada... a mulher se disse em choque eu disse q também estava...

Fui embora pensando fiz merda, e a mulher vai me mandar embora, dito e feito, ontem me mandou uma mensagem pra eu devolver a chave, que segunda que vem seria meu último dia e que depois dos acontecimentos não daria pra eu continuar na casa dela, eu respondi que a entendia e que levava a chave no outro dia que ela não precisaria se preocupar que eu entendia e respeitava a decisão dela e esperava por isso.

Também pensei: ela quer que eu vá mais uma segunda com que clima? Ou só por que ela quer que eu passe aquele monte de camisa social do marido? Porque eu passo umas 7 por semana... essa semana não passei, deve ter umas 14 me esperando lá... e vão continuar...

Então, aí eu fui lá na casa dela levar e nem ia entrar na casa, só deixar a chave e ir embora, não tinha mais o que falar, eu estava arrasada com tudo... mas ela quis que eu entrasse e começou:  ela disse que o pior de tudo foi eu não ter falado no telefone que a menina tinha caído, porque acidentes acontecem (do gás)... aí eu expliquei pra ela que não lembrei de falar no telefone porque a menina estava bem e eu não quis preocupá-la, aí a mulher virou bicho e disse que quem tem que decidir se fica preocupada era ela, não eu, que eu ESCONDI que a menina tinha caído e que quando ela chegou, além do gás, dá de cara com o machucado no rosto da menina e que claro que eu não entendo, eu não tenho filhos, eu não poderia entender.

Nossa, fui pro ponto do ônibus desolada, chorei lá... porque, poxa vida, ela não precisava arrasar tanto assim comigo, eu não lembro se ela sabe minha idade, então, se eu tinha dito, já deixa claro a indiretinha dela, eu só dizia pra ela "tudo bem" "eu entendo você" (eu vou ser canonizada ou não?)
Fiquei no ônibus chorando pensando "realmente eu não tenho filhos, não sei se os quero, mas se ela soubesse que se eu quiser, eu talvez não consiga ter (tenho problemas hormonais que dificultam que eu engravide e a idade já não ajuda), será que isso teria deixado ela menos seca comigo ou ela usaria isso ainda mais pra me cutucar?

Fiquei muito triste com tudo, não queria que tivesse acontecido o que aconteceu, gosto das crianças... foi um grande descuido que eu tomo agora como lição para tomar mais cuidado agora.

 Eu sei, eu fiz besteira, mas que fogão de merda que não é seguro! e outra: p*rra, a menina estava bem!

Fiquei pensando que no Brasil, não me lembro de uma mãe ficar tão louca porque o filho caiu... caiu, levanta, brinca de novo... não consigo mesmo entender isso, talvez porque eu não seja mãe... mas o problema é que

poxa vida, minha vida é só patada nessa terra?
Até quando vou continuar teimando em viver aqui? Quero teimar até o final do ano, será que consigo?

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

6 meses...

... e lá se vão seis meses!!

Seis meses, eu achei que não aguentaria tanto... e espero aguentar um pouco mais...

Bem, vocês sabem de tudo: que a vida aqui é difícil (uma merda mesmo rs), que Londres só como turista.
Descobri que realmente eu não tenho nada a ver com esse povo, tirando o rock daqui, pra mim, nada faz sentido: não tomar banho ou só dentro da banheira (nojo!), comida apimentada, dormir sem "lençol de cima", aquecimento (ODEIO!!! e me mata de alergia), carne que tem um gosto estranho (a de vaca), parece que é velha...
odeio aquele fogão de chapa, sem boca com chamas, ODEIO! minha comida sempre queima por baixo e fica aguada por cima.

E o bolo de aniversário daqui?
É HORRÍVEL!
Um pão-de-ló sem graça com uma cobertura totalmente feita de açúcar, dá até um nó na garganta de tanta açúcar... horrível... saudade dos meus bolos, que não faço porque não tem batedeira na casa...

Saudade de uma manga de verdade, de uma laranja de verdade, porque elas não têm gosto aqui... como a maioria das frutas que vêm de longe...

Saudade de um churrascão com maionese, farofa e salada de acelga com shoyo. Um bolinho de mandioca com carne seca!

DA COMIDA DA MINHA MÃE!!!

Saudade da família e dos amigos, saudade dos meus bichos fofos...

Saudade da minha cama, do meu colchão e do meu travesseiro!
Do meu guarda-roupa e todas as roupas que estão lá e que gosto tanto... dos meus cds, livros, dvds!!! (que logo todos terão novos amiguinhos rs).

Saudade de assistir minhas séries na minha tv da sala, saudade de ficar á toa vendo séries e filmes na tv e batendo papo com a minha mãe.

Saudade de conversar com a minha mãe, ouvir os causos dela, ouvir ela cantando enquanto faz as coisas da casa, saudade das graças do meu irmão e até saudade da rabugice do meu pai!

Saudade de me sentir num lugar que parece meu, onde as coisas fazem sentido, as pessoas fazem sentido, mas até hoje não sei se a vida fazia sentido...
Aqui não faz.

A única coisa que faz sentido aqui é assistir aos shows que estão por vir, só assim pra eu lavar a alma! (Estourei meu cartão de crédito do Brasil rs que se dane rs)

E conhecer o resto da Europa, isso também faz sentido, estando tão perto.

Mas viver aqui e não falar inglês é frustrante e não faz sentido. Não estudar inglês e viver como mendiga (ando como uma na rua, não me reconheceriam...) ou quase sem teto, com roupa de faxineira pra todo canto...
Ser faxineira é um trabalho digno?
Não, em nenhum lugar é porque ninguém respeita e ser uma pessoa com uma formação educacional alta e ter que ouvir um povo mal educado que só fala palavrão sendo seus colegas de trabalho, faz menos sentido ainda (não que no Estado fosse muuuuito diferente rs), mas os portugueses toscos que trabalham comigo, principalmente as portuguesas, não fazem o mínimo sentido em existir pra mim: principalmente se você é uma imigrante ignorante (iminorante rs)e se fica de nariz empinado porque nasceu na rabeira da Europa, não adianta ter história, tem que ter berço e essas fulanas que sairam de um buraco na ilha da madeira podem bancar as "melhores" pro povo do povoado delas, não pra mim que sei de que buraco sairam).

Bem, eu espero que o tempo que eu ainda aguente aqui valha de alguma coisa, mas uma lição eu aprendi com a Dorothy: não há lugar como o nosso lar ahahhahahahah
Pode parecer besteira, mas nada como se sentir em casa, estar em casa, se aconchegar.

Acho que lições valiosas eu tirarei daqui, espero que tudo isso me ajude a ser uma pessoa melhor, como eu sempre brinco: canonizada rs
Porque faquir eu já sou no colchão SÓ de molas...

Mais uma: o que adianta ter caras bonitos se não tiram a cara do jornal, do livro e do facebook em seus iphones e blackberries?
E ainda todo mundo diz que são uma negação rs
E pelo jeito não aprendem nada com os livros que lêem... rs
Preferem jogar paciência no "mobile" a olharem pro lado, então, encham mesmo a cara todo dia no pub e peguem a mocreia dos seus sonhos... que eu tô fora! vocês não fazem o mínimo sentido pra mim!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Duas semanas ou mais com essa música na cabeça, por que será???

Fazia um tempo que eu não parava para fazer minhas preces. Sabe quando você vai dormir e faz a prece, mas é uma coisa meio já decorada, sem pensar direito, sem fé?

Era assim que eu estava e você, que lê esse blog e pode não acreditar nessas coisas, desculpe, eu acredito.
Eu acredito que dei uma desandada e fiquei muito deprê, deprê porque me deixei abater, talvez porque quando tenha chegado nessa casa que estou agora o ambiente já foi deprê: eu moro agora num albergue, não numa casa, é assim que me sinto.
Fora que o povo gosta de tomar conta da sua vida... vou  ter que dar uma gato pra casa uma (o gato tem 7 vidas pra elas se ocuparem rs).

O ambiente da casa me pareceu desde sempre pesado, o lugar nunca me agradou, a tal cohabona, cohabona suja, velha, mal cuidada. E acho que esse ambiente foi me deprimindo, fui pensando sempre que estava regredindo... que aos poucos eu ia decaindo mais e mais...

Não, não é a casa que falei no post abaixo, aquela ainda vou contar a história... estou falando da atual - tá ficando confuso essas minhas idas e vindas na história?

Voltando, o ambiente me deprimiu pra caramba e a minha placa dentária que uso pra dormir, por conta do bruxismo está até se espatifando... eu esqueço de tomar o rivotril para dar uma acalmada antes de dormir... hoje lembrei.

Daí, por conta da Landlady ser de uma outra religião, ela já jogou uma indireta mesmo antes de eu entrar na casa quanto ao que ela acha dos espírita. Pra ela é tudo macumbeiro e ponto.
Ponto contra ela que não entende nada e ao invés de o "poder da religião dela" fazer com que a casa estivesse fortalecida, ela mesma só reclama da vida e se mostra muito ansiosa e controladora, o que me irrita ainda mais e acho que isso também não ajuda nem a ela e a filosofia de vida dela, que não deve ser essa, a da religião dela, apesar da visão estreita das outras.

Isso fez com que eu resolvesse dar um tempo na minha religião, deixei de frequentar o centro espírita mais fácil para eu ir, e me deixei levar pelos pensamentos negativos, desanimei total.

Com amigos espíritas aqui, que fiz, eles têm sempre me ajudado muito e tentado me fazer acordar, me animar... semana passada eu já estava querendo voltar pro Brasil.
Todos me deram força, força vinda do Brasil também, tantos amigos que vieram falar comigo, me escrever e tentar me animar e tudo isso foi bom e eu resolvi que estava na hora de trabalhar de novo meu lado espiritual e minha força de vontade de mudar.

Um grande amigo (mais que isso rs) foi que mais me surpreendeu: eu sempre dizia pra ele "você tem rezado?" etc e quem me disse o mesmo dessa vez? Ele! Foi uma surpresa que me alegrou por ele estar seguindo um caminho que é muito bom pra ele e tem feito bem a ele.
Acho que isso foi o que começou a me animar, mais todos os outros amigos me ajudando. E a fé foi se renovando.
Dei umas caídas ainda, porque onde moro não ajuda nenhum pouco, mas aos poucos, voltando a ler o Evangelho. E, o mais engraçado, no centro que frequento aqui eles iriam fazer o estudo dos Mensageiros e eu pus na cabeça que era Missionários da Luz e estou lendo. Acredito que era pra eu ler esse primeiro, talvez tenha algo para eu aprender com ele, assim como tenho aprendido muito com a vida dura daqui, alguma coisa essa vida dura quer me mostrar.
Talvez dar mais valor á vida que tinha no Brasil, a minha família, entender melhor as pessoas... ainda não sei, mas quando brinco que serei canonizada quando voltar é só querendo dizer que algo deve se modificar aqui dentro. E espero que para o melhor.

Voltei ontem ao centro espírita, conversei com uma mulher espírita com um coração de ouro depois, e pedi muito a ajuda dos mentores, hoje já apareceram perspectivas novas de emprego e isso me mostrou o quanto a falta de fé me atrapalha, ainda mais por ter um certo conhecimento, aí que eu preciso me policiar mais porque quando mais você sabe, mais se é cobrado...

Estou me sentindo bem e espero me manter assim, espero não esquecer e engavetar minha fé de novo.

Conto com todos vocês! Obrigada por tudo!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vida Nova?

Saí da mansão do mal e fui morar, primeiro, em Lewisham por uma semana, a semana em que ninguém pôde me dar um sofá para eu dormir e eu não quis de jeito nenhum pagar mais uma semana na casa de Soudemorte. Eu preferiria dormir debaixo da ponte, num desses túneis de entrada pro metrô á morar mais uma semana na casa desses seres do mal.  Estava disposta a pagar diárias em abergue por uma semana, já que ninguém poderia me estender a mão.
O novo Landlord, GG, tinha um quartinho que fez de cozinha para a mulher, Pureza (lembram do Apollo e Pureza do Chico Anysio? Rs), eu poderia ficar uma semana lá, pagando 50 libras a semana enquanto a menina não desocupava meu futuro quarto. Aceitei. Eu só tinha que arrumar minha cama à noite, todo dia, porque era um colchão de casal que eu colocava no chão e virava minha cama, mas pelo menos eu tinha tv com sky, geladeira só pra mim.
Foi uma semana leve, apesar de ser só um quarto improvisado. Fui dar minhas aulas, estava começando a dar aulas de português e falei isso para a Collorida quando fui à casa pagar as 20 libras, mas falei do tipo “estou bem, ganhando bem”, não ia dar o braço a torcer que não era bem assim. Fui a um feira de línguas, ver se achava um emprego de professora de português ou qualquer coisa, mas só ganhei foi um monte de papel e ainda paguei barato num dicionário da Oxford e num livro da gramática que todo mundo usa: Grammar in Use.
Lewisham era bem diferente da vida que levava em Richmond, já era um bairro, pelo menos perto da estação de New Cross Gate, mais pobre e também com muito comércio. Depois vim a conhecer o resto do bairro e tem casas muito boas, com familia com grana, principalmente na parte de Blackheath. Uma coisa legal é que era super perto de Greenwich e fui até lá. Conhecer o meridiano, o parque, lindo, e ver se ainda aconteciam as gravações de Piratas do Caribe 4, mas infelizmente não tive essa sorte. Foi bem na época que Johnny Depp foi na escola da menina vestido de Capitão Sparrow... só ela teve sorte rs
Comecei a conhecer meus novos landlords, pareciam gente boa, pelo menos me trataram bem, Pureza não saía da cozinha, o dia todo, todo dia fazendo salgados e docinhos, pois tinham anúncio e lugares certos para vender, além de encomendas de festas. GG alugava algumas casas e parece que fazia mais algum trabalho que eu não descobri qual.
Ela era bem mais nova que ele, mas parecia muito centrada no trabalho e no que ela queria: não queria voltar a morar no Brasil, Londres era a casa dela, não queria voltar para uma cidadezinha pequena perto de BH, onde GG a conheceu e a trouxe pra cá.
GG tinha morado nos States – ilegal, of course! – aqui acredito que tinha feito algum casamento com alguma inglesa ou qualquer outra coisa que deu uma cidadania para ele, parecia muito seguro morando aqui há dez anos e me disse que tinha pedido um visto para os States, que o sonho dele era voltar para lá, conseguiu e não foi ainda e acha que está bem em Londres. Conseguir visto pros States só porque você mora em Londres não me parece assim tão simples, se não for papo também.
Na casa que fiquei por uma semana também moravam brasileiros, havia uma moça que morava sozinha, e duas famílias. Sim, famílias. Um casal de goianos que tinham chegado na mesma época que eu e as duas filhas pequenas e outro casal de uma mineira casada com um português e o filho que era o terror, e deveria ter no máximo quatro anos.
Até esse momento não sabia dessa coisa da má fama dos goianos e nem que eles existiam aos milhares pela Europa, talvez por isso não se ouça falar deles no Brasil...
Achei estranho alguém sair da sua cidade com duas meninas pequenas e  tentar uma vida nova em Londres, sem trabalho certo, o pior foi quando a mineira me disse que estavam ilegais. Fiquei chocada: como alguém sai da sua cidade com duas meninas pequenas para viver ilegalmente em outro país e viver o resto da vida ou escondido ou passar pela humilhação de ter suas filhas pequenas escoltadas de volta para o Brasil com eles, pela imigração?
Não entra na minha cabeça fazer esse tipo de coisa, é se arriscar demais! Mas é comum, enfiar crianças em quartinhos sem condições, dormindo com os pais e no meio de um monte de gente sem um lugar para se chamar de lar. É comum aqui, mas se o que seria uma espécie de conselho tutelar descobrir, mesmo que você esteja legal, é motivo para multar os pais, ou até processá-los porque isso não é condição para criança. E eles protegem muito as crianças aqui, cada criança tem que ter seu próprio quarto, sua individualidade logo cedo e eles cuidam disso. Talvez por isso sejam tão individualistas para o resto da vida.
O certo é que as casas são enormes,  você não dá nada pela  fachada da casa, quando entra, se espanta, são andares e mais andares e bem espaçosas e, claro, cheias de quartos.
Voltando às famílias, a mineira trabalhava na National Gallery, limpando de madrugada – das 6 às 10 -, até me indicou para a mulher de lá, que nunca me deu retorno. E ela falou pra mim:
Você está legalmente aqui? Porque a outra lá não está e lá eles não aceitam, então eu não posso arrumar emprego para ela.
Eu respondi que sim, que estou legal, tenho documento europeu legítimo.
E foi assim que soube da condição da outra família e de  tantas outras famílias malucas que estão por aqui, porque eu acho maluquice você sair sem perspectiva para um outro país carregando seus filhos.
O filho dessa mineira era uma peste, ela poderia se gabar de estar legalmente, casou com um português..., mas que o filho era terrível, era. Ele subia até na mesa da cozinha,  tentava subir numa mesa acima dessa para apertar os botões da tv que ficava nesse cômodo. Pureza era obrigada a sempre trancar a porta da sua cozinha “industrial” (mais meu quarto) enquanto estava lá por conta do menino que mexia em tudo (um dia quis pular a janela – segundo andar – e mãe lá, fazendo a comida dela na outra cozinha livre e feliz do moleque dos infernos). Aí essa mineira veio me dizer que a filha que mora no Brasil, com uns 11 anos de idade, está rebelde que não acha justo que o filho do novo casamento dela esteja em Londres e ela lá no interiorzão e ela achava absurdo a filha estar assim brava com ela. Eu não acho, eu me sentiria igual se fosse a menina, mas na cabeça dela a menina está errada e com frescura. Claro, ela teria também que viver assim, dividindo quarto com padrasto e com o irmão dos infernos. Parece maldade minha falar assim do menino, mas ele realmente era uma peste que não deixava nada no lugar e ainda xingava a mãe de bitch. E ela dizia:
Ah, ele aprendeu isso na outra casa...
Sim, aprendeu na outra casa, com outras pessoas e isso não tem nada a ver com o fato de eu ter visto ela no celular com o marido e falar “p*rra, tô te ligando faz tempo, por que não me atende, caralh*?
Com certeza, isso não faz diferença nenhuma, nem o fato de ela não falar absolutamente nada para o menino enquanto ele apronta.
Finalmente o sábado chegou e lá fui eu para Dalston, para um quarto só pra mim, com tv com sky e frigobar. Parecia que as coisas mudariam para a melhor, pareciam.