quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Portugal

Essa postagem era pra ser varias, como estou sem net em casa ha mais de uma semana, estou num lan, sem acento e colocando varias postagens de uma vez sobre Portugal, so pra adiantar as coisas aqui rs
beijos!

Portugal

Como contava no post abaixo, cheguei a um vilarejo muito diferente de tudo que já tinha visto. Eu fiquei encantada com aquilo e perguntava para o taxista sobre aquelas casas de pedras, ruas estreitas e ele só dizia “é um povoado, não é com na cidade, é assim mesmo”. Ele não foi mal educado, só que para ele nada daquilo parecia novidade, era só um lugar esquecido para quem deveria viver no Porto e deveria conhecer outros lugares como aquele.
A Póvoa deCervães não é o único lugar em Portugal assim: há muitos e muitos povoados por todo o país. Muitas pessoas preferem viver em lugares assim, não é só a questão de ter ficado os velhos e os jovens foram procurar outras coisas para suas vidas. Ainda existem pessoas mais novas que vivem por lá, principalmente quem vive da plantação (batata, milho, uva são os principais) ou da criação de ovelhas para o queijo famoso por ser da região da Serra da Estrela.
O povoado diminuiu muito o seu número de habitantes de quando meu pai saiu de lá, mas também ganhou benefícios com a modernidade.  Meu pai achava que até hoje não deveria ter banheiro nas casas... mas descobri que há casas que não tem até hoje, uma delas, o dono, um senhor de 90 e poucos anos não queria na casa dele... E eu achando que meu pai era conservador... Não é só o “ambiente” que parece que parou no tempo, mas também alguns habitantes.
Muitas pessoas que vivem por lá, fizeram a vida em outro lugar e voltaram quando se aposentaram, como um tio meu e a esposa que fizeram  a vida nos Estados Unidos, ou na América, para eles,  e agora preferem a vida mais tranquila da Póvoa, cuidando da terra apenas como hobby.  Os filhos deles continuam nos States, continuam a vida por lá, outtros já são até avós por lá e não parecem querer voltar a morar em Portugal, um deles até nasceu nos Estados Unidos, apenas uma filha do meu tio preferiu continuar em Portugal, mora em outro vilarejo vizinho, mas mais novo e diferente feito de casas bem mais modernas e novas, no estilo americano de casas: grandes, com jardins, sem muro.
Algumas pessoas vão à Póvoa nas férias de verão: rever os parentes que ficaram ou alguns alugam casas por lá, por preferirem o campo à praia. O vilarejo fica cheio de carros com placas da Suiça, Luxemburgo, França (principais países para onde os portugueses foram tentar a vida), Espanha, Alemanha.
Na chegada da casa da minha tia, vi um grupo de idosos batendo papo, todos ficaram olhando com aquela cara de “quem será?”, uma das senhoras foi andando na frente do táxi – era difícil para o táxi andar naquelas ruazinhas e mesmo com o gps o taxista errou a casa – a casa da minha tia dá para duas ruas, daí o erro, fomos pela entrada que ela não usa, mas é a que marca o endereço de correspondência. Ele parou para perguntar para essa senhora que vinha com outra e eu sai do carro e disse “Você é minha tia M J?” – as fotos nem sempre ajudam a ter certeza rs – e ela disse que sim, nos abraçamos ali. E ela mostrou onde era a casa da minha outra tia P, onde eu ficaria.
Com minha chegada, as duas senhoras ficaram apreensivas, não tinham ideia de como eu era e eu estava muito exausta para pensar direito. Eu não as entendi direito e a primeira coisa foi entender que todo papel higiênico se joga dentro da “sanita”, porque desde que tinha chegado em Portugal não via latas de lixo dentro do banheiro, imaginei que fosse assim no aeroporto, mas não nas casas.
Minha tia me esperava com uma comida muito diferente do que estava acostumada: macarrão com pedaços de carne, alguma verdura e grãos de bico, era meu almoço. Não sou fã de grãos, minha tia percebeu e queria saber de quais coisas eu não gostava rs
O melhor veio com a sobremesa: arroz doce tradicional português! E posso dizer: é muito mais gostoso que o nosso! Ele é igual um arroz normal, não fica igual uma sopa, como fazemos no Brasil e é todo enfeitadinho com canela por cima, dá até dó de mexer. Uma delícia! Mas eu precisava dormir, não aguentava mais. Antes, um dos filhos dessa minha tia liga para ela (os filhos dela também moram nos States e quer falar comigo e repete o que minha tia me tinha dito “o que uma moça da cidade faz no meio de um monte de velhos?” Ele parecia ter certeza que o lugar seria chatíssimo para mim, mas eu estava encantada com aquele lugar e nunca fui o tipo de pessoa de não gostar de velhos – só os bem mal educados rs
Eles achavam que eu odiaria ficar ali o que se mostrou depois ser o contrário....

Depois do sono...
No mesmo dia havia festa na aldeia, na praça central do lugar teria música, comes e bebes. Fui com minha tia M, minha tia P tem problema nas pernas, acredito que seja artrose e não sai de casa, só por urgência, ela preferiu viver meio enclausurada desde que o marido morreu, há 7 anos, se estou certa da data.
Lá pertinho é a casa desse meu tio, A, que viveu nos States, aquele que eu deveria ter conseguido ligar para que ele me buscasse...Fui ver qual era essa da festa, muitas pessoas levam suas próprias cadeiras para ficar por lá, outros sentam nos bancos da praça.
Logo começou a música, música mais popular. Era uma coisa meio entre o sertanojo do Brasil, algo próximo da música gaúcha também, por conta da rapidez. As letras eu nem entendia direito, mas eram aquela coisa povão e animada, lembrava festa com sanfona, o forró original. O povo começou a dançar e era engraçado porque todo mundo queria dançar: novo, velho, criança até adolescente que era para acharem aquilo o fim. Não, aprendiam a dançar com os mais velhos e iam para a dança. Era muto engraçada essa união de idades ali. A limpeza do lugar, todo mundo jogava as coisas no lixo, praticamente a praça nem ficou suja.Claro que tinham adolescentes que não curtiam,mas estavam por lá batendo papo. Uma coisa bem familiar que não me lembrava de ter visto, principalmente pala união de idades.
Claro que perguntavam quem era eu, eu era o centro das perguntas. Sai para tirar fotos e foram atrás de mim, minha tia M foi atrás para “atrapalhar” a xeretice dos outros. Mesmo assim, conheci muita gente que lembrava do meu pai e que sentia saudades dele, como um amigo do tempo que eram pastores, quando adolescentes. Fiquei por lá até meia-noite e o povo ainda não tinha parado de dançar. Até música do Roberto Carlos tocaram, para não dizer que falaram “diretamente do Brasil” um forró ruim que todo mundo conhece e tocava numa novela, aquele de que você não vale nada... já entenderam... falei pra mulher do meu tio “o pior do Brasil!” ela concordou comigo, mas não pensei que o gosto dela e do meu tio eram muito pior rs (em breve saberão).
A casa original
Segunda-feira, fui conhecer com minha tia os “pontos turísticos” da Póvoa, antes disso, ela me levou à casa dela, casa que era da minha bisavó e onde moraram meu avós, meus tios e meu pai.
Quando entrei na casa, uma emoção tomou conta de mim, aquele lugar que viveu tantas coisas, e algumas eu até sabia, me tocou profundamente, lágrimas começaram a brotar e eu tive que dizer a minha tia que estava emocionada ali, naquela casa, pequena, antiga, com modificações do tempo – como um banheiro rs – era um pouco de mim. Era uma das minhas origens que eu ainda não conhecia e agora via de perto.
Interessante conhecer coisas com as quais não se está habituada a ver, como antigas sepulturas perdidas num canto da aldeia, no Cumareiro, sepulturas de pedra perdidas pelo tempo, não se sabe de quem foram, só estão ali, onde um dia também se plantou e agora está apenas com a vegetação local. Há uma crendice nessas “copas dos mouros” como foram batizadas: nestas pedras que cobririam as covas, existem formas como se fossem de pessoas, mas são pequenas para isso, dizem que aquilo foi feito pelos mouros, quando se deitavam naquelas pedras, ficavam suas marcas... A lenda ficou, mas que não cabe uma pessoa ali dentro, não cabe rs
Tirei fotos por toda a Póvoa e minha tia começou a me chamar de Jorge Tadeu (alguém lembra da novela aí? Do retratista? Minha tia lembra rs).
Imaginar que uma igreja está ali desde o século XII é andar pela história, pisar, muitas vezes, na história. Entender como aquelas pessoas viviam e vivem ainda hoje. Quase como numa cidadezinha do interior, que no outro dia todo mundo sabia quem eu era: “a brasileira, filha do Alberto A” ou Aberto “Guerra”.
Uma das coisas engraçadas que acontece por lá é todos serem conhecidos não pelo sobrenome original, mas por um apelido. A família do meu pai ganhou o apelido de guerra, cada um conta a história de um jeito, meu pai diz que é porque a família (meu avô e irmãos) era briguenta; minhas tias contaram diferente: que meu bisavô quando nasceu, perdeu a mãe e foi criado por uma tia que achou que ele não iria vingar, como sobreviveu, era um guerreiro... (a versão delas é mais legal, né? Rsrs ninguém pode dizer que eu não pertença às duas rs).
Conheci, com isso, as raposas, apelido dado a uma família de fofoqueiras da aldeia, que se metiam na vida de todos e ainda contavam para o padre, ou seja, as famosas “papa- hóstia” e que ainda acham que vão pro céu. Apelido bom o delas, né? Minha tia P ficava louca com elas, como minha tia não sai de casa e tem dificuldades para ir até a Igreja, as raposas avisam ao padre as pessoas que ele deve confessar e dar a hóstia em casa – elas “registram” quem precisa ter os sacramentos... Minha tia só me dizia: o que uma velha de 85 anos que não sai de casa pode fazer que seja pecado? Falava indignada pensando nas raposas e a mania delas de dar conta da vida espiritual dos outros.
Outros eram os “macacos” porque o pai, quando os filhos nasceram dissem que tinha macaquinhos em casa, não precisou de mais motivo pro apelido... ou o” Padre Lobo”, um cara metido que nunca saiu da póvoa – que meu pai diz ter batido muito nele porque ele contou para os pais de uma namoradinha do meu pai que eles estavam juntos rs – ganhou esse apelido por ter hospedado o verdadeiro padre Lobo em sua casa e se achar por conta disso.
Coisas engraçadas aconteciam ao redor desses personagens, fica pra próxima...

Mistérios da meia-noite...
Estive no verão em Portugal, então, só era noite depois das 9 da noite, coisa que eu nunca tinha vivido e que me pareceu exaustivo: o dia nunca acabava!
Mas conforme a noite ia chegando, figuras inusitadas apareciam, Orides, uma senhora de 48 anos, jeitosa, que dizia ter um namorado a sua espera e muitas noites saia com bolsas (ou sacos, como diziam minhas tias) para ir ao aeroporto encontrá-lo (tudo coisa da cabeça dela), ela não tinha luz em casa e ficava lá... olhando ao longe... via uma luz refletir no vidro de outra casa e achava que era o sinal do namorado para que se encontrassem. Ela se arrumava toda e saía, se arrumava muito bem, roupas muito bonitas, bem fashion, ela poderia ser maluca, mas tinha bom gosto. E ficava na praça principal da aldeia esperando, esperando...
Eu fiquei me lembrando daquelas novelas tipo Tieta que todo mundo na cidade sabe de tudo, fica de olho na rua pra ver o que acontece, juntam-se as pessoas para ver e falar dos fatos... e uma boa parte do povo se juntava em alguns cantos para falar e ver Orides esperando seu amado. Eu não fui até essa pracinha (do Rossio) para saber, mas minha tia M no outro dia de manhã tinha todos os fatos para contar (rs), não sei se as pessoas ficavam ali até ela voltar para casa... mas ficavam um bom tempo vendo a coitada esperando o amado...
Uma outra figura era uma das raposas, aprontaram tanto..., ela também não era boa da cabeça e saía pela rua falando, muitas vezes o dia todo, nem precisava ser de dia, mas à noite o Pe Lobo mau (rs) mexia com ela e ela começava a brigar com ele, e discutiam por um bom tempo, ele mexia com ela e depois queria ganhar na discussão – quem era o louco ali?
Eles moravam na rua atrás da casa da minha tia, na outra entrada dela, então escutávamos tudo. Na maior parte do tempo, antes de dormir, ficávamos na porta da  casa da minha tia sentadas, aproveitando ainda o final do dia, começo da noite conversando e, muitas vezes, ouvíamos a discussão dos dois malucos – uma que era mesmo e outro que contava papo de ter 10 apartamentos em Portugal, inclusive um em Algarve – tá bom, e morava na casa antiga da familia na Póvoa... ok, eu acredito e pergunto de novo: quem era o doido da história?
Parece que esse aqui não é a enciclopédia britânica e sim portuguesa, né? Mas foram 15 dias em Portugal, 12 na Póvoa...
Além das pessoas, também aparecia uma gatinha que eu sempre dava comida, como um dia ela não quis o pedaço de pão que dei, coloquei o nome nela de Fidalga. Percebi que sempre quando uma pessoa tinha manias, algumas frescuras, como eu que não gosto de bacalhau rs acabam chamando de fidalgo/a, foi daí que pus o nome na gata. Infelizmente ela era muito arisca e por mais que desse todo dia comida para ela, ela levava a comida longe ou passava bem longe de mim.
Uma outra vizinha tinha um cachorro bem velho, coitado, ficava vagando cansado pela aldeia... Como a vizinha não dava muita atenção para o coitado (o cão era do ex-marido dela, então, o cão levava) eu comecei a dar comida e água para ele. Percebi que ele andava com dificuldade pela idade, mas também pela falta de cuidado. Quando eu lhe dava água, ele bebia muito, e olha que o verão estava de matar lá, pelo menos de me matar, cheguei a pegar 38° graus...
Mas isso eu falo depois...
Portugal 40°, Viseu e a feira, o Porto e o consulado
Dias quentes, muito quentes em Portugal, quase me arrependi de não ter trazido minhas bermudas e apenas uma saia do Brasil. Quase comprei uma  bermuda lá, mas  sabia que isso era por pouco tempo... era melhor aguentar mais um pouco que logo viria o frio.
O mais triste com todo esse calor foram as queimadas (ou fogos para eles). Boa parte de Portugal ardeu em chamas literalmente e ficava muito triste de ver na tv tudo aquilo devastado: vegetação, plantações, animais, pessoas.
Lembro do dia que fui ao Porto e peguei um ônibus com o rádio ligado e a mulher só dava as temperaturas e o número de fogos pelo país. Boa parte da impresa só falava disso todos os dias.
Num daqueles dias fui com meu tio e sua esposa a Viseu, bela cidade pena ter conhecido tão pouco. Meu tio foi resolver coisas e eu, minha tia M e a esposa do meu tio fomos à feira mais famosa de Viseu.
E eu que pensei que feira só existia no Brasil (depois achei aqui em Londres também), me senti num mix entre feira livre, Brás/25 de março.
Muitas barracas, principalmente de roupa, vendiam muita coisa que acredito serem falsas (Lacoste na feira? D&G? Não, aquilo tudo por 5 Euros...
E povo gritava e chavama para as suas barraquinhas, igualzinho no Brasil, só muda o sotaque – quando não tem português na feira do Brasil – muita música inclusive uma que comentei no Twitter: uma versão em português de Portugal de Go West do Pet Shop Boys... liiiinda! Rsrs
Minha visita pelo Porto foi tão curta como a Viseu, fui ao consulado brasileiro resolver problemas de família e logo percebi estar no Brasil de verdade: filas, funcionária de saco cheio antendendo, gente falando pelos cotovelos, crianças berrando e pisando correndo pelo seu pé enquanto a mãe não consegue fazer nada ou ainda tem dó da criança... eu sabia, ela era realmente um pedacinho do Brasil.
Chegou uma tipa bem piriguete e também ficou lá esperando para resolver algo, daí começou a conversar com outras pessoas que eu não sei se ela já conhecia, ou conheceu ali e começou a contar da sua vida toda o mais alto que pode – imagina, nem era brasileira... Claro, tinham outras pessoas lá brasileiras e muito educadas esperando sua vez e morrendo de vergonha da fulana que é a que depois todo mundo lembra como brasileira e nos compara, sem nos conhecer, a ela no final das contas.
O Porto é lindo, babei na cidade, mas estava com meu tio que é igualzinho ao meu pai: vamos resolver logo tudo e correr pra casa, a mesma filosofia de sair correndo e não ver nada. Que dó... mas eu voltarei ao Porto, amei! Fiquei de boca aberta com a cidade, mesmo tendo a vista mais dentro de um táxi ou de um “autocarro” (ônibus).
O horror, ou as músicas no carro do meu tio
Meu tio era o único da família que tinha carro na Póvoa, daí fiquei meio dependente dele, mesmo não querendo e um dia ter pedido um táxi e ido a Mangualde sozinha, e claro que ele ficou sabendo, né? Imagina se não... ainda por cima foi minha tia M quem contou, pra ser a primeira, vai ver... Ele ficou doido comigo, igual meu pai: fica gastando dinheiro...  “precisa usar o computador usa na casa das minhas netas eu levo lá (meu, usar notebook do outros, a pessoa em cima de você é o fim!), pra vocês dinheiro é capim, tem muito pra gastar!” (deu vontade de responder: antes gastar dinheiro a ficar totalmente dependente dos outros, mas não ia arrumar confusão com o irmão mais controverso do meu pai, aquele que muitos odeiam pela Póvoa... e na família...).
Bem, então tá... Mangualde é uma gracinha, tirei boas fotos por lá e no dia que fui com o táxi tirei foto da Senhora do Castelo, uma igreja que fica num dos pontos altos da cidade e infelizmente estava fechada para visitação, mas a vista é linda de lá... não consegui descer a escadaria toda, parece que são 365 “balcões” (degraus) para cada dia do ano. Ia descer, mas fiquei pensando na subida rs que era onde estava o táxi...
Daí as outras vezes fui a Mangualde ou com meu tio, ou com um sobrinho da minha tia P, C, que chegou depois à Póvoa e é uma das pessoas que mais procura preservar as raizes da aldeia, tanto que criou comunidades no orkut e facebook para encontrar os descendentes de lá, e assim já me conhecia.
Quando estava com meu tio, era realmente de querer morrer os cds que eu adoraria saber quem fez pra ele, só pra bater nessa pessoa... eu pensava que meu pai era o horror em música no carro porque ouve Nelson Gonçalves e sabe de uma coisa? Nunca senti tanta saudade de um “boemia, aqui me tens de regresso”...
O cd começou de algum ponto pelo meio e começou a tocar Xuxa, sim!!!!!!!!!!!!!!! Xuxa com sua músicas do começo de carreira nos anos 80, aquela vozinha dela... ai, meu Deus! Pensei: e eu que falei mal do forrobodó na festa do povo... foi ficando pior... tinha Kelly Key no cd!!!!!!!! Gente! O que era aquilo!!! O cd terminava e começava de novo! E eu quase virei e falei: pelo amor de Deus! Essa música  é de pedófilo: ela não quer que o menino estude para levá-lo pro mau caminho!!! Vocês querem uma Kelly Key na vida dos seus netos e bisnetos?????????
Como sempre, fiquei queita e aí comecei a odiar aquele cd e pensar quando iriam trocar de cd... eu já estava com aquele “não quero mais brincar de adoletar” na cabeça... inferno!!!!
Todo dia que saía com ele, ele ligava aquele lixo! Ódio! Não poderia só curtir a paisagem, conversar? Tinha que ligar aquela merda? Tinha!
Tinha uma outra música que era um português que cantava e eu conhecia a letra porque ouvia na Igreja/Centro Espirita, sempre lembram dessa música em lugares religiosos, só que, Deus, me desculpe! Mas eu queria matar a hora que tinha a menininha que cantava com o cara, era uma vozinha de deixar a gente surdo ou dar um tapa na menina pra ver se saía a voz e cantava igual gente, nunca odiei tanto aquela música do que com a desafinação da monstrenga! E ainda ela falava “o que é preciso para ser feliz” voltar a Inquisição e considerar blasfêmia aquela ogra cantando e assim ir pra fogueira? Eu seria feliz! Jogar o cd do carro também me faria muuuito feliz.
Até que acho que meu tio enjoou daquele cd e trocou, começou a tocar umas musiquinha mais com cara da idade dele, só que aí veio o inferno de novo. Aí eu ficava pensando: e todo aquele porte de senhor religioso que meu tio e a mulher pregam? Aquele porte de pessoas sérias? Jogaram no lixo!
Começou a tocar o HORROR dos HORRORES, sim essa ganhou e poderiam fazer numa versão fank que ficaria no nível certo: um tiozão dizia que gostava só de mamar no peitos da cabritinha. A música era todo de duplo, o único, sentido. HORRÍVEL! Que saudade da Julieta... que saudade de todas aquelas letras do Genival Lacerda! Eu não entendia como aquilo estava tocando ali e ninguém falava nada! Não mesmo!
Imagina o caminho todo da Serra da Estrela – que você leva bem umas duas horas para subir – ouvindo essas músicas para meditação... eu fiz altas teorias meditando: pedofilia, Xuxa falando de comida, engordando até a criançada com uma tal de batata batata batata, essa de zoofilia ou também pedofilia se for pensar que a cabritinha era uma jovem... altas teorias conspiratórias para processar todos... inclusive quem fez aquele maldito cd.

A Serra da Estrela
Tirando a música de fundo para irmos à Serra da Estrela, digo que é um lugar lindo que merece ser visitado, me disseram que no inverno, com a neve, é mais bonito e dá até para esquiar, tem estação de esqui lá. A paisagem é maravilhosa é o que mais se curte lá, principalmente os rochedos e formações de água, muitas minas, inclusive uma que é a nascente do Rio Mondego -  o rio mais importante do Norte de Portugal. Beber água na fonte não tem preço. Muito, muito gelada, mas deliciosa!
Quando chegamos de manhã lá, estava um frio! Uma ventania, mas aos poucos esquentou, só indo cedo para poder se aproveitar no verão, porque depois o sol é de rachar. E acabou mesmo por rachar a Serra da Estrela, uma semana depois ela estava também em chamas, fiquei triste em pensar que uma semana antes eu tinha visto coisas lindas e naquele momento só se via o “fumo” (a fumaça). A paisagem é encantadora e espero que um dia volte a ser a paisagem que eu tive sorte de ainda ver.
Palavras esquisitas
Eu e minha tia P muitas vezes não entendíamos uma a outra, era engraçado... eu muitas vezes não entendia ninguém falar rs
Mas o mais engraçado é uso de palavras diferentes que às vezes só vemos nos livros:
Apetecer: gostar – come mais um pouco de arroz doce se lhe apetece!
Si: você – fazemos tudo para si
Ralhar: brigar – Não vai ralhar com ele depois.
Ananas: abacaxi – e eu que pensei que só aparecia nas palavras cruzadas isso rs
Cachos: uvas
Melgas: lagartixas, mas maiores
Clementina: tangerina, ou mexerica. Fui numa lanchonete em Mangualde – porque na Póvoa só tem um único bar/lanchonete, estava com sede e resolvi comprar um suco e ele dizia “sabor clementina” perguntei para a moça e ela me disse que era parecido com laranja, e era mesmo.
Sumo= suco
Paragem = parada (de ônibus ou autocarro...)
Alheira/farinheira = uma espécie de linguíça cheia de coisas como farinha e pimenta e carne de frango. Segundo o C, foram os cristãos novos que a inventaram para enganar os inquisitores e fingiam comer chouriça dessa forma, assim se mantinham dentro da tradição judaica.
Chouriça= a nossa linguiça só que muito mais apimentada – argh!
O chouriço do Brasil tem outro nome, que agora não lembro...
Gelado: sorvete e sorvete parece que é outro doce...
O sorvete -  gelado – da Kibom aqui se chama Olá (em Londres Walls) e tem até de kitkat que não se fabrica no Brasil.
Tem no Mc Donalds o McFlury de Magnum, deve chegar no verão brasileiro, acho...
Falando em doce, um bem gostoso e que parece ser fácil de fazer chama-se “baba de camelo”, não sei por que um nome tão feio para uma mistura de sorvete bem cremoso... com nozes...
Manias: matar moscas, todo mundo tinha mata-moscas e entre uma conversa e outra, moscas iam pro beleléu... dava pra fazer um campeonato e ver quem matava mais...
Acho que não tomavam banho mesmo com o calor, só eu tomava banho todo dia... não sei como aguentavam com aquele calor... e falam alto no “interior do país” como se estivessem brigando com você, mas é só conversa...
As tomadas são do lado de fora dos cômodos, a única tomada do lado de dentro são as dos quartos (em Londres também).
Comer cedo para não acender a luz senão esquentava a cozinha. Jantávamos sempre pelas 7 que ainda tinha sol para não acender a luz, a lâmpada era considerada uma inimiga: ajudava a esquentar o ambiente... meu pai sempre teve essa mania... agora sei de onde veio...

meu pé direito
Depois de tantas emoções experimentadas, estava chegando o dia de ir embora. O sobrinho da minha tia resolveu fazer um prato típico português: sardinhada. Não sou fã de peixe, mas entrei na brincadeira. As sardinhas são colocadas na grelha, como num churrasco, são temperadas com sal grosso, mas inteiras, sem tirar nada de dentro, porque dizem que o sabor da sardinha, grelhada inteira é muito mais gostosa. Você não come as “entranhas” da sardinha, só a carne dela, calma! Só dizem que tudo assado junto dá um sabor mais gostoso. E se come com um garfo e com a mão de apoio, nada de faca, senão você não acerta tirar somente a carne do meio da sardinha.
Enquanto ele começava a assar na brasa, fui dar mais uma vez uma de Jorge Tadeu, fui pegar minha máquina e descer as escadinhas (3 ou 4 degraus pequenos) da minha tia, mas ao mesmo tempo eu lembrei que talvez a memória não estivesse dentro da máquina: combinação perfeita, olhar se a memória estava dentro da máquina e descer escadas, perfeito! Errei um dos degraus, e lá se foi um saco de batata enorme caido no chão e com uma senhora torção no tornozelo. Não me lembro de ter sentido uma dor tão grande e intensa em toda a minha vida e não espero ter outra na vida...
Era sexta-feira, meu voo para Londres era no domingo, eu iria para Lisboa no sábado a tarde. Só conseguia pensar que a viagem já era... não aguentava de dor, não conseguia ficar em pé, chorava. O C pediu gelo e colocou num saco e pediu para que eu segurasse junto ao pé, parecia que doía mais ainda com o gelo, mas era o único jeito...
Vai ver foi castigo por ter falado tão mal dos cds do meu tio, foi nesse dia que tinha ido à Serra da Estrela e falado mal da menininha que cantava sobre Jesus, é, eu dizia “Jesus pediria pra você calar a boca! Jesus preferia à cruz! Sofrer como Jesus sofreu ninguém quer, né? Morrer como Jesus morreu” como eu fui sacríleca!!!
Comi a sardinhada (também se põe na grelha pimentos (pimentões)) e batata cozida com azeite, tudo com gosto de lágrimas. Mas que aquele azeite era divino hmmm! Era! Feito por ali mesmo! Nossa, se não vendessem em garrafões, eu tinha trazido comigo... aí que eu comi mais ainda e virei o maior saco de batata mesmo...
Não teve jeito, era ligar no sábado avisando meus pais que não iria viajar e pedir  para transferirem a data para o próximo domingo, depois daquele.
O Endireita
Meu tio, assim que soube, lembrou que conhecia um Endireita...
Eu pensava se tratar de um ortopedista... ledo engano, o endireito é tipo aquele cara – sem ser benzedeiro – que você fala ”ah, tô com dor nas costas, acho que dei mal jeito” e o cara vai lá e dá um tranco nas suas costas? Coisa que às vezes você pede para alguém fazer pra você?
Não, o endireita é uma celebridade em Portugal, mais respeitado que os médicos. Não quiseram me levar no hospital, acreditam que o endireita é muito melhor. E lá fui nesse senhor, numa outra aldeia, aldeia famosa onde nasceu o ditador Salazar, há umas duas horas dali... eu tinha dormido tão mal à noite que dormi o percurso todo até o lugar, mesmo com cd ligado, nem sei se estava rs
Ele tem horários para atender, aquele era um sábado, mas ele atenderia depois das 14, depois do almoço dele, e ficamos esperando numa sombrinha no meio daquele calor de rachar, chegaram outras pessoas que também esperavam. O endireita chegou com o filho que também aprende a mesma arte – na verdade, não sei se são regulamentados em Portugal, mesmo que não forem, eles  têm um crédito com a população que acho difícil alguém tirar “poderes” deles. Ainda mais os portugueses que são pessoas realmente conservadoras e que odeiam um médico, como meu pai. Dentro do consultório não vi nenhum certificado, apenas livros do tipo “medicina caseira” e um papel desenhado o esqueleto humano.
Ele olhou meu pé e disse que estava “desnucado” eu só consegui achar – e ainda acho – que meu pé estava destroncado, talvez fosse isso em português do Brasil... Mexeu no meu pé, procurou o lugar certo dos nervos e tal – acho que foi isso rs – e até que não doeu, o pé já doía e estava inchado, não precisava de mais nada...
Colocou umas pomadas que vi se tratarem de cânfora etc, enfaixou meu pé e pôs um outro negócio, como uma faixa, só que elástica, e prendeu. Consegui pôr melhor o pé no chão, estava bem atado.
Agora eu poderia passar mais uma semana em Portugal com o veredicto do endireita: pelo menos 15 dias com o pé enfaixado e muito gelo!
Mais uma semana e acabei me apegando mais às minhas tias, fui ao correio em Mangualde mandar presentes das minhas tias e meus da Serra da Estrela para a família. Meu irmão também quis Kitkat que  no Brasil não se vende mais e minha cunhada ama.
Fiz o primeiro pacote registrado e depois lembrei dos chocolates para o meu irmão. Fui ao mercado comprar e voltei para mandá-los também, o sobrinho da minha tia me dizia que poderia ser que o correio não aceitasse, ainda mais com aquele calor, eu disse a ele que tinha razão, mas não custava tentar...
Volto ao correio e sou atendida por outra mulher que já se mostrou mal educada porque ela não estava atendendo ninguém, mas eu precisava pegar a senha para ela me chamar. Senha na mão e ela chama meu número (afff!!) e aí digo que é encomenda para o Brasil (os chocolates estavam na sacola do mercado e embalados em pacotes do próprio chocolate, aqueles pacotes maiores) e que queria registrada. Coisas registradas você precisa escrever num papel o que são e antes disso a mulher já me pergunta o que eu iria enviar e eu, com a maior cara de pau, chocolate.
Ela me olhou tão feio, mas tão feio que parecia que eu tinha xingado, ela, a mãe e todas as gerações da família dela. Ou talvez parecesse cheirar muito, muito, muito ruim ali, naquele momento, não os chocolates, claro, mas ela rs
 Só olhou, não falou nada, me deu a caixa, pediu pra eu colocar os endereços e cobrou, sempre com a maior cara feia do mundo porque eu, louca, estava enviando chocolate naquele calor dos infernos pro Brasil... nada demais... nada demais mesmo, ela poderia ter dito: isso não pode, se não disse é porque pode e é por minha conta e risco, certo?
Certo!
Os chocolates e os presentinhos chegaram no mesmo dia, depois de 20 dias, e inteiros!!!!
E a semana foi assim: sem internet e telefone público na Póvoa – até perguntei “e se acontecesse algo com alguém no meio da noite e essa pessoa não tem telefone, ela vai acordar o vizinho?” Achei absurdo demais, fiquei dependendo dos meus pais me ligarem para não gastar o telefone da minha tia e sem internet ...
O melhor é que ganhei uma carona até Lisboa na sexta-feira, teria um sábado inteiro para conhecer um pouco de Lisboa...
Na sexta cedo saímos da Póvoa com destino à Lisboa. Chorei ao me despedir das minhas tias que eu não conhecia e foram tão doces comigo, a minha tia P, com 85 anos, quase chamei-a duas vezes de “vó”, acho que inconscientemente a vi dessa forma. Elas também choraram, do meu tio me despedi um dia antes, à noite. E parecia que eu não queria mais deixá-las também... o apego já era grande e hoje as considero demais e as amo demais! Foi a melhor coisa que fiz ter ido a Portugal e conhecê-las, minha vida ganhou mais pessoas e lembranças importantes.

Lisboa
Fui de carro para Lisboa, por volta de umas 3 horas e meia de carro, conheci a paisagem de quem sai do Norte e vai para o Sul, ou, como eles dizem: descer até Lisboa. Enquanto muitos ainda deciam para Algarve, uma parte litorânea, lá na pontinha final de Portugal e famosa pelas praias, parace o point, algo no estilo, talvez do Rio de Janeiro ou Floripa.
Nota: muitos pedágios são só eletrônicos, você pega um ticket (igual estacionamento de shopping) e só paga quando sair da autoestrada, no último guichê de pedágio, a máquina aceita dinheiro e cartão.
Ainda conhecia a casa de dois irmãos do Carlos, em povoados perto de Lisboa – só que mais novos, a grande maioria de casas novas estilo americano. Com todo aquele sabor de tranquilidade: pés de maçã, vinhedos num quintal gostoso.
O calor da estrada me matava e isso não era bom sinal, era sinal de que minha enxaqueca estava ali para me fazer companhia onde quer que eu fosse e pegasse muito sol na cabeça...
Cheguei à casa de uma prima distante em Lisboa, ela me acolheria até domingo, quando me deixaria no aeroporto – eu tenho grande sorte de ser tão bem acolhida, graças a Deus!
Conversamos os três um pouco e assim que C foi pra sua cidade fiquei lá, tomei meu remédio de enxaqueca, mas ela já estava forte. Crise brava me pegou, de novo uma sexta-feira, e essa era 13! Já comecei a pensar que não era pra eu ir pra Londres...
Minha sorte é que O era enfermeira aposentada e tratou de mim, coitada, nem me conhecia e eu já chegava na casa dela precisando de cuidado, passando mal, morri de vergonha disso, mas não conseguia pensar muito em vergonha, porque eu estava realmente mal. Ela cuidou de mim e agradeço muito a ela! Foi um anjo naquele momento!
No sábado eu estava melhor, mas com medo de comer qualquer coisa que pudesse novamente ativar minha enxaqueca, saímos pra conhecer Lisboa, mas eu com um chapéu para proteger bem a cabeça.
Lisboa é uma cidade linda, me senti, quando fui ao mosteiro em Belém como se tivesse “fechado um ciclo” de aprendizado da história do Brasil e adorei isso: o que eu tinha visto no Museu do Ipiranga, no Museu de Petrópolis (a casa de Dom Pedro II) mais o que via ali, era toda a história de Portugal e Brasil. Ver o túmulo do Vasco da Gama de um lado e do outro o de Camões era uma coisa realmente impressionante e que arrepia... anos de professorado falando desses dois, dos Lusíadas e suas palavras registradas ali, e a história colocada do meu lado.
O mosteiro dos Gerônimos (esse que acabei de falar acima) é uma grandiosidade, literalmente, como minha máquina parou de funcionar quando caiu comigo, meu celular não dava conta de bater uma foto que o pegasse inteiro, mas nem a câmera daria. É de cair o queixo, sem palavras, só indo até lá e conhecendo. Não visitei os museus, não tinha tempo para isso. Fui só na Torre de Belém, mas já estava quase na hora de fechar e tinha muita gente, era, senão me engano, 6 andares de escadinha em caracol, meu pé não estava preparado para isso e preferi deixar para a próxima, que espero muito ter. O  Monumento do descobrimento também é muito lindo.
 E antes de chegar a Belém que é um bairro distante de Lisboa, na verdade, soube que Belém era um local distante de onde saiam as caravelas e saem todas as embarcações, com o crescimento de Lisboa, ela (a cidade de Lisboa) chegou até Belém.
Antes de chegar a Belém, como ia dizendo, andei pela parte história de Lisboa, vi as famosas estátuas e igrejas, tirei foto com o meu amado Fernando Pessoa no Chiado, andamos na parte baixa de lisboa e fomos comer na Pastelaria Suiça – pastelaria lá é todo tipo de confeito feito com massa, daí pastéis de Belém não parecer com o nosso pastel. Lá o garçom me disse para comer dos seus pastéis e que eram mais gostosos do que os de Belém, e como eu iria a Belém, poderia comparar. Vai oferecer banana pra macaco? Claro que aceitei a proposta, pena não ter voltado lá para dizer ao garçom que sim, o deles é muito mais gostoso porque tem gotas de limão que tira o doce enjoado do pastelzinho. Então, povo, quando em Lisboa, procure, na praça no Rossio (praca da Figueira) a Pastelaria Suiça e seus pasteizinhos e façam a comparação. Se você não gosta de limão e prefere um doce bem enjoativo, então vai gostar mais dos de Belém. Que é uma pastelaria com uns azulejos lindo e com fila pra lhe levarem a uma mesa, o lugar fica muito lotado, como estava também o hard rock café de Lisboa e tantos outros lugares que visitei em um dia.
Ah! Fui pra Belém de bonde ou elétrico, como diria josé Paulo Paes:
Lisboa: aventuras

tomei um expresso
                    cheguei de foguete
subi num bonde
                    desci de um elétrico
pedi cafezinho
                    serviram-me uma bica
quis comprar meias
                    só vendiam peúgas
fui dar à descarga
                    disparei um autoclisma
gritei "ó cara!"
                     responderam-me "ó pá!"

                     positivamente
as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá
Achei as pessoas mais bem educadas em Lisboa, não que minha prima não comparasse também “aquele mulher da loja estava de mal humor, não é?” Como ela mora em Lisboa há muitos anos, sabe diferenciar um bom atendimento e não se pegou tanto aos conservadorismo da Póvoa, apenas os entende – como eu agora entendo – e aceita os que continuam com seus antigos costumes, como não gostar de ganhar presentes... imagina... ouvi a vida toda no dia dos pais e no natal (meu pai faz niver na véspera de Natal) dizer que não precisava de nada, toda vez, dava um presente e isso que recebia, e aí minhas tias e meu tio fazem o mesmo... entendi que eles são orgulhosos de uma época que dar presente era como receber um doação/esmola porque faltava algo. Daí o não precisar de nada.
Quando dei um presente a O ela gostou e agradeceu muito e aí eu fiquei aliviada, só na póvoa e outros lugares perdidos ainda se têm essas ideias antigas sobre presentes.
Ou outra: meu pai odeia roupa preta ou escura porque todas as mulheres que ficavam viúvas usavam o preto até morrer. E eu vi isso ainda hoje na póvoa. O pior é saber da tradição completa, essa eu já sabia pelo meu pai: se casavam de preto, as mulheres e pretendia-se que essa roupa fosse guardada para quando ela ficasse viúva (!!!!!!) sério! Era a tradição, uma amiga que estudou espanhol na faculdade disse que uma professora espanhola contou que em alguns povoados da  Espanha isso também ocorria e havia um texto que leram na aula sobre uma mulher casando de preto e a classe ficou de boca aberta ao saber disso também.
Quando meus pais se casaram e ele mandou a foto do casamento para a minha tia M, ela respondeu que minha mãe parecia uma fidalga – por estar de noiva, noiva não era roupa para todas...
Bem, acho que Portugal está quase no finalzinho agora rs

Domingo rumo à Londres
Domingo, 15 de agosto de 2010. Acordei cedo e ansiosa, dormi bem tarde apesar da andança do dia por Lisboa.
O aeroporto não é longe da casa de O e fomos de táxi e chegamos em menos de 10 minutos. Lá o check in é diferente, os acompanhantes não podem ir até lá com você – até entendo, vira um tumulto danado – fui fazer meu check in e estava totalmente ansiosa.
Ainda conversei um pouco com O e me despedi, medo de que houvesse filas e mais filas para revista etc. Gostei muito de conhecer essa prima distante, ela foi um anjo como já disse e agradeço muito a Deus pela sorte que tenho colocando pessoas tão boas no meu caminho.
Claro que tinha fila pra revista, não tão demorada como em Guarulhos, mas levei um bom tempo no meio de tanta gente diferente que passava por lá e minha água ficou para a destruição... o que me ajudou a não detectarem um desodorante que esqueci na bolsa de mão...
Pronta para mais um voo da TAP que era conexão do meu primeiro voo (são Paulo-Lisboa-Porto-Lisboa-Londres).
De novo bancos mais confortáveis, talvez porque era uma viagem de menos de 3 horas, quando a viagem é longa aí eles preferem acabar com suas costas... E o avião também era menor, como o de Lisboa ao Porto.
Atraso no voo, mas de uns 20 minutos apenas. Tudo pronto para mais uma viagem, finalmente à Londres.
O avião decolar e...
Tem turbulências logo de cara, mal saiu do chão, começa a balançar muito e continua... deve ter tido umas 4 balançadas fortes, a mais forte uma mulher atrás de mim grita. E eu já conformada penso: “bem, acho que não era mesmo pra eu chegar em Londres...” e lembro de uma cena de Indiana Jones e a ùltima Cruzada: “eu estou preparado e você?” Um cara que é um dos que cuidam do segredo do Santo Graal diz isso ao Indi e eu respondo: eu também!
"Indiana Jones: [shouting, as the boat is being chopped up by a propeller] Why are you trying to kill us?
Kazim: Because you are looking for the Holy Grail!
Indiana Jones: My *father* was looking for the Holy Grail! Did you kill him too?
Kazim: No!
Indiana Jones: Where is he? Talk or you're dead! Dammit tell me! Tell me!
Kazim: If you don't let go Dr. Jones, we'll both die!
Indiana Jones: Then we'll die!
Kazim: My soul is prepared! How's yours? " (by imdb)
Eu não entro em pânico, não tenho medo de morrer, pior é para os que ficam e choram por mim, é o que eu acho, do outro lado vou ter o que merecer, o que fiz aqui, volta, seja aqui ou lá. Não temo.
Depois a viagem seguiu tranquila, fui vendo todo o restante de Portugal, subindo dessa vez de avião e o piloto até dizia qual era nossa rota, pegamos um pedaço da França, as Ilhas de Jersey, lembrei do Maluf rs o mar e Inglaterra.
Claro que tirei fotos pelo caminho, claro que fiquei ansiosa com o video a bordo mostrar que estávamos chegando e eu pensava que viria o Big Ben... não, não o vi... que triste... só vi muitas casas pelo caminho, um  castelo (aeee!!!) e muita vegetação até chegar a Heathrow.
Fiquei bem ansiosa, só ia me sentir em Londres quando passasse a imigração. Peguei minhas coisas, passei pela imigração com passaporte português, tudo ok. Andei nas passarelas rolantes por lá porque minha mala era muito pesada. E cheguei onde mais temia: a porta de saida do aeroporto, onde o cara poderia me revistar. Como fui pelo lado da comunidade europeia, não tinha nem funcionário ali (achei incrível aquilo!!) apenas o guardinha que fica na garita perto da porta e sai...
Sai e não acreditei que seria tão fácil entrar em Londres – em Portugal eu fui revistada, pra mim era certo ser revistada e questionada ali...
O mais lindo de tudo foi quando vi telefones públicos que eu poderia usar moeda. Fui correndo trocar dinheiro, mas me deram em notas, tive que ir numa loja de conveniência gastar para ganhar moedas de troco e finalmente ligar para minha mãe num telefone público que funcionava!! Que emoção conseguir usar o telefone público, coisa que não consegui de jeito nenhum em Portugal com aquele me cartão para milhões de ligações...
Liguei para a amiga que ia me buscar, avisando que eu tinha chegado. Ela me disse que ia se atrasar e avisei em que ponto estaria a esperando.
Esperei bastante tempo, algo como umas 2 horas ou mais. Ainda bem que também tinha internet ali, paga com moeda, ótimo! Estava adorando esse sistema!
E esperei... e vocês esperarão pelo próximo capítulo rs

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Aperte os cintos, mas cuidado para não apertar a pessoa ao lado...

Depois de filas na polícia federal, talvez eu tenha passodo bem mais de uma hora até passarem minha bagagem de mão no raio-x e verem minha documentação...
Lá vou eu pro meu lugarzinho no avião da Tap: tamancos aéreos portugueses. Nunca tinha entrado num avião grande, como se tivesse vários setores e com bancos no meio do avião.
Achei meu cantinho, sentei e comecei a achar que estava num voo da Gol: bancos estreitos, pouco espaço entre uma pessoa e outra, mal conseguia me mexer sem esbarrar no rapaz que sentou ao meu lado. E um acento dureza, nenhuma maciez, parecia feito de madeira ou ferro... quadradão... muito pouco acolchoado, nem dava pra sentir espuma.

A primeira coisa doida foi ouvir nas telas as explicações em português de Portugal sobre o voo: a "descolagem"  e depois viria a "terragem"... a impressão que dava é que todo português que falava tinha voz de velho... engraçado isso...
Antes de partir jogam um bom ar ou sei lá o que era aquele spray em todo o avião... não entendi nada do que aqueles portugueses falavam, na  verdade, os entendi muito pouco rsrs
Pus um sonzinho pra ver o que tocava naquela rádio de avião e achei Muse logo de cara... sabia que ali só poderia ser a rádio rock de voo.

A primeira coisa que apereceu pra assistir na tela foi um programa sobre língua portugesa, era até interessante pra entender o que os lusitanos falam, tipo, pra eles é espaRgueti, quer dizer, é uso corrente lá falarem espaRgueti porque acham que a palavra vem de aspargo (?????), aí a moça dizia qual era o correto, tipo o "nossa língua portuguesa", era interessante, porque tinha até a origem em latim das palavras - coisa que só quem fez Letras ou afins gosta mesmo rs
Começaram a falar do anglicanismos ou anglicismos, qual é o melhor modo de falar uma palavra em português ao invés de usar termos em inglês, por exemplo.

Aí aconteceram coisas engraçadas, primeiro, passaram um filme com a Hillary Swank que ela era uma das primeiras mulheres a "dirigir" um avião... a tela ficou longe de mim, o filme era dublado em português de Portugal e se eu colocasse no "som original" no meu headfone o que acontecia????? estava dublado em espanhol!!! raios!! malditos raios!! rs
De manhã, pra acordar todo mundo, porque o dia tinha amanhecido, começaram a passar um filme com o Jeff Bridges que ele era músico de bar, ia de bar em bar tocando e parecia que havia sido famoso antes, pelo que entendi, daí eles falavam que iam no "bowling", cadê a versão português de Portugal pra boliche? Primeiro passam um programa pra  te educar, depois, deseducam rs

Mas o ápice da viagem além das poltronas desconfortáveis - dignas de serem usadas em tortura, as poltronas do cometa e similares dão de mil a zero naquele tecoteco! - a estrela do voo foi uma tia sem noção, vai ver ela é a verdadeira mãe do Joselito e ninguém sabe.
Aquele tipo de pobre que conseguiu comprar uma passagem em 48 meses e quer bancar a ricaça que mora no Tatuapé (rsrs o povo de lá, 80% é assim...), parecia uma professora aposentada do estado (sério rs) que pegou uma fase melhorzinha e fez o que o Maluf falou pra fazer: casa com um cara que pague sua passagem no aniversário de 40 anos de casados.
Aquele tipinho que adora uma escova melhor estilo Farrah Fawcett nas Panteras e com a tintura da mesma cor... só 40 anos fora de moda...
Acho que era um tipo de excursão, ela estava com outras clones: cabelo super escova anos 70, tingido de loiro vagabunda (sorry, eu chamo assim aquele loiro quase branco)!
Ela ria alto a todo momento, não parava de falar, só dava ela naquela parte do avião, aí eu a apelidei de Hebe, ela queria atenção, se aparecer, rir à toa sem parar, só poderia ser a Hebe!
A primeira coisa de pobre que fizeram foi colocar as bagagens de mão no chão, à frente, elas sentavam no meio e na primeira fileira daquele compartimento, tinha uma parede ali pra dividir, aí encostaram a farofada todo ali, nessa paredinha e comissário mandou que tirassem dali, ali não era lugar de guardar as coisas.
Primeiro momento 5 minutos de fama pra elas!
Aí Hebe e amigas falavam, falavam, falavam, até a amiga do lado pegou um livro pra ler e Hebe não se tocava que não estava agradando...

Às duas da manhã, Hebe acordou e ficou em pé, muita gente faz isso pra circulação, mas pra circulação das pernas, não da língua. Sim, todo mundo tentando dormir na cadeira de tortura, um ar condicionado dos infernos e Hebe falando e rindo alto... Acho que só a Hebe se divertiu nesse voo...
O rapaz do meu lado até acabou por comentar comigo que não dava daquele jeito, outras pessoas ao redor também olhavam feio pra ela, mas eu acho que ela estava se sentindo a própria pantera da 3a idade...

Quando cochilávamos um pouco, colocam o filme do Jeff Bridges e ligam as luzes, do tipo "acorda logo cambada!", achei aquilo péssimo... é sempre assim, é? Obrigam você a acordar porque vão trazer o café da manhã que chamam de "pequeno almoço" com uma espécie de pão borracha com uma fatia de bacon em cima... acho que queriam era que acordássemos mesmo com aquilo, e rápido! tipo, correr pro banheiro vomitar ...
Ah! No jantar era pra escolher pasta ou peixe, não sou fã de peixe, quis pasta, só que nenhuma misturinha?????só o macarrão temperado??? aff, da próxima peço peixe só pra comer carne rs

Depois de horas sem conseguir dormir direito, muitos atrasos, eu já não via a hora de chegar... 10 horas de voo nessa tortura, eu até entendo porque tem gente que não volta, só pra não fazer esse voo outra vez.

Cheguei em Lisboa e pensei que tinha perdido minha conexão para o Porto - depois de tantos atrasos - não tinha perdido, fui até o avião, agora com uma poltrona até macia - quer dizer, 50 minutos de voo pode ser mais confortável que 10 horas... Só que ficamos esperando pelo menos 1 hora para a saida do avião...
Eu estava morta de cansada.
Levei a primeira patada portuguesa quando embarquei nesse avião: meu lugar era na janela e os outros dois lugares já estavam ocupados, pedi licença pra sentar e o velho da poltrona no corredor já mostrou sua ignorância lusitana tão bem falada por todos que vão a Portugal: "Se queres sentar no sol  é consigo!" Fingi que não entendi para não dizer "é, realmente, entendo porque as piadas de português dizem que ele é burro, eu tenho acento marcado, tio, você que deve estar sentando no lugar errado..." mas não ia arrumar confusão, assim, de cara, né? Mal tinha chegado em Portugal e seria extraditada, não!

Pareceu-me uma eternidade a espera daquele voo sair... já era mais de 10 da manhã... bem, acho que na verdade  devo ter esperado mais de uma hora por esse voo... o homem ao meu lado - sentado no meio - disse que estava esperando aquele voo sair desde âs 6 da manhã e que ele tinha chegado de Angola.

Finalmente, "descolamos" nesse voo consegui dormir meia hora. Deu pra ver um pouco de Lisboa do alto e do Porto, mas o que eu mais queria era descansar.

Na hora de sair do aeroporto eu fui a escolhida, com uma mala gigante daquelas, já me mandaram pra revista e pergutaram de onde eu vinha, com minha resposta, mandaram abrir a mala...
God! eu só pensavam, ele vai ter que me ajudar a arrumar tudo isso de novo!!!!
O homem me perguntou porque vinha a Portugal, disse que era pra visitar minhas tias e aí ele viu uns embrulhos de presente e falou se eram pra elas, claro, pra ele que não ia ser... ele mal olhou e pediu pra eu fechar, mas perguntou porquê de uma mala tão grande e eu disse que ia pra Londres depois, fui liberada.

Comprei um daqueles cartões  telefônicos que vendem na Europa que você liga para vários locais pagando pouco. Ao não entender o que a moça da loja falou, ela repetiu com cara de impaciente pra mim... faço o que se você fala pra dentro?
O maldito não funcionou, só consegui ligar pra uma das minhas tias... o outro tio que ia me buscar não dava certo a ligação. Não conseguia ligar para casa com o maldito, para ver se meus pais me ajudavam ligando pro meu tio pra mim - já era meio dia e meio...
Eu, uma mala enorme, perdida num país do outro lado do atlântico e encontrando pessoas nenhum pouco dispostas a darem informação, até no posto de informação a mulher se mostrava de saco cheio de mim, como se não falássemos a mesma língua ou eu tivesse roubado o marido dela.

Exausta, sem a menor condição de pegar o metrô ali no aeroporto e trocar para o trem que ia até o distrito das minhas tias, fui atrás de um táxi... eu sabia que levaria umas 2 horas, mas perguntei ao rapaz quando ficaria mais ou menos. Os táxis lá têm uma tabela de preços, ficaria perto de 200 euros (nem me falem rs) e achei que seria o jeito, não aguentava mais de cansaço... e fui do Porto paraViseu, de lá para Mangualde e de Mangualde, onde deceria do trem, fui para a Póvoa de Cervães. Um vijarejo bem no estilo daqueles que vemos em filmes italianos ou franceses: ruas  estreitas de pedra, casas de pedra...
Muito diferente de tudo que já tinha visto... mas isso é outra história...

Dormi um pouco no táxi, tranquila, pelo menos...