domingo, 20 de novembro de 2016

Mais um bico: limpeza para vistoria de imóvel

Pelo Job Centre consegui poucos empregos, como o da lanchonete francesa, brasserie? não lembro como era o nome em francês... o certo é que consegui lá e fui chamada em outro lugar na região de Shoreditch, região nordeste de Londres.
Era um escritório que contratava para limpar casas e apartamentos que seriam alugados, ou seja, o inquilino saía e para a vistoria do dono a casa precisa estar impecável para o próximo morador ir visitá-la.
Na verdade, acredito que o escritório era de aluguel de casas e como não queria perder clientes, colocava pessoas para limpar antes dessa vistoria.

Trabalhei apenas 2 vezes lá, era muita humilhação. Também.
A primeira vez cheguei cedo com outras duas moças, do leste europeu, e ficamos pelo menos uma hora esperando para que nos levassem até o apartamento.
Tivemos que esperar uma das moças do escritório nos levar com todo o material de limpeza, inclusive o aspirador de pó, fomos de carro. Não era longe.
Essa primeira moça disse que nos pagaria o tempo que esperamos também e tudo bem.

Era uma casa de dois andares e precisávamos limpar tudo, até marca da porta encostar na parede. Até para isso existe produto de limpeza e a casa estava bem suja. Ainda bem que sem móveis, mas era preciso limpar tudo que nunca havia sido limpado na vida, como janelas, corrimãos, batentes e aspirar o carpete que estava por toda a parte (já disse como odeio esses carpetes por toda a parte?) . Não era nenhum pouco fácil tirar as marcas de giz de cera da criança que morou na casa e estava pelas paredes...

Passamos pelo menos umas 4 horas na casa, nós 4 (apareceu mais uma moça pra limpar também do leste europeu, acho que da Bulgária...) e quando fomos embora, fomos de volta para o escritório e na hora de receber só recebemos o tempo de permanência na casa, mais nada - porque nos direitos trabalhistas ingleses também não tem nada que pague nem um lanchinho... e recebemos aqueles 5,75 do salário mínimo por hora...
A moça que nos atendeu na volta foi mais mal educada, do tipo que não era comida decentemente desde sempre, olhou pra gente com cara de nojo e de cima. Do tipo: sou a gostosa maioral aqui, vocês são umas reles pobres do terceiro mundo. E ficou dizendo que não ia pagar o tempo que esperamos porque isso não era problema dela.

Alguns meses depois recebi outra mensagem de lá para trabalhar, numa outra casa bem mais antiga, ou com aparência bem mais antiga e com móveis. O que é infinitamente pior porque tem os móveis para serem limpos (vocês entenderão já já).

Dessa vez mandaram a gente direto pro lugar do trabalho. Fui de onde morava pra lá, sem ir pro escritório que pagaria depositando na nossa conta, transferência eletrônica.
Cheguei lá e vi que apesar da casa ser menor, a sujeira era exponencialmente maior...
A bulgara estava lá e uma africana, tínhamos as 3 que dar conta em 2 horas da casa - é, tinha o tempo estipulado.

A cozinha era a coisa mais nojenta do mundo! O fogão nunca deve ter visto um produto de limpeza na vida, era pura gordura, assim como o piso e os azulejos e tivemos que limpar tudo, com muito esforço. Era preciso muito produto de limpeza pesado e muita luva nas mãos pra aguentar aqueles produtos, muito esforço na esfregação também!

A cada dia via que minha vida em Londres era mais dura, mais cansativa e mais dolorida para ganhar 5,75 por hora. Sentia-me um lixo porque era tratada como lixo.

Meses depois, tive um problema no meu imposto de renda, sim! Ganhava uma miséria e tive problema de imposto... o que aconteceu é que as vacas desse escritório colocaram um código errado no papel para meu pagamento (nada passa ao fisco!). Eles tinham que fazer, mesmo que eu trabalhasse esporadicamente para lá, um papel - payslip - como o holerite daqui em que consta quanto recebi, quando devo ao fisco e outras contribuições se existem e há um código para cada tipo de remuneração. Colocaram um em que eu deveria ganhar mais e pagar imposto...

Tive que voltar até lá, depois de meses sem ser chamada e pedir o papel, e  encerrar meu trabalho com elas. 
A bonitona bêbada, aquela que se achava, é que me atendeu, chegou no trabalho com uma garrafa de água e outra de redbull pra aguentar a ressaca do dia (não sou nenhuma idiota...) o dia anterior que foi domingo. A maior cara de acabada, mas se achando e fez o papel na hora, que eu tive que depois levar para ser modificado, mas isso é outro imbróglio gigante para outro dia...
Podem ver que eu não tive um minuto de paz...


terça-feira, 15 de novembro de 2016

O Império do Fado - parte 4: a maratona

Não me lembro se contei na última postagem do Império que uma nova empresa iria assumir a parte de limpeza da TfL (Transport for London) e nem todos os funcionários se manteriam com essa mudança. Nova empresa assumiria esse setor, mas nem todo mundo ia ser mandado embora, na verdade, disseram que iriam reestruturar as tarefas e muito boato e conversinhas eram ditas, como de que a empresa anterior foi tirada por ter funcionários de alto escalão roubando coisas grandes nos escritórios da TfL, se era verdade, não sei, foi um dos boatos... que a portuguesada que mandava roubou nos finais de semana coisas como móveis... era o boato. Por isso teriam tirado o contrato com a empresa e dado a outra o trabalho de cleaners ali.

Virou uma maratona, uma correria por pontos, sim, tudo seria anotado em nossos prontuários para ver quem ficaria a trabalhar lá ou perderia o emprego...

Entrei nessa neurose e ainda morava na casa da Marciana, fiquei apavorada pensando o que faria se fosse mandada embora, pois mandava muitos cvs, principalmente estava sempre de olho nas vagas do Job Centre na Internet e nada... isso me dava medo... como eu ia me manter? era pouco, mas dava pra pagar o aluguel da semana.
E ainda por cima eu era uma das mais novas trabalhando lá, ou seja, menos pontuação, quanto mais tempo, mais pontuação.

O que eu ia fazer se fosse mandada embora? E aí que eu tinha que aturar mesmo a Marciana...
 Procurava não chegar atrasada, não deixar nada pra trás no meu trabalho, limpar como sempre limpava, mas sabia que Darthvedrina contava contra mim.
A semana da mudança foi exatamente as semanas que ela ficou de férias, ela sabia que nela ninguém mexeria... em nenhum supervisor.

Até que veio o veredicto, eu e as ucranianas e a russa estávamos fora, além da angolana. Dei pra ver nitidamente como foi a escolha, quer dizer, como os pontos contavam: português 1000 pontos, outras nacionalidades 0.
Não, mentira! 3 portugueses também foram mandados embora: uma senhora que mais faltava do que vinha e queria ser mandada embora, a moça que trabalhava no hostel e queria ser mandada embora porque tinha mais trabalho no hostel e um cara que estava voltando para Portugal. 

Imagina se houve algum complô e cartas marcadas, de jeito nenhum!

Quando soube que seria uma das pessoas a ir embora e só tinha mais uma semana, larguei mão. Não ia ficar com o emprego mesmo, por que trabalhar? E me escondia em alguma sala e ligava pra minha mãe, do meu celular, não usava os telefones de lá. Ficava na maior moleza, não tinha mesmo porque me matar, todo o trabalho que eu tive não era recompensado.

Comi doces e chocolates das mesas dos funcionários da TfL (comi bolos também rs), li as revistas deles e limpei só o que não poderia deixar de ser limpo. Na mesma época, algumas salas estavam sendo desativadas e aí havia mesmo coisa pra limpar porque mesas e repartições tinham sido levadas embora, toda uma ala foi desativada. Exatamente a que tinha uma sala de relax com pôsteres do The Times de alguns filmes famosos como Casablanca, Dr. Jivago, O Vento Levou, Manhattan e Conspiração Internacional. Subi nas paredes e levei tudo pra mim, trabalho duro rsrs tive que esconder no meu avental e era muita coisa dobrada, mas dei meu jeito.
Continuei minha busca por coisas abandonadas, como um monstrinho do lago Ness que estava jogado e era tipo de pelúcia, pequeno, levei. 

Naquela semana eu era sempre a primeira a chegar no porão pra esperar o Let's go da Darthvedrina. Ela mesma chegou a jogar uma indireta do tipo que quem tinha sido mandado embora não ia mesmo trabalhar aquela semana. Oh, como fiquei triste por isso! (sqn)
Se meu trabalho não ia ser recompensado o que adiantava ter sido certinha? E fui erradinha a semana toda.

Na outra semana, lá pela terça-feira, me ligaram da empresa falando que tinham uma vaga pra mim num prédio do lado, da TfL também, onde trabalhei uma vez para cobrir uma outra moça durante o dia com aquele carrinho. Deveria ir conversar com uma colombiana que era a cara - pelo menos pra mim rs - da Tenente La Guerta, de Dexter, então vou chamá-la de Laguerta, ok? Minha nova chefe. Bem, fui ver qual era a vaga, como seria e teria que trabalhar apenas duas horas por dia (menos dinheiro), tinha 4 andares para lavar APENAS os malditos banheiros... nada pode estar pior que não fique ainda mais... mas de 5,75 a hora, passamos a 8,40, era alguma coisa pra se agarrar...