domingo, 24 de junho de 2012

Mais uma vez...

... vou mudar o link do blog...

Quem quiser continuar lendo, peça para que eu envie o link novo... comente.

sábado, 26 de maio de 2012

Mãe é quem cria, não quem manda dinheiro...

Sempre comento sobre Marciana e Bruxa do Centro-Oeste criarem a família no Brasil, mas nunca dei maiores detalhes, hoje é o dia!

Como uma maioria de mães ilegais, elas trabalham na faxina de casas, não se precisa de passaporte ou insurance number, é só comprar as casas de alguma brasileira que esteja vendendo - nos últimos tempos, muitas estavam voltando para o Brasil e começar a limpar, desde que a família goste de você, caso contrário, você perderá seu dinheiro... (aconteceu comigo no caso botocada).

Bruxa do Centro-Oeste, como já comentei, morava há alguns meses a mais que eu em Londres, eu cheguei em agosto e ela em junho ou algo assim. Fugiu da crise espanhola, assim como já tinha fugido da crise portuguesa, onde chegou primeiro e morou pouco, segundo contou.
O engraçado é que se ela tivesse sido esperta e não entrado ilegal na Espanha, teria já o direito a ser residente. Ou seja, fez burrada por não ter permanecido por lá por 3 anos de forma legal, mas como ela tinha entrado e ficado em Portugal, ilegamente, só poderia ir pra Espanha da mesma forma e acabou perdendo essa boquinha que não sei se com a crise do jeito que está a Espanha ainda mantém: 3 anos na Espanha e você se torna residente e com direito a quase ser um cidadão, ou pelo menos andar pela Europa na boa.

Ela chegou e foi trabalhar nas vans, quando me acordava às 4:30 da manhã para sair de casa quase 7. Isso você já sabem, depois ela juntou dinheiro e comprou casas. Assim como Marciana que trabalhou um período para a mesma empresa de limpeza que eu - e mostrava feliz pra mim o aventalzinho "tia do jardim" (aqueles que são fechados com botões dos lados e tem um bolso canguru na frente) como se ter trabalhado na mesma empresa de limpeza que eu era como ter trabalhado na Microsoft...
E depois começou a comprar casas para limpar e só reclamava das patroas porcas.

Bruxa dizia que tinha comprado casa pra mãe no Brasil, junto com a irmã que morava em outro estado, e as filhas dela moravam com a mãe, junto com a sobrinha que ela "bullyingnava" todo dia no telefone.
Já Marciana sonhava com seu apartamento mobiliado e carro na garagem  - algo como prêmio do bau da felicidade! E aparentemente ainda não tinha conseguido comprar nem apê em CDHU, o que seria barato, mas para a arrogância dela, não era bom o suficiente.

Com a crise e cada vez menos casas para se limpar e menos donas de casa pagando bem para isso, o trabalho delas ia ficando mais difícil, afinal, elas sustentavam a família no Brasil.

Marciana quando foi morar em Londres levou junto o filho mais novo, na época com 9 para 10 anos. Seu primeiro plano foi morar com a irmã, que tinha os filhos criados na Inglaterra (foi ilegal, separou do marido  brasileiro e casou com um norte-irlandês, virou residente e reclamava que o marido transava, virava pro lado e continuava a ler o livro... quem escolheu isso? eu?).
Pelo que entendi, ela e a irmã brigaram, o motivo não sei, mas sabendo que brasileiros que se estabelecem em Londres não ajudam ninguém... acho que não abrem mão nem pra irmã... fora que ela teria que ter no mesmo teto uma ilegal com o filho menor de idade - o que é um problemão!

Marciana teve que se virar e procurar outro lugar pra morar e procurar emprego com um filho pequeno. Não sem deixar uma filha noiva e outra com 15 anos em Sampa. 
A filha noiva,ela deixou na casa dela, que ficava no quintal das cunhadas. A menina não aguentou a pressão e foi morar com o noivo - o que Marciana teve que engolir (a religião dela não permite, mas, segundo Woman from Mars, permite que largue os filhos assim e que se virem).
Já a adolescente ficou mal, depressão.
E assim que ela teve um novo teto, mandou buscar a filha adolescente, que chegou em pleno inverno em Londres: muito frio e os dias se acabando às 3:30 da tarde. Não sem antes ter que fazer sozinha a escala em Paris, pra ser mais fácil pra entrar por aeroporto pequeno.

A menina só foi de mal a pior até onde sei: a depressão de se sentir abandonada virou, segundo os médicos ingleses, esquizofrenia, afinal, ela chegou numa época muito ruim para quem já não está bem e já chegou para ajudar na faxina da mãe, enquanto o irmão tinha de tudo.

Marciana contava a história com tristeza, pois a mãe dela teve que vir buscar a menina para viver novamente no Brasil sob os cuidados da avó que nem internet deixa que ela use, e aí ela usa na lan house. E que não voltou mais a estudar enquanto o irmão estava em escolas inglesas.
Marciana falava todos os dias com a mãe e a filha, mas sempre cobrando a menina para que fizesse curso de cabeleireira e voltasse para ganhar dinheiro e a ajudasse em Londres também com as casas.
E sempre dizia "a marcianinha é rápida, é ágil! vai me ajudar a juntar dinheiro aqui" o que ela não tinha conseguido fazer em 6 anos.
Primeiro porque tinha exatamente essas despesas médicas com a filha no Brasil e o casamento da outra que ela pagou tudo, se sentiu culpada de ir pra Londres faltando meses para a filha casar, filha que sempre falavam no telefone parecia jogar na cara que a mãe não estava em seu casamento e que a deixou sozinha com as tias que queriam pegar a casa pra elas.

O filho viveu um pouco mais de 5 anos com ela em Londres, tinha uma vida de inglesinho: blackberry, playstation com acessórios, como a cadeira entre outras coisas, mas ele reclamava - segundo Marciana - que aquilo não era vida.
Bem, se você pensar que você viveu dos seus 9 anos aos quase 15 em várias casas dividindo quarto com sua mãe e estranhos, sem nenhuma privacidade, sem saber mais o que é uma casa e uma família. Bem, você também diria o mesmo, talvez...

Ele quis porque quis voltar pro Brasil e ela com medo que mais um ficasse doente, deixou. Gastou mais um bom dinheiro porque ele só tinha ido de férias ao Brasil, voltou e decidiu voltar novamente e ela teve que pagar a passagem do pai dela para acompanhar o filho de volta ao Brasil.
O ex-marido de Marciana, segundo consta, a traía com todas, não saía do boteco e faliu uma pequena empresa que tinham juntos e quando ela dizia que se separaria dele, ele pegava a Bíblia, colocava debaixo do braço e encontrava novamente Jesus, numa dessas, ela se separou realmente dele e foi pra Londres.
Isso tudo é o que ela contava, não cheguei a conhecer nenhum dos filhos ou parentes dela, tudo são relatos da própria.

O menino voltou ao Brasil e foi morar com uma irmã casada de Marciana, ele que não era bobo de morar com os avós que botavam restrição até pra TV, a irmã que já estava acostumada que aguentasse...

Daí era todo dia as ligações para saber dos filhos. E que não tinha como não se ouvir porque ela ligava do quarto dela, que ela deixava que nós usássemos como sala.
Eu nunca telefonava da casa, só se fosse muito urgente. Nunca, preferia o transporte público ou uma praça perto do trabalho.

O filho queria voltar pra Londres: caiu a ficha dele que ele tinha vida de rei e que no Brasil o pai lhe dava 20 reais que não davam pro Mc do fim de semana...
Ficava a infernizando no telefone porque queria os jogos novos e que no Brasil tudo era muito caro!
Quebrou coisas do ps3 e queria que a mãe mandasse, detonou com o Blackberry e queria um novo, queria roupas de marca que usava em Londres para se exibir pros amigos da nova escola - particular porque a Marciana disse que "Deus me livre meu filho na escola pública no Brasil!". 
Sim, ela tinha gastos com a escola particular (o mais engraçado é que era uma escola católica mesmo eles sendo protestantes, mas achavam que isso iria 'resguardar' o pivete) além da mensalidade, o curso era todo apostilado e tudo que você sabe o que tem que pagar na escola particular, além do luxo de se exibir com tênis e roupas de esporte da Lonslade (super barata) e da GAP (a C&A inglesa... 10 libras e vc compra qualquer camiseta...) para os amiguinhos brasileiros tão fúteis e mimados quanto ele.
Ele sempre dizia pra mãe: NÃO VOLTA! AQUI É HORRÍVEL!
Isso quer dizer: se mata de trabalhar aí e paga meus luxos!

Quando não tinha essa discussão com ele, discustia com a do meio, a que tem problemas de depressão e já estava com 20 e não terminou o segundo grau.
Algumas conversas eram realmente dignos de Marciana!
A filha se tratava com psicólogo e ela perguntava pra filha: 
Foi no psicólogo hoje? E o que vocês conversaram? Do que vocês falaram hoje, oras! Eu quero saber!

 Isso deve ajudar muito em qualquer tratamento... Uma mãe bem participativa!

Ou discutiam sempre por causa de dinheiro que ela sempre dizia que mandava - e mandava toda a semana - e reclamava que os filhos queriam sempre mais. Um dia me disse que gastava quase 3 mil reais por mês com os filhos no Brasil... bem, difícil querer ainda comprar casa no Brasil, com mobilía e um carro "bom" como ela dizia...

 A filha mais velha já casada sofria poque não conseguia engravidar e reclamava da falta da mãe, dizia que deveria ser porque a mãe nunca estava com ela que ela não conseguia engravidar e ainda tinha que ouvir da mãe:
Vi suas fotos com seu marido no orkut! Como é que você, fulana, tira fotos fumando narguile? Você sabe o mal que qualquer uma dessas coisas faz? Vocês tem que ir com sua avó na igreja!

Ou pra irmã que cuidava do filho mais novo:
Ele vai ter prova de espanhol? Mas espanhol é fácil! é igual português! Vai ter prova de biologia? Faz um questionário pra ele estudar e você toma dele!

A irmã, além de aturá-lo em casa, ainda tinha que fazer ele estudar do jeito Marciano...
E as conversas se estendiam assim por horas... ela ligava várias vezes à noite e sempre brigando, reclamando que os filhos tinham que fazer o que ela mandava, ela era a mãe, a que mandava o dinheiro!

Com a Bruxa sucedia algo parecido.
Ela ainda saiu casada do Brasil e deixou as filhas por conta da mãe, o marido ficava com elas, mas quando a Bruxa, voltou ao Brasil, 6 anos depois, antes de ir morar em Londres. Fez a separação e o marido assinou que a guarda da mais nova ficaria com a mãe dela.
A mais velha já era maior de idade, fazia faculdade de publicidade lá no centro-oeste e sempre reclamava que não havia estágio nem emprego e que ela queria um emprego de meio período, não integral, porque ela estava de manhã e não queria estudar à noite... coitada! sofria! porque no Brasil não tem emprego pra ninguém que país horrível! (palavras da Bruxa)

Ela me lembrava a personagem da novela das 7, quando voltei e vi a personagem Grace Kelly na novela das 7 do Falabella, achei igual!

A menina queria tudo da mãe: você me largou aqui? agora vai me dar tudo que eu quero!
E tinham altas discussões porque ela queria, apenas, óculos de sol Dolce & Gabbana (o que mesmo em Londres é caro, é uma marca porsh não é pra qualquer um!) e depois ela vinha desesperada pra gente perguntar se sabíamos se nas promoções tinham óculos D&G... porque a filha queria porque queria... coitada, como a filha sofria por ela não mandar pra ela um d&g entre outras coisas que ela precisava mostrar pras amigas de faculdade.
A filha mais nova ela lutou pra ter a guarda, quer dizer, pra mãe dela ter a guarda porque quando ela foi tentar um "futuro melhor" no estrangeiro a menina só tinha 5 anos e também entrou em depressão. 
Fico imaginando como deve ser para uma menina de 5 anos esperar a mãe que leva 6 anos pra visitá-la...
Ela dizia que nunca ia deixar a filha com a família do marido - família que ela viu que a menina preferia, segundo contava a menina adorava ficar com a avó paterna e ela odiava isso!
Bem, a menina tinha que se identificar com alguém... e Bruxa sempre brigava com a mãe porque tinha deixado a menina ir pra casa da outra avó... bem, você faz o quê do outro lado do Atlântico? Só manda e todos têm que obedecer? 
Só porque pagava escola particular, kumon, inglês etc etc não parecia dar muito jeito das filhas gostaram da mãe, como ela queria.

Ah! A sobrinha que morava com as filhas dela - porque fazia faculdade tb na belissima cidade capital do centro-oeste lindo que ninguém quer morar lá - ela cansava de chamá-la de gorda e outras coisas, tirava o sarro da menina, talvez porque a menina devia ser a única que aturava a conversa dela, diferente das filhas que mal falavam no telefone com ela.

Isso era bem comum: elas queriam falar com as filhas, tentavam e tentavam estabelecer uma conversa e os filhos nem aí... a Marciana era a que mais reclamava: você só diz anh? sou sua mãe! você tá me ouvindo? fala comigo!

Eu também presenciei isso em ônibus, como sempre digo: brasileiro não se toca que Londres está infestada deles e sempre vai ter um ouvindo sua conversa.
Lembro de uma que queria que o bolo do filho no Brasil fosse do jeito, da cor e do SABOR!!! que ela queria... ela já tinha escolhido tudo, só não ia estar lá, né?
Pra ela, deveria parecer porque está mandando, coordenando tudo, é o mesmo que estar lá, mas não é! De jeito nenhum! Por mais que elas adorem se enganar. 

Por tudo que vi, digo que elas não têm filhos, elas os perderam. Pra eles são só umas fulanas que mandam dinheiro e coisas de marca. Nunca estão presentes em festas, doenças ou qualquer outra coisa, elas nunca estão nas fotos... elas só mandam o dinheiro que se vai e não deixa rastro, lembrança nem nada.

Como dizia a Bruxa: eu sou ambiciosa e enquanto o bichinho da ambição estiver comigo eu não sossego!
E quando o bicho da ambição sossegar, sua filha vai falar o quê pra você se nem te chama mais de mãe e sim pelo nome? (a mais nova fazia isso)

Fico triste por elas, porque, por uma ambição, uma ganância um não querer se humilhar ou mesmo ser humilde de trabalhar em trabalhos "menores" no Brasil, preferem mentir e dizer que trabalham bem na Europa e que isso vai fazer que filhos a entendam...
Não, eles não entendem, raras excessões, porque o que eles queriam era uma mãe ao lado. 
E elas perderam a melhor fase da vida deles só para não lavarem chão no Brasil e sim em Londres e outros lugares da Europa.
Quando a ficha cair que o tempo não volta, a ambição não vai ter mais sentido nenhum...








domingo, 29 de abril de 2012

O Império do Fado - parte 2: conhecendo personagens

Além de DarthVedrina, minha chefe amada, trabalhavam comigo outros conterrâneos dela - daí o Império do Fado -, algumas pessoas eram até simpáticas comigo, principalmente os homens, porque, como eu já disse: portuguesa, na grande maioria das vezes, odeia brasileira.

Elas me olhavam com um olhar que talvez nós brasileiros tenhamos herdado delas: aquele olhar de medir as pessoas e julgar. E nesse julgar aparente, já dava pra entender que eu havia sido condenada, sempre olhavam com cara feia pra mim e nunca me cumprimentavam.
Só que eu resolvi fazer diferente: chegava na prédio e no local que esperávamos pra trabalhar, cumprimentava a todos: "boa tarde! good evening!" (o último para as lituanas, a russa e o ucraniano). Isso, para as portuguesas, deve ter gerado um: como é metida! Mas eu só queria fazer o meu trabalho sem o peso do mau humor delas, que era contagiante!
Tinha uma que sempre estava de tão mau humor que até a fisionomia dela já tinha se moldado: as bochechas estavam sempre carrancudas, mesmo enquanto conversava, ou mesmo se ria de alguma baboseira, sempre acompanhando o jeito zangado de ser, os músculos já não saiam do lugar.

Não que português seja uma pessoa feliz, é só ouvir o fado para você saber que é da natureza do português - e porque eu tenho parentes, como você já leu aqui, portugueses. A maioria deles são fatalistas e não conseguem enxergar muito além do que vivem, não são pessoas esperançosas, uma grande maioria, principalmente os mais velhos e minha tia tinha até, digamos, um bordão: é assim a vida...

Só que esses não eram melancólicos, ou essAs, eram recalcadas.
Tinha uma que falava mais que a boca, o tempo todo com as amigas, eu passava por ela e ela empinava o nariz (como diriam os italianos la puzza sotto naso - o fedor debaixo do nariz). Minha vontade era virar para ela e dizer: olha aqui, eu sei de que buraco que você chama de aldeia você saiu, então, faz esse tipo de a poderosa pros seus patrícios quando você for lá e dizer que é executiva da limpeza em Londres.

O clima era ruim, as pessoas mal se falavam, só os portugueses quando se juntavam pra tomar café nas máquinas de café dos escritórios enquanto os outros que eram seguidos de perto por dona Darthvedrina trabalhavam.
Havia uma sala de máquinas de café, sucos etc no nono andar, o povo chegava e, ao invés de trabalhar, ficavam todos lá bebendo café e falando. Eu, mesmo trabalhando no segundo andar, tinha que passar todo dia ali para buscar e levar meu hoover.
Eu não tinha um aspirador pra mim, o do meu andar havia sido escondido numa salinha de materiais de limpeza por uma... (adivinha!), e ela que trabalha só duas horas por dia e mais faltava do que vinha, ficava com o hoover.
Meu miguxo por meses
Como eu sei que era o meu? Por que ele tinha escrito nele com caneta piloto "segundo andar fulana de tal" o nome da fulana que trabalhou no andar antes de mim, ou seja, o hoover era do meu andar e eu deveria usá-lo e não buscar um outro, em outro prédio, que tinha ligação com esse pelo nono andar (e só me contaram que tinha ligação também no meu andar muito meses depois) todos os dias e devolver, claro!
Então, eu passava todos os dias ali e ficava só olhando aquele bando que não fazia nada, deixava tudo sujo e só enganava - a limpeza em Londres sempre vai se encaixar em "para inglês ver" não vai ter jeito.
E a chefona deles compactuava com isso, mas para fingir que era chefe, ia praticar seu assédio moral na brasileira, na angolana e nas lituanas, além de uma russa.
Havia também um brasileiro que trabalhava lá, mas como ele trabalhava há anos ela já não tinha o que ficar no pé: era estável.
Esse espaço com as máquinas foi fechado depois, acredito que alguém do escritório viu a chacrinha que virava ali e mandou pôr na porta código, só os funcionários do andar sabiam e a russa que ali limpava e não dava o código aos portugueses que só a odiavam mais ainda.

Eu como instável fazia o possível para deixar tudo limpo, mas sempre Darthvedrina achava algo novo pra mim.

Havia um rapaz que pegava o lixo por vários andares, inclusive o meu, ele era a figura, ele e uma amiga dele que limpava os banheiros, mas passavam a maior parte do tempo batendo papo e perna pelos andares. Procuravam de tudo para "levar" com eles: bolos, bolachas, chocolates, qualquer quitute que o povo deixava nas mesas ou deixava numa parte para que todos comessem; usavam os cremes de mãos que o povo deixava nas suas respectivas baias, perfumes... o que eles encontravam pra usar e comer, eles pegariam, nem que fosse um lápis com um desenho diferente. Liam os jornais e revistas, levavam embora. Numa das baias havia até um recado: "depois de ler, não leve o SEU jornal para casa"... mas alguns nem entenderiam a ironia... duvido...
Eu costuma pegar revistas, mas as que já tinha jogado no lugar pra reciclagem de papel.
Esse rapaz passava e batia papo comigo, perguntava coisas sobre o Brasil, principalmente porque ele tinha a Record internacional e assistia ao Gugu e comentava. Ele adorava o Gugu, achava o cara mais do bem da face da terra...
Também queria saber se o Rio era daquele jeito que ele viu no Fast and Furious, no filme que se passa no Brasil, eu disse que não sabia, não conhecia o Rio.
Perguntava se eu era crente, porque a maioria dos brasileiros que ele conhecia eram, disse que não. Ele sempre perguntava se ia na igreja de domingo, porque os outros iam... disse que ia numa Casa Espírita e ele ficou com medo e eu disse que não era nada demais: que quando morremos não é o fim e que era uma doutrina que começou a ser difundida por um francês chamado Allan Kardec.
E ele: ah! o jogador do Benfica?????

Bem, eles também eram fanáticos por futebol e passavam, os homens, a maior parte falando de futebol (enquanto fazia aquela 'pausa' no trabalho), mesmo eles fazendo todo esse corpo mole por serem estáveis, eram simpáticos comigo, mas só, não espere mais que isso: nunca sabiam de outro trabalho, nunca sabiam de um quarto para alugar... todo mundo ali ajudava português, brasileiro, não.
Só que brasileiro também não ajuda brasileiro e... como fica?
Fica na merda... como fiquei...
Acho que eram simpáticos porque eu disse que meu pai é português, que tinha família em Portugal e todos serem Benfica.

Havia uma moça que limpava o banheiro do meu andar e outros; trabalhava ela e o marido, o marido também tirava lixo dos andares. O esposo era o tipo carranca mesmo. Até o dia que ela ficou doente e perguntei se ela estava bem, ele me continuou com a carranca e só falou "está", cara fechada para não ter mais papo...
Ela era simpática comigo, talvez porque era obrigada a dividir o mesmo espaço de materiais do meu andar comigo e o mesmo tanque para encher os baldes dos mops.
Ela sempre me sacaneava: ela limpava o banheiro feminino que ficava bem na entrada de uma das alas, jogava todo o resto da sujeira - que ela não pegava com o mop - no carpete daquele corredor. Todo dia eu era obrigada a limpar exatamente aquela parte daquele carpete, mesmo quando não era dia da limpeza pesada daquela ala. Todo dia eu era obrigada a passar o hoover ali, todo dia eu tinha que ir caçar uma extensão para o fio do hoover, porque ficava justamente longe das tomadas aquela parte.
Um dia, Darthvedrina estava no meu pé e viu aquela sujeira ali e veio reclamar e eu disse que era o que a moça da limpeza do banheiro jogava pra fora e o que ela respondeu?
Você tem que ser mais displicente e dar conta do SEU trabalho.
Deveria pertencer à Darthvedrina, ela precisava -
percebam o tamanho comparando com o porta durex
Sim, meu trabalho!  (Ah, em Portugal quer dizer que eu tinha que ser mais ágil -  esse uso do displicente - Vejam que eu sempre tinha que ser ágil, até para dar conta do trabalho mal feito dos outros.)

Ah! A mulher que limpava os banheiros no meu andar tinha um outro emprego de camareira num hostel, perguntei se tinha vaga, ela disse que não, que era pequeno e só ela e outra menina davam conta e mesmo nas férias de uma delas tinha a pessoa certa para cobrí-las.
Um dia ela disse que ia sair desse emprego, mas não ia indicar ninguém.

Um dia Darthvedrina se divertiu: me pegou passando o mop nesse resto de sujeira...
Ela finalmente mostrou um riso naquela cara de carranca, deve ter doído muito fazer força e mexer os músculos da face...
Fiquei morta de medo, precisava do emprego.
Outro dia Darthvedrina me dava a parede da copa para eu limpar: era coberta por uma espécie de massa que virava o tal do papel de parede deles. Ela queria que eu tirasse todas as marcas de café dali.
Explico: era a parte que ficava bem do lado do lixo, o povo jogava os copos de café e chá e, conforme jogavam, manchavam aquela parte, coisa de anos e como não era azulejo, não havia produto de limpeza que tirasse.
E ela dizia pra mim: limpe aí todo dia que você consegue tirar a sujeira.
Outro dia ela vinha e falava que eu não estava passando o hoover direito: que eu tinha que passar em cada cantinho perto dos batentes das portas, que eu tinha que tirar a parte da vassoura do aspirador e só passar com o cano para limpar tudo...
Eu me sentia tipo o Capitão Gancho ouvindo de longe o barulhinho do jacaré que vinha querendo comer minha outra perna....
Estava sempre alerta, mais que um escoteiro.
Porque ela sempre dizia: desse jeito não vai dar pra você ficar aqui...
Num dia de desespero total com medo de ser mandada embora eu subi nas mesas do escritório para limpar.
Sabe aqueles cantos que você não alcança?
Pois é! Eu sabia que seria ali que ela ia passar o papel para pegar a poeira e brigar comigo. Daí decidi subir em cima das mesas e limpar tudo, cantinho por cantinho. Sempre com medo que ela chegasse e me visse em cima das baias.
Até ir embora de lá, limpei dessa forma, em pouco tempo, não tinha muito porque limpar "galgando" baias, tudo tinha ficado limpo, era só passar uma "flica" (feather - no caso, espanador), como diria a portuguesada, e ficava tudo ok.

Nunca aquelas alas ficaram tão limpas quanto devem ter ficado comigo. Mais limpas que isso, só quando inauguraram - se é que limparam a sujeira antes disso... o que tenho dúvidas...

domingo, 8 de abril de 2012

Vida entre brasileiros

Em dezembro de 2010 tinha deixado esse rascunho aqui:

Comunidade Brasileira em Londres: nunca eu digo NUNCA espere ajuda de brasileiros aqui, claro, eu achei umas quatro pessoas muito boas aqui... e o resto... é resto! O resto te olha como se você fosse tomar o emprego dele, que quisesse entrar numa ordem secreta e te dizem: ah, tá, eu vou ver se tem alguma vaga e te falo... A ordem secreta se explica, hoje, depois de 5 meses eu entendi que sou mal vista porque tenho passaporte europeu ORIGINAL de família, ou seja, um DIREITO meu garantido. A maioria está ilegal e tem medo de você, tem medo porque você pode conseguir um emprego melhor e medo que você o dedure para a imigração, como muitos fazem. Muitos brasileiros com visto britânico fazem isso e muitos portugueses também são acusados disso, só que eu não quero confusão com ninguém, quero que cada um viva a sua vida e deixe a minha em paz, o que nem sempre acontece. Além disso, há muitos brasileiros com passaporte europeu original e britânico que não te ajudam em nada: "se eu sofri, você merece pastar também", o egoísmo total. 

Meu pensamento não mudou muito, a partir daquele momento até tentei não ter tanto preconceito com "gente da minha terra", mas acabou sendo inevitável.
Os brasileiros realmente se fecham para outros brasileiros - não só por serem ilegais, mas realmente não gosta de ajudar. Ajudam se você for inglês ou alguma nacionalidade considerada superior (brasileiro não perde a mania de se sentir colonizado).

Estava infeliz vivendo com a marcação serrada da xereta Marciana e "não dormindo" no mesmo quarto que a Bruxa do Centro-Oeste. Minha Roommate do bem viria pro Brasil em abril e eu ficaria só, mais só do que já me sentia. Precisava mudar.

Procurei no famoso Gumtree, o site mais popular de classificados na Ilha. E, por isso mesmo, o mais cheio de golpes. O golpe mais comum (e como brasileira eu já reconhecia logo de cara ser um golpe) era da família que iria se mudar pra um outro lugar (US, África etc) e precisava de alguém para cuidar da casa, ou seja, era praticamente só cuidar de um apartamento enorme em Notting Hill (você não desconfiaria?), o preço era irrisório, algo como 100 libras por mês. Havia esse mesmo tipo de anúncio para emprego: você receberia 1000 libras por mês (aumentou 10 vezes!) para ser a governanta da casa.
Não encontrava nada que parecia bom e barato.

A mãe da minha professora de inglês, uma brasileira e elas precisam de alguns capítulos aqui, me falou sobre uma amiga que alugava quartos na região nordeste de Londres, lá na longíqua zona 3 quase 4, na Central Line. Fui ver o quarto.
Chegando lá, descobri que era pra dividir com um rapaz. Bem, como ele é gay você pode dividir sossegada. É o que sempre dizem por lá e muita gente faz isso. Iria me cobrar 60 libras a semana - eu pagava 50, mas era praticamente zona 1 e só pegava um ônibus por 15 minutos e estava no trabalho.

Lá teria que dividir o quarto com um homem - não deixa de ser um pra mim - e pagar 10 libras a mais: além de que teria que gastar dinheiro com transporte pra chegar lá, teria que pagar o metrô ou seria quase inviável. Ou seja: de 1,30 de busão, teria que pagar pelo menos 2,90 (preços só de ida).
Mais 10 do quarto e ainda teria um dia da semana para limpar a casa (onde estava já era incluído na limpeza da Marciana, que reclamava todo final de semana pra limpar, mas era o acordo dela, ela queria o quê? que eu ficasse com dó e além de pagar o aluguel dela ainda ia limpar o muquifo?).

Não achei viável e também ouvi algo que não gostei.
Elas são espíritas (a mãe da teacher e a dona da casa) e eu também.
Frequentava uma casa espírita pequena e que deixavam as crianças atrapalharem as sessões (filhos dos próprios voluntários que chegavam quase no final da sessão) e comecei a me irritar pela falta de indisciplina, tinha saído de lá para ir ver a casa.
E contei para a mulher sobre não estar gostando disso e a dona da casa veio com uma de "ah, mas dever o único horário que a mãe tem pra ir e o filho deve ser o maior necessitado que você".
Sim, todo mundo sempre na minha frente...
Como eu já andava com a tal da estima lá no inferno (sorry, mas tenho que usar MESMO essa palavra). Ouvir alguém me dando lição de moral naquele domingo à noite já bastava, se era tão espírita como dizia por que não conseguiu enxergar que estava diante de alguém que estava extremamente vulnerável a qualquer comentário?
Ainda mais porque a própria mãe da teacher tinha me dito que essa "dona da casa" (ela só era a Landlady e ela limpava a casa e a dona mudou e deixou que ela alugasse porque era de confiança) com a filha que trabalhavam de cleaner estavam ilegais e... faziam o que queriam na casa das donas: inclusive dormiam nas camas das donas das casas quando estava cansadas de limpar, comiam a comida etc.

Então, cadê sua moral pra falar que eu não tenho paciência com uma pobre criança de dez anos que fica jogando bolinha durante a palestra e a mãe que chega no final só pra ser a primeira a receber o passe?
Antes de jogar pedra em mim, olhe se você também não merece um paralelepípedo na cabeça!
Se ela fosse uma madre Tereza de bondade e benfeitora eu engoliria: a mulher é um ser acima que preciso chegar e alcançar, mas se você faz barbaridade na casa das suas patroas, não vem falar de mim porque eu não vou aceitar!
E não aceitei...  o preço e os termos já não compensavam e eu como uma alma perdida em Londres, senti que realmente nunca conseguiria encontrar uma pessoa que me ajudasse e me desse pelo menos uma mão para me dizer: calma, Regina!
Não, ninguém era capaz disso.

Na escola-ong de brasileiros, para dar aulas para filhos de brasileiros (preciso comentar sobre lá, né?) havia uma maioria de legais e nem por isso me tratavam melhor.
A professora para a qual eu era assistente de sala, quando perguntei a  todos se ninguém sabia de algum quarto para alugar veio com as pedras nas mãos:
Você acha mesmo que vai achar algo barato em Putney? (a maioria morava por lá, mas eu não tinha dito que queria morar lá) Olha, nem adianta ficar procurando, nem tem lugar barato para morar lá e ninguém aqui sabe de nada. Ainda se fosse em Parsons Green... (perto de Putney, zona 2 oeste de Londres)


Fiquei tão chocada com a doçura dela que nem falei que não estava procurado exatamente em Putney... A voz não saía... e os outros olharam de lado e ninguém falou nada...

Depois me acostumei com a doçura dela quando a vi xingando o marido na frente de todos... vi que ela era doce assim de natureza e que o marido, mesmo sendo brasileiro, não devia estar dando conta... Deve ser difícil dar conta de tanto fel...
Ela mesma tinha me falado pra eu ser babysitter e procurar no... Gumtree... (todo mundo só me dizia: já procurou no Gumtree?)
Afinal, poderia morar na casa das pessoas...

O que achei no Gumtree não era babysitter nem Nanny, era escrava: moraria na casa, ganharia algo em torno de 80 libras por semana, com uma folga na semana e não teria horário pra estudar.
Uma das mulheres com quem falei, uma norte-americana se me lembro bem, disse: como assim você quer estudar? Não tem horário pra isso, você tem que cuidar das crianças durante o dia e a noite!

E a maioria é assim.
Lembro de ter visto um anúncio em St John's Wood (região bem classe alta londrina) que pagavam 5£ a hora para ser babysitter ( salário real para uma babysitter morando em casa seria por volta de pelo menos 10 se não morar na casa a partir de 12, o salário mínimo era 5,93 - o que ganhava no Império)
Comentei com uma brasileira e ela só me disse: você não quer? vai ter uma filipina pra fazer isso.
Ou seja: filipino é o escravo do londrino.

Também acabei me traumatizando depois do caso italiana... comecei a sentir que sou uma inútil e irresponsável com crianças.

Tentava arrumar um emprego e um quarto por minha conta, ia à agências imobiliárias, procurava empregos no site do governo também e nada... mandava meu c.v para todos os lugares... e nada... tristeza porque tentei muito. Passava o dia todo em sites de emprego.
Fiquei até sem estudar para ver empregos e casas e nada.

Chegava depois do trabalho, cansada e desesperada comentando que precisava achar outro emprego e Marciana vinha como a dona de toda a sabedoria:
Porque você não quer trabalhar o dia todo! Quem quer arruma emprego! Trabalha até de madrugada!

E eu:
E quando vou estudar? Vim aqui pra isso?

Woman from Mars: Estuda de noite... sei lá... Quem quer faz tudo que quer aqui!

Se eu tivesse para onde ir, teria saído dali, mas não tinha... Além de pagar para aquela vaca, ainda tinha de aturar desaforo de quem se acha porque se mata para sustentar família chupim no Brasil...

Outra na escola de brasileiros me disse: por que você veio aqui pra Inglaterra no meio dessa crise? Deveria ter vindo antes!

Eu:  Só agora consegui juntar dinheiro pra vir... não consegui antes... estava juntando... demora...

(ela morava lá já uns 7 anos... o pai pagou curso e tudo e aí ela arrumou um passaporte britânico: um marido inglês que deu emprego pra ela na empresa de telecomunicações de lá)

A todo momento ouvia coisas legais de todos os brasileiros... a mãe da teacher até tentou me arrumar um emprego na escola que trabalhava para ajudar na hora do almoço das crianças, mas a cucaracha me tirou do páreo, pôs uma amiga que ficou uns 3 meses no emprego... e eu sem nada por todo aquele tempo... (quer dizer, só com o Império no final da tarde).

A mãe da Teacher achava que eu não me esforçava... era engraçado pra mim aquilo: todo mundo achava que eu não me esforçava...
Será que era porque todo mundo tinha realmente chegado numa época melhor e não conseguia enxergar porque eu não conseguia me virar logo?

Só quando conheci brasileiros que moram em Londres há 20, 30 anos eles me entenderam e me disseram: essa não é a mesma cidade como a conhecemos, mudou muito... e pra pior... (só isso me consolou).

quarta-feira, 21 de março de 2012

Há um ano...

Há um ano "comemorei" meu aniversário em Londres.
Fiz aniversário por lá.

Foi um dia normal: sozinha durante o dia, a tarde na companhia de Darthvedrina e recebi os parabéns das minhas roommates: Marciana, Bruxa do Centro-Oeste e Roommate do Bem.

Depois do trabalho, passei no Sunsbury's e comprei uma torta de morango pra fingir que era um bolo.
Cheguei na Cohab, tive que descongelar no microondas e parti com elas o meu bolinho sem graça.

Falei com minha mãe antes do trabalho, fiquei triste por não ter ninguém, por não ter com quem comemorar de verdade e nem fazer uma comemoração.
Na verdade, como eu tinha 4 dias de férias pra tirar antes de abril chegar - porque lá em Londres as empresas fecham o ano em 31 de março então, se vc não tirar suas férias até essa data: perdeu, perdeu!
Um desses dias eu fui no show do Foo Fighters, em fevereiro (calma, que terá post!) e os outros 3 dias, juntei com o final de semana e fui, no final de semana seguinte, com a Roommate pro Porto e Barcelona, com os bons e queridos preços da Ryanair (que também será uma postagem).

Falei com alguns amigos daqui via msn, apesar da diferença de 3 horas que não parecem muito, mas matam alguém que já está mal (e eu ainda tenho q contar muito nesse período do que aconteceu entre o show dos Manics até essa data e mais depois...) e por isso encontrei poucos on line, mas as mensagens foram fundamentais pra continuar.

Hoje posso dizer que foi um dia muito bom!
Muito carinho e lembranças e isso faz todo a diferença, há 3 meses de volta ao Brasil, eu penso todos os dias em Londres, mas não me arrependo de ter voltado estar perto das pessoas que amo.
Só fico arrependida quando "sinto na pele" a educação aprendida no inferno pelos brasileiros, fiquei ainda mais chata e irritada com isso...
Mas, como diz o Travis: nosso lar é onde está nosso coração. (meu coração poderia mudar pra Escócia rs)

domingo, 11 de março de 2012

21 de janeiro de 2011 - Manic Street Preachers at O2 Academy Brixton

Em janeiro de 2011 assisti meu segundo show em Londres, dessa um show grande, o primeiro.
Fiquei preocupada por estar sozinha e como seria a multidão e preferi comprar um ingresso na parte de cima da Academy Brixton.
O show era pra  ter se realizado em 28 de outubro, mas James Dean Bradfield teve uma laringite e o show foi remarcado para janeiro.
Em novembro, meu problema era morar longe de Brixton, morava na região de Dalston Kingsland, começo do norte de Londres e já tinha até descoberto um ônibus para pegar na estação de Old Street e ou Angel para voltar para casa - depois de chegar até ali de metrô (pela Northen Line).
Com a mudança do show e da minha residência as coisas melhoraram: "Elefantinho Castro" é bem perto de Brixton e em 15,20 minutos de busão estaria em casa (estaria antes, mas os buses de Londres andam devagar para os padrões brasileiros) um único busão.
Cheguei a pegar o ônibus e ir conhecer o ambiente, ainda não conhecia Brixton, mas Marciana (uma descendente legítima de Dinamarqueses, como diria Caco Antibes) disse:

Você vai até Brixton????
Cuidado! Lá muito perigoso! Só tem preto! (imagina, ela não era uma pessoa preconceituosa e muito menos tinha descendência negra, nem os filhos e o marido de uma das filhas que era negro).

E começou a me falar de uma história que aconteceu com o casal polonês: que no verão eles tinham voltado daquela região espancados, que uma "preta" tinha encarado a polonesa e puxou pra briga e os dois tiveram que ir pro hospital, espancados pela "gangue de Brixton". E ela dizia que viu que eles não chegavam e estava preocupada, porque só voltaram no outro dia e tinham virado a noite no hospital.
Ou seja: ela estava tomando conta dos inquilinos, a hora que chegariam e tal. O filho deve ter traduzido o que aconteceu pra ela, acredito eu, porque ela não fala nada e mal entende o inglês.

Bem, fiquei com medo de Brixton porque ela "botou o terror", até eu chegar lá de ônibus e ver o lugar e pensar: peraí! Como assim? Aqui é normal... melhor que Elefantinho Castro! Uma estação de metrô muito, um cinema com arquitetura bonita, praça para as pessoas baterem papo e muito comércio! Um comércio muito melhor do que o da cohab elefante! E ônibus pra cidade toda.

Perdi o medo, fiz o percurso de volta, e só tinha um problema: o meu querido Império do Fado. Estava trabalhando lá a pouco tempo e não poderia faltar, se Darthvedrina queria me botar pra correr, era essa a hora!
Como o show teria abertura de duas bandas (uma menor e Britshi Sea Power - os shows em Londres começam cedo) fui olhar direitinho os horários para cada banda para ver se daria pra assistir depois do trabalho (eles também respeitam os horários fixados, pontualidade, realmente britânica) e os Manics entrariam no palco às 9:15pm e eu saía do trabalho 8:30h, era curto o tempo, mas teria que pegar o metrô ali do lado, St James Park, e trocar na próxima estação, em Victoria, para ir até o final da linha: Brixton e pelo que conheci da região, eram 5 minutos andando até a Academy Brixton.
Tudo cronometrado, naquele dia corri com o trabalho para poder me trocar no mesmo horário dos outros e sair quando a Vedrina dissesse Let's go! E foi!
Encontrei a portuguesa do trabalho no metrô, inclusive Extreme e sua noiva/esposa sei lá o quê e olhou tudo sério pra mim, agora não fez gracinha, né?
Quando o metrô chegou uma estação antes de Brixton, o trem parou, não foi adiante, em Stockwell, ora pois! (bairro português) - na hora não me toquei, só depois me lembrei que foi o mesmo que aconteceu com Jean Charles: o trem parou antes de Brixton e teve também que descer ali.
Como não conhecia a região e só sabia que estava perto, fiquei desesperadamente procurando um ônibus pra Brixton, me disseram um, que passou em frente à Academy, só que eu não percebi e desci no ponto do metrô, voltei correndo como louca, ainda eram 9:05 (transporte que funciona é outra coisa...).
Cheguei, fiquei sem minha garrafinha de água, entrei e vi como era o palco de cima.

A Academy Brixton é um lugar bem bonito por dentro, imita arcádias clássicas. Fiquei impressionada com a beleza do lugar. O palco estava na minha frente, mas teria que muitas vezes, se quisesse uma foto boa, levantar pra tirar - estava num local sentada - o que me arrependo até hoje, porque o povo não levantou, como imaginava que aconteceria...

Nervosismo, cansaço, mas estava lá.
E os Manics entram...

Enlouqueci e não queria mais sentar... mas fui obrigada, educação é educação, respeito é respeito e isso é bem cobrado por lá, não é uma zona!
Ao ver aqueles três caras, ali embaixo, só pensava que era uma sonho realizado, mas queria muito estar na parte debaixo pra pular.
As músicas ao vivo e a voz de James Dean Bradfield são ainda mais cristalinas ao vivo... e que voz, Bradfield... realmente uma das mais lindas.
Todos são grandes músicos e sentadinha deu pra prestar ainda mais atenção nisso: você deixa de ser macaca de auditório e passa a saborear a melodia e perceber as nuances do som, o jeito de tocar, a forte ligação e entrosamento dos caras e como eles tocam muuuito!

Um casal, mais pra lá do que pra cá (ou seja, normal para o padrão inglês) começou a ficar de pé e eu vendo se mais pessoas ficavam em pé, não, o povo não se movia e o cara pediu para o povo se levantar e nada! A mulher do cara ficava com um copo de cerveja balançando e dançando, atrapalhando todo mundo e nem assim... o povo foi irredutível... fiquei triste, estava a fim de levantar e pular! (guardem esse casal, eles aparecerão aqui novamente rs)

Mesmo sentadinha, vibrei e cantei muito com eles, feliz a cada música que amo, principalmente quando fecharam o show com Design for a Life! E o povo finalmente resolveu levantar pra cantar (e ir embora, o que estranhei). Vibrei muito naquela cadeira e amei cada instante de estar ali ouvindo uma banda que amo e que não sei se um dia tocará aqui no Brasil.

Não houve bis, aí sim estranhei muito... Como assim, não tem bis? E as pessoas foram embora como se fosse a coisa mais normal do mundo - tá certo, tocaram 22 músicas, mas bis é bis, né?
O povo foi embora, o palco se apagou e as luzes se acenderam e aí tive mesmo a certeza de que era hora de ir embora... não sem tirar fotos também do lugar.

Fiquei totalmente sem palavras... fui pro ponto de ônibus que ficou cheio, a rua estava cheia, pessoas iam pros pubs e cheguei são e salva por volta de 11:30 na cohab.
Nenhum problema, nada demais, uma noite normal de semana em Londres para a maioria, diferente pra mim que tinha visto pela primeira vez os Manics.



Claro que comprei camiseta no final.

Setlist aqui.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Império do Fado - parte 1, do começo

Já citei várias vezes aqui e citei muito no meu twitter sobre o Império do Fado, mas ainda não contei sobre lá... 
Let's go! 
 
Estava eu desesperada para arrumar um emprego (janeiro 2010), procurava no JobCentre, ligava pra ex-alunos de português e fiquei fazendo algumas faxinas, como já leram. 
E ai minha roommate tinha uma lista de lugares que poderiam contratar, uma lista de agências e empresas de limpeza e serviços. 
Liguei para todas, algumas o número já havia mudado, outras não tinham nada ou ficaram de me ligar e eis que em uma o cara me disse: venha amanhã e traga seu c.v. 
Fui. 
Do lado da Victoria Station, mas eu ainda errei o caminho e me apavorei porque estava atrasada e nem tive problemas com isso, o cara que disse para eu ir até lá não estava e um português pediu pra eu falar com um outro português. 
Tudo bem até aí, o que me atenderia era do leste europeu e eu não vou lembrar de onde... O português, vamos chamá-lo de Extreme (mesmo nome do vocalista portuga da banda), falou que sim, tinham vagas e precisavam urgente de alguém para um prédio ali perto, só que como estávamos numa quinta e sexta seria fechamento do pagamento. 
Então, comecei na segunda. 

Os pagamentos, na maior parte dos lugares ou é feita semanalmente ou quinzenal, alguns lugares preferem quatro semanas trabalhadas, não se conta mês e sim as semanas trabalhadas. 

Teria que trabalhar das 5:30 às 8:30 da noite, limpando escritórios da TfL (Transport for London) eles têm vários prédios e a minha vaga era no prédio da Saint James Station, em frente à New Scotlan Yard. O que era bem fácil pra mim, tinha um busão que me deixava do lado do trabalho. 

Quando cheguei, dei de caras com um mundo de portugueses, o prédio é dominado pela Ilha da Madeira principalmente, Minha supervisora, que deveria me ensinar o trabalho também era portuga. 
No primeiro dia, disse o que eu deveria fazer e o outro supervisor que tinha o mesmo nome de um falecido tio meu me explicou o que deveria ser feito. 
Ela me disse que se eu não entendesse muito bem tudo, durante aquela semana, colocaria uma pessoa pra me treinar. Tudo bem. Então, na terça ela já pediu pra outra portuguesa me ensinar o trabalho. 
Aí começa o problema... 
No primeiro dia ela, como dizem, mostrou os dentes como se fosse uma pessoa decente, no segundo dia, mostrou as garras, mostrou que pertencia ao lado sombrio da força e que ela não era Anakina e sim... 

 Darth Vedrina (o nome dela terminava em drina mesmo... feminino de Alexandre... daí precisa emendar um nome do mal, né?) 

No segundo dia e no resto da semana ela pediu para que uma outra amiga dela me ensinasse, só que o ensinasse era apenas organizar meu tempo entre todas as tarefas, o que eu ainda não tinha noção pra fazer. Era uma andar todo pra mim, menos os banheiros, eu tinha que limpar quatro alas. 
Uma ala por dia era a limpeza mais pesada e nos outros eu só teria q passar pra verificar o que tinha pra fazer de urgente durante a semana e na sexta fazer uma checagem geral. 

O que se fazia em cada ala: tirar pó das mesas e cadeiras, limpar com mop as pernas das mesas e cadeiras (e isso eu fazia quase nunca porque não dava tempo), passar aspirador na ala toda, limpar todos os dias a copa do andar e outra pia que ficava na parte de serviço, passar o pano (ou "mopar") as cozinhas (copa e esse lugar com outra pia), limpar armários e portas e limpar portas de vidro de todas as alas por causa das malditas marcas de mãos nos vidros. SÓ isso em 3 horas. 
Mas, claro, eu poderia descer 8:20 para me trocar! 

A rapariga que era pra me ajudar, me pôs pra ajudá-la a limpar o andar dela também - não tinha alguém pra substituí-la, então, tínhamos dois andares pra fazer e correndo como louca! 
A gorducha que me ensinava não teve a coragem me dizer o nome e nem de me perguntar o dela... Só para vocês terem ideia da simpatia... na verdade, ela não era uma pessoa ruim, mas vai ser antissocial assim lá na Casa do Cara***, opa! 

Até que eu disse o meu nome e perguntei o dela, lá pra quinta-feira... era mais um Maria entre 500 que tinham lá com um segundo nome pra diferenciar uma da outra. 
Apesar de conhecer a fama boca suja dos portugueses e ter um exemplo em casa, minhas tias nunca foram assim, mas as portugas por lá eram, e muito: adoravam um cara*** na boca, cara*** era a palavra mais usada por elAs, sim, elAs... Freud faria um belo trabalho ali... 

Afinal, as portuguesas por lá tem fama de odiarem brasileiras. Muitos dizem que é porque as brasileiras roubam os maridos e que tais delas, mas eu digo: do jeito que são bocas sujas, mal humoradas e carrancudas, só era pra eles preferirem a gente... 

Que homem vai gostar de mulher que só resmunga e, eu acredito piamente, ficam com cara de c* na hora H e devem dizer pra eles: já terminou? 
Porque nunca vi tanta carranca na minha vida... bando de mulher mal comida! (também, com aquele jeito doce delas fica difícil fazer bem feito rs) 

Já a Vedrina eu falava diferente: ela f*dia todo dia comigo porque ninguém queria f*der com ela... 

Não dizia pros amigos de pátria, não era doida! mas comentava sempre fora dali. Até onde podia perceber era mais uma solteira com mais de quarenta e a minha teoria era que nem mal comida era, era não comida, e não duvido que tinha perdido noivo ou qualquer outra coisa pra uma brasileira que só de dar oi com um sorriso já faz os portugas fiquem todos alegres! 
 Sim, porque eu não me interessava por eles, mas nunca deixei de ser simpática e todos conversarem simpaticamente comigo, os homens. E acho que se percebe muito facilmente a diferença, não? 

Voltando à Maria das Couves, ela me estressava! Ela me fazia correr e me ameaçar de alguma forma, e já falava mal da Darthvedrina - para ver se eu já falaria mal dela, ehehehe ela pensa que brasileira é burra... - ameaçava eu quero dizer: a Darth vem aí, ela vai olhar, ela vai ver que estamos atrasadas! E o meu andar era imundo! 
Totalmente imuuuuuuundooooooooooooooo! 

Eu não parava de limpar um minuto e a outra me falando que Darthvedrina viria e passaria um papel pra mostrar onde estaria sujo e brigaria comigo... e eu correndo pra terminar até 8:30... Corria como uma louca, não me lembro de ter suado tanto assim e ficado tão atordoada e sempre era a última a chegar pra me arrumar e ir embora... e claro, como Darthvedrina era uma pessoa do bem, ela fazia todos esperarem por mim pra poderem ir embora. 
Todos eram obrigados a esperar a vontade dela pra ir embora, esperar o Let's go. com sotaque luso. Porque havia algumas lituanas, duas russas também lá  nave Serra da Estrela da Morte. 

Acho que foi no segundo dia que realmente Darthvedrina veio com o papel com poeira. 
Ela veio, me parou e mostrou o papel. Eu não sabia que ela fazia isso ainda e apenas olhei pensando que o papel tinha caído em algum lugar... alguém tinha largado e eu não tinha visto, nem reparei se realmente estava sujo ou não. 
E quando eu disse que não tinha visto nenhum papel caído, ela me olhou impaciente e gritou falando que era a sujeira que ela havia achado no andar, que eu precisava ser mais ágil que assim não daria pra eu ficar se não pegasse o jeito. 
No outro dia, ela trouxe o Extreme, o coordenador do lugar, para olhar meu trabalho e ele também veio me dizer o que estava fazendo errado. 

Era tudo pressão em cima de mim que precisa urgentemente daquele emprego. 
No último dia da primeira semana, depois de tanto estresse, correia e preocupações, Maria das Couves acabou, acredito que sem querer, dizendo que aquele andar não era limpo há meses, porque não tinha ninguém para limpar. 
Ou seja: o andar estava imundo que não dava pra ficar limpo em uma semana em 3 horas por dia. Eu havia me matado porque Darthvedrina me chamava praticamente de incompetente por uma sujeira que eu não tinha como dar conta de limpar naquele curto espaço de tempo. 
Quando ouvi aquilo, no final do expediente fiquei tão revoltada, tão cansada e me perguntava que pqp eu estava fazendo em Londres... 
Revolta, desânimo e cansaço, mas tinha que continuar se quisesse fazer o que pretendia. 

Vontade de matar a Darthvedrina não me faltava, mas eu sabia só de uma coisa: ela fazia aquilo comigo porque era muito ruim, tão ruim que era uma pessoa infeliz e eu não seria nenhum pouco como ela. Tanto que a tratava bem sempre, só pra deixá-la com raiva, por dentro ela deveria ficar...

Sabem quando o capitão gancho ouve o som do jacaré atrás dele e se apavora? 
Eu me apavorava só de ouvir o toque do celular da capacete com voz de rouquidão: Take That, era o comecinho dessa...  era o maior sucesso na época...

Mulher com mais de 40, solteira, carrancuda, fã de Take That... é pra se pôr na camisa de força! principalmente se for portuguesa emigrada na Inglaterra...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Changes (Turn and face the strange)

Uma das coisas que tenho percebido é que eu ando mais antissocial do que era.

Bem, acho que sim...

Como passei por muitas aporrinhações na minha solidão londrina, acho que acabei por me acostumar a ser sozinha e ando meio de saco cheio de gente... é muito estranho... mas parece que eu não tenho vontade de nada que tenha o tema "gente" no meio.

Já fui convidada para festas e não fui, só de pensar em estar no meio de um monte de gente eu já me sinto sufocada. E muitas vezes já me cansa só de pensar em festa... (a depressão parece estar me dando um oi)

Claro que também não tenho nenhum tostão, vocês sabem e saberão como tive uma vida de privações das brabas...

Outra coisa, parece que tudo que fazia sentido antes não faz mais agora...
Por exemplo, eu fazia depilação com a mesma mulher aqui em Sampa há muitos anos, fui até lá, fiz e não pretendo voltar lá!Só porque eu achei que ela não deu a mínima para conversar comigo e ficou só falando do caso do BigBosta...Vai ver eu ando carente demais que queria a atenção de todos... não sei... eu tenho atenção das pessoas, mas sei lá o que deu... saco cheio...
E outra: meus pelos estão todos encravados, coisa que nunca aconteceu comigo. Um ou outro é normal, mas agora foi demais! Talvez eu tenha me acostumado com o método de lá e minhas pernas se adaptaram e agora voltou ao antigo método e o calor...

Mas a questão é que parece que muita coisa que fazia antes, com pessoas que conhecia antes não fazem o menor sentido pra mim.

Não estou falando de TODOS os amigos, mas algumas pessoas, ao menor sinal de que não estou agradando, eu não pretendo me prender...

Eu já andei comentando, antes de sair de Londres que me acostumei a ficar sozinha e isso pra mim tem sido bom, porque não vou mais ficar chorando pelas pessoas, você tem a certeza de que é sozinha e sempre será sozinha: live together die alone! Já diria o doutor Jack Shepard...

E depois de um acontecimento ontem, tive mais certeza de que não me prendo a ninguém...
Uma amiga não entendeu o texto sarcástico que compartilhei no facebook e começou a me dizer sobre "se você fosse mãe não postava isso porque isso é exu" disse algo assim...

E, quem acompanha esse blog desde o começo sabe o que esse "como você não é mãe" já me fez sofrer duramente. Então, mais um pouco, e realmente, é menos uma amizade que preferiu ficar falando da sua nova ordem no mundo e agora "mulher de bem" do que entender que havia um "SARCASMO" escrito em letras garrafais. Afinal, essa pessoa deveria entender porque era uma foto da nossa antiga faculdade, e que ela deveria ser a primeira pessoa a lembrar como as coisas funcionam lá e conhecer muito bem esse sarcamos pra ficar dando uma de "mulher de bem"... e não se tocou da frase acima...o pior é que eu escrevi na postagem respondendo a tal amiga: realmente, fulana, eu não sei como é ser mãe e talvez nunca saiba porque há 95% de chance de eu não saber...
E nada! E a pessoa não entendeu o que eu quis dizer! Continuou na história de mãe de bem...

Não fico chateada mais por não ser mãe, não estar casada. A verdade é que eu nem me enxergo mais assim. Não consigo me ver desse jeito, nessa vida de filhos e marido... parece que não se encaixa comigo mais... acho que as coisas tem prazo pra acontecer e se não aconteceu, sua vida anda e pronto, não tem volta.
Posso estar enganada, mas assim que me sinto. E não me sinto mal por isso, só pensativa sobre o que seria melhor.
A verdade é que se estivesse amarrada a marido e filhos, não tinha feito toda essa minha trajetória e nunca saberia como seria. Eu pelo menos sei como é morar fora e conhecer lugares e pessoas diferentes que casada, pagando contas e sem vida, naõ saberia... São escolhas...
Foi a minha e não acho que os outros têm o direito de jogar um "como você não é mãe" na minha cara.

Acho que se as pessoas não conseguem pensar antes de falar e escrever e não conseguem ver meu lado, também não pretendo ver o lado de ninguém e seguir em frente sem gente para me falar coisas inúteis, das quais nem estávamos falando...

É, eu também ando beeeem egoísta.

E na escola? Na escola eu não dou mais a mínima pros alunos. Só faço meu trabalho. Dou atenção se se interessam, senão, fuck off!

Não pretendo me estressar nunca mais com gente boçal! (fiquei arrogante também...)





A postagem no facebook continua lá, menos a conversa nessa parte, preferi deletar aquelas postagens a deletar a amiga, por enquanto. Assim como bloqueei pessoas que possam vir a me estressar, mesmo não estando entre meus amigos, estou cautelosa a encrencas... porque, sabem, se um amigo pode lhe estressar, imagine alguém que não gosta de você e pode entender mal uma postagem sua no mural de amigo em comum...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Da depressão, do colchão e tudo mais...

Quando comecei a morar na casa da Marciana, foi tudo muito duro pra mim, principalmenter por ter que dividir quarto. Eu sempre direi isso: foi uma das experiências mais horríveis da minha vida. Tanto que hoje, penso muito em Londres, mas não troco meu quarto no Brasil pra dividir com nenhum fdp em terras londrinas.

Um quarto com três pessoas, um quarto não muito grande, mas cabia a cama da bruxa, a beliche, 3 pequeníssimos guarda-roupas (apenas duas portas sem nada, sem gavetas) uma cômoda caindo aos pedaços - as gavetas, se você mexia, desmontavam e o nosso maravilhoso varal que já contei que a Bruxa se sentia a dona.

Era um ambiente extremamente triste pra mim, que relutei até o dinheiro acabar para dividir quarto. A maior parte das minha coisas ficavam em sacolas, caixas de sapato dentro do guarda-roupa, em cima dele e, uma mala cheia de roupas debaixo da beliche - que consegui colocar com muito custo.
Minha vida estava enfiada dentro daquelas coisas, sem espaço, meu laptop, dentro da mochila. 
E um colchão, um colchão de faquir como cansei de falar, porque o que existia era um retângulo coberto por um pano cheio de molas dentro. Só se sentia as molas, se dormia mal, quando se dormia...

A bruxa preferiu ficar sem cama: colocou o colchão no chão e tinha um edredon a mais só para "acertar" o problema do colchão. Eu e a roommate da beliche não tínhamos outro jeito senão mudar de lado e ver se dava jeito, o que não adiantava muito. Eu dormia na parte de cima, cheguei por último... e foi o que tive...
Demorava até meses pra lavar minha roupa de cama por causa do trabalho de tirar a roupa de lá e, por conta também do problema de estender no varal e a Bruxa tirar, levava na lavanderia pra secar.
Na verdade, eu estava era muito deprimida pra dar bola pra lavar roupa. Usava uma mesma roupa por quase um mês. Sério! Tudo isso para não ter que usar o "varal da bruxa" e não me estressar e eu pensava: e daí? tá frio, ninguém repara, ninguém liga...

As molas realmente machucavam, no começo fiquei preocupada. Achava que era por causa do trabalho pesado de limpeza das casas que acordava com meus braços dormentes. Depois percebi que só poderia ser aquilo que chamavam de colchão...
Muitas vezes tinha que tentar dormir de um mesmo jeito sem me mover para que a mola não me machucasse, principalmente na costela e perto do estômago.
Fiquei realmente preocupada achando que estava com um problema muito grave de saúde (o que com certeza eu ganhei...) de acordar com aqueles braços sem movimento. Imagina você acordar e seu dedo mindinho parece não estar ali... não ter movimento, não sentí-lo!
Algumas vezes me desesperava de medo com isso.
Não tinha mais como chorar sozinha à noite. Se quisesse chorar era quando todos já tinham ido trabalhar, mas tendo certeza disso.
O banheiro era ainda pior que da outra casa, não tinha casais tomando banho, mas a banheira sempre entupia e duas vezes aconteceu comigo e Marciana me olhava como a culpada e não a velharia mal cuidada que aquele lugar era...
O microondas esquentava a caneca e não o que tinha nela. O elevador sempre cheio de xixi... uma vez era cheirando maconha, outra vez, até fralda suja (e você achava que não poderia ouvir que isso acontece em Londres, né? como eu já disse, morava na Cohab Elefante Castro onde o fim da linha da humanidade de qualquer canto do mundo morava).
A única coisa legal era numa das casas vizinhas que tinha um senhor que sempre passeava com a labradora dele, a Kia, já idosa e fofa e ele também um senhor simpático que falava comigo, um inglês.

No mais do tempo, principalmente enquanto só ajudava Marciana, ficava muito mal. 
Minha depressão deve ter estado num dos estados piores porque eu comecei a sofrer demais. A achar que ninguém realmente se importava comigo e cheguei, aqui, a fechar meu blog porque ninguém comentava. 
A carência era grande, a tristeza insuportável em alguns momentos, mas tentava me focar no que tinha ido fazer lá e por mais que me dissessem: volta pro Brasil e para com isso!
Eu dizia não.
Porque na minha cabeça voltar era o mesmo que dizer: só gastei dinheiro e piorei minha depressão. Tinha que ter algo além daquilo, tinha que tentar mais um pouco.
Fui teimosa e doente.
Sofri muuuito ali dentro.
E morando com a Marciana que sempre jogava uma indireta do tipo: quem quer trabalhar trabalha até virando a noite - percebam, eu não nunca deixei de pagar aluguel pra ela, mas ela se sentia no direito de julgar as pessoas. Sempre se achou a dona da razão, achava que eu tinha que trabalhar o dia todo e estudar quando desse, só que ele não conseguia entender que não tinha ido lá pra trabalhar como uma mula com ela!!!!
E ela me ajudava mais ainda, a Bruxa não deixava eu dormir e minha Roommate me convidava pra sair todo o final de semana, mas eu estava muito mal para achar que me divertiria de verdade. Até me divertia, mas...  a Roommate tinha toda a atenção sempre e eu fui me sentindo ainda pior! (isso deverá ser uma postagem)
Quando comecei então a trabalhar no Império do Fado e sofrer assédio moral por Darthvedrina aí que eu não via mais solução para nada...

Nesse período ainda, um ex-namorado meu começou a namorar e aí sim eu me senti um lixo, porque todo mundo que o conhecia o achava o maior loser da face da terra e quando ele arrumou uma namorada eu pensei: eu sou pior que o maior loser da face da terra! 
Então, imaginem que eu devia me sentir o pior ser vivente e que não queria viver nesse mundo.
Essa história do ex ainda deu mais problemas: a atual namorada me descobriu (ou ele deu toda a minha ficha pra ela) e ela apenas tirava o sarro da minha cara com os amigos via twitter. (tenho que contar melhor depois...)
E aí, nesse tempo ainda tiveram os casos da Italiana 1, 2 e da Botocada para me ajudarem ainda mais!

Agora, as imagens:
Minha mala debaixo da cama e meus sapatos
tampa do vaso sanitário
conseguem perceber como era a "cortina"?



teto do quarto



a tal cômoda e as coisas da bruxa
nossa maravilhosa veneziana
minha cama na parte debaixo, qdo a room foi embora
cantos da parede do quarto
meu guarda-roupa
cama da bruxa no chão






a bagunça da minha cama - já no chão




O que eu queria mesmo nessa postagem era pedir desculpa a todos os amigos que de algum modo eu tenha magoado de tão louca que fiquei nessa época.

Desculpem! Minha consciência pesa e sofro muito por ter magoado pessoas que tentavam me ajudar de alguma forma. Sinto muitíssimo e espero nunca mais agir da mesma forma.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

1 mês de volta ao Brasil

Amanhã, exatamente, fará um mês que estou de volta ao Brasil.

Calma! Ainda tenho muito o que contar, esse blog não acaba assim, falta muita coisa ainda... mas talvez o meu antigo blog volte a funcionar, tudo depende de o quanto eu consigo me virar em atualizar tanta coisa, mas por enquanto tenho o que contar de lá e da minha readaptação de cá.

O que mais tem sido difícil pra mim é a educação das pessoas.
Depois que você se acostuma às pessoas evitarem qualquer tipo de contato com você - não no quesito antissocial, mas sim no quesito, respeitar seu espaço. O inglês tem um jeito diferente de dizer que te respeita, e eles têm o maior respeito para não encostar em você e te aborrecer.
Para eles é simplesmente ruim esbarrar em alguém, mesmo que seja numa balada todos estejam bêbados, ele sempre dirá: sorry! I am so sorry!

O brasileiro não, parece que faz questão absoluta em te esbarrar e praticamente se esfregar em você pra mostra a presença dele.
Nem em ônibus cheio um inglês esbarra em você e se isso acontecer, ele falará sorry e ficará muito, muito sem graça.

Então, você começa a andar por aí e todo mundo quer passar literalmente por cima de você num frenesi (nem é o filme do tio Hitch) maluco para estar na frente, na frente na entrada do busão, na entrada do metrô (do trem eu nem falo) passar na sua frente na escada, passar na frente na rua...
Brasileiro parece ser um total obcecado para que fique sempre na frente, sempre levando vantagem em tudo, nem que seja na calçada atropelando a velhinha que vai de bengala.
E aí começa a te empurrar com o corpo, com a bolsa, com o que puder porque ele TEM que ficar na frente, mesmo que ele vá descer no ponto final, na última estação, ele quer ficar na sua frente, na porta, ele é o porteiro-mór.

A linguagem que as pessoas usam, pelo menos como eu moro em findomundópolis..., vocè só ouve imbecilidades, conversas totalmente baixas e muitos, muitos palavrões. O brasileiro não tem vergonha de expor sua vida pra qualquer um. É legal andar no trem e falar do cara que pegou, da mina que catou, da vizinha que quase você meteu a mão na cara.


As pessoas tomam conta do seu espaço e do outro em bancos, filas e tudo mais.


Segunda-feira, no trem, um cara estava com um altofalante e foi o caminho todo tocando a porcaria, quando desceu em Itaquera (Curintia!! aeee!) talvez alguém tenha avisado aos guardas do que o cara fazia, mas quando o cara desceu em Itaquera ele mostrou a língua por guarda!!!!!!!!!

Daí que educação não é só o problema, o problema é que quem tem que cumprir leis, não as cumpre, faz papel de idiota e, vai continuar sendo chamado de coxinha enquanto fizer vista grossa pra tudo. Nunca em Londres um cara sairia sem algum tipo de advertência, no minimo, por ter feito de bobo uma "autoridade". E olha que nem arma eles usam.
Mas existe algo lá que não existe aqui e é muito grave: respeito. E que se faça respeitar.

Não é proibido agora o celular no banco?
Fui na CEF e várias pessoas receberam ou fizeram chamadas na minha frente, na cara do guarda que fez, novamente, vista grossa.
Eu acredito que um dos bancos onde as pessoas devem ser mais assaltadas seja a CEF, por conta do FGTS etc, e deveria ser o local que mais essa lei deveria ser cumprida.

Lei não pega no Brasil porque não é cumprida e quem deveria garantir seu cumprimento finge que não tem nada com isso.

É medo?
Bem, a maioria dos funcionários públicos não parecem ter medo e deixam em todas as repartições que desacato a eles dá cadeia ou multa. Então, quando um segurança ou policial vão se mexer e fazer o mesmo e fazer valer o cumprimento de leis?

Vai dizer que vem de cima?
A lei veio de cima, agora é cumprir.

O transporte público é ruim e caro. As novas estações do metrô da linha amarela consigo enumerar o que tem de errado, como a plataforma pequena e com a escada rolante quase em cima do trilho, um mix de metrô de Paris e Londres, mas onde as plataformas são realmente espaçosas nas estações mais novas.
Mesmo assim, ainda achei boa a linha e ela até está tentando colocar o povo pra ficar na escada rolante do lado direito, se "pegar" vai ser ótimo!

Você começa a ver as condições de trabalho e vida das pessoas e percebe a diferença gritante.

Não soube da existência de uma "cracolândia" em Londres, mas sei que eles são muito coerentes e certinhos e não fariam essa coisa de jogar todo mundo na rua sem ter pra onde ir e continuarem a se drogar cidade a fora.
Por mais que não pareça pelos meus relatos, Londres acaba sendo muito mais humana nesse tipo de caso.
Londres não foi humana comigo porque vivi cercada sempre, infelizmente, de brasileiros que, como eu disse lá no começo, só querem levar vantagem em tudo e muita, muita falta de sorte (acho que não era pra eu viver mesmo lá, destino, talvez).

Os preços das coisas também me assustam e é engraçado lembrar que McDonalds aqui tem status classe média... enquanto lá é comido em larga escala por ser barato e considerado ruim, mas algo como um mal necessário. Os atendentes aqui tem um sorriso no rosto, os de lá, chegam até a serem sarcásticos e parecem te odiar por entrar na loja. Daí as lendas de que eles fazem de tudo com o seu prato antes de chegar em você e nem quero saber o que fizeram com o meu!

Claro que já estranhei o calor - o "frio" dos dias chuvosos que só andei de camiseta e minha mãe falando pra eu pôr uma blusa porque estava 20 graus (e isso era o máximo da felicidade pra um inglês) - não peguei um verão forte por lá, mas entendo perfeitamente porque o inglês gosta tanto do verão e até do horário de verão: eles mal conhecem dias quentes e no verão, quando tem sol até as 9 da noite é a alegria total! Afinal, agora, deve estar escuro às 4 da tarde por lá...

Fiquei pondo na balança tudo.
Por enquanto, o melhor pra mim é ficar aqui.
Porque é cômodo: tenho um quarto pra mim, tenho todas as minhas coisas por perto e o principal: tenho amigos de verdade e família do lado.
Não me sinto tão solitária como me sentia lá, mas aprendi muito com essa solidão, ela me ajudou a encarar as coisas de outra forma.
Talvez até de uma forma ruim, quem sabe?
Porque eu percebi que não preciso de ninguém e já não me importo muito.
Não, calma!
Com as pessoas que amo e sei que gostam de mim nada mudou. O que mudou é com o restante, já não me importo tanto se vão ou não gostar de mim, se falam isso ou aquilo: que se dane!
Parece que criei uma carapaça, fiquei mais dura pra enfrentar as coisas.
Até minha fluoxetina eu parei há meses e não estou tendo problemas de depressão... mesmo com minha volta que pensei que teria que tomar assim que comecei a ouvir os noticiários da TV...

A questão da segurança também mexeu comigo: no primeiro SPTV que assisti, virei pra minha mãe e falei: quero ir embora!
Nos primeiros dias, pensei que ia ter uma síndrome de pânico.
Saí para resolver coisas e escondi meu computador, máquina fotográfica, ipod e tudo mais de medo de ser roubada, coisa que não faria antes...
Mas você desacostuma a ouvir a todo momento falar de assaltos, sequestros, mortes e roubos...
E isso é muito estranho!
É muito estranho ter ônibus noturno e chegar em casa às 3 da manhã andando duas quadras a pé sozinha. E aqui ter medo de sair de dia pra ir na esquina.
Cheguei a reclamar com a minha mãe por terem falado pros vizinhos que eu estava em Londres, falei: vão fazer um sequestro relâmpago comigo, vão achar que ganhei dinheiro em Londres!

Mas agora passou, estou mais calma.
Meu medo agora é ser ainda mais intolerante com as coisas erradas do Brasil, afinal, eu descobri que SIM existe lugares em que as coisas são feitas de acordo com o que deve ser e existe um respeito mútuo...

Meu primeiro passo intolerante já estou pensando em dar: nunca mais votar e só pagar multa.
Acho que o noticiário fez  mais mal pra mim do que um monte de gente esbarrando em mim a todo momento... mas o tempo dirá o que vai ser...
E se for pra voltar pra Londres, eu já digo: só morando sozinha, não divido quarto nem casa com ninguém, muito menos se for brasileiro! Esses, eu pretendo ver beeeem longe se voltar pra lá.
Claro, tirando algumas raríssimas exceções, não mais que umas 3 ou 4 pessoas.

Dividir quarto foi a pior experiência que já tive na vida.
Até brinquei dizendo que nem com o Gerard Butler eu dividiria quarto.

Mas em breve saberão de mais traumas que minhas roommates me trouxeram...

Em resumo: só volto pra Londres se for pra ter vida, senão fico aqui que tem gente que ainda me atura rs
Ou quem sabe uma tentativa em Edimburgo, um dia, quem sabe?