domingo, 20 de novembro de 2016

Mais um bico: limpeza para vistoria de imóvel

Pelo Job Centre consegui poucos empregos, como o da lanchonete francesa, brasserie? não lembro como era o nome em francês... o certo é que consegui lá e fui chamada em outro lugar na região de Shoreditch, região nordeste de Londres.
Era um escritório que contratava para limpar casas e apartamentos que seriam alugados, ou seja, o inquilino saía e para a vistoria do dono a casa precisa estar impecável para o próximo morador ir visitá-la.
Na verdade, acredito que o escritório era de aluguel de casas e como não queria perder clientes, colocava pessoas para limpar antes dessa vistoria.

Trabalhei apenas 2 vezes lá, era muita humilhação. Também.
A primeira vez cheguei cedo com outras duas moças, do leste europeu, e ficamos pelo menos uma hora esperando para que nos levassem até o apartamento.
Tivemos que esperar uma das moças do escritório nos levar com todo o material de limpeza, inclusive o aspirador de pó, fomos de carro. Não era longe.
Essa primeira moça disse que nos pagaria o tempo que esperamos também e tudo bem.

Era uma casa de dois andares e precisávamos limpar tudo, até marca da porta encostar na parede. Até para isso existe produto de limpeza e a casa estava bem suja. Ainda bem que sem móveis, mas era preciso limpar tudo que nunca havia sido limpado na vida, como janelas, corrimãos, batentes e aspirar o carpete que estava por toda a parte (já disse como odeio esses carpetes por toda a parte?) . Não era nenhum pouco fácil tirar as marcas de giz de cera da criança que morou na casa e estava pelas paredes...

Passamos pelo menos umas 4 horas na casa, nós 4 (apareceu mais uma moça pra limpar também do leste europeu, acho que da Bulgária...) e quando fomos embora, fomos de volta para o escritório e na hora de receber só recebemos o tempo de permanência na casa, mais nada - porque nos direitos trabalhistas ingleses também não tem nada que pague nem um lanchinho... e recebemos aqueles 5,75 do salário mínimo por hora...
A moça que nos atendeu na volta foi mais mal educada, do tipo que não era comida decentemente desde sempre, olhou pra gente com cara de nojo e de cima. Do tipo: sou a gostosa maioral aqui, vocês são umas reles pobres do terceiro mundo. E ficou dizendo que não ia pagar o tempo que esperamos porque isso não era problema dela.

Alguns meses depois recebi outra mensagem de lá para trabalhar, numa outra casa bem mais antiga, ou com aparência bem mais antiga e com móveis. O que é infinitamente pior porque tem os móveis para serem limpos (vocês entenderão já já).

Dessa vez mandaram a gente direto pro lugar do trabalho. Fui de onde morava pra lá, sem ir pro escritório que pagaria depositando na nossa conta, transferência eletrônica.
Cheguei lá e vi que apesar da casa ser menor, a sujeira era exponencialmente maior...
A bulgara estava lá e uma africana, tínhamos as 3 que dar conta em 2 horas da casa - é, tinha o tempo estipulado.

A cozinha era a coisa mais nojenta do mundo! O fogão nunca deve ter visto um produto de limpeza na vida, era pura gordura, assim como o piso e os azulejos e tivemos que limpar tudo, com muito esforço. Era preciso muito produto de limpeza pesado e muita luva nas mãos pra aguentar aqueles produtos, muito esforço na esfregação também!

A cada dia via que minha vida em Londres era mais dura, mais cansativa e mais dolorida para ganhar 5,75 por hora. Sentia-me um lixo porque era tratada como lixo.

Meses depois, tive um problema no meu imposto de renda, sim! Ganhava uma miséria e tive problema de imposto... o que aconteceu é que as vacas desse escritório colocaram um código errado no papel para meu pagamento (nada passa ao fisco!). Eles tinham que fazer, mesmo que eu trabalhasse esporadicamente para lá, um papel - payslip - como o holerite daqui em que consta quanto recebi, quando devo ao fisco e outras contribuições se existem e há um código para cada tipo de remuneração. Colocaram um em que eu deveria ganhar mais e pagar imposto...

Tive que voltar até lá, depois de meses sem ser chamada e pedir o papel, e  encerrar meu trabalho com elas. 
A bonitona bêbada, aquela que se achava, é que me atendeu, chegou no trabalho com uma garrafa de água e outra de redbull pra aguentar a ressaca do dia (não sou nenhuma idiota...) o dia anterior que foi domingo. A maior cara de acabada, mas se achando e fez o papel na hora, que eu tive que depois levar para ser modificado, mas isso é outro imbróglio gigante para outro dia...
Podem ver que eu não tive um minuto de paz...


terça-feira, 15 de novembro de 2016

O Império do Fado - parte 4: a maratona

Não me lembro se contei na última postagem do Império que uma nova empresa iria assumir a parte de limpeza da TfL (Transport for London) e nem todos os funcionários se manteriam com essa mudança. Nova empresa assumiria esse setor, mas nem todo mundo ia ser mandado embora, na verdade, disseram que iriam reestruturar as tarefas e muito boato e conversinhas eram ditas, como de que a empresa anterior foi tirada por ter funcionários de alto escalão roubando coisas grandes nos escritórios da TfL, se era verdade, não sei, foi um dos boatos... que a portuguesada que mandava roubou nos finais de semana coisas como móveis... era o boato. Por isso teriam tirado o contrato com a empresa e dado a outra o trabalho de cleaners ali.

Virou uma maratona, uma correria por pontos, sim, tudo seria anotado em nossos prontuários para ver quem ficaria a trabalhar lá ou perderia o emprego...

Entrei nessa neurose e ainda morava na casa da Marciana, fiquei apavorada pensando o que faria se fosse mandada embora, pois mandava muitos cvs, principalmente estava sempre de olho nas vagas do Job Centre na Internet e nada... isso me dava medo... como eu ia me manter? era pouco, mas dava pra pagar o aluguel da semana.
E ainda por cima eu era uma das mais novas trabalhando lá, ou seja, menos pontuação, quanto mais tempo, mais pontuação.

O que eu ia fazer se fosse mandada embora? E aí que eu tinha que aturar mesmo a Marciana...
 Procurava não chegar atrasada, não deixar nada pra trás no meu trabalho, limpar como sempre limpava, mas sabia que Darthvedrina contava contra mim.
A semana da mudança foi exatamente as semanas que ela ficou de férias, ela sabia que nela ninguém mexeria... em nenhum supervisor.

Até que veio o veredicto, eu e as ucranianas e a russa estávamos fora, além da angolana. Dei pra ver nitidamente como foi a escolha, quer dizer, como os pontos contavam: português 1000 pontos, outras nacionalidades 0.
Não, mentira! 3 portugueses também foram mandados embora: uma senhora que mais faltava do que vinha e queria ser mandada embora, a moça que trabalhava no hostel e queria ser mandada embora porque tinha mais trabalho no hostel e um cara que estava voltando para Portugal. 

Imagina se houve algum complô e cartas marcadas, de jeito nenhum!

Quando soube que seria uma das pessoas a ir embora e só tinha mais uma semana, larguei mão. Não ia ficar com o emprego mesmo, por que trabalhar? E me escondia em alguma sala e ligava pra minha mãe, do meu celular, não usava os telefones de lá. Ficava na maior moleza, não tinha mesmo porque me matar, todo o trabalho que eu tive não era recompensado.

Comi doces e chocolates das mesas dos funcionários da TfL (comi bolos também rs), li as revistas deles e limpei só o que não poderia deixar de ser limpo. Na mesma época, algumas salas estavam sendo desativadas e aí havia mesmo coisa pra limpar porque mesas e repartições tinham sido levadas embora, toda uma ala foi desativada. Exatamente a que tinha uma sala de relax com pôsteres do The Times de alguns filmes famosos como Casablanca, Dr. Jivago, O Vento Levou, Manhattan e Conspiração Internacional. Subi nas paredes e levei tudo pra mim, trabalho duro rsrs tive que esconder no meu avental e era muita coisa dobrada, mas dei meu jeito.
Continuei minha busca por coisas abandonadas, como um monstrinho do lago Ness que estava jogado e era tipo de pelúcia, pequeno, levei. 

Naquela semana eu era sempre a primeira a chegar no porão pra esperar o Let's go da Darthvedrina. Ela mesma chegou a jogar uma indireta do tipo que quem tinha sido mandado embora não ia mesmo trabalhar aquela semana. Oh, como fiquei triste por isso! (sqn)
Se meu trabalho não ia ser recompensado o que adiantava ter sido certinha? E fui erradinha a semana toda.

Na outra semana, lá pela terça-feira, me ligaram da empresa falando que tinham uma vaga pra mim num prédio do lado, da TfL também, onde trabalhei uma vez para cobrir uma outra moça durante o dia com aquele carrinho. Deveria ir conversar com uma colombiana que era a cara - pelo menos pra mim rs - da Tenente La Guerta, de Dexter, então vou chamá-la de Laguerta, ok? Minha nova chefe. Bem, fui ver qual era a vaga, como seria e teria que trabalhar apenas duas horas por dia (menos dinheiro), tinha 4 andares para lavar APENAS os malditos banheiros... nada pode estar pior que não fique ainda mais... mas de 5,75 a hora, passamos a 8,40, era alguma coisa pra se agarrar...
 

domingo, 30 de outubro de 2016

Anjo?

Finalmente, em julho de 2011, eu consegui sair da casa da Marciana!!!!

Ia, quando tinha dinheiro sobrando, a uma esteticista que me foi indicada pela Ad, amiga da Collorida, essa mulher fazia depilação e eu precisava muito, algumas vezes, porque a Floresta Amazônica tomava conta das minhas pernas e não dava pra viver além de tudo, peluda, né? Só o que me faltava...

Depilação na Inglaterra não existe em que a virilha pode ser dividida em cavada ou não cavada ou é beeeeeeem cavada ou Brazilian Bikini (lindo, né?) ou você deixa um fio ou deixa nada... ainda estou falando de virilha, mas parece que ela não existe nesse tipo de depilação...
E Anjo foi indicada porque talvez me desse um desconto, não no dinheiro, mas de não precisar radicalizar na "virilha"...
Sempre que ia na casa dela, conversava bastante, ela era (é) uma pessoa que vive em Londres há quase 30 anos. Veio com diplomatas pelo consulado brasileiro no Rio de Janeiro para trabalhar na casa deles e tinha muitas amigas que chegaram na mesma situação e ficaram, não quiseram voltar ao Brasil, preferiram a vida na Europa, também para ajudar a família no Brasil. Ela tinha muitas freguesas não só brasileiras, mas inglesas, sul-africanas, australianas e conseguia se comunicar bem com elas; não fazia só depilação, era uma esteticista completa: com limpeza de pele e massoterapia.
Conversava bastante e num dos meus papos com ela, ela conhecia NaLgini, lembram dela? A cobra? Afinal, Nalgini estava há uns bons 18 anos em Londres e nessa época que chegou havia poucos brasileiros que se encontravam em comunidade, um desses lugares era a Igreja Católica que elas participavam.
 Anjo me contou que NaLgini ficou internada num hospital psiquiátrico em Hammersmith (!!!!) e percebi que realmente a culpa do imbróglio todo não era mesmo minha na casa da Collorida...

Um desses dias que fui e falava da minha vida triste para Anjo ela me disse: por que você não vem morar aqui? Quanto você paga lá por semana? E eu disse que eram 50 libras, e ela me disse que faria por 55 por causa do gás do heater... um alívio percorreu pelo meu corpo, quase chorei! E descobri um anjo na minha vida!
Primeiro quis saber onde dormiria e ela me mostrou que tinha no quarto dela (que também era o salão de estética) uma caminha baixinha debaixo da dela, para quando alguém precisasse dormir lá. Nada demais, melhor do que o colchão estragado da Marciana, era cama de espuma!!!

Era em Olympia, perto da High Street Kensington, o preço era bom para o lugar onde moraria, dois pontos de ônibus da estação de Hammersmith e do Apollo Hammersmith, onde vi a Adele.
Eu ia pegar ou o metrô até HighStreet Kensington e um bus pra casa do trabalho ou dois buses, era só o que atrapalhava ou pegar o metrô até Olympia que era uma linha meio desabitada, não sei por que a linha de Richmond deixava apenas de meia em meia hora passar um trem até Olympia então ficava inviável, mas eu tentei algumas vezes quando só ia na depilação... e chegava atrasada no trabalho...


Vejam no mapa: é um braço da linha e muitas vezes não ia, quando fui embora, parece que fechariam essa parte do metrô e ficaria só a do trem, que é a linha com duas faixas laranjas que passam lá. Marquei também que trabalhava na estação St Jame's Park para verem como seria facinho de metrô, mas eu preferia pegar o bus pra pagar menos, ia até próximo da Notting Hill Gate e lá pegava outro bus.

Então, assim, me senti liberta de Marciana e sua corja! Estava tão feliz e aliviada de que poderia me mudar e não aguentaria mais aquilo! Numa casa pequena, mas aconchegante, bem mais limpa! E com geladeira, micro-ondas bem mais novos e sem medo de dizerem que eu entupi com meu cabelo ruim (sqn) a banheira! Não tinha banheira! Era só chuveiro num banheiro pequenininho!! Mas muito mais com cara de limpo do que o velho da Marciana!

Cheguei na casa da Marciana para avisar que ia me mudar e havia chegado mais um colchão box, estava no quarto dela e ela disse que ia pôr pra ela, neste mesmo momento falei que sairia da casa. Ela se espantou, achou que eu era a trouxa que aguentaria sempre tudo calada. E falou que tudo bem, que se eu ia ficar até sábado que era meu dia de pagamento, aí eu não precisaria pagar, era só levar as coisas. Quando avisei Marciana, eu já tinha levado muita coisa embora, para não ter que levar tudo de uma vez num único dia, como elas trabalhavam o dia todo, tive meu tempo para ir sumindo aos poucos com minhas coisas.
Até hoje a Marciana reclama que saí da casa dela, falou pra mãe dela aqui no Brasil que não esperava isso de mim, que me ajudou tanto. Disse isso para a prima da minha mãe, que foi quem arrumou o contato da Marciana. Uma tia minha que me contou, se um dia tiver a oportunidade de conversar com essa prima da minha mãe, contarei a ela o que passei na casa e que nada tive como favor, tudo eu paguei, saí sem dever nada a ela e ela sim a me dever respeito por me tratar tão mal por ser documentada. Por achar que eu trabalhava pouco e que deveria trabalhar como ela, mula de carga pra sustentar filho mimado no Brasil. Não, ela não fez nada demais por mim, eu que fiz por ela: fui uma inquilina fiel e que não trazia problemas, nem quando ela me cobrava adiantado o aluguel.

Ela ficou mais assustada ainda quando viu que eu já tinha levado praticamente tudo embora. Depois a Santa e a Bruxa vieram falar pra mim (porque voltei um outro dia lá para ver se tinha cartas pra mim) que Marciana queria saber porque eu fui embora e elas disseram que foi por causa do colchão, pelo menos foi o que me contaram. E que ela ficou pensativa e perguntou o que mais de errado tinha na casa rs aí elas falaram da banheira, da toalha da mesinha da cozinha que nunca foi trocada etc etc e ela trocou a toalha e pôs até tapetinho no banheiro! Isso eu vi quando fui lá.
Acho que foi até no show do Morrissey... passei lá antes, era no Brixton Academy, "aquele lugar de pretos!" como diria Marciana... loira dinamarquesa, diria Caco Antibes...

Meu último contato com Marciana foi por mensagem de celular, quis dar um troco bem dado a ela, antes de voltar ao Brasil, mandei mensagem perguntando se tinha aparecido mais alguma carta em meu nome na casa dela. E ela disse que tinha mudado de lá (ela disse que mudaria para um lugar menor quando a filha viesse no final do ano) e as meninas (Santa e Bruxa) também tinham mudado. Eu disse que só queria saber porque estava indo embora pro Brasil e só estava esperando me entregarem meu certificado de inglês. rsrsrs ela disse que era legal eu ter conseguido e tal - não com a ajuda dela que achava que eu passava todo meu tempo brincando na internet e não estudando...
E assim fui para a minha quinta casa em menos de um ano de Londres...
Feliz por não ouvir mais Marciana dizer "o tempo avoa!" e "vou depositar dinheiro na óquisfórdí".

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

ainda sobre a Santa

Faltaram umas coisinhas...

Lembram da história da Mala?
Então, quando a menina da mala vinha e já estava certo que ela traria umas coisas pra mim, eu fiz a besteira de contar que uma irmã de um amigo iria para Londres.
A Santa ficou louca desesperada para que eu pedisse para que ela entrasse em contato com a família dela e trouxesse umas coisinhas para ela. Eu não hesitei, disse que não podia pedir e ela chorava, dizendo que quando veio só trouxe uma malinha pequena e que ainda teve que pôr a bolacha da criança que ela ia cuidar e que deixou de trazer coisas dela. Não esmoreci, mas acho que foi praga dela ter dado tudo errado...

Ela trabalhou em um restaurante cubano muito simpático, trabalhava na cozinha e fez amizade com o povo, parecia o lugar certo para ela: um pessoal bem animado que a ajudava, ia na lábia dela.

Cheguei a ir na igreja católica que ela e a Bruxa frequentavam em Brixton e ela ia só para comer os docinhos que o povo compartilhava no final. Percebi que perdi muito em não ir em lugares assim, fazer amizade com as pessoas no final das missas: se reuniam para conseguir emprego e outras coisas para as pessoas. Quando eu ia saber? Isso já foi quando eu mudei.

Depois que mudei soube que ela foi trabalhar na limpeza de um hostel.

Um dia, quando voltávamos de uma balada e estávamos no ponto de ônibus. Um cara que parecia muito bêbado no carro, com um amigo, gritaram para ela. Via na cara deles como ficaram enlouquecidos pelo biótipo e pela roupa. E ela só soube responder ao So hot! com um you too.
 Alemães parecem muito sérios em qualquer situação, os amigos do alemão que ela paquerou conversavam seriamente em alemão, porque sabiam que eu entendia se falassem em inglês. Queriam combinar de ir pra outra balada, a Santa não quis, fez-se de difícil.

Ela ficou um dia todo esperando para sair comigo depois da história da Walkabout, mas eu tinha avisado que tinha um compromisso longe (um evento da escola que trabalhava), ela que esqueceu e ficou me ligando... deve ter se arrependido porque a Bruxa não ia na balada com ela...

eu não me lembro direito se ela disse que eu ficava feia ou  ridícula de óculos e com o cabelo amarrado...

sábado, 10 de setembro de 2016

Finalmente chegamos a ela: a Santa do Pau Duro...

Depois de umas duas semanas morando apenas no mesmo quarto eu e a Bruxa do Centro-Oeste, Marciana chega e pergunta se pode trazer uma terceira pessoa para o nosso quarto. Disse que era uma moça de ótimas referências, e que ela não ia pôr qualquer uma na casa dela.
Eu e Bruxa aceitamos, porque íamos deixar de pagar 70 libras a semana e passar a pagar novamente 50.  Marciana ganharia mais 10 libras nessa empreitada, ou seja, de 140 por semana só o nosso quarto, passaria a ganhar 150.

A moça veio, toda com cara de coitada, cachorro sem dono. Disse que sofria na casa que estava, veio com uma família brasileira que veio morar em Londres e a trouxe como babá do filho, sem direitos, é claro!
Ia começar a trabalhar nas famosas vans de limpar casa, mas parecia bem desolada, só parecia...
Marciana a conheceu através de uma mulher da igreja dela.
Eu falei que a Marciana frequentava a igreja dela em Londres? Sim, frequentava, a mesma igreja com brasileiros, como eu acho que disse que acontecia com as igrejas católicas e centros espíritas ou não falei? hmmmm
Voltando, a mulher da igreja e outras pessoas ficaram com dó da moça e procuravam alguém para ajudá-la com uma canto e sair da casa onde a Santa morava.
Na primeira semana, ela disse que tinha um namorado croata e ficou exibindo a foto do cara para todo mundo (sim, o cara era lindão), parece que era segurança de uma boate e morava com um amigo também croata. Às vezes a Santa dormia pela casa do croata e não aparecia. 
E nesta mesma semana ficou doente, também não dormiu no nosso quarto, dormiu no quarto de Marciana que cuidava dela como uma filha. Disse que a coitada estava com alguma infecção e vejam só! Até infecção ginecológica a coitada ganhou de tanto sofrimento com a mudança e de começar a trabalhar nas vans!

Depois de melhor, vivia reclamando do trabalho e que ela vivia muito melhor no Brasil, disse que era enfermeira e dividia uma casa enorme com uma amiga, que tinha o próprio carro e o namorado era piloto (sei, acreditei em tudo... ah, ela era paulistana). Morava em Campinas. Queria arrumar um emprego melhor, mas como boa brasileira em Londres era ilegal, veio trabalhar para a família brasileira exatamente por isso: era ilegal e não teriam que pagar os direitos trabalhistas a ela, nem os brasileiros, nem os ingleses.

Aos poucos ela foi se soltando e mostrando quem realmente era: comprou uma documentação falsa, uma identidade portuguesa para se manter lá. Um dia, ela deixou em cima da mesa da cozinha e minha vontade era pegar aquilo e jogar no lixo!! Afinal, eu gastei tempo e dinheiro e muito transtorno com o consulado português para conseguir a minha identidade verdadeira e aquelazinha andava com um falso dizendo que tinha nascido num lugar lindo como Sintra...

Vivia num tal de Badoo, uma site de relacionamento, onde encontrou o croata. Uma amiga dela - que também vivia indocumentada também procurava homens lá.
Ela estava com o croata pensando que a nacionalidade dele garantiria uma boa estada no Reino Unido, afinal, ela não sabia falar inglês e muito menos croata, só se entendiam os dois na cama. Porque eu, boba, perguntei como ela o entendia se nem sabia o inglês direito...

Quando terminou chegou falando que "pinto tem de todos os tipos, tamanhos e cores" que não precisava exatamente daquele e ainda emendou: "né, Marciana?" 
Marciana se achando A mulher moderna, concordou e eu vi que as coisas por ali não iam dar mais certo comigo: 3 indocumentadas e uma cidadã europeia... estava perdendo o jogo...
E Marciana sempre defendendo essa moçoila que dizia que tinha bunda grande e como "toda calcinha enfiava mesmo, resolvi só comprar fio dental, mais prático, não preciso ficar tentando tirar do rabo".
Daí eu não poderia dar melhor apelido do que esse Santa do Pau Oco! ou melhor! Do Pau Duro...

Ela tinha um biotipo que enlouquecia os gringos e se aproveitava bem disso. Ia caçar outro no Badoo e com a ajuda de Marciana, do lado. 
Vieram as duas um dia falar pra mim porque eu não entrava também no site e encontrava alguém, virei pras duas e disse que meu objetivo era outro: era estudar e voltar ao Brasil, não ia me comprometer com ninguém pra depois ir embora. 

Como estava carente de amigos, aceitei sair com ela algumas vezes, levei ela pra conhecer a noite britânica em Camden Town que ela adorou e fez amizade com uma brasileira no banheiro...
E em alguns pubs que conhecia ou lugares que eu queria conhecer, como o Walkabout (que eu comentei na postagem sobre as baladas londrinas) e a levei, porque ela não sabia nem andar de ônibus por Londres...
Levei-a a lojas que achava muito legal e mais baratas, mostrei uma Londres que ela não conhecia.
Eu, na minha ingenuidade achava que era só diversão e não me tocava que ela queria achar um "documentado", bom partido.
Como um alemão que eu fiquei de olho, mas ele ficou de olho nela e ela até conseguiu falar com ele (quer dizer, a trouxa aqui foi a tradutora...), mas morreu ali. Ainda bem, senão eu ia ter que traduzir na casa dele também... 

A Santa reclamou da TV, Marciana de muito mal humor foi pagar pra usar (você só usa TV na Inglaterra se paga para usar, não é de graça como aqui, mesmo sendo canais abertos). Como Marciana começou a fazer aula de inglês com a Bruxa numa igreja aos sábados, achou que seria útil.
Vi um dia, tentando arrumar muito a TV um Jools Holland.

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Inglês com Marciana: ela vinha todo sábado feliz por aprender um pouquinho de inglês e vinha me sabatinar: você sabe como se diz gêmeos em inglês? Eu: sim! twin! E ela: como? Twin! e me olhava estranha a cada palavra que eu acertava rs
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Marciana começou a ficar contra mim: um dia o ralo da banheira entupiu justamente comigo e começou a reclamar que eu entupi: depois de todas as 3 que faziam tudo quanto era química no cabelo tomarem banho e deixarem seus cabelos no ralo, a culpa era minha. 
Marciana vivia pegando no meu pé, achava sempre que eu nunca fazia nada, achava que eu era sempre a errada (sempre achou por eu não me matar como ela). A verdade é que eu fazia o que deveria ser feito: pagava toda semana meu aluguel. Um dia ela veio me cobrar na sexta-feira! Sendo que eu pagava todo domingo. Veio com uma desculpa de que ia até a "ócsfórdi" mandar o dinheiro pro Brasil e no sábado seria melhor pra ela.
Marciana ainda dizia que eu é que usava o dia inteiro a internet e por isso aumentaram a conta dela, depois ela descobriu que foi o argentino do outro quarto que deixava seu pc ligado o dia todo baixando filmes...  
Ela não sabia da casa que limpava e nem que eu tomava café da manhã e passava o dia estudando no parque.

Aconteceram duas gotas d'água:
A primeira com Marciana, depois de tanto tempo de reclamações com os colchões, conseguiu a troca deles com o "landlord", o dono do apartamento, ele trouxe dois colchões no estilo cama box. E adivinhem o que aconteceu?
Um ficou pra bruxa que estava lá a mais tempo e outro com a Santa! Porque a Santa reclamava muuuuuito dos colchões e que tinha problema nas costas e eu, a idiota, fiquei com as molas nas costas...
Fiquei muito desesperada pra sair de lá. A vida já era uma bosta morando lá e estava ficando cada vez mais ruim para o meu lado. EU TINHA QUE SAIR DE LÁ! Não dava mais...


A outra gota d'água foi com a Santa, fomos a Walkabout e dançávamos, amarrei meu cabelo porque estava com calor e escuto ela falar (ela achou que com o barulho eu não iria ouvir): já é feia de óculos, amarrando o cabelo, então... eu entendi aquilo como um "você faz todos os homens correr daqui" e decidi que aquela seria a última vez e que ela não era minha amiga como a Roommate, ela era só uma biscate querendo um bom casamento e vida boa na Inglaterra. 
Talvez tenha conseguido o que queria, não sei da vida dela, apaguei meus contatos no Facebook. Só sei que existiam muitas Santas do PD pelo mundo e ela era só mais uma.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

União Europeia ou não?

Os ingleses são figuras extremamente discretas e fechadas, dificilmente, se você não conviver intimamente com um, saberá o que pensam sobre tudo.

Vejo essa divisão entre continuar ou não na União Europeia e pelo que conheci deles, estão escondendo o jogo. Escoceses e Irlandeses do Norte preferem continuar na UE, acredito que por serem muito mais abertos e menos "metidos", os ingleses são muito fechadões e não gostam de se misturar. Escoceses e irlandeses de modo geral são solícitos e mais simpáticos.

A partir daí, tiro minhas conclusões... podem não ser tão bem fundamentadas, mas muito do que vi acho que conta:

Eles gostam de viajar, ter passaporte aberto para ir aos outros países e achar tudo mais barato não é algo que não se vá perder...
Eles viajam bastante e podendo tirar férias "picadinhas" (já expliquei isso em outra postagem, depois linko aqui), faz toda a diferença; uma hora estarão num lugar quente como a Espanha e Portugal no verão que são os locais para onde preferem ir. Claro que também gostam da Tunísia por exemplo, mas aí precisa-se de visto...

Eles ganham bem e podem gastar suas Libras (que vale mais que o Euro) em todos esses outros países com grandes vantagens...

Esses são os pontos que mais influenciam a ficarem na UE.

Alguns empresários vão achar muito melhor estar na UE para conseguir mão de obra de outras partes da Europa e que farão o que inglês não faz. Isso é muito comum em vários lugares, ter para trabalhos mais braçais estrangeiros. Não se paga um valor inferior por serem legais, mas se paga o mínimo, na maioria dos casos, é mão de obra barata de qualquer forma e que quer fazer aquele serviço que alguns ingleses preferem ter a escolha de ser um mendigo e vender Issue (igual aquela revista Oca's aqui de Sampa) a trabalhar pesado, mas é o país da escolha: você escolhe ser mendigo e o Estado lhe dá benefícios... (depois falam mal das nossas bolsas família...) mas é algo enobrecedor para todos, ninguém está morando na rua e tem direitos como todo o cidadão... algo um pouco a frente e transcendente para a maioria das mentes brasileiras...

Pelo lado do não temos a xenofobia, como disse eles não mostram o que sentem pelos estrangeiros, mas você percebe ao ver que dificilmente um inglês mora nas zonas centrais londrinas, como zona 1 , 2 e talvez a 3. Inglês mesmo você só encontra a partir da zona 4 e nas cidades vizinhas que vão e voltam de trem do trabalho e prefere do que morar perto da babel que é a zona central londrina.
Se isso não é "não se misture com a gentalha" eu posso estar sendo má... você decide...

Algumas donas de casas até dos bairros mais caros gostam dos ilegais, porque pagam menos que o salário mínimo inglês. Sim, vi muitos anúncios em Maida Vale, uma região cara (da Abbey Road) oferecendo emprego por menos q o salário inglês (que era de 6 e uns quebrados). Emprego de empregada diarista, babá. Um dia contei isso para uma mulher que morava há mais de 20 anos em Londres (e entrará um dia aqui na história) e ela me disse que quem mais se oferece para esse emprego são filipinas, porque qualquer libra vale muito no país de origem dela e que aceitam fácil esses trabalhos.
Contei uma vez de uma brasileira que só estava lá pq estudava e que ela pediu várias vezes para o chefe a "registrar" como empregada na casa dele, para que ela conseguisse um visto de trabalho e ficasse tranquila, mas ele não fazia isso. Como muito gente que tem as famosas casas de limpar, mesmo que paguem 10 libras a hora, ainda é barato porque você não tem garantias de nada e limpa uma casa que se leva o dia todo em 4 horas, no máximo. Nunca vi alguém pagar um dia de limpeza ou mais que 5 horas.

Manter os europeus longe mantém os ilegais trabalhando por qualquer coisa.
Parece não ser uma coisa tão bem pensada, afinal não sei se os "antiUE" pensam nisso, afinal, as outras nações continuaram por lá. Não sei se acham que será um jeito mais fácil de controlar ilegais, sei que o que acontece é isso...

Não acho que os europeus que trabalham lá vão sair da Inglaterra, vão continuar, pode diminuir. Eles ficaram mais arredios (os ingleses) por conta da crise que muito países passaram e levou muitos europeus às Ilhas e isso deve ter inchado um pouco a população, a procurar de emprego, o problema de moradia,  inchou o NHS (o SUS de lá), escola para os filhos desses imigrantes etc
Muitos ingleses veem isso como problema, pode ser que achem que não vai ter como girar a máquina social com todos esses grupos querendo benefícios (com 3 anos de residência na Inglaterra você pode pedir benefícios trabalhísticos - como um tipo de renda mínima - ou moradia por um preço muito mais barato).

Qual seja a decisão, acho que o Reino Unido perde ao sair da UE, afinal, todos que trabalham na Inglaterra são cidadãos europeus legais e que merecem os benefícios por viverem e pagarem seus impostos à Rainha, como eu, portuguesa, fazia.
Como eu disse, ingleses não farão o trabalho braçal e a ilegalidade com os meandros de máfia continuará mais forte por não ter europeus legais para esses trabalhos.












domingo, 15 de maio de 2016

O emprego na lanchonete estilo francês

Eu ficava procurando emprego no Job Centre, um site de um local feito pelo governo inglês para se procurar emprego, na verdade, primeiro tive que ir até o local para me cadastrar... Na verdade, você pode procurar empregos só pela internet, mas fui até o local para ver se algo acontecia mais rápido.
Fica longinho perto do famoso bairro de Hackney, Madonna morou por aquelas bandas e tem uma vida cultural e noturna famosa. Longinho para que está do outro lado da cidade...

Fui chamada em dois locais para trabalhar, o primeiro que conto hoje era um bar/restaurante ao estilo francês, com música francesa e tudo mais. Ficava na região da estação St. John's Wood,  região de Maida Vale, onde fica a Abbey Road e a casa do Paul McCartney. Algo como morar no Alto de Pinheiros, quase uma Vila Madalena.

este ainda é de plástico, aquele era de ferro...
Conversei com o dono - marroquino há muitos anos na Inglaterra, falava muito bem o inglês - que me aceitou pro dia seguinte. Eu teria que limpar todo dia de manhã, por duas horas, o estabelecimento antes de abrir. Parece simples se eu não tivesse que levar um balde de carrinho super pesado e subir escadas com ele e ainda pôr a placa dos pratos do dia pro lado de fora do bar. 

 Trabalho realmente para homem e quem fazia antes de mim era um rapaz, que foi me ajudar no primeiro dia a mostrar o serviço que consistia em limpar toda a parte das mesas e cadeiras, banheiros e o lado de fora da loja. Não era muita coisa, mas eu teria que trabalhar todos os dias, sem sábado, sem domingo, todos os dias sem descanso por duas horas de manhã cedo.
Aceitei, precisava do dinheiro, é claro.

Trabalhei lá por duas semanas, o que me preocupava é que os sábados eu tinha que acordar ainda mais cedo, pois depois tinha que ir até a escola dar aulas de português para crianças e era longe. Também me preocupava o fato de eu querer em breve viajar e não poderia dia nenhum, porque eu trabalhava todos e isso pesou para que eu não ficasse.

O rapaz que me ensinou o trabalho não era inglês, lógico, acho que era palestino, parecia muito de saco cheio deste emprego e sempre dizia pra mim: "cuide  de você! não se preocupe se não conseguir, não vai se matar carregando esse balde, cuidado com as costas!".

Marciana e Bruxa do Centro-Oeste se sentiam realizadas me vendo acordar 6 da manhã, parecia que pra elas, agora, eu tinha valor, eu estava vendo a dureza que era viver em Londres (como se eu não soubesse já). Pegava dois ônibus, um até Lancaster Gate (fundos do Hyde Park) e outro que passava perto da estação de St. John's Wood para economizar, ao invés de pegar o metrô direto em Elephant & Castle (Bakerloo Line) até Baker Street.
Caminho com os dois ônibus

Até que teve um dia que esqueci a chave em casa... cheguei pra trabalhar cedinho no lugar e era eu quem abria o bar, não servia ninguém, mas o cozinheiro (brasileiro) chegava depois e continuava por lá antes de abrirem em definitivo.
Cheguei e esqueci a chave, no desespero peguei o metrô, busquei a chave e voltei, era rápido de metrô e ninguém descobriu que cheguei bem atrasada para limpar, mas fiquei só o bagaço de tanta correria, minha sorte é que minhas companheiras de casa já tinham ido trabalhar, o meu medo era encontrar uma delas pra me encher o saco.
Disse a elas desde o começo que era um emprego temporário, não pretendia mesmo ficar.
Levantar mesas, cadeiras, limpar tudo com aquele balde velho e pesadão, tirar placa de horário e pratos da casa não era a pior parte, a pior parte era ter que lavar banheiro, como sempre, e banheiro masculino também. Deixar tudo pronto em duas horas.
Às vezes eu ficava com fome e sede e não pensava duas vezes em beber alguma água de garrafa já aberta que era pro consumo dos fregueses, não ia beber a água da torneira, como uma vez me deu uma das meninas que lá serviam. E roubava (roubava sim!) uns biscoitinhos que eram pra um prato doce, tipo aqueles biscoitos que se põe em sorvete. Era cansativo e exaustivo, não tinha ninguém além de mim e eu aproveitava, como aprendi a fazer com o Império do Fado. Não vou dizer que era legal fazer isso, não era, mas eu precisava muitas vezes sentir algo bom pra ficar bem. Tomar água de garrafa era um prazer mínimo, mas era melhor que a água de torneira para quem trabalhava muito.

O cozinheiro brasileiro chegou mais cedo um dia que eu limpava e veio conversar comigo, falei dele no post anteior, morava lá há anos, casou com portuguesa e disse ser do Mato Grosso. Ele veio com arrogância pra mim quando ele me perguntou onde eu morava e eu "em Elefante" ele disse que mania que brasileiro tinha de abrasileirar tudo e blábláblá. Não quis abrasileirar por mania, achei que seria mais fácil a identificação com ele do que gastar meu inglês dizendo "Elefânt and Castol", e não é que lá veio mais um pra implicar comigo?

Depois de quinze dias disse ao dono que não poderia ficar, ele já tinha feito minha papelada do trabalho, estava tudo certinho, como se eu fosse registrada aqui no Brasil, e teria que pedir pra cancelar. Tanto que recebi o formulário do trabalho que fiz lá em casa, com o tempo e valor do trabalho.
Poderia ter ficado mais, eu sei, mas na minha cabeça só passava o foto de chegar atrasada na escola aos sábados e não ter nunca um dia de folga. Nem era algo que me importava tanto, mas o dinheiro sim, eu sei, mas esperava conseguir algo melhor.
Mas o sábado estava muito corrido, tinha que pegar o Overground, o trem que atravessa a cidade sem passar pelo centro, e pegar um ônibus até a escola. Fiz uma escolha, não me arrependo, era mais um emprego em que era abusada dentro das minhas possibilidades.


Caminho em vermelho, do Overground até Richond e o bus pra escola em preto




domingo, 1 de maio de 2016

Ser brasileiro no exterior

De tanto ver esses tempos os protestos de brasileiros que moram fora do Brasil tanto a favor como contra a nossa atual presidente, resolvi falar de como os brasileiros interagem sobre política quando estão fora.

Claro, pode ser uma visão até simplista ou de pouca valia, mas é com a qual convivi 18 meses fora do Brasil.

Marciana era coxinha, engraçado, muito engraçado, porque para ela tudo andava muito errado no Brasil de Lula/Dilma, mas ela estava ilegal em outro país, não pagava impostos nem aos britânicos, muito menos ao governo brasileiro. Então é muito fácil você falar mal dos que governam o seu país de nascimento e até o que você vivia escondida (sim, ela reclamava do governo britânico por ela não ter benefícios que quem está lá legalmente tem), super simples falar mal de todos e torcer para um apocalipse em que ela sairia sã e salva porque o Deus dela faria isso por ela, afinal, era uma mulher extremamente trabalhadora que precisava sustentar filhos marmanjos no Brasil e se os filhos dela também são coxinhas que abominam a bolsa-família, são muito do hipócritas porque a bolsa-família deles se chamava Marciana, uma faxineira ilegal na England.

Ela sempre falava que como ela ia fazer com o governo que estava no Brasil? Fazer o quê? Ela não vivia do outro lado do atlântico? Que tanto se metia na política do Brasil de longe... e como ela dizia: Brasil e Inglaterra precisavam muito de Jesus porque eram dois países pecadores e coitada, nasceu em um e foi 'obrigada' a viver em outro.

O povo da escola também era bem hipócrita. Ia ter um jogo do Brasil lá em Londres contra não sei se a Inglaterra, amistoso e falavam: eu vou no jogo com a camiseta do Brasil pra mostrar quem é que é bom!
Só que o bonzão do Brasil não pagava as contas e casas, terrenos comprados no Brasil... dependiam do país do timeco para terem bens duráveis no Brasil.

Tão bom que muitos não voltavam há anos, ou pelo preço da passagem ou porque estão ilegais e precisam de um passaporte novo. Que eu acho que já disse como se consegue um novo que  tem  4 anos ou mais de visto ultrapassado na Inglaterra, né? Só ir no consulado brasileiro e ficar na fila pra fazer um novo, dizendo que perdeu ou foi roubado... Bruxa do Centro-Oeste contava o golpe.
Eu acho que não disse que fui no consulado brasileiro e como ia pegar uma procuração nem tinha fila porque a de fazer um novo passaporte... é enorme e tem que chegar cedo!

Um cara em um lugar que trabalhei, e deve ser minha próxima postagem, se achava muito esperto e me disse que era do Mato Grosso (Goiás é bem do lado, desconfiei) que os brasileiros e suas brasileirices de falar os nomes do bairros já abrasileirados. Era um lorde, estava lá há bastante tempo, mas só voltou pro Brasil pra casar depois de 4 anos na Inglaterra e seu casou com uma portuguesa (entenderam o golpe?).
O golpe é o seguinte: você arranja alguém de passaporte europeu pra ficar tranquilo na Inglaterra, mas o que você faz? Arruma um passaporte novo e casa no Brasil com a pessoa, quando voltar pra Inglaterra você tem um passaporte não marcado e um europeu do seu lado que lhe garante as idas e vindas ao Brasil e morar tranquilo, como legal, na Zooropa.
Era engraçado esse cara porque pra mim a hipocrisia estava estampada e ele queria esconder e se achar melhor que os outros brasileiros - legais ou não.

Num centro espírita que frequentei (sempre fundados e mantidos por brasileiros), ficamos um domingo arrumando em caixas presentes para crianças de lugares pobres fora da Europa Ocidental que receberiam no Natal e uma moça começou a falar mal:

 - Vocês viram Tropa de Elite 2? Eu baixei o filme e assisti. É, mostra toda aquela podridão que é o Brasil, aquela merda de país que nunca vai pra frente, dá ódio de ver!

Eu não ia dizer que o Brasil é o melhor país do mundo porque não é, mas quando você baixa um filme da internet você também está sendo tão merda quanto seu país... não seja hipócrita, era o que eu deveria dizer a ela, mas fiquei quieta. E outra: ali não era lugar pra falar mal de nada e nem usar esse tipo de linguagem...

Eu assisti Tropa de Elite 2, fui num cinema que estava passando e me divertia com a legenda em inglês. O que a moça também poderia ter feito fácil ao invés de ser hipócrita.

Eu sou o tipo de pessoa que se irrita em ver as "pessoas de fora" protestarem tanto pelo Brasil: não é o Brasil que paga suas contas, então calem a boca!
Quando estava lá não dizia que o Brasil era melhor (apesar de ter chorado em Rio), muitas vezes xinguei estar na Inglaterra, mas sabia que era ela que não conseguia pagar minhas contas e meus impostos e do Brasil preferia me abster, porque nasci no Brasil, não escondia de ninguém, sentia saudade das pessoas e de coisas, mas não era ele que queria pra morar pra sempre, não o Brasil que temos e que deve ficar pior em breve. Tentava pensar no Brasil como o lugar da minha família e dos amigos, mas que não era perfeito e a Inglaterra também não era perfeita, por mais certinha que tentavam parecer, havia muita coisa errada, talvez culpa dos próprios imigrantes que tentavam burlar as regras e as regras se tornavam mais duras para quem estava lá legalmente.

O que acho realmente é que mesmo que você more fora, você não deixa de ser quem é, mas deveria tomar mais cuidado com falar bem ou mal do seu país ou o país onde está, acho que a primeira coisa é ver quem é que lhe sustenta a vida e parar de ser hipócrita e querer reclamar demais onde não deve e nem tem moral pra isso.

domingo, 27 de março de 2016

The Royal Wedding - O casamento real

Em abril de 2011 tivemos mais uma sexta-feira de feriado: o dia do casamento do Príncipe William e Kate Middleton.

O único feriado na sexta é a Sexta-feira Santa que pra eles é a Good Friday, não há mais nenhum feriado nesse dia e eu tive a sorte de participar de um feriado e de uma comemoração das mais famosas do mundo.

Os outros feriados na Inglaterra são sempre às segundas-feiras e se chamam Bank Holiday, são sempre os mesmos que dão 6 dias de descanso ao ano (como diz a música do Blur), além das férias, não é essa festança de feriado como aqui no Brasil e são sempre assim: o dia de Ano Novo e o dia subsequente, a Good Friday (Sexta-Feira Santa), Easter Monday (segunda pós domingo de Páscoa - isso sim é feriadão!), Early May (próximo ao dia 1o. de Maio),  Spring bank holiday (pra marcar o final da primavera, final de maio, quando começa o horário de verão - se estou bem lembrada), Summer bank holiday (final do verão e final do horário de verão - aí 4 horas parece 8 da noite...e um dia antes - domingo -  acontece o Carnaval em Notting Hill), Christmas Day (Natal) e Boxing Day (um dia depois do Natal, o dia de ir às compras por preços menores, mas isso vai até março, mais ou menos, até março o preço abaixa ainda mais muitas vezes).
Tem mais de 6? Tire Natal e Ano Novo que não são Bank Holiday...

Bem, como ia dizendo, peguei um feriado diferente. 
Marciana não teve folga, suas patroas não iam trabalhar, mas não a dispensaram do trabalho, depois ela ficou contando que elas e amigos se reuniram pra assistir em casa ao casamento, como se fosse uma festa na casa delas.

Eu também vivenciei a festa, e nos dias anteriores. Lembro que a Roommate não queria ficar pra festa, porque achava que era muita babação em cima da família real, e eu não via desse jeito, via como um dia de antropóloga estudando uma outra cultura e foi isso que fiz: fui viver essa experiência que não é todo dia que acontece e vira feriado!

Como trabalhava há algumas poucas quadras da Abadia de Westminster, ou Westminster Abbey,  resolvi ir pro trabalho bem mais cedo para ver o que estava rolando, porque eu já via uma movimentação dias antes, mas eu dentro do ônibus, daí desci antes para "documentar" o que acontecia, fui toda curiosa, de máquina em punho ver tudo.

Minha verificação a tudo virou álbum no Facebook, passo a passo, foi feita na quarta porque na quinta o acesso das ruas já estava fechado, como acontece no Ano Novo, na virada, conforme vai enchendo de gente, eles vão fechando o acesso para não haver tumulto - bom de terem fechado já na quinta é que não fui trabalhar no Império! rs

Assim, já comecei ver as aglomerações de pessoas com barraquinhas que iam dormir lá até o dia do casamento, gente de várias partes do mundo, como da Austrália, já esperavam por lá, várias pessoas iam guardando seus lugares pra sexta-feira, uma sexta depois da Páscoa, se me lembro bem, 29 de abril.

Neste dia, andei toda a região de Victoria Station e Westminster tirando fotos, passei pelo Saint James Park e fui até o palácio de Buckingham. Andei bastante, mas nem percebi, vi pessoas fanáticas com foto da Princesa Daiana, outros fazendo apostas de qual seria a cor da roupa da Rainha, tudo nas três cores da bandeira do Reino Unido e muita gente pra lá e pra cá... uma festa!









meu bus de todo dia 148


cupcake e pepper

acho que foi aqui que gravaram Parklife

atravessar o Saint James pra chegar no Buckingham


cabines de imprensa



e lá fui eu pro Hyde



No dia seguinte, não acordei cedo, pra ver, mas resolvi ir pra Picadilly, imaginei que iriam passar naqueles telões e não é que não passaram? Estava tudo fechado pros caros, andei deliciosamente pela Pall Mall tirando fotos e resolvi que o jeito era ir pro Hyde Park antes que o fechassem.
Realmente encontrei um monte de gente indo pro Hyde, era todo mundo andando pelo caminho indicado onde teriam os telões, uma multidão seguindo e consegui meu cantinho.
Alguns minutos depois, avisaram que o parque foi fechado, agora o povo que fosse pra casa ver!

Depois do casamento teve uma banda pra animar o povo, sim! Colocaram uma banda pra cantar músicas como se estivéssemos na festa do casamento, banda ao vivo!
Um rapaz queria que fosse Kings of Leon, mas foi uma banda simples mesmo, de festa de casamento rsrsrrssrsrs
Foi divertido, do Hyde Park vimos os aviões que fizeram acrobacias para o casal, não estávamos tão longe, me diverti com as fantasias das pessoas que foram no parque, levaram comida, bebida, como uma festa mesmo no parque.

multidão no Hyde Park








Foi uma sexta divertida!


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Artistas brasileiros fora do país

Depois de ouvir alguns comentários sobre um tipo que dizem ser cantor e que estaria fazendo sucesso no exterior e indo fazer shows em Nova Iorque, como se fosse a mais nova comoção mundial. Resolvi contar o que sei sobre esses shows, pelo menos o que descobri sobre isso morando em Londres. Acho que comentei algo sobre isso, mas não lembro se aqui no blog...

Aqui no Brasil são vendidos como "fulano está pondo todo mundo pra dançar com sua música,  na Europa e Estados Unidos".
Isso se chama marketing e não é verdade.

Tirando grandes artistas brasileiros, realmente consagrados, os demais não fazem nenhum sucesso fora de um boteco brasileiro cheio de ilegais que vivem em outro país, mas sem se desvencilhar um segundo de ser brasileiro. Em nenhum momento aproveitam para conhecer a cultura do país onde estão e assim entender, ao invés de tachar disso ou daquilo como sempre fazem, ou seja: ganham em Libra e falam mal de tudo da cultura de quem o abriga, legal ou ilegalmente (o que é beeem pior).

Não lembro se na postagem da Jerusaleme, uma das brasileiras da escolinha, se contei como ela vive o Brasil através de seu laptop: acompanha novelas e os novos sucessos populares (e quando digo popular, eu digo povão mesmo). Quando ela via no meu Facebook que eu tinha ido no show do Pulp, por exemplo, ou qualquer um dos shows que fui ela dizia: mas quem eram aqueles? Nunca ouvi falar!
Bem, acho que um Hyde Park lotado não quer dizer que o Pulp seja uma banda desconhecida na Inglaterra... (cheguei a ouvir a música deles e de outros no supermercado...)
Era sempre a mesma irritação que sentia, como se eu ainda estivesse no Brasil tendo que explicar que banda toca o quê. Mas eu não me explicava, só constatava: bem, o lugar estava cheio, não sou só eu que conheço, você ouve a BBC 2 ou assiste aos programas daqui? Claro que não, nem TVs eles costumam ter, se tem é pra ver a Record que é aberta, só se precisa de uma parabólica em casa pra assistir ou a Globo que aí você tem que assinar a TV paga mas, como bons brasileiros, faziam gato.

Sempre havia alguns bares já conhecidos dos brasileiros e casa noturnas especializadas neles e eram nesses locais bem peculiares que artistas brasileiros se apresentam. Como eu disse, tirando um Gilberto Gil, por exemplo, que vi cartazes do show em Barcelona em vários locais.

Os demais artistas que viram sensação aqui vão a estes locais, totalmente lotado de brasileiros que matam saudade da música ruim do Brasil ali.
Uma revista para brasileiros chegou a fazer uma reportagem de quanto artistas pagam para fazer show nesses locais. Sim! Pagam para fazerem shows na Europa e Estados Unidos para dizerem no Brasil que estão fazendo sucesso no exterior!
Não lembro mais da reportagem agora, mas donos dos locais abriam o jogo e diziam que além de render não pagando show, rendia casa lotada.

Então, quando virem falar de fulano que é sucesso no exterior, não acreditem nesses golpes de programas de TV de que fulano é sucesso em Londres, Roma, Paris, Berlim, Nova Iorque e Miami... é tudo jogo de marketing para que o artista fique como a maior sensação da música brasileira lá fora e só fizeram show para uns poucos ilegais que não tinham o que fazer ($$$) naquela noite e acharam que viram a melhor coisa que a cultura brasileira poderia estar exportando.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

A volta pro Brasil da Roommate

Em abril de 2011 a Roommate voltou pro Brasil, chegou no dia de Páscoa a Sampa, mas o sábado de Aleluia não foi nenhum pouco simples e aprendi uma coisa: toda volta de brasileiro é cheia de aventuras... como já contei a volta de um casal aqui e como vou contar um dia a minha volta...

Ela tinha uma outra amiga, que foi de quem comprei a casa da Puffy Shirt e da Botocada, esta amiga tinha ido embora fazia umas duas semanas, mais ou menos, pro Brasil também e pediu para a Roommate se poderia, por favor, levar uma das duas malas que ela havia deixado em  Londres porque não teve como levar. Roommate, toda simpática, disse que levava todas, imagina! Claro, era um prazer! Só que teria que buscar em Stockwell, pertinho de Elephant & Castle se você está motorizada. Foi o caso, Roommate alugou um carro para levá-la até o aeroporto, porque ela também tinha duas malas bem cheias com um pequeno presente que mandava pra minha mãe, de Dia das Mães, e uma boa leva de coisas que a Marciana pediu para que ela levasse para a família dela (Marciana ajudou a pagar o carro), fora as coisas que ela comprou pros outros: pro filho da amiga milhões de roupinhas de criança, para as irmãs e quem mais quisesse um monte de perfumes e Victoria Secret que achamos um lugar perto de casa super barato e ela pretendia vender quando chegasse em Sampa. Daí a mala dela já estava abarrotada e disse:
- Vou pôr um pouco dessas coisas na mala da fulana pra equilibrar minha mala!

Decidi ir com ela me despedir e ajudar a carregar as coisas, fazer companhia antes do voo. 

Chegamos em Stockwell e dois amigos da fulana vieram trazer as malas, eram 3 malas na verdade que a fulana disse que pagaria pra Roommate se passasse do permitido. E eram 3 malas beeeeem cheias! Quando chegamos, ficamos sabendo que só podem 4 por pessoa, mais que isso ficaria bem caro... e outra:como carregar tanta coisa?
A Roommate ficou desolada, não sabia o que fazer e aquele tempo de ter chegado cedo ao aeroporto seria pra decidir o que fazer...

Daí ela abriu as malas da fulana e ficou irritada: um monte de tranqueiras que a fulana não conseguiu levar quando foi embora: shampoos, cremes e até enfeites de Natal! aqueles de pôr em porta...

E aí começaram as tentativas de tirar coisas e colocar outras nas malas e ir toda hora pesar na balança que o aeroporto disponibiliza... nunca vi isso em Guarulhos que me lembre, mas em Heathrow tem balanças para pesar as malas, das grandes, claro.
E foi um tal de ir e voltar pesando malas sem fim... até que ela decidiu que coisas não iam... tinha até biscoito de chocolate em palito - sabe aqueles palito que colocam no sorvete? tipo aqueles - e Roommate estava tão aborrecida que abriu o pacote e começou a comer e eu também rs

Daí ela decidiu que só levaria o que era roupa ou coisa mais importante da fulana, como ela ia levar uma malinha de bordo, deixou comigo pq não conseguiria levar e as coisas não iam pro lixo, tipo shampoo da Tresemmé que nem era vendido ainda no Brasil... e, nem as coisas da dona Marciana... e eu que iria trazer de volta...
Fui com a malinha de volta com shampoo, cremes, bagulhos e mais bagulhos sem importância pra mim, pra ver se serviam pra alguma coisa e as roupas dos filhos da Marciana de volta a Elefante Castro...

Depois de montadas as malas, já em cima da hora do voo, fomos pra fila e nos despedimos. Ela não via a hora de voltar ao Brasil, estava ansiosa e eu fiquei sozinha com a malinha e tendo que aguentar viver com Marciana e Bruxa do Centro Oeste...

No outro quarto já não estava mais o casal polonês, já era um pai e sua filha que se diziam argentinos, mas de argentinos não tinham nada, o pai tinha morado na Espanha e conseguido cidadania e assim trazido a filha que morava com a avó na Argentina. Estavam lá fazia pouco e aquela bandeira do casamento da Kate e do William foram eles que colocaram na sacada - acho que coloquei a foto aqui, se não pus, viram no Fb...

Voltando, quando cheguei e tive que devolver as coisas para a Marciana ela ficou looooouca de raiva! Ficou brava e queria descontar em mim, mas o que eu poderia fazer? Quem ia viajar não era eu, o que mandei para minha mãe era super pouco, nem dava tanto peso. Ela ficou falando um monte e eu devolvi o dinheiro do carro para ela que a Roommate deixou comigo. Ficou mais calma, mas brava do mesmo jeito porque o filho estava esperando as roupas da Adidas e as filhas esperando perfumes caros que a camelona comprou com o suor das banhas e os filhos iam se esbaldar no Brasil... ficaram sem.

Eu não podia fazer nada e nem queria, queria não ter que enfrentar as reclamações da Marciana por uma coisa que outra pessoa fez, mas naquele momento eu percebi que aprendi uma coisa importante pra mim: chegar cedo no aeroporto e nunca levar nada dos outros se não tiver como levar as minhas coisas em primeiro lugar!
Sobre a menina da mala, antes que falem que ela fez o mesmo, ela tinha vindo só com uma mala e voltaria com duas talvez, eu pedi pra levar só uma e meu irmão buscaria ela até no aeroporto e a deixaria em casa só pra pegar minha mala... não é a mesma coisa, hein!



domingo, 7 de fevereiro de 2016

A noite londrina e um pouquinho de compras

Disse uma vez que saía todo final de semana com a Roommate, como não tínhamos casa e nada melhor do que não olhar para cara de uma bruxa e uma marciana do que ir pra balada, né?

Fachada
Dentro
Não fomos grandes baladeiras, não, só um pouco, sempre íamos a lugares novos e diferentes como Convent Garden que recomendo muitíssimo. 




É um local em que você tem artes de rua, feira de artesanato, comidas de vários tipos e pubs pela região, todos diversificados e muito legais.
Você pode ficar vendo algum artista na praça (a todo momento tem algo novo), pode ver coisas diferentes para comprar (se tiver dinheiro), docinhos (yummy!) tudo a céu aberto. Também tem uma parte com restaurantes entre outras coisas que é fechado, além de ser do lado da Royal Opera House e do Museu dos Transportes Britânico (que é pago e não fui).

Região da vida noturna londrina - sem Camden Town


Não fui só com a Roommate pra balada, saí também com o pessoal da escola e com a Santa do.DP (do Pau Duro) que vocês AINDA não conhecem... porque vou falar só das baladas, ela entra em maio de 2011 nessa história e eu ainda estou em começo de abril, aguentem firme!!!!
O apelido da figura já deu pra deixar vocês com muita curiosidade e também dar uma ideia de como essazinha seja...

 Voltando, nessas regiões de Mayfair e Soho é onde se concentram a maior parte das baladas noturnas da cidade, por ficarem perto da parte histórica e turística da cidade.
Joan Travolta rs
Temos aí no mapa a região da Oxford e da Picadilly que é muito conhecida pela parte de compras, o dia todo, principalmente aos finais de semana, muito turista comprando de tudo, uma loucura! Um Brás meio elitizado porque elitizado mesmo você terá que ir até a HighStreet Kensington e encontrará a Harrods, lojas de Ferrari, da MacLaren e todas as marcas phiníssimas de roupas... neste mapa não aparece, ficaria mais para a esquerda da tela. 

Nesta região fui a alguns pubs que tinham música ao vivo com bandas que eram muito boas. 
Um pub famoso é o O'Neills que tem uma franquia pela cidade. 
Um lugar que vai muito turista é o Tigertiger, um lugar com 3 ou 4 ambientes muito legal, tem para todos os gostos e é onde tirei essa foto com minha exceção das bebidas alcóolicas, claro, a Guinnes!!


Na Picadilly
 A Leicester Square é famosa pela praça de cinemas  (onde tem uma espécie de calçada da fama), também tem restaurantes fast foods e de outra nacionalidades e a maior parte dos teatros com os musicais.

Na Trafalgar Square, que não marquei no mapa, mas fica ali, abaixo da Leicester Square, na National
Gallery que é um lugar muito famoso do pessoal tirando foto com os leões da praça, é um local movimentado de festas nacionais. Como Londres é uma cidade extremamente cosmopolita, sempre há festas ali para alguma nação como a festa de Saint Patrick é lá!


Trafalgar Square tomada pelos duendes rs

Mais ao norte, teremos Camden Town que se eu ganhar na mega-sena vou ser vizinha do Graham Coxon e morar lá e todo dia que ele me cumprimentar, vou virar a cara como ele fez comigo... vou sim!
Acho que já disse aqui, acho, que Camden Town é o lugar mais legal de Londres, pra mim, toda a vida roqueira aparece por lá (além dos pubs com música e locais de música): comida exótica, roupas diferentes, adereços diferentes, tudo é Camden Town... amo!

No mapa aí do lado pus onde Camden Town fica, pra lá de Convent Garden e marquei ao lado o Barbican Centre que é meio longinho, mas é uma espécie de centro cultural muuuito legal que tem de tudo e  onde vi o show do Ron Sexsmith.

Temos aí o rio Tâmisa, vamos atravessar para o outro lado, e lá temos o Walkabout que tem franquias é conhecido por ser uma balada australiana, é o que diziam, mas não sei se é mesmo. Assim como temos The Church a balada mais polêmica de Londres, a polêmica já começa no horário: começa meio dia de domingo e vai até umas 5 da tarde, só!
Não, não é uma matinê, vai além da matinê, além da música boa, pode ter banda, mas a polêmica vem no quesito ginganas e só vai quem quer.
Além de fotografarem e pôr no telão o que alguns andam aprontando com frases bem baixo nível...
Sério! Londres tem algo de baixo nível e não só aquele lado todo discreto...

convenção de Smurfs
Tentando ser cool com uma Foster
Primeiro, você tem que ir fantasiado, ou quase isso. É inglês quando vai fantasiado vai de casa, não como brasileiro que tem vergonha e se fantasia na hora... então, você vê na rua de tudo, até estátuas romanas com algo cobrindo, claro rs Mas lá dentro durante a música tem as tais gicanas, me disseram, o povo da escola, que chegaram a fazer campeonato de quem tem o bilau maior no palco - não cheguei a ver isso, só quem perdia tinha que tirar a camiseta e muita menina ficou lá sem blusa... pra homem é facinho...
Só que como sempre tem algum brasileiro pra chamar a atenção, né?
Claro... estava com o povo da escola na Church e a amiga goiana de uma delas que já comentei que é total sem noção. Daí, no final o povo poderia dançar no palco e umas meninas já foram tirando a blusa e passando uma espuma de festa nos mamilos, super baixaria e logo sacamos pelo rebolado que a menina que mais se apareceu ali era brasileira.
Você reconhece uma brasileira rebolando em qualquer lugar e o mais engraçado é que a gente sempre sabe quando encontra um brasileiro pela frente... é muito engraçado como percebemos na hora...
Então, ela rebolava sem parar e os cara filmavam com celular e pensávamos e se mandarem pra família dela no Brasil, hein? No que daria...
Dito e feito! Na hora de ir embora fomos buscar nossos casacos e encontramos a mais reboladeira na fila, a goiana já foi falando: você é brasileira, né? reconhecemos na hora! E a mulher foi ficando branca, assustada mesmo... e eu me pergunto: uma cidade tão cheia de brasileiros e ela não imaginou que ia encontrar um ali? Ou pior: um bando ali?

Acho que foram essas a maiores baladas que fui em Londres, quando a nova personagem da trama entrar, falarei mais do Walkabout porque aconteceu algo chato lá e Camden voltará também.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O Império do Fado - parte 3: A guerra não muito fria...

Acabaram as pequenas férias e acabaram as alegrias.
No dia que voltei, como disse na postagem anterior, já tive que limpar o quarto que a belezura do Centro-Oeste não limpou e nem se dignaria a limpar a parte dela, pelo menos.
Mas o pior era voltar pro Império comandado por Darth Vedrina eu sua portugatrooper.

Sabe deprê depois das férias?
Sim, eu tive. Porque tive que voltar pras coisas ruins: casa da Marciana, Império do Fado... não voltei para uma casa aconchegante só minha e nem para um emprego razoável. Voltei para o terror, ou, o horror! como diria Marlon Brandon...

Fui trabalhar mais deprimida do que de costume. Infeliz, infeliz, infeliz... pensando no que poderia ser e não era, até pensando em ter ficado no Brasil com meu ex que já namorava outra, aquele doce de leite que já publiquei o quanto ela ria da minha cara...

Fui infeliz trabalhar e com Darth Vedrina no meu pé, mas o pior não foi isso... foi ainda não ter me tocado que participava de uma guerra fria que não era muito fria.
De um lado a russa e as ucranianas e lituanas, de outro, as portuguesas e, no meio do fogo cruzado, eu. 
Demorei a perceber o quanto se odiavam, eu não tinha tempo pra isso, sempre trabalhando como uma condenada para não perder meu pouco sustento. Até que chego para me trocar e uma das lituanas bate a porta na minha cara, uma senhora batida na minha cara e quase choro do lado de fora pensando "o que fiz para merecer tanto ódio? por que não tenho um pouco de paz?". Na verdade, comecei a chorar e disfarcei. Daí escuto uma conversa entre elas e abrem a porta, pego minhas coisas e me mando dali, sem falar nada...
Voltei infeliz pra "casa"... e nem podia chorar na cama que é lugar quente: Bruxa estava no telefone com a filha que queria mais alguma coisa que ela mandasse senão ficaria de mal...

Eu nunca tinha reparado que os cantos onde nos trocávamos eram dois e não divididos por homens e mulheres e sim por portugueses de um lado e leste europeu (e brasileira) de outro. Achava melhor me trocar no lugar delas, o outro tinha os homens e os hoovers, não me sentia fazendo parte dali.
Havia um angolana que se arrumava do lado português também e eu não reparava nisso. Achava que ali era o lado das mulheres, porque tinham mais mulheres mesmo e não percebia a o muro de Berlim ali, entre os dois trocadores ou que nome tem aquilo...
Na verdade, eu mal me trocava... ia já com a roupa de trabalho (uma calça enorme do tipo esportiva e alguma camiseta mais velha) só colocava meu avental e deixava minha bolsa lá - que depois aprendi a não deixar com dinheiro, fui roubada duas vezes, não sei se pelo leste europeu ou pelos portugueses que tinham todo acesso quando subíamos para limpar os andares... poderia até ser Darth Vedrina... ela ficava a maior parte do tempo lá sentada, não tinha o que fazer, a única a olhar se trabalhava direito era eu...

Percebi muito depois a divisão e principalmente entendi tudo quando uma das lituanas me perguntou se eu era portuguesa e eu disse que não, que era brasileira. E ela me disse: mas você fala a mesma língua que eles! E eu respondi que sim, porque o Brasil foi colonizado pelos portugueses, por isso sabia a língua delas. A partir daí, elas me trataram bem porque eu só sabia falar português, mas não era tão do mal. E como ucranianas e lituanas tiveram no tempo da União Soviética que aprender na escola o russo e por isso conversavam com a russa, que era uma mulher bonita e simpática e nunca deixava barato o que os portugueses aprontavam (já contei aqui). Afinal, ela tinha anos ali e um dia a encontrei num ponto de ônibus perto de St. John's Wood Station, ela trabalhava de manhã num hospital dali. Até falei para ela se precisassem de alguém... mas como sempre não estavam contratando...

Uma das portuguesas, a de cara mais amarrada que já devo ter comentado na outra postagem, que nem quando ria a carranca se desfazia, começou a implicar com um lituana (ou albanesa? não lembro) que tinha acabado de chegar, as duas não falavam inglês e nem a língua uma da outra, mas se provocavam a todo momento. Não sei de onde tiraram aquilo, mas sei que foi ódio à primeira vista.

E viva-se assim no Império até as coisas ficarem piores (ah, pensa que tudo é flores, é? claro que teve mais... sempre tem mais pra mim...). A empresa que fazia o serviço de limpeza perdeu a boquinha - parece que era toda de portugueses já e andaram roubando materiais grandes de escritório... foi a conversa que ouvi e não sei se verdadeira - e uma nova empresa foi contratada, só que os empregados seriam os mesmos com uma condição: só os que obtivessem uma certa pontuação ficariam (claro que os efetivados não iam mandar embora... a lei inglesa garante para uma certa idade, a você não ser mais mandado embora do emprego e morrer ali - acredito que depois de uns 50 anos de idade). Nessa mudança também no mês de abril, como expliquei sobre ser o mês que começa a vigorar a parte de receita e impostos etc etc.
Recebíamos 6 e uns quebrados de libra a hora, passaríamos a receber £8,40 a hora, o que era um salarião! ainda mais pra mim e não queria perder meu emprego de jeito nenhum!

E bem nesses dias foram as férias vencidas de dona Darth Vedrina, muito interessante como ela tirou bem quando virava o ano fiscal... e pensamos que tínhamos nos livrado dela... mas não... a Guerra Fria iria continuar e com mais truculência de ambas as partes... e mudança de prédio...
aguardem...