segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Uma paixão avassaladoramente platônica e duas lições de inglês britânico

Como não poderia ficar muito tempo com Soudemorte e eu nem queria. Estava procurando um lugar para morar nos anúncios por Richmond e Kingston, mas ainda sem saber bem o que fazer: procurar novo lugar pra morar, trabalho ou onde estudar? Tudo um problema porque tudo tem que ficar perto e poder conciliar...
Estava vendo preços de escolas e falei de uma em Kingston com Collorida, falei em inglês para Soudemorte não achar ruim e aí, lá veio ele:
“Você tem que procurar um lugar para morar ou pensa que vai ficar aqui pra sempre, tem que procurar uma escola perto de onde for morar, porque eu já disse, só oito semanas, não mais que isso, você tem que se preocupar com isso!”
Collorida fingiu que não existia na sala nesse momento, parecia que era surda e não falou absolutamente nada. Eu, cansada de levar patadas, engoli o choro e disse: estou procurando, H... Soudemorte. Fique tranquilo.
Sem internet era difícil procurar anúncios, sem amigos que me ajudassem e me dessem alguma ideia do que fazer era mais difícil ainda.
Sobre a internet, depois que comprei meu pc ela sumiu da casa... disseram, acho que já contei, que roubaram os cabos e não havia jeito de arrumarem rápido... fiquei indignada com isso. Mais de um mês sem net e eu sem amigos, sem poder procurar empregos e vagas pela internet ou mesmo mandar c.vs... de lan house a bibliotecas foi minha saga...
Depois disseram que a internet tinha voltado, mas como teste só das 6 às 10 da noite e eu aproveitei o mais que pude esse horário... depois, quando “voltou ao normal” LuigiMárioBros disse que como o serviço era muito ruim, mandou cortar... justamente quando voltou a funcionar direito!
Na casa havia duas redes, a de Collorida e Soudemorte e outra de LMBros, a qual ele me colocou pra não sobrecarregar a outra rede, daÍ ele disse que cancelou a rede dele, mas não me colocou na rede dos outros, eu que não ia pedir... e comecei, seriamente, achar que faziam de propósito, tiraram a internet pra eu não usar. Se queriam que eu pagasse era só falar...
Fiz uma lista de lugares do tipo pensionato para ir visitar, uma lista corrida, impressa da internet na biblioteca. Procurei num guia onde ficavam esses lugares e lá fui eu caçar...  sem um google maps pra me ajudar, tive que seguir o que o guia de um amigo dizia, ou seja, nem sempre o lugar ficava mesmo perto da estação que lá dizia... e, mais uma vez, andei por essa cidade como uma condenada... condenada a morar com Soudemorte por 8 semanas... tudo que eu não queria, queria sair correndo daquela casa, se ele queria que eu fosse embora eu queria vê-lo pelas costas o mais rápido possível! Na verdade, nem pelas costas queria vê-lo! Queria nunca ter conhecido tal assombração.
Os lugares que peguei nessa lista da internet, na maioria, eram albergues e teria que pagar por dia, nenhum tinha uma promoção por semana ou mês. Achei lugares interessantes: prédios em que você só dividiria a cozinha, o restante era seu, mas o preço era salgado para mim.
No meio dessa romaria, achei um anúncio em uma lavanderia por onde passava e fui até o tal endereço, sempre me guiando pelos mapas da região nos pontos de ônibus.
Cheguei até o tal local e o preço parecia bom. Não me abriram a porta para conversar com a pessoa, ou tentar pelo menos me entender, tive que falar por interfone com uma fulana que parecia ter um sotaque latino, muito educada me disse num inglês lindo de morrer:
Se você não sabe quando muda, não podemos conversar. Bye!
E desligou na minha cara... fiquei indignada e joguei todas as pragas possíveis a uma imbecil dessas, mas depois percebi que com essa educação ela não ia conseguir inquilinos muito legais, o que já era uma boa praga que ela mesma estava a se jogar.
Desci do metrô em Hammersmith, passei por várias estações e de tanto andar acabei em Gloucester Road. Havia um endereço que não achava de jeito nenhum... e resolvi perguntar nessa estação de metrô.
Fiquei do lado de fora da catraca e chamei um dos funcionários para me ajudar a dizer onde era tal lugar que eu não achava nos mapinhas da região.
O rapaz estava ajudando um senhor na minha frente a passar pela catraca e aí, quando olho direito para ele, fico simplesmente embasbacada: o cara era totalmente lindo! Lindo, simpático e atencioso!
Ele ajudava o senhor com toda a educação e simpatia e aí chegou minha vez e eu pensava “espero que ele me atenda e não venha outro funcionário... que ele me atenda! Que ele me atenda! Que ele me atenda!!”
E me atendeu... fiquei maravilhada com ele, sim, eu fiquei meio sem saber o que falar, mas eu já não sabia falar mesmo rs Perguntei pra ele onde era a tal rua “mulberry road” no meu sotaque americano do Brasil e ele “mulbéry”? para ele eu estava falando grego e eu olhando fixamente para ele, quase sem entender nada e muito menos prestando atenção e mostrei o papel com o nome do endereço e ele “ah, mãlbry!” e foi procurar num guia de ruas lá dentro pra mim.  Enquanto isso eu estava lá totalmente apaixonada, acho que devo ter babado ali...
Mais um lição do dia: no Brasil você sempre aprende “glastonbiurii” “mulbérii”, “sansbiurii”, mas os ingleses falam “glastonbriii”, “mulbriii” e “sansbriii” (sunsbury é um famoso supermecado aqui).
Ele voltou e me disse que eu teria que pegar (opa! rs) o metrô ali, fazer baldiação não sei onde e ir até a estação de não sei onde, sei lá... eu entendi as estações, mas não prestei atenção... não conseguia... não sei se ele percebeu, ingleses são homens ainda mais desligados que qualquer outro, mas ele lembrava muito o Gerard Butler com sotaque cockney e eu só fascinada ali...
Disse obrigada, toda simpática, ele também foi bem simpático, mas não entrei no metrô, tinha outro lugar por ali para ver e depois passaria por lá.  Na verdade, comecei a passar por aquela estação mesmo sem precisar, todo dia que andava de metrô e nunca mais o vi. Será que ele foi uma fantasia da minha cabeça? Miragem no deserto?
Não, só sei que infelizmente o tal lugar que ia ver ali perto, não era ali perto e andei e fui para em outra estação e extremamente cansada, peguei o metrô ali mesmo.
Nenhum desses lugares deram certo, a maioria era muito caro para mim e fui atrás dos classificados da Leros, ligando pra um e pra outro, visitando casas legais e caras e esperando resposta de pessoas que até hoje não me ligaram, como disseram que iam fazer, para me avisar de um quarto que fosse vagar, porque eu queria um quarto só pra mim e um single em Londres, com preço pequeno é um oásis, ou também uma grande miragem... como saberão em breve...
E a miragem que eu mais gostaria de ter novamente eu nunca mais tive... como me mudei pro outro lado da cidade, nunca mais passei na Gloucester Road Station e nunca mais vi aquele deus bretão.
Mais um lição de inglês: você aprendeu no Brasil GlouCEster  e LeiCEster? Pois é, aqui falam “Glouster” e “Leister”...
O rapaz da Glouster Road Station que procurou pra mim a Mulbriii road (ou street... não lembro).

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A vida de imigrante desempregada

Resolvi sair para procurar emprego depois que arrumei meu currículo, andei por todo o comércio principal de Richomnd distribuindo meu c.v.
Em alguns lugares aceitavam numa boa, em outros já diziam “sem falar bem inglês não aceitamos” e fazia cara fechada, aceitei tudo isso pacientemente e com uma cara de tudo bem, obrigada mesmo assim... eu estou dizendo, serei canonizada. Mostrava um sorriso simpática, sim. Sempre pensava, bem, ele/a não sabem o que eu passo... espero que nunca saibam...
Tinha que sair todo dia da casa do mal então, todo dia inventava onde ir pra levar curriculo, ver emprego, andar pela cidade...
Fui chamada para uma entrevista num Starbucks, aqui tem um em cada esquina, acho que tem mais Starbucks do que McDonalds aqui. E estava marcado para as 11:30, cheguei 11:25 e a menina me disse, a fulana já vem, ela estava te esperando e você está atrasada e eu: mas não são 11:30 e a menina: é, mas pra fulana, é atraso. Imaginei que se trata-se de uma inglesa do exército, e depois de esperar a fulana foi entrevistar outra mulher, porque eu me atrasei, e vi a figura de sotaque e cara latinos que tinha um inglês ruim. Entrevistou-me, como ela tinha um sotaque fácil de entender, latino, não foi difícil falar com ela. Mas nunca me chamaram, acho que é porque eu cheguei 5 minutos antes do horário...
Fui ver um emprego de garçonete num café pequeno, vi o anúncio numa loja – existem lojas que colocam todos os anúncios que você quiser no vidro dela e aí para todo mundo pra ver e anotar. Liguei para a mulher e fui lá, a dona uma polonesa, Ana, (a colônia polonesa é enorme aqui), disse que precisaria de alguém com experiência, mas iria ver como eu me sairia...
Aviso: garçonete é barra, fazer café de milhões de jeitos, chá de outros, pão do jeito queo freguês quer, levar pedidos, anotar pedidos, receber o dinheiro, limpar mesas... trabalhão... fiquei horas sem me sentar ali... me esforçando o máximo, mas a dona e a outra menina que trabalhava com ela, a Mirka (nasceu na Eslováquia e foi criada na República Tcheca e eu já brilhei meus olhinhos pensando em Praga e ela me disse que Praga era umas das cidades preferidas dela...) me empurravam, no bom sentido, tentando fazer com que eu fosse mais ágil em pouco tempo, mas isso não dá para alguém que só ajudou a servir pinga e torresmo no bar do meu pai quando criança e nunca mais trabalhou com isso. E outra coisa, eu tinha muito medo de atender as pessoas, por não  entender bem e não ser entendida... esse foi um medo que está passando agora... mas que é muito, muito difícil tirar, pelo menos pra mim que sou perfeccionista e tímida.
Elas falavam com o sotaque delas e eu entendia bem, Mirka tinha um inglês muito bom, 5 anos de Londres, namorado sul-africano descendente de portugueses. Mas teve uma coisa engraçada: o cara pediu 3 torrões de açúcar e elas, no sotaque delas, diziam “free sugar” pra mim, o cara não queria açúcar e elas falando “free!!!” rssrs era Three o que elas falavam, ainda disseram para mim: one, two, free rs daí entendi que para elas não era livre e sim três rs
Foram bacanas comigo, mas Ana procurava alguém com experiência e me dispensou, mas pagou pelas horas que passei lá. Daí conheci uma amiga dela, brasileira, que me ofereceu para ser babá dos filhos, só que ela iria me pagar 20 libras por semana (claro que teria casa e comida), mas era muito pouco e ela nem tinha falado com o marido (iraniano) , que depois soube que não ia querer de jeito nenhum.
Sai de lá achando que não sirvo pra garçonete e balconista... Ainda tentei outro Starbucks que me chamou, em Richmond  tem um de cada lado da rua... E eu percebi que a menina me entrevistava sem nenhum pouco de paciência... sem vontade... até que ela parou de anotar no formulário padrão, igual da outra, e me disse que precisava de gente com experiência.
A primeira pergunta de todos é se estou legal pra trabalhar aqui, ou qual é meu passaporte, quando sabem, se tranquilizam, mas não tinha o insurance number.
Achei um site de uma rede de casas noturnas dos principais shows e entrei numa de “assista os shows de graça distribuindo flyers na porta do show”, nunca fui fazer isso... ainda queria que eu pagasse 10 libras pra entrar no clubinho... que clubinho? Ingresso só se sobrasse... imagina se sobra pro show que você quer... mas consegui um contato para distribuir flyers e receber por isso.
E lá fui eu distribuir flyers numa feira de faculdade. Consegui distribuir bastante. Fiz o seguinte: para os rapazes eu dava me sorriso irresistível (ohohoh) e eles pegavam o papel. Para as meninas eu fui com a unha pintada com o Show da Risqué. Elas pegavam o papel para olhar melhor a cor da unha rs Foi divertido, pensei que ia conseguir mais, mas infelizmente não rolou... Depois de 10 libras no café da Ana, ganhei 30 libras em 3 horas dando papelziho de propaganda de um pub. Meus primeiros trocados em Londres.
Cadastrei-me em sites famosos daqui de emprego e outro que é famoso pra tudo, ando recebendo proposta golpista, mas isso eu já estou acostumada desde o Brasil e não caio nelas...
Muita gente quer um escravo, tipo quando você procura vaga pra baby sitter, todas querem que seja full-time, ninguém admite que você estude, você dorme, come na casa e tem que cuidar das crianças, da casa e em algumas do cachorro e do gato também, ganhar uma miséria por semana e mal ter folga. Pode até ser um dinheiro bom, mas um dinheiro que você não tem onde gastar – principalmente onde eu quero: estudando. Você se limita.
Fui em outra entrevista no Starbucks, e a menina parecia muito sem paciência comigo, aí me disse que queria alguém com experiência, não ia poder treinar ninguém naquele momento porque era uma época que ia aumentar o movimento, até janeiro... Ela deveria ter me perguntado, com o sotaque horrível dela quando me ligou se eu tinha experiência ou não, e não ficar preenchendo o formulário cheio de perguntas do Starbucks com má vontade...
Ando fazendo faxinas, me mandaram o  telefone de uma brasileira que precisava de ajuda e ando a ajudando, e ela me ajudando... Hoje aplaudo todas as faxineiras, diaristas: que trabalho punk! Acaba com a coluna, com as mãos e tudo mais... cansativo até. E olha que faxina é coisa muito maluca aqui, cheguei a ajudar a limpar 5 casas num dia, das 8 da manhã às 4 da tarde.  As faxinas aqui dão uma postagem única... é muita coisa pra comentar.
Consegui um trabalho de professora assistente, aos sábados, numa ong para filhos de brasileiros aprederem o português, é pouco pra mim, mas vale a experiência. Também tenho aulas particulares de português que são outra grande experiência principalmente tem me feito aprender o inglês e ver que havia aprendido muita palavra errada, em inglês, no Brasil.
Depois fiquei muito p da vida semana passada onde foi fazer um teste, numa escola particular católica, para ser assistente no horário do intervalo, ajudar as meninas pequenas com o lanche, ficar vendo o que acontece no intervalo... e apareceu a dona Cucaracha pra me encher...
Dona Cucaracha deve ser mesmo cucaracha ou desses lados rs Sotaque forte espânico, sobrenome Félix e eu nunca fui feliz perto dela...
A Cucaracha trabalha no lugar há 3 anos, segundo me disse, e se acha a chefe das demais mulheres que auxiliam as crianças. Todo mundo trabalha com a mesma coisa, o mesmo tempo – apenas o intervalo e mais nada, mas ela se acha melhor, mandona. E como eu disse no post abaixo, veio dizer que eu preciso ser expansiva (falou do jeito dela, num inglês mal, no qual eu acho que não se refere a pessoas como expansivas, só no espanhol mal falado dela do fim do mundo). Fique realmente revoltada porque ou a mulher tinha alguém indicada para o cargo  e que faria teste num outro dia da semana ou ela temeu que eu, como professora formada, viesse a crescer lá, diferente dela. Seja qual for a razão, a Cucaracha ainda caminha, infelizmente ninguém jogou um detefon... e se ela for igual a barata do Níquel Nausea, vai adorar detefon rs
Ela mal viu meu trabalho, não gostou que fui legal com as meninas, é uma escola só de meninas até 12 ou 11 anos. Tirou-me de perto de uma menininha porque disse que a menina era “big trouble”, mas eu só via uma menininha, de uns 6 anos, carente... bem, eu já trabalhei com alunos, não sou burra... não sou idiota, só acho que elas tratam de forma sem paciência as crianças e eu procurei ser atensiosa com elas.  Eu acho que meu estudo todos esses anos não foram à toa... acho que sei bem o que faço e como devo tratar crianças. E crianças não se tratam como o ditador da terra da Cucaracha trata/va seu povo, se é assim que ela gosta, ficasse lá... ela deveria se tocar... mas já tá meio velha pra isso...agora já era...
As tiazonas até tocavam um sininho pras meninas falarem mais baixo, achavam ruim! Fiquei pensando: vão no Brasil ver intervalo do fundamental dois com umas 800 crianças ao mesmo tempo... aí elas saberão o que é barulho e algazarra. Não uma refeitório com no máximo 60 meninas.
Em janeiro começo a fazer cleaner numa casa para uma italiana que tem um casal de gêmeos, vou poder treinar as duas línguas, acho que será legal. Irei buscar as crianças na escola e ficar com elas só uma vez por semana enquanto a mãe não chega do curso que faz.
Também me inscrevi numa agência para fazer limpeza em escritórios – trabalharei de manhãzinha limpando ou repondo material e à noitinha limpando tudo. Vamos ver se me chamam.
E essa é a minha luta no momento...  algumas boas pessoas me ajudando e passando informações (como a escola da cucaracha foi uma indicação, a italiana e a agência de limpeza também) para mim e ando muito preocupada em não ficar sem dinheiro...
Vou mudar mais uma vez nesse domingo, tenho que economizar dinheiro e dividirei um quarto com outras duas brasileiras, pelo menos me indicaram trabalho, são pessoas boas e que se preocupam com o outro diferente da maior parte dos brasileiros aqui ou qualquer outra nacionalidade. Novas histórias em breve e ainda há história da mansão do mal pra serem contadas rs

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Pessimismo

Quase quatro meses aqui e pelo post abaixo já viram que eu ando de novo sem muitas perspectivas por essas bandas.

Como eu disse, ontem foi niver da minha mãe e fiquei muito triste de estar aqui, mais do que no dia do casamento do meu irmão que vi as fotos e fiquei triste também de não estar...
As coisas vão se juntando, ele me manda as fotos, minha mãe faz aniversário, meu pai, finalmente me entende e me dá apoio...
E aí eu já estou me sentindo sozinha, com saudade dos finais de semana que saía com meus amigos e aqui eu não faço nada, trabalho de sábado, na verdade, e às vezes no domingo dando aula ou faxinando.
Outro dia fui a um restaurante, sexta à noite, estava voltando pra casa de dar aulas e resolvi que não ia esquentar comida, mesmo tendo comida em casa, desci na estação de Highbury & Islington e decidi comer, estava com vontade, vejam vocês, de um prato de Fish and Chips - eu que praticamente não comia peixe no Brasil.
Como eu já contei, sempre tem a opção "take away" e eu prefiro sempre comer no lugar. Sentei-me e esperei o atendimento, o lugar está quase cheio e a única pessoa que ia comer sozinha era eu. Quase pensei em ir embora, mas me lembrei que os ingleses não dão a mínima pras outras pessoas, então, ninguém ia ficar me olhando e apontando "olha, vai comer sozinha!" e relaxei, no Brasil, teria saido correndo do lugar.

Fiquei lá olhando, todo mundo com companhia e me lembrando de que eu tinha amigos para sair e comer, conversar, me divertir no Brasil. Aqui, não. Aqui não tenho ninguém. Estou sempre sozinha e não é que eu não queira fazer amizade com as pessoas com a idade próxima a minha, sim, eu quero, mas parece que ninguém se importa em fazer amizade comigo, me convidar pra algo. Principalmente porque a maioria das pessoas que conheço são casadas, então, acabou...
No dia que estava no restaurante comendo mandei pro meu twitter a frase "I need a female friend to go out in London" ou coisa assim... porque eu queria sair, me divertir e assim, sozinha, anda muito difícil. E como me animar assim?

Daí fico nessa busca por emprego, uma canseira atrás da outra e eu pensando que tinha conseguido um, a mulher me diz que é só um "trial" comigo... tudo bem até aí, desanimei, mas tudo bem. O problema maior que foi a gotinha que faltava pra encher o balde e eu querer chutar foi uma mulher que trabalha no lugar me dizer na hora que estou indo embora.
Ela disse que eu preciso ser mais expansiva, que preciso falar mais o inglês e blábláblá...
E aí percebi que essa mulher poderá ser quem escolherá a pessoa pra trabalhar no lugar. Se ela já me disse isso, é porque colocou defeito, se colocou defeito, não vai ajudar a me escolher pro emprego. Sério! Eu já estou mais do que diplomada nisso! Nem tenho chance... ela já veio falar isso pra mim pra dar desculpinha... já sei...  daí me deprimi de vez...

Eu só permaneci no lugar por volta de duas horas, uma escola em que eu ficaria auxiliando as crianças no intervalo. Não conhecia as pessoas de lá... fico na minha, é normal, eu não conheço, converso, peço ajuda daquilo que não sei, tento me enturmar, mas é aos poucos, não foi me "expandir" do nada. Conversei com as mulheres que trabalham lá, pouco, porque estava ainda vendo tudo como novo... me adaptando... me familiarizando. Quando as crianças chegaram ajudei as que me pediram ajuda. Elas me perguntavam meu nome e eu respondia, tentava brincar um pouco com elas mostrando que meu nome e sobrenome eram difíceis para elas. Estava gostando de ficar ali.
Essa mulher que me falou as coisas foi a que menos ficou comigo no trabalho porque depois ela foi com as outras crianças para o pátio e eu e outra ficamos com as que ainda não tinham terminado o lanche e as outras turmas que chegavam para o lanche - limpando e arrumando o lugar do intervalo.
Então, assim, o que essa mulher sabe de mim para falar as coisas? Eu já sei que se depender dela eu estou fora, só pelo comentário que ela fez, não sou boba, já estou acostumada, mas acho injusto, MUITO injusto esse tipo de julgamento.
Eu luto todos os dias para melhorar meu inglês, para falar e ser entendida, tentei conversar um bom tanto com essa mulher (que também tem sotaque e não é inglesa, imagina Mrs. Félix onde é inglesa?), tentei me explicar, ajudar no trabalho o mais que pude e ainda levo cacetada, porque pra mim é porrada, sim!
Eu estou farta das pessoas me tacharem, estou "por aqui" de me dizerem que eu tenho que fazer isso ou aquilo. Eu tento e só me frustro a cada negativa que recebo...
Estou cansada de me frustrar, acho que é melhor ser faxineira mesmo, estou na base e ninguém me enche o saco e se encher vai dizer "ah, coitada, é só uma cleaner, mesmo"...

Estão me fazendo eu me colocar num lugar muito abaixo do que eu sou, mas eu não aguento mais toda essa pressão e estar sempre sozinha. Eu não aguento mais ouvir "conselhos" de quem não me conhece, mas que deveria entender o meu lado, porque, com certeza, já passou pelo mesmo.
Eu não aguento mais tanta intrasigência de quem não é nada e, na maioria dos casos, menos que eu.
Eu não aguento me esforçar e não ter nunca reconhecimento seja onde eu estiver, aqui ou no Brasil.
Estou farta de não ser nada.
Estava farta de ser a "professora do c@ralh*" como xingou um aluno e estou cansada de ser "saco, mais uma imigrante que não sabe falar direito a nossa língua".

Você não sabem como é frustrante estudar anos de inglês no Brasil e descobrir que só se jogou dinheiro fora - tirando a gramática - que toda sua pronúncia é um lixo, que você não entende p*rra nenhuma que um inglês fala porque você só ouvia aquelas fitinhas e cds malditos que pronunciam ou em inglês americano e lentamente... falando tudo de-va-gar-zi-nho...
Ou pior, ter professores com sotaque americano na Cultura Inglesa ou sem sotaque nenhum, puro sotaque brasileiro e ainda: aprender em todos os lugares que passei - e confirmei isso com uma prima que estudou em outro lugar e ela também aprendeu assim - que "pupil" se pronuncia "pâpil" e chegar aqui e ninguém te entender porque se pronuncia "piulpol" quase como "people"...
Entre outras palavras, mas essa foi assim, o ápice do meu ódio com os cursos que fiz no Brasil.

Junte tudo isso, todo inglês aprendido errado e mal ensinado, saudade da família e dos amigos, estar sozinha e muito solitária e ponha uma grande pitada de veneno, sim, pra mim foi como veneno o que a mulher me disse, e me diz no que que dá...

Dá no  que estou sentido agora...
Frustração, depressão, carência, ódio, raiva, melancolia.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Desabafo em tempo real

Tenho postado aqui coisas que já aconteceram há um tempinho, ainda não consegui postar de acordo com o que acontece, porque minhas postagens ficaram muito atrasadas graças à história de não haver internet (pra mim) na Mansão do Mal... mas isso logo eu contarei detalhadamente...

Hoje vou finalmente fazer um desabafo em tempo real, como diz o título.
Hoje é aniversário da minha mãe. Liguei pra ela, conversamos, dei parabéns e disse que a amo e ela disse que também me ama, não aguentei e desliguei o telefone e ela também... deve também ter ficado chorando do outro lado... sinto muito a falta dela... é muito difícil... sempre fui muito apegada a ela e está sendo muito, muito, muito difícil e, com certeza, para ela também.

Fui comer minha pizza velha, enquanto sei que em casa, lá no Brasil, tem lasanha e não terá o meu bolo que costumo fazer... e fiquei pensando na minha vida.

Será que valhe a pena tudo que estou fazendo?
Será que valhe a pena não estar com as pessoas que mais amo e que me amam de verdade para estar aqui: numa casa com rato (em breve contarei sobre ele, James Stewart Little), pagando um aluguel que considero abusivo, tomar banho numa banheira (o chuveiro fica dentro da bosta da banheira) que outros já cansaram de fazer a festa antes de você, ouvir de pessoas que não te conhecem que você precisa ser mais expansiva que assim fica difícil para arrumar um emprego... ter que lavar banheiros seguidos durante todo um dia para ganhar 40 ou 50 libras no dia?

Sinceramente, não sei se vale a pena...
A única coisa que sei é que não queria estar no meu trabalho de professora sofredora e para esse serviço é que eu não volto, mas e como fica todo o  resto?
Será que era melhor eu estar sofrendo na escola no Brasil do que aqui vivendo tudo isso e achando que nunca vou falar direito a bosta dessa língua dos infernos e que todo mundo tem que pôr defeito em mim, não ter paciência quando tento conversar e ficar sozinha num quartinho conversando com meus amigos do outro lado do oceano ?

Pondo na balança... não sei, viu?
Estou me sentindo completamente sozinha, solitária e não vejo nada que faça as coisas aqui mudarem porque os brasileiros são, na grande maioria, asquerosos, mais que J.S. Little e os ingleses nunca fazem amizade com estranhos e as demais nacionalidades são ainda mais impacientes e arrogantes que qualquer outro...
Quanto tempo ainda pra eu jogar a toalha?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Doutor algodãozinho


Voltando no  tempo ainda, enquanto estive na mansão do Mal, meu bruxismo aumentou. Quem não sabe o que é bruxismo, não tem a ver com Soudemorte rs Bruxismo é ficar rangendo os dentes durante a noite, muita teNsão do dia descontada nos coitadinhos.
E o meu bruxismo piorou bastante, piorou tanto que um dos meus dentes da parte de cima, perto dos molares da esquerda começou a doer bastante. Acho que de tanto eu ranger, acabou por danificá-lo, isso porque dormia com a placa.
Dona Collorida me disse que os dentistas aqui são horríveis, médicos e dentistas não prestam, que os bons são brasileiros (mas mora aqui há 22 anos, né?). Mesmo assim ela tem um dentista de confiança, sul-africano, Nikki. E pelo que ela me dizia era caríssimo e eu preocupada com o dinheiro que ia gastar...
Bem, a dor não passou, e lá fui eu marcar consulta...
No primeiro dia, errei o caminho, báaaaaaaaaaaasico! Estava do lado, praticamente, do dentista e andei talvez uns 3 kilômetros e de Sheen fui parar em Putney... passei até por uma partezinha de Wimbledon... Regina, a camela-mór que achou uma lojinha polonesa com uma água no estilo H2OH! Que não existe aqui, e fiquei muito feliz, depois achei uma loja linda e deliciosa de cupcakes... uh! Até que valeu a pena errar feio o caminho...
Tentei de novo outro dia, acertei dessa vez, cheguei lá e entendi que a consulta era 25, ok! Um dos meus grandes problemas sempre foram os números em inglês... sempre confundo principalmente hundred com thousand... tenho que lembrar da música do Silverchair pra lembrar que thousand é mil... sério! E aí, fui pagar a menina, dei uma nota de 20 e ela: NINETY five... e eu já tinha aceito, preenchido papelada e tudo mais... lá vai eu desembolsar 95 libras com dor enorme no coração, mas pensando, se tudo der certo isso não vai ter sido nada. Ledo engano.
Ainda assim teria que ser consultada só no outro dia, isso porque era com urgência e passaria com outro médico, Tim, porque o Nikk estava totalmente busy. Pensei, tudo bem, afinal, se trabalha com ele, deve ter o aval do outro.
No outro dia conheço o Dr. Algodãozinho. Tirei esse nome do livro da Lígia Fagundes Telles “As Meninas”, uma delas perde todos os dentes na infância graças ao dr. Algodãozinho. Também tive um dentista assim quando tinha 12 anos, fiz um tratamento de canal com 12 anos por causa do “bom tratamento” que esses seres fazem: ao invés de tratar logo o dente, ficam colocando algodão ou qualquer curativo e vão deixando, até o curativo cair e ir abrindo cada vez mais a cárie do dente, quando você vê, ele te diz: bem, esse dente vamos ter que fazer canal, porque não  tem mais jeito.
Esse senhor que fui, eu praticamente não entendia nada do que ele falava, eu ainda não tinha um mês em Londres e ficava ansiosa e desesperada com isso, foi simpático e aí começou...
Sentei na cadeira e ele tirou o raio-x e disse que ia abrir pra ver o dente, mas achava que o caso era grave (foi o que entendi) e eu deixei, fazer o quê? Sozinha, com dor de dente, sem entender nada direito...
Fiquei mais de uma hora, eu acho, naquela cadeira... minha mandíbula doía ainda mais quando saí daquela cadeira, parecia que eu tinha aberto minha boca num ângulo de 180°graus e aí ele me disse, e isso eu entendi bem: take off your tooth. Ele disse que três dentes estavam prejudicados (eu espantei, TRÊS?????) um não teria jeito, teria que ser arrancado, outro feito canal e o outro coroa. Fiquei sem saber o que dizer – nem sabia o que dizer a ele em inglês... fiquei totalmente chocada, sem saber o que dizer, o que pensar... totalmente absorta no nada... se é que isso é possível, eu estava...
Ele disse que mandaria pro meu endereço o orçamento e aí eu poderia ligar para marcar para começar o tratamento...
Fiquei extremamente chateada, aborrecida, tinha acabado um tratamento no Brasil com um dentista que confio, trato meus dentes com ele (eu e minha mãe) há 20 anos... ele nunca foi o dr. Algodãozinho com a gente... como poderia ser agora meu dente estar assim... Eu só pensava em ir embora mesmo, queria ir pra casa, não queria perder meu dente, queria me dentista de volta. Dr. Ricardo, cadê o senhor? Queria mesmo pegar um avião correndo pro Brasil, decidi que naquele dentista eu não voltava, ele não iria arrancar meu dente! Não, de jeito nenhum! Dente é coisa séria!
Conversei com o F, lembram dele? Preciso dar um apelido pra ele e pro namorado... F me disse que tinha uma dentista brasileira, que era barata, no centro e muito, muito boa e que a recepcionista era portuguesa, que me entenderia e poderia me ajudar. Senti um alívio ouvindo aquilo e fui ouvir uma segunda opinião. Liguei e marquei e só tinham vaga para o dia que era uma dentista francesa, Albine, tudo bem, eu iria ver no que dava com a francesa...
Cheguei lá e tentei explicar o caso para ela que não fala português, mas entende algumas coisas porque tem muitos clientes brasileiros e portugueses e a moça, Vanessa, a recepcionista traduzia pra mim e pra ela para que nos entendêssemos.
Expliquei o caso, ela viu os dentes e ficou indignada (como eu também estava porque eu tinha visto no espelho) a “massaroca” que o dr algodãozinho Tim Tones tinha feito: ele colocou uma massa para tampar os buracos que fez como se fosse um reboque, ou como se eu tivesse um chiclete grudado nos três dentes, uma massa que cobria os dentes, sem formato certo entre os dentes, apenas um negócio grudado pra tampar como se minha boca fosse a rua ou coisa pior. Ele deve ter pensado, é um trouxa estrangeira mesmo...
Ela ficou horrorizada e queria saber onde foi que fizeram aquilo comigo, tirou novamente raio x dos meus dentes e disse que não era caso para arrancar nenhum, mas teria que fazer mesmo uma coroa – o cara tinha acabado com meu dente, até o talo, praticamente. Tive que fazer um canal, uma coroa e uma obturação. Todas com a francesa que cobrava 16,50 a consulta – essa eu não me enganei, a portuguesa falou pra mim...
O tratamento todo ficou em 450 libras e fui muito bem cuidada pela francesa. Ainda terei que voltar lá em janeiro, quando poderei usufruir do NHS (o INSS daqui) e poderei ter um desconto no resto do tratamento, porque começou a me doer o outro lado da gengiva. Causa? O dente com coroa deixou um lado alto e o outro agora sofria com a diferença, terei que fazer outra coroa do outro lado e aguento com uma nova placa para os dentes debaixo, a de cima eu durmo com a velha, mesmo não sendo a melhor indicação, porque precisará ter um novo molde quando terminar tudo.
Quase um mês depois  recebi o orçamento de Dr. Algodãozinho: 1600 libras! A carta chegou na mansão do Mal e quando recebi, vi que o envelope estava colado por cima com durex (ah! Durex aqui, como em Portugal, é marca de camisinha, não tentem comprar durex usando esse nome, vão receber outra coisa rs). Estranhei aquilo... e imaginei que a família dedicada deveria ter aberto... não via outra explicação... assim como um cd que comprei pela internet veio numa caixinha de papelão e parecia meio que alguém enfiou o dedo pra ver o que era, sabe? Pois é... Coisas da mansão do Mal...
Gastei um dinheiro que poderia ter economizado bastante desde o começo, se eu tivesse desde o começo me tratado com um dentista decente talvez só teria feito uma canal e pronto. Agora, o que aquele demente fez foi f*der com meus dentes de um lado e ter que, agora, acertar o outro.
Em Londres, precisando de dentista, me peçam o endereço da doutora Albine, na estação de Lancaster Gate (Central Line). Nela eu confio e ainda ela passou um negócio nos meus dentes para que todos ficassem da mesma cor e sem marcas de obturação. Um amor!
C’ est la vie!