domingo, 5 de novembro de 2017

A escola de inglês e o Beatles Walk

Chegamos ao curso propriamente dito!

Fazia dois cursos um de conversação e outro de escrita, enquanto estudava toda a gramática no parque e depois na faculdade que contei que fiz a carteirinha da biblioteca (dia desses me mandaram um e-mail pra eu renovar a carteirinha!). 

Tive sorte de não encontrar brasileiros no curso de conversação, fiz amizade com uma japonesa e duas venezuelanas então não tinha problema de conversar em português. No curso de escrita percebi que haviam brasileiros, na verdade elas, brasileiras e como eu não me importei em fazer amizade com elas, elas também não se importaram em fazer comigo. Acho que estavam tão focadas quanto eu em aprender o inglês e não ter contato com brasileiros.

Quando ia pro curso, na entrada, dava de cara com brasileiros que faziam o curso no horário mais cedo, dei graças a Deus que não comigo. Talvez fizessem o curso regular de inglês, diferente de mim que quis fazer específicos.

As aulas com professores ingleses eram legais, não tive problema com nenhum deles ehehehe o que seria esperado de mim por ser professora, como faço sempre, mas foi tranquilo.

Estudava no English Studio, um curso que não era muito caro pros padrões do que eu tinha visitado, o único problema é que não tinha uma sala de estudos, senão ficaria ali até a hora de trabalhar.

Faziam passeios também, um deles eu fui, o "Beatles walk": os locais que os Beatles marcaram por Londres. No passeio conversei com mais pessoas de outras nacionalidades, principalmente com espanholas e duas que se intitularam Barcelonesas, o assunto da separação vai longe!

3 Saville Row, estava em reforma, mas já tinha ido lá antes


Fiz um álbum no Facebook e se você for meu amigo conseguirá ver, lá está toda a andança que mostra lugares onde moraram os Beatles quando pobres procurando a fama, casas já quando famosos, locais onde tocaram, onde morou empresário, o famoso prédio no número 3 da Saville Row, Carnaby Street e, claro, terminamos com a travessia da Abbey Road.

Além deste passeio participei de encontros em pubs organizados pelos alunos mesmos e fiz amizades.
Não mantive os amigos estrangeiros, o que é uma pena, mas como via que não falavam comigo, fui deletando dos amigos, besteira minha, mas foi o que aconteceu e fiquei sem treinar meu inglês que tanto batalhei pra melhorar!

   
Carnaby Street
O professor que fazia a caminhada também tocava - estação de St Jonh's Wood, perto da Abbey Road
Onde está Wally? rs Cafeteria do lado da St. John's Wood
Mais uma vez na Abbey Road (eu já tinha ido até lá)

domingo, 22 de outubro de 2017

Procura de escola de inglês

Com dinheiro vindo do Brasil (meu pai) comecei a estudar numa escola de inglês, finalmente. 
Eu queria passar no FCE e queria poder ter a oportunidade de estudar em escolas para estrangeiros e fui pesquisar.

Todo brasileiro que não fala inglês vai dizer para você que a melhor é Callan que trabalha com a repetição de frases, acho que conhecem escolas assim no Brasil, né?
A Roommate do Bem fez, mas fez numa que não usava só esse método, e parecia bem interessante, o professor não aceitava só as repetições e assim elaborou melhor as aulas.

Eu fui na Callan original ver como era, só para dizer que xeretei e posso dizer a verdade. Primeiro o professor me pôs num nível abaixo do que eu sabia que eu tinha (quem nunca...até em Londres...), era um escocês simpático que conversou comigo e mais algumas pessoas. Fui para a sala de aula assistir uma aula de experiência, sala cheia de italianos que reclamavam em italiano de achar uma merda a aula e eu só ria. A menina quando me viu rir pensou que eu fosse italiana também.
O professor chegou a pedir a repetição de "The Book is on the table" e pra mim foi o fim da picada! Achei que ele estava de palhaçada com a nossa cara! The book is on the table? não...

Fui a outra escola e quando vi brasileiros saírem da sala falando em português, não quis mais saber: brasileiros, não! Chega! Vi que era a mesma coisa que estudar no Brasil: você sai da sala e continua sua vida em português.

Lembram da Oxbridge a rua que errei no show do Fran Healy? Pois é, fui no começo dela ver uma escola de inglês, na rua "errada".
Assisti aula numa turma de FCE que tinha quatro alunos e o professor numa mesa grande. Em algum momento uma polonesa pensou que a capital do Brasil fosse Buenos Aires (seria melhor que Brasília...) e me perguntaram sobre o Carnaval do Rio (e de São Paulo, ou do resto do Brasil, se há) e eu expliquei havia um tema, as escolas cantavam um tema escolhido por elas e apresentavam essa história... foi engraçado falar disso, nunca me imaginei explicando pra alguém como é o esquema das escolas de samba, muito menos defender isso...

Achei a escola um pouco fora de mão, e teria que pegar a District Line naquele pedaço, nada animador, já que é uma das linhas mais tartarugas de Londres.

Fui a outra escola em Shepherd' Bush, mas eles não tinham todos os cursos ali, e sim na mesma escola só que Holborn e pelos preços achei que seria o melhor que poderia pagar e o caminho melhor a fazer de onde morava e depois pra ir trabalhar tinha um ônibus até St. James' Park



Fiz um teste e a menina não me achou apta ao FCE, mas quem disse que eu liguei?
Fazia o curso de manhã, almoçava por ali perto, tinha um pequeno parque que eu almoçava e no inverno achei uma faculdade que consegui fazer a carteirinha de sócia da biblioteca e passei a estudar lá. Até a hora de ir trabalhar e pra St. James.

Quando fui fazer o exame do FCE fui em outra escola, pois essa não oferecia todas as datas e essa outra que oferecia a prova na data que queria fazer era muito mais chique,cheia de recursos e se estiver outra vez em Londres pra estudar, irei pra lá, se tiver dinheiro, claro! E parecia sem brasileiros rs

Num outro post conto como foi na escola que escolhi.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

sobre a última postagem

eu esqueci de dizer o porquê de pão duros, eles demoraram 2 semanas para pagar as casas que limpamos. Disseram não ter dinheiro... Deus sabe...
Heaven knows I'm miserable now...

domingo, 16 de julho de 2017

E você pensou que tinham acabado as casas para limpar? Ledo engano...

Anjo?  me apresentou algumas amigas delas, participei de almoços nas casas delas onde sempre fui bem recebida. Um povo simpático e que estava há mais de 20 anos morando em Londres. Um pessoal que viveu outras situações e lembra da cidade de outra forma.
Lembram de um tempo de como era difícil encontrar outros brasileiros para conversar e ter a de qualquer forma se manter firme sem indicações ou outras coisas. 

Mas a maioria deles não precisavam disso, tinham vindo trabalhar pelo consulado então todo mundo se conhecia daí - tirando alguns em outras situações e que fizeram amizade com elas também. Havia pontos específicos e assim os brasileiros se encontraram e fizeram amizade no final dos anos de 1980 e década de 1990. 

Destas amigas que vieram com Anjo? conheci uma pessoa peculiar, vamos chamá-la de Naughty Woman, depois vocês entenderão.

Naughty apesar dos 20 anos de Londres não conseguia fazer uma frase simples em inglês e assim ela não teve a mesma vantagem que as demais que depois do trabalho no consulado e desejaram ficar em Londres fizeram outras coisas de suas vidas, como Anjo? que é esteticista e fez cursos em inglês. Naughty não teve essa chance e limpava casas. Mas não eram qualquer casas, fazia limpeza de casas de gente com um bom dinheiro, não direi qual religião para não dizerem que sou racista ou coisa assim por dizer são fulanos e são ricos e pão duros... (já entenderam rs)

Anjo? me contou que Naughty tinha construído uma casa no Brasil para a mãe e uma sobrinha tomou conta de tudo. Como Nahghty não foi até lá ver nada, a sobrinha fazia o que quiser.


Quanto às casas que ela limpa, ela também limpava uma escola, no horário que as crianças voltavam para sala depois do recreio e assim vivia. Até que me pediu para ajudá-la com uma casa e lá fui eu limpar mais uma...

Era uma casa enorme, na região 2, no máximo 3 de Londres, casa com jardim e piscina. E limpamos a casa cheia de quartos e uma cozinha enorme. Os donos da casa se aproveitavam da falta de conhecimento de Naughty e pagavam até bem, 10 a hora, mas aproveitavam de toda a questão da limpeza de fazê-la limpar até a casa dos filhos e do vizinho (que foi o que fizemos também).

Os donos falavam com ela e diziam somente: coffee? tea?? porque ela não estabelecia um contato maior. O dono percebeu que eu entendia e resolveu ver até onde eu ia dizendo "Fulana is very very naughty, is not she?" Eu disse que não e fiz uma cara de poucos amigos pra ele. E ela do meu lado querendo saber o que ele dizia e eu respondi pra ela: ele disse que você é danada, safadinha. E ela só "ah" sem saber o que mais dizer.

Deram uma carona pra gente pra ir embora e ela me ofereceu de ir na casa do filho limpar e a partir do meu conhecimento da casa eu poderia ficar com ela, mas se eu não quisesse mais era pra devolver a ela. Claro, ela não queria que fosse uma casa vendida como vocês já bem conhecem como funciona. Eu disse que não ficaria com a casa, porque estava voltando pro Brasil e não adiantaria ficar alguns meses só com a casa e deixei com ela.

Fiquei com bastante dó de Naughty Woman afinal até no médico eram as amigas que marcavam e iam com ela porque ela não conseguia se expressar. Ficava pensando "caramba! como alguém conseguiu viver todo esse tempo aqui sem inglês". Mas não foi difícil porque ela trabalhava na casa de algum cônsul ou embaixador brasilero, depois as amigas a auxiliavam, parece até um pouco de preguiça não ter aprendido absolutamente nada de inglês e hoje ela se diverte tendo a Record e Globo internacionais em casa. Numa casa lá pela zona 4 de Londres onde tem um quarto só pra ela.

Foi uma das pessoas mais peculiares, como já disse, que conheci.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Escatologia - limpar banheiros

Quando você tem duas horas e quatro andares de banheiro você começa a conhecer melhor o ser humano, ou pelo menos os costumes de alguns...

Eu ia do décimo terceiro ao décimo sexto todo dia, às vezes mais se me dessem mais uma hora de trabalho e essa hora fosse no banheiro.
Minha sorte é que num andar havia um chuveiro, era um a menos, porque lavar bem aquele box significava levar tempo e quem ia levar  tempo num lugar que inglês não leva nem em casa? Eu jogava uma água pra dizer que havia sido lavado, porque um box é sempre preciso lavá-lo em enxugá-lo.
Não sei se alguma vez eu falei aqui, mas não era só lavar as coisas, elas precisavam ser enxugadas, em todos os lugares que trabalhei. Aí você volta pro Brasil, vai num banheiro e está todo molhado porque não secam!!! Imaginem minha felicidade...

Aconteceram  coisas bizarras como sempre encontrar a mesma pomadinha jogada no banheiro dos homens, todo o dia, nunca pesquisei no Google pra que servia, mas todo dia estava lá e não no lixo para eu jogar embora.

Estes andares que eu limpava eram compostos por três banheiros femininos, separados, com lavabo próprio, 3 masculinos do mesmo jeito e um para pessoas com necessidades especiais. E este era o banheiro que eu sempre tinha que me preparar psicologicamente para limpar.
Por quê?

Porque pessoas sem necessidades especiais gostam de fazer o número dois ali, é mais privado, né?

E para saber que fez o número 2 é simples: ou está a latrina toda suja ou tem papel higiênico por cima, cobrindo.
Como todo papel de banheiro é jogado na privada (assim eu não precisava recolher isso também), era simples, a pessoa deu descarga, mas não bem dada ou deixava sujo: papel higiênico por cima!
E o banheiro especial era o escolhido como especial por quem não era especial.
Como trabalhei em outro prédio de dia por duas semanas, entendi que quem mais faz isso são os homens, sempre eu via um normal correr para o banheiro especial, queria privacidade e eu já ficava irritada porque daqui a pouco eu ia ter que dar jeito naquilo...

No banheiro das mulheres contava com um repositório, ou qualquer nome que você queira chamar, só para os absorventes e graças a Deus era outra empresa que ficava responsável por retirar. Não tinha muito problema no banheiro das mulheres quanto a isso.

Também nenhum dos banheiros era escrito, ingleses no trabalho, pelo menos, não têm costume de emporcalhar com frases imbecis as portas e paredes de banheiros. E não me lembro de banheiro de outros lugares ter visto também...

A coisa mais engraçada é que os espelhos iam até o teto e até lá iam as marcas de respingo da água... nunca soube como faziam isso... só brincando de jogar água para cima.

No lugar que trabalhei por 2 semanas durante o dia vieram reclamar comigo que o espelho estava todo respingado e eu tinha acabado de sair dele. Um maldito foi ao banheiro assim que saiu e fez a miséria de respingar pra todo lado... um inferno!

No banheiro do restaurante francês eu limpei aqueles mictórios masculinos e era bem nojento também, jogava bastante produto de limpeza e dava a descarga.

Nos banheiros que sempre trabalhava o supervisor veio reclamar que não estava limpo e eu só disse: acabei de limpar, se alguém foi lá, não posso fazer nada (não com essas palavras, mas dei a entender que banheiro é difícil de se controlar e é).
Assim como é difícil de controlar o povo que quer porque quer ir no banheiro que você está limpando.

Um dia eu limpava um banheiro e deixei o outro com o balde na porta para ninguém ir. A mulher chegou e pulou o balde, tropeçou nele, reclamou e eu falei por que ela não foi no outro que ainda não tinha mexido e ela fechou a porta do limpo na minha cara...
Eram 3 banheiros, um eu limpei, outro estava limpando, sobrava o terceiro que a fresca Kgona não quis ir, quis kgar no limpo só pra me dar trabalho. 
Só que não voltei mais ao banheiro, eu tinha duas horas, lembram? Duas horas e mais três andares.

Limpar banheiro não é coisa simples e lá havia as cores dos panos, lembram? Havia o azul para escritório, verde para cozinha e vermelho para banheiro. Eu só usava nesse momento o vermelho e o que dava pra passar só o pano ia, não tinha tempo de pensar em muita coisa e a pia eu limpava com o mesmo pano que a privada. Deveria ser diferente? Acho que sim, né? Mas só havia um pano, não dois. A gente usava muito o papel de limpar as mãos ou  o papel higiênico para limpar mais rápido também.

Tudo isso de luva, a Rutinha usava duas em cada mão, não conseguia colocar uma, quanto mais duas...  mas limpei muita sujeira dos outros sem me acostumar com isso e chegar todo dia no trabalho sabendo os quatro andares de banheiro que teria de enfrentar e um com um chuveiro para me ajudar.
Virei expert em banheiro e hoje sei como é usar qualquer banheiro público, sem que não é bem limpo por falta de tempo e pelo uso contínuo então tomo cuidado a ir em um.
E dou muuuuuuito valor a quem limpa banheiros.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

O Império mesclado do Fado

Depois de mudar de prédio, comecei a trabalhar apenas 2 horas o que era melhor que nada, mas não ajudava muito.

Meu supervisor era um português, a gerente dele (ou seja lá como chamavam quem estava acima e no Império do Fado eu não sabia que existia) era uma colombiana que pus o apelido de LaGuerta, a chefe de Dexter. Não houve motivo algum, só achei que se encaixava nela, enquanto o nome verdadeiro lembrava o zodíaco.

Tudo isso eu contei aqui ou quase tudo isso.

Minhas colegas de trabalho eram portuguesas, colombianos, ucranianas e uma brasileira.
A brasileira foi uma das poucas pessoas das quais me tornei amiga, vou chamá-la de Rutinha, já que ela tinha o mesmo nome daquela professora mal educada que trabalhava na escola comigo, mas só uma pode ser a má, a outra tem que ser a boazinha.

Comecei com 2 horas, mas sempre o supervisor pedia pra eu ficar uma hora a mais, então sempre ganhava por três, o que era bom, mas o trabalho era duro. Lavava 4 andares só de banheiros em duas horas e na outra hora fazia todo tipo de serviço: limpar baias de trabalho que alguém faltou pra limpar, tirar os lixos, mais banheiros em algum outro andar, limpar escadas de emergência, limpar hall de entrada e frente de elevadores, etc etc etc sempre tinha serviço e eu agradecia porque era mais 8,40 que entrava no meu pagamento.

Havia umas portuguesas que eu não entendia absolutamente nada do que elas falavam, eram da Ilha da Madeira e uma delas eu não sei se fingia desentendimento ou era sacana mesmo: sempre fechava o lugar de guardar os materiais antes de eu guardar, sempre fazia alguma coisa para me atrapalhar o serviço e com o tanto que conhecia as portuguesas imagina que era provocação com mais uma brasileira.

Rutinha era gente fina, conversávamos muito e íamos até embora juntas, não tínhamos nenhum problema, uma ajudava a outra e por que não pôde ser assim logo de cara e só quando estou louca para ir embora encontro alguém assim?

As ucranianas eram na delas, mas pareciam boas pessoas. 
Das portuguesas também fiz amizade com uma mais nova, era uma garota super nova que a mãe trabalhou como faxineira e ela seguia o mesmo caminho. O que não entendíamos, já que ela estudou em Londres, foi criada lá, não precisava daquilo, tinha inglês fluente.
Ela era uma pessoa legal que pensava diferente das outras portuguesas, imagino por ser mais nova e ter sido criada lá. Protetora dos animais, ajudava num abrigo e tinha seu cão que sempre comentava comigo.

Um dia ela explodiu com o supervisor e foi embora, ele brigou com ela e ela respondeu a altura, em inglês, porque ela disse que quando ficava nervosa só conseguia brigar em inglês, saiu e foi trabalhar numa loja. Mantenho contato com ela e com a Rutinha até hoje por terem sido pessoas legais que conheci em Londres, as poucas porque a maioria eu deletei.
Devem  ter sobrado elas duas, a Roommate do bem e Anjo? os demais não tenho contato, não merecem.

O supervisor não era ruim e havia outra supervisora também, uma ucraniana que todo mundo achava que estava lá por ser namorada de outro supervisor português - um que já apareceu aqui quando eu fui procurar emprego e colocou o dedo pro outro ver que eu tinha colocada que tinha depressão, lembram? ele não era tão ruim quanto pensei.
Ele me chamou para trabalhar durante o dia nas férias de outra ucraniana, num outro prédio encostado em Victoria Station e se eu não fosse embora, teria trabalhado em outro prédio depois.

Fico pensando que talvez depois conseguisse meu próprio prédio durante o dia, mas estava indo embora e não queria mais saber de nada.
Conto na próxima como foi trabalhar o dia todo porque o dinheiro disso eu já contei que foi levado pelo IR e fiquei sem dinheiro.

domingo, 23 de abril de 2017

A casa da goiana

Anjo? tinha uma amiga goiana que morava fora de Londres, numa cidade que faz divisa com Londres, algo como ir pra Santo André. Ela tinha acabado de fazer um salão de beleza na parte debaixo da casa e continuava morando em cima.

Daí que ela precisava de alguém para limpar a bagunça que estava a casa dela e talvez o salão, mas fiquei só com a casa, onde fui 3 dias e ia ganhar 10 libras a hora.
Até aí tudo bem, ótimo pra mim que precisava de dinheiro, mas só depois descobri se tratar de mais uma goiana enganadora. Vamos do princípio.

Cheguei lá de trem e fui pelo caminho que vi no googlemaps, era só duas estações saindo de Londres, mas como saí de Londres tinha que pagar a diferença ao chegar. 
Já contei que você passa o bilhete na entrada e na saída do trem e do metrô, né? Que é na saída que se calcula o valor da passagem. Acho justo, mas lá não havia local para passar o cartão, tive que procurar e além disso, tudo era aberto, como na estação de Olympia. 
Todo mundo paga, pode ficar tranquilo, todo mundo  tem medo do fiscal da estação... eu não contei como funciona? Sempre passa alguém no trem, no metrô ou no trem pra verificar se você passou seu bilhete ou não, não há escapatória.

Voltando, cheguei na casa dela e ela me deu a sala para limpar. Claro, estava imunda e tive que passar o aspirador de pó em tudo, fora a bagunça das coisas fora do lugar. Me distraí arrumando vendo um canal de TV do tipo VH só com rock britânico, foi fácil trabalhar assim. Ainda mais vendo os vinis que o marido dela tinha, vinis incríveis dos anos de 1980. Fiquei com vontade de surrupiar um ou outro... depois que você começa a pegar coisas, como comecei a pegar no Império do Fado, fica difícil desfazer o hábito, mas fui forte e não cometi esse deslize.

Na hora do almoço nada de almoço, a goiana não tinha o que oferecer, disse que ia se virar por lá mesmo e que não estava com fome. Tive que ir procurar algum lugar com lanche para comer. A cidade, se o centro for perto da estação, não tinha absolutamente nada, mas achei um lugarzinho com lanches para comer, uma espécie de padaria.

Ao voltar, o marido dela, que era químico, estava ao telefone no salão, ele anotava pra ela os números que as pessoas falavam para ligar, ou seja, quem tentava marcar e deixava o número ela não conseguia anotar e pedia para ele que era nativo.
Em dado momento ela reclamou de algo e ele jogou na cara: e o dinheiro disso tudo é de quem?
Ela me olhou e eu desviei o olhar, não queria estar naquele momento ali e acho que isso foi um grande ponto contra mim, pois ela ficou intratável. Começou a cobrar mais meu serviço.

Limpei a sala e um quarto que estavam em petição de miséria de sujeira, limpei a cozinha que tinha uma saída pra outro lado e que tinha também uma espécie de garagem e jardim para limpar. Mas ela veio com um papo de limpar o quarto dela e pior: arrumar as roupas no guarda-roupa.
Me digam se não tem coisa mais íntima do que arrumar roupas em suas gavetas? Pra mim foi o fim da picada... ela queria tudo dobradinho... até roupa de frio que não dobra direito e queria na parte de cima, que eu não chegava, só com cadeira...
Tudo bem, vamos arrumar o quarto e deixar a roupa por último...
Arrumei, arrumei gaveta de calcinhas que tinham algumas de fantasia, tipo oncinha, com cinto e dois revolvinhos presos (sério rs), com outros fru-frus e assim foi.
Arrumei a tal parte de cima com as roupas de frio ruins de dobrar, do meu jeito e ela não gostou. Disse para no outro dia eu continuar (já era o segundo dia).

No último dia lá vou eu limpar de novo a cozinha e voltar pras roupas, tentei arrumar mais uma vez, mas para mim é tão íntimo arrumar roupas na gaveta... afinal, cada um gosta de um jeito e eu não sabia exatamente qual era o jeito dela.
Nas camisetas achei aquela famosa camiseta do Killers "I got a soul but I'm not a soldier" que ficava pequena pra mim (falei que ela era um pau de virar tripa?). Cheguei a experimentar e tirar foto até rs eu não tomo jeito rs

                   Sim, eu também quis levar essa camiseta embora... cheguei a embrulhá-la rsrs


Comentei da camiseta com ela e ela disse que foi num show do Killers com ela, além de ter dançado no palco com o  Ricky Wilson (historinha de goiana, claro que não acreditei) e mais uma vez ela não gostou do jeito como arrumei as roupas na parte de cima do guarda-roupa...

Fui limpar o salão e ela ia vender produtos da Natura, vindos da França, achava que fariam sucesso por lá e pretendia dar uma recepção (não fui convidada) pra marcar a chegada e venda dos produtos e ela pediu para que eu arrumasse os itens tirando eles da caixa e colocando em cima de uma mesa para depois separá-los. Pus os produtos em pé para visualizar melhor os produtos que eram, saber seus nomes e ela chegou na fúria dizendo que assim não teria espaço ali, me pôs de lado e começou a pôr tudo deitado e depois eu segui.
O salão estava começando, a única coisa que funcionava era a cabine de bronzeamento que uma moça chegou para fazer e eu não soube explicar como era - e a goiana veio pra cima reclamando como eu não sabia, e explicou pra moça - parece que era só entrar e colocar uma moeda e sair com a cor do verão... falso...
Nunca tinha visto ou mexido num troço daquele, como eu iria adivinhar?
Não via a hora de acabar tudo naquele dia e ir embora.

Fiquei no telefone e uma mulher ligou querendo fazer depilação do buço, como vi que a goiana estava sem o que fazer, falei pra mulher ir naquele momento mesmo. A mulher foi e a goiana não quis atender e marcou um outro horário e explicou o que era que a mulher queria, porque eu não havia entendido (não entendi mesmo, mas quis ser prestativa...).

A hora de ir embora chegou e a goiana não quis me pagar todas as horas que me devia porque eu não arrumei direito o guarda-roupa e descontou 20 libras do meu trabalho. Fiquei sem o que dizer, já estava tão acostumada às pessoas me pisarem que já nem doía mais e peguei meu dinheiro e fui embora.

Depois Anjo? me contou que moraram as duas juntas, que goiana era ilegal e ia aos pubs procurar um incauto para casar e conseguiu. No Brasil, Goiana deixou os filhos já crescidos com a mãe e foi pra Inglaterra. Um dos filhos resolveu seguir os passos e foi pra Portugal, casou-se com uma portuguesa e estavam morando na Inglaterra também.
Goiana queria que o filho e a nora fossem morar com ela, o marido, inglês não aceitou porque não acha normal alguém adulto, com filho, ainda depender dos pais para morar e parece que estavam mal com isso. 
Só que como sempre eu não tinha nada com isso e virei o saco de pancada. O filho chegou a aparecer lá para falar com a mãe, mas ficaram no salão para que eu não ouvisse a conversa, mas lavasse os copos deles.

E assim mais uma história da minha empatia por goianos.

segunda-feira, 20 de março de 2017

mais camelagem com Anjo

Anjo? era esteticista, mas as coisas não iam tão bem para ela, assim como de modo geral na Inglaterra em 2011. Perdeu muitas freguesas e precisou se virar: limpava a casa de duas ou três freguesas e cuidava de uma senhora de idade.

Ela ia cedinho todo dia para a casa dessa senhora para ajudá-la a tomar café e tudo mais, depois a senhora ia para o clube e ficava por lá. Às vezes dormia com ela quando ficava sozinha, fazia companhia.

Duas das casas que ela limpava eu conheci, fui junto limpar, mais uma vez fui faxinar casas, oh vida!

A primeira era Chelsea e quem não ia gostar de ir até Chelsea, perto do parque do bairro que é lindo e ainda tem um templo budista?
O apartamento era de uma mulher separada que tinha um filho. Casa cheia de brinquedos, mas bem mais organizada e limpa que as casas que conheci com Marciana.

A segunda casa sim, é digna de nota: de uma naturalista radical. Não se podia usar produtos de limpeza normais porque afetam o ambiente. E com produtos mais "fracos" era trabalhoso limpar, assim como passar a roupa sem produtos que a deixassem mais fácil, era um tormento, que ficou por conta de Anjo? que já tinha as manhas com aqueles tecidos horríveis e que não ficavam passado nem com reza brava!
O ferro também era de outro tipo, que demorava a esquentar, mas que consumia menos energia elétrica... tudo muito politicamente certo, mas que ajudava a escravizar mais sua faxineira... por um lado o meio ambiente, por outro a vida das pessoas que precisam trabalhar... complicado...
E não pagava lá grandes coisas para Anjo? A dona da casa era cheia de manias, mas também não pagava tão bem pelas manias que tinha. O que seria justo, afinal pessoas fazem parte da nossa biosfera, né não?

Não recebi pagamento, preferi que fosse descontado no meu aluguel o trabalho que fiz, já era uma ajuda na minha limitada vida financeira...

Daí fui trabalhar na casa de uma amiga de Anjo? só que essa é outra história longa... imagina... mais um goiana na minha vida! (arrepios!)

domingo, 5 de março de 2017

A nova vida em Olympia

Depois de tanto contar sobre trabalho e outras coisas, finalmente falo um pouco de Anjo?

Anjo? com esse ponto de interrogação porque eu não sei até que ponto foi um anjo na minha vida ou não. Por ter me aceito na casa dela e me tirado de Elephant & Castle e me colocado a 10 minutos de High Street Kensignton é um bom motivo, mas custou um pouco caro... vamos ver na balança...

Ela é esteticista e como eu ia até ela - já contei isso - ela acabou me oferecendo morada. Depois fui percebendo que ela precisava de alguém pra dividir o lugar, não era só por bondade...

Como todo mundo ela tinha defeitos, o primeiro era a insônia... enquanto uma me acordava às 5 da matina, a outra ia dormir às 2h. Ficava até tarde na TV pra pegar no sono. Ela tomava remédios pra dormir e usava até um que grudava na testa, mas não pareciam surtir efeito. Era uma pessoa boa, conversava bastante comigo sobre os problemas do Reino  Unido e na diferença que era para quando ela chegou lá, há 25 anos, para trabalhar com diplomatas.
Pagava 55 a semana, cinco a mais pela eletricidade gasta, nada que me impediria de estar numa casa mais limpa e num bairro melhor.
A insônia de Anjo? atrapalhava um pouco porque eu queria dormir e não conseguia com a TV ligada.
Ela também me levou aos almoços que faziam com outros brasileiros amigos dela de  tempo de embaixada e outros que foram se somando. 
Relembrei o que era comida de verdade rs

Conversávamos sobre o Brasil e na época se falava bem pela economia do país e não ter entrado na crise que assolava a Europa naquele tempo... era fácil conviver com ela, apesar de não ser a pessoa mais arrumadinha no quesito cozinha, e deixava a comida estragar no fogão sem guardar na geladeira, por exemplo, não me sentia mal com ela. Era tranquilo, mas a vontade de ir embora era grande demais!

Anjo? Trabalhava também como cuidadora de uma senhora idosa e limpava casa de algumas clientes porque o dinheiro não estava dando, acabei sendo ajudante dela em pelo menos 2 casas. E assim ia ganhando minha vida.
Fui atrás de cursos de inglês, finalmente, me senti um pouco mais segura para ver isso, o que era desde o começo meu intuito, finalmente ia se realizar morando ali.

Farei postagens específicas sobre a escola e as que fui ver além das casas que trabalhei, entre outras coisas. See ya!

sábado, 11 de fevereiro de 2017

I predicted a riot: panic on the street of London

Com todo esse caos ocorrendo nesses dias no Brasil, caos da violência escancarada, tenho que contar a semana de medo que passei em Londres, sim a "riot" que aconteceu em agosto de 2011.

Morava com Anjo? (eu sei, ainda não falei muito dela e esse ponto de interrogação só deixa curiosidade) e trabalhava no mesmo emprego, só mudei de prédio e não tinha tantos portugueses me infernizando, apesar do meu supervisor ser um português, mas até gente boa.

No sábado à noite, 6 de agosto, saí com o pessoal da escola. Fomos, na verdade num Congresso de Cultura Brasileira na Europa, o Focus Brasil, depois da discussão do Congresso houve o coquetel e resolvemos emendar uma balada. Grande balada rs fomos parar à 1 da manhã num McDonalds em Putney. De lá peguei um bus pra casa e fui de boa dormir, não soube de nada, só no dia seguinte, dia 07 que haviam boatos de que um negro tinha sido morto por policiais no norte de Londres.

Até aí parecia uma história estranha para quem não vivia preconceito racial, como eu, "só" de nacionalidade, não consegui imaginar Londres imitando Los Angeles ou qualquer cidade grande e racista norte-americana...

Anjo disse que comentou com a irmã que com o norte de Londres as coisas iriam descambar, que lá as coisas eram mais complicadas, havia uma ferida aberta.

Se vocês lembram, morei no norte de Londres por alguns meses, na casa do GG, e percebi que a população era de maioria negra, mas até aí, para mim, não havia nenhum problema, nunca fui uma pessoa de enxergar cor nas pessoas, sempre convivi sem preconceito racial com as pessoas...

Fui para o show do Morrissey naquele domingo, em que Moz chamou o primeiro ministro James Cameron de "camel" e seus fãs riram. Ele comentava justamente sobre a "riot" no norte de Londres.

Voltei pra casa e a coisa estava maior, estava brigando nas ruas, queimando lojas e prédios e uma surpresa nervosa me tocou. Como era possível aquilo numa cidade como Londres? Tão cheia de imigrantes, gente de todas as partes do mundo e que pareciam viver tão bem...

Fui trabalhar na segunda e foi tudo tranquilo, quer dizer, todo mundo foi trabalhar com medo e nos dispensaram mais cedo. Fui pra casa de metrô, estava com medo de pegar ônibus, estavam atacando ônibus e os boatos só deixavam a gente com mais medo.

Na terça avisaram para não irmos trabalhar, nem na quarta ninguém foi. Meus pais perguntavam com medo no telefone o que estava acontecendo e se eu morava ou trabalhava perto.
Não, eu não estava perto de tudo aquilo, mas foi se espalhando pela cidade. Daqui a pouco botaram fogo no centro comercial de Clapham Junction, sul da cidade e onde eu trabalhava às sextas-feiras na casa da Puffy Shirt e estava preocupada.

Ficava em casa, não ia estudar no parque como sempre fazia e ver a TV era ser torturada, ficava com mais medo... eu já tinha me desacostumado a ver as desgraças via TV. As notícias policiais eram muito pequenas na TV londrina, o que mais eu via de violento era a guerra na Síria, que infelizmente dura até hoje...

Na sexta as coisas se normalizaram, o pessoal que aumentou toda a confusão, estavam sendo caçados pela polícia britânica. Quando cheguei em Clapham Junction havia um telão mostrando as fotos dos arruaceiros, fotos pegas pelas câmeras de segurança da cidade. Muita gente denunciava, inclusive pais de pessoas, vejam só, refugiadas políticas que moravam lá... outra mãe que denunciou o filho, ele ia para as Olimpíadas e ela pedia para que ele não fosse depois da vergonha que lhe causou.

Via as lojas fechadas e marcadas pelo fogo em Clapham, fiquei triste pela loja de fantasias que sempre eu passava e ficava olhando algumas engraçadas, mas fiquei triste por toda a cidade e vi que um país civilizado também pode perder o controle quando não cuida bem de questões que ficam sendo sufocadas. É assim que vejo essa parte "norte" de Londres: era uma panela de pressão pronta a estourar.

Vou fazer um post sobre as diferenças que vi entre os estrangeiros, não para criticar países e povos, nem vou citar quais sejam, mas para mostrar que as diferenças, às vezes, não conseguem ser respeitadas do melhor modo por cada cultura não ser só diferente, mas muitas vezes impregnada de conceitos e morais não tão boas, como cansei de falar dos brasileiros...

Eu passei a semana cantarolando a música do Kaiser Chiefs "I predict a riot" e lembrando do verso dos Smiths "panic on the street of London..." rs

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Eu, Daniel Blake: a pura realidade e os benefícios ingleses

Vi hoje a "I, Daniel Blake" e muita coisa do sistema inglês me fez rememorar coisas que aconteceram comigo.
Vocês devem se lembrar da questão "insurance number" e conta bancária, se não lembram, o link está aí.
Tudo me lembrou muito o que passei para conseguir ser uma cidadã, imigrante, mas uma pessoa, não um número ou seja lá como nos veem. Imagina quando você é um cidadão inglês de direito... você está dentro dos seus direitos e só recebe deveres, deveres irracionais, perguntas imbecis, desconfiança.

A verdade é que o sistema inglês é muito defensivo, como você vê no filme. Você tem sempre que provar tudo e mais um pouco. Eu me lembro como fiquei desanimada, frustrada para conseguir o insurance e não conseguir quem me ajudasse.
No filme a moça, Katie, diz que as pessoas em New Castle são muito mais gentis do que em Londres, realmente... eu só fui perceber isso quando fui para Irlanda e Escócia, mas isso é outra história, para outro dia, o que quero falar sobre isso é exatamente essa falta de gentileza das pessoas: isso mata aos poucos... quando você é honesto (meu caso e de mr. Blake) e estão desconfiando de você enquanto ilegais conseguem tudo por outros meios, mas conseguem.

Não vivi esse período em que as pessoas estão perdendo suas casas do governo como acontece com Katie. Explico:

Há uma lei inglesa que diz que se você é uma moça solteira e tem filho, você  tem direito a uma casa do governo. Não quer dizer que você não pague essa casa, paga. Menos que um aluguel normal, mas se paga. Acredito que no filme Katie esteja dentro dessa lei de benefício.
Quando estava para voltar ao Brasil, havia estourado a questão da máfia das casas alugadas (aquela questão que a pessoa consegue do governo e subaluga ao preço que quiser e quem aluga pode "subsubalugar" os quartos). Essa máfia estava sendo descoberta e parece que a coisa iria feder para os beneficiários (pelo menos espero que para os safados).

Os benefícios ingleses dão casas de aluguel por esse preço menor aos mais pobres, e cidadãos europeus da comunidade europeia e cidadãos europeus que não nasceram na Europa, mas estão há mais de 3 anos na Europa.
Se eu tivesse ficado, poderia ter tentando conseguir um studio flat, o que estaria de muito bom tamanho para mim, mas hoje essa lei deve cair, já que a Inglaterra pediu saída da comunidade europeia.
Dão benefício a você ter um salário que complemente o seu salário se não chega a 100 libras por semana.
Dão benefício se você é sem teto e pode morar num hotel custeado pelo governo e que se paga também um pouquinho ou é totalmente bancado pelo governo. Deve ter sido desse albergue que Katie também fala que morou.

Vejam que há muitos benefícios interessantes para proteger a população britânica, o problema é que o cerco se fecha para se conseguir esses benefícios.

No filme você vê o quanto é burra a burocracia e quanto os personagens sofrem para conseguir o mínimo de dignidade através dos agentes governamentais que fazem pouco caso e são extremamente frios e impacientes.
Isso eu sentia muito, porque não adianta você ter um motivo, tentar conversar, eles não ouvem mesmo. Não é como no Brasil que você conta uma história triste e amolece o pessoal, não, eles não amolecem! E eu sentia muita falta desse "amolecimento" brasileiro, porque é duro você tentar expor suas dificuldades e a outra pessoa só dizer: fuck off! Era praticamente isso e o filme mostra bem.

Teve um perrengue que passei quase antes de vir embora, eu ia contar no momento que chegasse na minha narrativa, mas o filme me faz contar agora.

Trabalhava no outro prédio que não o Império do Fado, como contei da última vez, comecei a trabalhar com alguns portugueses, colombianos e ucranianas. 
Um dos gerentes da empresa ainda era aquele português que deu sinal para o outro quando coloquei na minha ficha que havia tido depressão - deu sinal querendo dizer "melhor não contratar".
Ele não devia mais se lembrar disso e foi com a minha cara, talvez do mesmo jeito que o amigo que era noivo, lembram?
Se não lembram, o amigo que me deu o emprego parecia ter se interessado por mim, sempre era legal comigo até o dia que o vi com a noiva - de aliança e tudo - no metrô e fingiu não me conhecer rs


Voltando, o cara perguntou se eu queria trabalhar umas horas a mais por duas semanas, cobriria as férias de uma menina num prédio encostado na Victoria Station, o que daria uns dois pontos de ônibus de onde eu trabalhava e daria pra emendar: iria trabalhar das 8 às 17 e entraria no meu trabalho às 18, como sempre. Daria pra ir caminhando fácil. Aceitei! Era tudo que eu precisava para ganhar mais um pouco e juntar dinheiro para a famosa viagem pela Europa que queria fazer, eu não poderia perder essa de jeito nenhum!

Depois conto como foi o trabalho, que era com aquele maravilhoso carrinho de limpeza, limpando o dia todo os banheiros e copas de uns 4 andares que cada um tinha duas alas.

Quando, toda feliz, fui receber esse dinheiro no meu pagamento o que aconteceu?
Não é possível como acontecia tanta desgraça comigo, né?

O dinheiro foi comido pelo leão britânico... sim... eu mal ganhava para mim quanto mais para pagar quase tudo em imposto de renda.
Fiquei sem chão. 
O QUE ACONTECEU COM O MEU DINHEIRO QUE TRABALHEI TANTO PRA GANHAR? E MINHA VIAGEM???
Tive que conversar com todo mundo no trabalho para me dizerem que foi algum erro em algum dos formulários onde trabalhei, que era preciso eu ir em todos os lugares onde estava em aberto o formulário de trabalho para ver em qual estava errado...
Não descobri qual estava errado... talvez a de limpeza das mudanças, onde fui e pedi minha ficha, formulário... whatever! dei baixa para não ser cobrada por isso...
Enquanto eu deveria estar num tipo de desconto, ou seja, zero, estava numa numeração em que tinha que pagar o imposto.

Foi simplesmente um inferno!
Fui a vários lugares que me mandaram para resolver isso, ia de um lado pro outro, ia na sede da antiga empresa do Império do Fado, fui na sede da empresa atual... ninguém resolvia, muito menos o local do governo responsável por isso...
Eu só queria saber onde estava meu dinheiro que suei tanto e sofri tanto para conseguir e nada...

Anjo?, a mulher que morei por último, era autônoma e tinha um contador, me levou até ele para resolver o caso.
Consegui receber uma parte ainda lá, mas só quando estava no Brasil, depois de meses é que recebi o restante, descontado impostos e taxas por ser enviado para outro lugar o que deu uns 100 reais... não mais que isso...

Sei bem o que Daniel Blake sentiu, sei bem o que é ser honesto e não ter razão num país extremamente fechado para o diálogo e que não percebe o quanto é imbecil sua burocracia. Sei o que é passar muita raiva e sofrer só mais um pouquinho para ter certeza que Londres não era meu lugar.