sábado, 30 de maio de 2015

My English Teacher

Quando cheguei a Londres, fui procurar escolas de inglês e me assustei com os preços exorbitantes dos cursos próximos a Richmond, onde morava na época.
Lembro de comentar com a maravilhosa Collorida sobre os cursos e o meu querido Soudemorte responder: mas você só vai morar aqui por 2 meses, como pensa continuar fazendo curso por aqui? 

Vocês que me acompanham sabem bem como vivia feliz e saltitante naquela casa e não respondi nada, só pensei, afinal, poderia arrumar emprego pela região e moradia, eu achava...

Quando me mudei para o outro lado da cidade, para Dalston Kingsland e pensei que seria pra sempre, fui atrás com mais afinco por cursos de inglês. Pesquisei na Revista brasileira que todo mundo lia e sempre tinha propagandas de professores, como fiz quando consegui aulas de português.
Achei um interessante: brasileira que desde criança estava lá e era bilíngue. Parecia ser uma escolha acertada por saber os dois idiomas e eu achei que aulas particulares me ajudariam a aprender mais rapidamente o inglês, de falar mais fluentemente. Liguei para o número e era da mãe dela, era quem marcava, porque as aulas eram na casa delas e nunca se sabia quem estaria ligando.
Marquei e fui conhecê-la.
Ela morava com a família num bairro distante do centro, lá pela quase final da Central Line, a leste de Londres - pra lá de Stratford... super longe...

Gostei dela e da mãe, foram bem simpáticas comigo e resolvi que iria fazer as aulas por 20 libras duas horas de aula. Minha mãe me mandou dinheiro, queria que não me faltasse dinheiro e aprendesse o mais rápido pra voltar o mais rápido rs ela tirou dinheiro da pequena poupança só pra me ajudar. O dinheiro que tinha estava acabando já e ainda não tinha arrumado um emprego, só os bicos das aulas de inglês.

Comecei as aulas e decidimos por aulas de conversação, ela ia me explicando gírias que se usavam lá, expressões, entonação etc. Ela tinha um sotaque inglês, ninguém dizia que era brasileira quando estava falando em inglês. Poderia ser até uma entonação falsa que ela usava sempre, de forma a impressionar e se acostumou, afinal, ela estudava Inglês na faculdade, mas era atriz e esta era a carreira que ela realmente queria seguir.

Fui me adaptando muito as aulas dela porque estava extremamente carente, então, como eu tinha que conversar sobre minha vida, eu sempre tinha muita coisa ruim pra contar e aprender a contar em inglês. Fui me apegando a ela e a mãe dela. Gostava muito delas, mesmo! Achava que tinha encontrado novas amigas, até uma família amiga com a qual poderia contar.
Eu estava extremamente fragilizada e contava todas as minhas tristezas lá, não era uma aula de inglês, era quase um divã...
A mãe dela foi quem me indicou àquela casa que contei aqui, de dividir o quarto com um rapaz gay e pra lá ainda da estação da casa delas... inviável morar tão longe e trabalhar no centro fora dividir o quarto com um rapaz, me desculpe, ele poderia ser uma moça num corpo de rapaz, mas não ia conseguir dividir o quarto...

A mãe me falava de amigos que moravam por aqueles lados ou um pouco mais pro centro, mas com quartos por 100 libras por semana, que eram simpáticos e tudo mais, mas 100 libras por semana era ser rica... eu pensava: mas gente! onde essa mulher tá com a cabeça pra me indicar casas longe dos empregos e por esse preço?? ela acha que tá barato? eu falo tudo que sofro aqui e ainda acha que tenho 100 libras pra dar por semana? e o transporte? Sim, porque quanto mais longe do centro, mais caro o metrô se você tiver que ir pro centro, principalmente.
Ela não conseguia entender o meu problema...
E isso era comum: ninguém conseguia me entender: entender que eu não tinha esse dinheiro, entender que procurava como louca emprego e não conseguia, entender que eu não tinha a agilidade The Flash para limpar casas e entender que eu sofria com tudo isso... que eu me sentia frustrada, me sentia culpada por não conseguir fazer essas coisas todas... era angustiante!!!

Aos poucos, fazendo as aulas, eu fui percebendo que não dava mais pra pagar... fiz por uns 6 meses, acho, nos últimos tempos eu ia de ônibus para economizar - comprava a cota pro mês todo de ônibus que era mais barato - e pegava três ônibus pra chegar lá: de Elephant & Castle eu ia até Liverpool Street, lá pegava outro bus até o terminal de ônibus de Walthamstow e de lá para a casa da professora. Devia levar mais de duas horas. Daí comecei a ficar frustrada com a aula: a professora falava mais que eu e então não adiantava... ela contava muito papo sobre os grandes namorados que teve, sobre os bullyings que sofreu quando chegou na Inglaterra e na escola e não falava inglês. Uma coisa me irritou um dia: ela contava sobre o namorado novo na frente do pai, e o pai brincou com ela, ela virou para ele o xingou... achei aquilo muito chato... 
eu me sentia a filha do Kevin Spacey ouvindo a amiga gostosa falar das conquistas...
A mãe era uma mãe bem à brasileira: fazia tudo para todos e não recebia nenhuma atenção por isso. A filha chegou a ir embora de casa porque brigou com a mãe, briga boba e voltou. A mãe era espírita, então achava que tinha alguém que tinha algo a ver comigo. Ìamos a uma palestra do Divaldo Franco, a mãe falou pra eu ir com uma amiga, porque teria que fazer a janta para o marido e deixar tudo pronto... engraçado porque ela sempre dizia que o marido a acompanhava em tudo e naquele momento não vi isso...

Fazia tudo para participar da família: fui à peça de teatro da teacher, que estava com um outro namorado e quando fomos cumprimentá-la ela mal deu atenção porque estava com o cara... foi muito chato; fui ao aniversário da mãe e comprei um livro do Chico Xavier de presente; fui à casa ver o cachorrinho novo que tinha comprado e que estava doente... eu queria mesmo fazer parte... se me chamavam pra almoçar ou jantar eu não negava, fazia muito tempo que não comia como gente...
Não tinha como pagar e como trabalhava com portugueses, não usava o inglês quase que pra nada e desisti das aulas.

A mãe me indicou ainda um emprego, eu lembro de ter comentado aqui, mas não acho o post... não sei o que aconteceu... foi quando a mãe quebrou a perna e me indicou na escola onde trabalhava como assistente na hora do intervalo das crianças. Eu fui, fiz um teste e gostei de lá, mas a "chefe" das assistentes, uma mexicana, não gostou de mim e da amizade que logo de cara fui fazendo com as meninas (eu era dedicada e estava contente de estar ali - era uma escola católica só para meninas de até uns 14 anos). A mulher disse que eu não era expansiva e não daria pra eu ficar com a vaga. Fiquei bem triste porque, mesmo sendo bem longe, era um lugar que eu poderia, aos poucos, subir para assistente e trabalhar mais horas além do horário do intervalo (é, era só no intervalo, por umas 2 ou 3 horas, um pouco antes para organizar o pátio, auxiliar as crianças para comer e ficar vendo elas brincarem no pátio aberto e depois limpar tudo e ir embora). Mas a Sheena (era o nome da mulher) era punk rock e não me deu chance, deu a vaga para uma outra amiga, que saiu meses depois, quando eu já estava decidida a voltar pro Brasil. 
A mãe também ficou chateada por estar de licença e não pôde me ajudar a ficar com o emprego. Quando fui a Portugal, no Natal, trouxe encomendas para elas e por tudo que faziam pra mim.

Só que a máscara delas caiu e por mais que eu desse uma chance, eu tive que admitir que elas eram como todos os outros brasileiros: egoístas e mentirosos.
Vi no Facebook que a filha tinha ido pro Brasil e voltado com um namorado anterior que ela sempre falava e dizia que não voltaria, jamais, com ele e falava muito mal do cara (brasileiro). E as fotos e conversas no Facebook eram de amigas no Brasil felizes de a reverem no Brasil e saírem com ela - ela nunca me disse que ia ao Brasil enquanto estava tendo aula e eu não tinha parado há muito tempo -  vi fotos dela em São Paulo, Bahia e Porto Alegre (cidade do namorado) e os muitos comentários... achei estranho, porque elas sabiam da história da mala... e como fiquei com isso.

Estava bem escaldada pelos brasileiros e resolvi fazer um teste... liguei pra casa dela e falei com a mãe e perguntei da filha e a mãe: ela está bem, trabalhando muito e estudando (aham!)  
e aí joguei a isca: pois é, você conhece alguém que venha do Brasil esses tempos para trazer um remédio pra mim que eu só sei que tem lá certinho, porque aqui teria que passar no médico e não sei se me daria o mesmo...
mãe da teacher: ah, tem um consultório brasileiro em Stockwell, lá pode ser que você consiga o remédio que quer.
Bingo!
Era tudo que eu precisava saber: que elas iam se fingir de mortas e não me ajudar, como todos. E ia mentir na minha cara da forma mais deslavada com tudo bem claro e exemplificado no Facebook... Acharam que eu era idiota? Eu nem ia fuçar o perfil, era tão simples... era só ler as últimas atualizações... pronto... dei de cara com a amiga falando como foi legal andar por o bairro onde moravam em Sampa...

Daí deixei-as de lado, eram farinha do mesmo saco de todos os outros... cheguei até a mudar postagem aqui por elas terem se sentido ofendidas por eu ter falado mal dos brasileiros e fiquei super mal de tê-las magoado, mas daí veio a comprovação.

Antes de ir embora, como continuaram no meu Fb e fingi que nada tinha acontecido, a filha me falou de almoçarmos num lugar que adorava em Londres e que foi indicação dela, um restaurante italiano.  E eu disse que tudo bem, vamos marcar e tal... (sem nenhuma vontade que isso realmente acontecesse) e a mãe também queria pra se despedir de mim. E eu disse quais dias poderiam ser e marcar, esperando que nunca desse certo porque eu estava com nojo delas.

E aí foi o golpe final, a mãe me escreve em pleno Facebook com no meu mural para que todos leiam me humilhando mais um pouco do que já tinha sido humilhada por lá:




Agora vocês já sabem porque fechei meu mural para que não escrevam nele...

Consegui não me encontrar com elas, fui embora chateada com elas, pensei que eram as únicas amigas que havia feito lá, ledo engano.


terça-feira, 26 de maio de 2015

O povo da escola - parte 2 Hampstead Heath e o Jeitinho Brasileiro

Depois que Badooa deixou JerusalemE serguir o caminho dele e encontramos a outra amiga dela em Victoria Station...

A menina também esculachou com Badooa, falando que nunca mais combinava nada com ela, nem eu... depois daquele dia, toda vez que Badooa falava "vai lá pra casa pra sairmos" nunca mais aceitei.
A moça parece que já a conhecia bem e já tinha passado pelo mesmo com Badooa outras vezes.

Fomos pro parque, demoramos séculos para chegar de busão lá, ainda mais que no meio do caminho passávamos por Camden Townn, totalmente abarrotada de gente.

Chegamos lá e o povo já achava que não iríamos mais e contamos o que Badooa tinha aprontado.
O povo já tinha comido, estávamos todos sentados na sombra e os ingleses todos no sol, sem protetor...

O parque é muito legal, enorme! Como a maioria dos parques ingleses. A diferença é que ele é de mata natural, original da região e tem lagos. Lagos que alguns (muitos ingleses) se aventuravam em nadar.
Eu como não sei nadar bem, não me arrisco.
E outra: havia uma fila para pagar 3 libras e mergulhar.
Três libras que você paga a uma simples máquina sem fiscal.
Adivinha se os brasileiros que estavam comigo (todo mundo) ficaram na fila e pagaram para nadar?

Claro que não! Brasileiro dá jeitinho no mundo todo!
É tipo o Impostor do Pânico: vamos sacanear o mundo porque somos brasileiros! Somos fodões!
Bonito! Lindo!
Só mostra o quanto somos respeitosos e educados... ou você acha que atitudes como essas são bem vistas?
Conheci muito estrangeiro que só de saber que eu era brasileira já me olhava de lado.
Primeiro porque não achavam que eu tinha aparência de uma... na maioria das vezes chutavam que eu era italiana (na França acharam que eu era inglesa rs).
Mas a maioria vê brasileiro como enganador (ou trabalhador quando vê pelo lado bom), brasileiro é visto como traiçoeiro. Esqueça país do futebol e mulheres lindas. Ninguém fala disso!

Uma espanhola me disse sobre o irmão que saiu com uma goiana (ihhh!): she is a bitch!
E ela explicava que por mais que eles (europeus) sejam desencanados, os brasileiros - e brasileiras no caso - acham que é só ir chegando e agarrando, beijando.
O que pra europeu é desrespeitoso.
Você tem que se apresentar, bater um papo pelo menos... não essa coisa de já sair agarrando.
(claro que eles vão pra cama com qualquer um, mas perguntam o nome rs)

Voltando...
O povo se gabava de ter passado por toda a fila.
Como bons brasileiros não paramos de reparar e rir - inclusive eu, porque aquele povo de cueca e calcinha sem canga era muuuito estranho... fora as meninas com o que chamei de maiô Brigite Bardot - depois vieram me dizer que isso era vintage... é, povo em Londres é estiloso, vai com o maiô da avó no parque e dá o nome de vintage... não que não seja estiloso, depois que você entende esse negócio de estilo londrino... acabei incorporando muito disso hoje, mas no começo é tudo meio estranho e engraçado.

A doce professorinha (aquela que só me dava patadas na escola e em todos) estava com seu marido (que também levava umas patadas dele que olha... deu dó...) que levou um amigo, que tinha uma namorada que trabalhava nas famosas vans e na cara dele, ela babava nos caras que achava interessante, quase indo lá falar com os caras (adivinha de onde ela é...), mas como eles eram malhadões não pareciam muito interessados em outra coisa que não se exibir, logo ela concluiu que eram brasileiros e gays...

Enquanto ele, o namorado, de outro canto falava que não existia mulher como a brasileira, não mesmo!
Tinha uma povo realmente parecendo brasileiro que estava entendendo toda aquela graça, mas não vieram até a nossa sombrinha se "confraternizar".

Como disse: até eu ria. Só ria porque nunca tinha passado o verão lá e visto gente de roupa de baixo tomando sol até ficarem pimentão - ingleses são loucos por sol que nem protetor passam e ficam lá se queimando até dar câncer de pele... tadinhos... nunca veem o sol e quando veem ficam assim, alucinados por ele...
Foi um domingo divertido que terminou numa churrascaria brasileira próxima, o povo tinha dito que ela fazia propaganda na Record internacional e se decepcionaram: ela parecia maior e melhor no comercial.
Eu que não conhecia e não comia tanta carne - isso queria dizer um pedacinho de cada - há tempos, passei mal... muito mal... pensei que não chegaria até a cobah...
Tem coisas que realmente você desacostuma, como feijão... imagina depois de meses sem comer como eu fiquei numa feijoada que fui... (e olha que não gosto de feijoada, mas a saudade de feijão era maior... e deu no que deu...).

Pensei que a partir desse passeio seria mais querida pelo pessoal da escola e convidada pra mais passeios... ledo engano...
Será que foi porque eu só ria e não comentava?
Será que ficaram com ciúmes de mim? (o que eu sempre duvido)
Será que eu sempre tenho um jeito mais reservado que dá a impressão de me achar mais que os outros?
Sim, eu penso isso: será que ser reservada por ter percebido que ninguém ligava para o que falava me tornou, aos olhos dos outros, uma pessoa que se achava mais?
Não pode ser... se fosse assim, por que eu iria querer fazer amizade com eles?

Eu só queria fazer amigos e me sentir menos só em Londres, só isso... me sentir um pouco fazendo parte de algo... quase uma coisa de adolescente... de ter uma identidade, talvez... mas pra mim era uma luta inglória...
Doía demais aquela solidão e eu não conseguia fazer amigos...