segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Mais acontecimentos, ainda na casa do GG

Durante os dois meses que morei na casa de GG e Pureza, além de morar com um rato, também passei por várias situações.

A primeira foi conhecer a neve, o primeiro dia que caiu neve aqui, dia 30 de novembro do ano passado, ainda me lembro, começou a nevar... estava na rua. Fiquei emocionada, ria como criança, deviam me achar uma boba no meio da rua, mas foi muito, muito legal!
Aquelas bolinhas que não eram gotas de chuvas e caiam forte, todos se protegiam, menos eu, eu queria sentir, ter certeza de que o que via era neve... incrível essa sensação... realmente voltei a ser criança naquele dia, de tão feliz.

Comecei a trabalhar numa escola para filhos de brasileiros, para que eles aprendam português e a cultura do Brasil, sou praticamente um voluntária, mas meus sábados mudaram e conheci pessoas diferentes que tenho amizade hoje.

Também comecei a trabalhar com faxina... infelizmente não  tinha como: meu dinheiro estava acabando, a semana a 85 libras de aluguel pra dividir com um rato e dormir com um carpete imundo que me dava uma alergia louca, não me davam alternativa: tinha que ver o primeiro trabalho que viesse e tinha que ver outro lugar pra morar.

Uma prima da minha mãe, contou para a minha tia que uma mulher que ela conhecia, que tinha uma perua em que vende ovos etc tinha uma filha que morava em Londres e ela alugava quartos.
Minha mãe achou que talvez esse fosse o caminho para eu mudar de casa.

Minha tia passou o contato da mulher e fui eu em Elephant & Castle (parte centro-sul de Londres, impregnada de brasileiros, latinos e caribenhos) é um lugar muito perto do centro. De ônibus você leva uns 15 minutos até o Big Ben, por exemplo.
Só que chegando lá, conforme as indicações da dona, fui achando o lugar extremamente horrível: me vi numa Cohab (desculpa você que mora na Cohab, mas aqui é pior) imunda, caindo aos pedaços, um lugar que não imaginava achar em Londres, pessoas com caras mal encaradas, rua principal entre as cohabs suja porque todos os dias tinha feira ali (aqui, a rua da feira, ou do market, é todo dia feira, menos segunda).
Ia andando e pensando: não pode ser nesse lugar! Prédios iguais, não pareciam velhos, mas muito mal cuidados. A mulher me disse pelo celular que me encontraria no caminho porque o elevador estava quebrado...
Eu pensei seriamente em voltar pra trás... mas não tinha dinheiro pra ficar de luxo e precisava pelos menos ver...
Encontrei a mulher, que nomeei de Marciana, em breve entenderão o porquê, uma mulher bem simpática e que me levou até o prédio certo que eu não acharia.
Entramos por outro prédio, pelo elevador do outro prédio.
Ela se gabava de morar tendo como vista a London Eye, se via quase todos os principais "heritages" de Londres dali: Big Ben, London Eye, Saint Paul...

Daí conheci a casa... cheia de mofos pelos cantos das paredes, meio escura, precisando seriamente de uma reforma e na qual teria que dividir com outra pessoa o quarto...
Até aquele momento, parecia até tranquilo, mas não queria, iria aguentar mais um pouco na casa do GG, o rato iria sumir...
Ela prometeu me ajudar, que logo eu arrumaria um emprego fixo, que ela tinha muitos contatos e dizia porque eu morava tão longe, ali era uma ótima localização!
Realmente, geograficamente, a localização é ótima, as moradias é que não prestam... por conta de seus donos e landlords... eles naõ cuidam como todos fazem: só querem dinheiro no bolso.

Para ir embora, ela me disse pra descer as escadas, que ficaria mais fácil...
Conforme descia as escadas, cinco andares, mal iluminadas e sujas... fui pensando que não queria morar ali de jeito nenhum! Encontrei até um absorvente feminino sujo na escada e sai como louca, corri nas escadas e só pensava: aqui eu não quero morar!!!

Marciana realmente me indicou empregos, falou porque eu não trabalhava nas vans (já contei aqui sobre elas, né?) e achei aquilo o fim da picada, mas ela me passou a indicação de uma mulher que precisava de ajuda apenas por alguns dias na limpeza de casas...

E lá fui eu acordar às 4:30 da manhã num domingo, o domingo em que o rapaz goiano levou peixe pra casa e ouvi aquela conversa que me pareceu muito estranha...
Teria que pegar o trem, era beeem longe onde encontraria a mulher para a limpeza... e teria que estar na estação certa às 7 da manhã.

Cheguei, a encontrei, ela e o marido, do sul do Brasil, me levaram até a primeira casa. Na verdade, não era a casa, só um escritório que ficava bem nos fundos do quintal. Um escritório que ficava cheio de folhas das árvores que caiam e só era limpado uma vez por ano...

Depois fomos limpar a casa de um senhor inglês viúvo e que tinha estado na 2a Guerra. Ele ficava na dele enquanto limpávamos e eu só pensava: cadê a família dele? é Domingo!
Daí ele foi no forno pôr um congelado pra ser o almoço dele... que vida triste, gente!
Só que no final eu entendi: quando íamos embora, ele dava bye-bye pra gente quase nos botando porta pra fora... educação britânica!

A moça me dizia que muita gente gostava de trabalhar com ela e o marido, porque as pessoas diziam que riam muito com eles.
Eu não ri nenhuma vez: só via ela dar altas cortadas nele e ele, quieto...
E ela ainda me dizia: já consegui casar, tá bom, ou seja: casei e pronto, ninguém pode falar o contrário, seja bom ou ruim.
Ele tinha cidadania italiana e ela ganhou de lambuja...

Nesse dia, voltei cedo pra casa, cansada, mas tudo bem...
O problema foram as casas que fiz durante a semana: 7 casas num dia...
E ela sempre me dizia:
Você fica com o banheiro.

E virei uma expert em limpar banheiro... morria de raiva, nem era raiva, era tristeza mesmo... tinha que me sujeitar porque as aulas eram poucos, o dinheiro acabava e o aluguel que eu queria manter era arrasador...

Cheguei em casa depois de sete casas e só quis deitar na cama.
Fiquei lá estirada, tentando descansar, não aguentava mais. Estava extremamente cansada, acabada, moída... e ainda tinha GG e Pureza no seu banho de espuma... e pra eu tomar banho?

Fiquei pensando enquanto estava derrotada na cama: se aquilo era vida, se isso seria só por aquele momento, que precisava fazer algo... pensar... pensar... sofrer... sofrer...

E nada mudou muito na minha vida, ainda comecei a fazer aulas de inglês, minha mãe mandou dinheiro pra que eu fizesse, e parti pras aulas particulares para ver se isso adiantaria meu aprendizado, fiz amizade com a professora e a mãe da professora que me ajudou em muitos momentos.

Tive que pedir dinheiro para o meu pai, para, pelo menos, ter um Natal digno: ir pra Portugal na casa das minhas tias, quando voltei de lá, voltei para morar na Cohab...não teve jeito, foi a única alternativa que me restou naquele momento.

domingo, 14 de agosto de 2011

1 ano em Londres

Dia 15 de agosto, amanhã, fará um ano que estou aqui em Londres e agora posso fazer um balanço melhor da vida na cidade.

Fiquei lembrando das discussões que lia nas comunidades, no orkut, de brasileiros em Londres. Uns odiavam Londres e não viam a hora de voltar, outros, amavam Londres e achavam babacas os outros que odiavam...
Nunca interferi nas discussões, afinal, eu não sabia exatamente o que me esperava e não sabia de que lado ficaria.

Na verdade, hoje, eu sei que não ficaria de nenhum dos lados, porque entendo ambos: adoro Londres, é uma cidade incrível para se viver DESDE QUE você tenha um bom emprego e um bom lugar para morar de forma confortável.

Muitas pessoas vêm para cá com um sonho de que tudo é perfeito, como eu, e se decepciona.
Sim, eu me decepcionei demais com a vida aqui, mas porque a vida não é fácil para uma brasileira que fala mal o inglês e que acabou perdidaça sem saber o que fazer direito... planejamento malfeito ou nem tanto... acho que  foi confiança nas pessoas que eu pensei que me ajudariam mais e acreditei que as coisas eram mais simples, como me diziam...

Então, como eu já disse aqui uma vez, que faria diferente muita coisa, não tem porque eu falar mal da cidade. A cidade tem sujeira, tem muita gente mal-educada, se paga mal - ainda mais com essa crise na Europa toda-, mas realmente, não posso culpá-la, me dei mal aqui, sim, estão todos cansados de saber, mas a verdade é que um conjunto de acontecimentos destruíram meu sonho.

Não sei se é a mesma coisa que acontece com as pessoas que odeiam essa cidade e querem ir embora correndo... mas muita gente vêm com uma ilusão diferente da minha: ganhar muito dinheiro e fácil. O que você não consegue em lugar nenhum, pelo menos de forma honesta.
Daí as pessoas reclamam da cidade, porque queriam poder mostrar logo pro povo no Brasil que está por cima da carne seca... e estão na verdade debaixo do quarter pound rs
Trabalham como eu: se sentindo escravizados, trabalhos duros, mal remunerados, sendo humilhados, vivendo mal, comendo mal e não aproveitando nada, fazendo contas para mandar dinheiro pro Brasil - o que não é meu caso, só vou levar dívidas pro Brasil, por escolha, escolhi não trabalhar como louca e aproveitar o que pudesse.

Os que amam, se apegaram demais à cidade, podem morar mal, podem trabalhar como condenados, mas amam as diferenças, amam o poder aquisitivo de andar com roupa de marca e ter um iphone ou um blackberry, amam se sentir livres, principalmente se não moram com um bando de brasileiros xeretas... o que acontece muito também.

Acredito que se as coisas tivessem acontecido de um jeito diferente na minha vida, eu moraria aqui de vez: a proximidade com o resto da Europa e poder viajar por ela, além ver os shows dos artistas que amo me prenderiam fácil aqui.

INFELIZMENTE as coisas que já contei por aqui e ainda irei contar - porque estou ainda em novembro pra dezembro do ano passado na trilha da história rs - só mostrarão o quanto foi difícil minha vida por aqui e uma coisa eu posso dizer: se soubesse de tudo isso, acho que viria do mesmo jeito, só pelos shows que acabei assistindo, os lugares que conheci e por toda a experiência de vida que, espero do fundo do coração, tenham me tornado uma pessoa melhor.

Porque, eu acredito, que nada do que vivi e ainda viverei são por acaso, acredito num plano maior que eu aceitei há muito tempo... numa galáxia distante (rs) e se eu não tinha cumprido no Brasil, tinha mesmo que quebrar a cara em Londres para aprender algumas coisas e, principalmente, ter certeza do que era viver em Londres e não passar o resto da vida me lamentando do tipo: ah, se eu tivesse ido pra Londres... aqui não é vida... Londres que é!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

imitando o classe média sofre

postando a conversa com a mala sem alça, reparem as datas...