sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Da depressão, do colchão e tudo mais...

Quando comecei a morar na casa da Marciana, foi tudo muito duro pra mim, principalmenter por ter que dividir quarto. Eu sempre direi isso: foi uma das experiências mais horríveis da minha vida. Tanto que hoje, penso muito em Londres, mas não troco meu quarto no Brasil pra dividir com nenhum fdp em terras londrinas.

Um quarto com três pessoas, um quarto não muito grande, mas cabia a cama da bruxa, a beliche, 3 pequeníssimos guarda-roupas (apenas duas portas sem nada, sem gavetas) uma cômoda caindo aos pedaços - as gavetas, se você mexia, desmontavam e o nosso maravilhoso varal que já contei que a Bruxa se sentia a dona.

Era um ambiente extremamente triste pra mim, que relutei até o dinheiro acabar para dividir quarto. A maior parte das minha coisas ficavam em sacolas, caixas de sapato dentro do guarda-roupa, em cima dele e, uma mala cheia de roupas debaixo da beliche - que consegui colocar com muito custo.
Minha vida estava enfiada dentro daquelas coisas, sem espaço, meu laptop, dentro da mochila. 
E um colchão, um colchão de faquir como cansei de falar, porque o que existia era um retângulo coberto por um pano cheio de molas dentro. Só se sentia as molas, se dormia mal, quando se dormia...

A bruxa preferiu ficar sem cama: colocou o colchão no chão e tinha um edredon a mais só para "acertar" o problema do colchão. Eu e a roommate da beliche não tínhamos outro jeito senão mudar de lado e ver se dava jeito, o que não adiantava muito. Eu dormia na parte de cima, cheguei por último... e foi o que tive...
Demorava até meses pra lavar minha roupa de cama por causa do trabalho de tirar a roupa de lá e, por conta também do problema de estender no varal e a Bruxa tirar, levava na lavanderia pra secar.
Na verdade, eu estava era muito deprimida pra dar bola pra lavar roupa. Usava uma mesma roupa por quase um mês. Sério! Tudo isso para não ter que usar o "varal da bruxa" e não me estressar e eu pensava: e daí? tá frio, ninguém repara, ninguém liga...

As molas realmente machucavam, no começo fiquei preocupada. Achava que era por causa do trabalho pesado de limpeza das casas que acordava com meus braços dormentes. Depois percebi que só poderia ser aquilo que chamavam de colchão...
Muitas vezes tinha que tentar dormir de um mesmo jeito sem me mover para que a mola não me machucasse, principalmente na costela e perto do estômago.
Fiquei realmente preocupada achando que estava com um problema muito grave de saúde (o que com certeza eu ganhei...) de acordar com aqueles braços sem movimento. Imagina você acordar e seu dedo mindinho parece não estar ali... não ter movimento, não sentí-lo!
Algumas vezes me desesperava de medo com isso.
Não tinha mais como chorar sozinha à noite. Se quisesse chorar era quando todos já tinham ido trabalhar, mas tendo certeza disso.
O banheiro era ainda pior que da outra casa, não tinha casais tomando banho, mas a banheira sempre entupia e duas vezes aconteceu comigo e Marciana me olhava como a culpada e não a velharia mal cuidada que aquele lugar era...
O microondas esquentava a caneca e não o que tinha nela. O elevador sempre cheio de xixi... uma vez era cheirando maconha, outra vez, até fralda suja (e você achava que não poderia ouvir que isso acontece em Londres, né? como eu já disse, morava na Cohab Elefante Castro onde o fim da linha da humanidade de qualquer canto do mundo morava).
A única coisa legal era numa das casas vizinhas que tinha um senhor que sempre passeava com a labradora dele, a Kia, já idosa e fofa e ele também um senhor simpático que falava comigo, um inglês.

No mais do tempo, principalmente enquanto só ajudava Marciana, ficava muito mal. 
Minha depressão deve ter estado num dos estados piores porque eu comecei a sofrer demais. A achar que ninguém realmente se importava comigo e cheguei, aqui, a fechar meu blog porque ninguém comentava. 
A carência era grande, a tristeza insuportável em alguns momentos, mas tentava me focar no que tinha ido fazer lá e por mais que me dissessem: volta pro Brasil e para com isso!
Eu dizia não.
Porque na minha cabeça voltar era o mesmo que dizer: só gastei dinheiro e piorei minha depressão. Tinha que ter algo além daquilo, tinha que tentar mais um pouco.
Fui teimosa e doente.
Sofri muuuito ali dentro.
E morando com a Marciana que sempre jogava uma indireta do tipo: quem quer trabalhar trabalha até virando a noite - percebam, eu não nunca deixei de pagar aluguel pra ela, mas ela se sentia no direito de julgar as pessoas. Sempre se achou a dona da razão, achava que eu tinha que trabalhar o dia todo e estudar quando desse, só que ele não conseguia entender que não tinha ido lá pra trabalhar como uma mula com ela!!!!
E ela me ajudava mais ainda, a Bruxa não deixava eu dormir e minha Roommate me convidava pra sair todo o final de semana, mas eu estava muito mal para achar que me divertiria de verdade. Até me divertia, mas...  a Roommate tinha toda a atenção sempre e eu fui me sentindo ainda pior! (isso deverá ser uma postagem)
Quando comecei então a trabalhar no Império do Fado e sofrer assédio moral por Darthvedrina aí que eu não via mais solução para nada...

Nesse período ainda, um ex-namorado meu começou a namorar e aí sim eu me senti um lixo, porque todo mundo que o conhecia o achava o maior loser da face da terra e quando ele arrumou uma namorada eu pensei: eu sou pior que o maior loser da face da terra! 
Então, imaginem que eu devia me sentir o pior ser vivente e que não queria viver nesse mundo.
Essa história do ex ainda deu mais problemas: a atual namorada me descobriu (ou ele deu toda a minha ficha pra ela) e ela apenas tirava o sarro da minha cara com os amigos via twitter. (tenho que contar melhor depois...)
E aí, nesse tempo ainda tiveram os casos da Italiana 1, 2 e da Botocada para me ajudarem ainda mais!

Agora, as imagens:
Minha mala debaixo da cama e meus sapatos
tampa do vaso sanitário
conseguem perceber como era a "cortina"?



teto do quarto



a tal cômoda e as coisas da bruxa
nossa maravilhosa veneziana
minha cama na parte debaixo, qdo a room foi embora
cantos da parede do quarto
meu guarda-roupa
cama da bruxa no chão






a bagunça da minha cama - já no chão




O que eu queria mesmo nessa postagem era pedir desculpa a todos os amigos que de algum modo eu tenha magoado de tão louca que fiquei nessa época.

Desculpem! Minha consciência pesa e sofro muito por ter magoado pessoas que tentavam me ajudar de alguma forma. Sinto muitíssimo e espero nunca mais agir da mesma forma.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

1 mês de volta ao Brasil

Amanhã, exatamente, fará um mês que estou de volta ao Brasil.

Calma! Ainda tenho muito o que contar, esse blog não acaba assim, falta muita coisa ainda... mas talvez o meu antigo blog volte a funcionar, tudo depende de o quanto eu consigo me virar em atualizar tanta coisa, mas por enquanto tenho o que contar de lá e da minha readaptação de cá.

O que mais tem sido difícil pra mim é a educação das pessoas.
Depois que você se acostuma às pessoas evitarem qualquer tipo de contato com você - não no quesito antissocial, mas sim no quesito, respeitar seu espaço. O inglês tem um jeito diferente de dizer que te respeita, e eles têm o maior respeito para não encostar em você e te aborrecer.
Para eles é simplesmente ruim esbarrar em alguém, mesmo que seja numa balada todos estejam bêbados, ele sempre dirá: sorry! I am so sorry!

O brasileiro não, parece que faz questão absoluta em te esbarrar e praticamente se esfregar em você pra mostra a presença dele.
Nem em ônibus cheio um inglês esbarra em você e se isso acontecer, ele falará sorry e ficará muito, muito sem graça.

Então, você começa a andar por aí e todo mundo quer passar literalmente por cima de você num frenesi (nem é o filme do tio Hitch) maluco para estar na frente, na frente na entrada do busão, na entrada do metrô (do trem eu nem falo) passar na sua frente na escada, passar na frente na rua...
Brasileiro parece ser um total obcecado para que fique sempre na frente, sempre levando vantagem em tudo, nem que seja na calçada atropelando a velhinha que vai de bengala.
E aí começa a te empurrar com o corpo, com a bolsa, com o que puder porque ele TEM que ficar na frente, mesmo que ele vá descer no ponto final, na última estação, ele quer ficar na sua frente, na porta, ele é o porteiro-mór.

A linguagem que as pessoas usam, pelo menos como eu moro em findomundópolis..., vocè só ouve imbecilidades, conversas totalmente baixas e muitos, muitos palavrões. O brasileiro não tem vergonha de expor sua vida pra qualquer um. É legal andar no trem e falar do cara que pegou, da mina que catou, da vizinha que quase você meteu a mão na cara.


As pessoas tomam conta do seu espaço e do outro em bancos, filas e tudo mais.


Segunda-feira, no trem, um cara estava com um altofalante e foi o caminho todo tocando a porcaria, quando desceu em Itaquera (Curintia!! aeee!) talvez alguém tenha avisado aos guardas do que o cara fazia, mas quando o cara desceu em Itaquera ele mostrou a língua por guarda!!!!!!!!!

Daí que educação não é só o problema, o problema é que quem tem que cumprir leis, não as cumpre, faz papel de idiota e, vai continuar sendo chamado de coxinha enquanto fizer vista grossa pra tudo. Nunca em Londres um cara sairia sem algum tipo de advertência, no minimo, por ter feito de bobo uma "autoridade". E olha que nem arma eles usam.
Mas existe algo lá que não existe aqui e é muito grave: respeito. E que se faça respeitar.

Não é proibido agora o celular no banco?
Fui na CEF e várias pessoas receberam ou fizeram chamadas na minha frente, na cara do guarda que fez, novamente, vista grossa.
Eu acredito que um dos bancos onde as pessoas devem ser mais assaltadas seja a CEF, por conta do FGTS etc, e deveria ser o local que mais essa lei deveria ser cumprida.

Lei não pega no Brasil porque não é cumprida e quem deveria garantir seu cumprimento finge que não tem nada com isso.

É medo?
Bem, a maioria dos funcionários públicos não parecem ter medo e deixam em todas as repartições que desacato a eles dá cadeia ou multa. Então, quando um segurança ou policial vão se mexer e fazer o mesmo e fazer valer o cumprimento de leis?

Vai dizer que vem de cima?
A lei veio de cima, agora é cumprir.

O transporte público é ruim e caro. As novas estações do metrô da linha amarela consigo enumerar o que tem de errado, como a plataforma pequena e com a escada rolante quase em cima do trilho, um mix de metrô de Paris e Londres, mas onde as plataformas são realmente espaçosas nas estações mais novas.
Mesmo assim, ainda achei boa a linha e ela até está tentando colocar o povo pra ficar na escada rolante do lado direito, se "pegar" vai ser ótimo!

Você começa a ver as condições de trabalho e vida das pessoas e percebe a diferença gritante.

Não soube da existência de uma "cracolândia" em Londres, mas sei que eles são muito coerentes e certinhos e não fariam essa coisa de jogar todo mundo na rua sem ter pra onde ir e continuarem a se drogar cidade a fora.
Por mais que não pareça pelos meus relatos, Londres acaba sendo muito mais humana nesse tipo de caso.
Londres não foi humana comigo porque vivi cercada sempre, infelizmente, de brasileiros que, como eu disse lá no começo, só querem levar vantagem em tudo e muita, muita falta de sorte (acho que não era pra eu viver mesmo lá, destino, talvez).

Os preços das coisas também me assustam e é engraçado lembrar que McDonalds aqui tem status classe média... enquanto lá é comido em larga escala por ser barato e considerado ruim, mas algo como um mal necessário. Os atendentes aqui tem um sorriso no rosto, os de lá, chegam até a serem sarcásticos e parecem te odiar por entrar na loja. Daí as lendas de que eles fazem de tudo com o seu prato antes de chegar em você e nem quero saber o que fizeram com o meu!

Claro que já estranhei o calor - o "frio" dos dias chuvosos que só andei de camiseta e minha mãe falando pra eu pôr uma blusa porque estava 20 graus (e isso era o máximo da felicidade pra um inglês) - não peguei um verão forte por lá, mas entendo perfeitamente porque o inglês gosta tanto do verão e até do horário de verão: eles mal conhecem dias quentes e no verão, quando tem sol até as 9 da noite é a alegria total! Afinal, agora, deve estar escuro às 4 da tarde por lá...

Fiquei pondo na balança tudo.
Por enquanto, o melhor pra mim é ficar aqui.
Porque é cômodo: tenho um quarto pra mim, tenho todas as minhas coisas por perto e o principal: tenho amigos de verdade e família do lado.
Não me sinto tão solitária como me sentia lá, mas aprendi muito com essa solidão, ela me ajudou a encarar as coisas de outra forma.
Talvez até de uma forma ruim, quem sabe?
Porque eu percebi que não preciso de ninguém e já não me importo muito.
Não, calma!
Com as pessoas que amo e sei que gostam de mim nada mudou. O que mudou é com o restante, já não me importo tanto se vão ou não gostar de mim, se falam isso ou aquilo: que se dane!
Parece que criei uma carapaça, fiquei mais dura pra enfrentar as coisas.
Até minha fluoxetina eu parei há meses e não estou tendo problemas de depressão... mesmo com minha volta que pensei que teria que tomar assim que comecei a ouvir os noticiários da TV...

A questão da segurança também mexeu comigo: no primeiro SPTV que assisti, virei pra minha mãe e falei: quero ir embora!
Nos primeiros dias, pensei que ia ter uma síndrome de pânico.
Saí para resolver coisas e escondi meu computador, máquina fotográfica, ipod e tudo mais de medo de ser roubada, coisa que não faria antes...
Mas você desacostuma a ouvir a todo momento falar de assaltos, sequestros, mortes e roubos...
E isso é muito estranho!
É muito estranho ter ônibus noturno e chegar em casa às 3 da manhã andando duas quadras a pé sozinha. E aqui ter medo de sair de dia pra ir na esquina.
Cheguei a reclamar com a minha mãe por terem falado pros vizinhos que eu estava em Londres, falei: vão fazer um sequestro relâmpago comigo, vão achar que ganhei dinheiro em Londres!

Mas agora passou, estou mais calma.
Meu medo agora é ser ainda mais intolerante com as coisas erradas do Brasil, afinal, eu descobri que SIM existe lugares em que as coisas são feitas de acordo com o que deve ser e existe um respeito mútuo...

Meu primeiro passo intolerante já estou pensando em dar: nunca mais votar e só pagar multa.
Acho que o noticiário fez  mais mal pra mim do que um monte de gente esbarrando em mim a todo momento... mas o tempo dirá o que vai ser...
E se for pra voltar pra Londres, eu já digo: só morando sozinha, não divido quarto nem casa com ninguém, muito menos se for brasileiro! Esses, eu pretendo ver beeeem longe se voltar pra lá.
Claro, tirando algumas raríssimas exceções, não mais que umas 3 ou 4 pessoas.

Dividir quarto foi a pior experiência que já tive na vida.
Até brinquei dizendo que nem com o Gerard Butler eu dividiria quarto.

Mas em breve saberão de mais traumas que minhas roommates me trouxeram...

Em resumo: só volto pra Londres se for pra ter vida, senão fico aqui que tem gente que ainda me atura rs
Ou quem sabe uma tentativa em Edimburgo, um dia, quem sabe?