segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

de volta à saga... ou A Hora e a Vez de Stewart Leetle - parte I - a dama do busão e o marido from Goiás...

Na casa nova, em Dalston, Hackney, me senti bem melhor, com um quarto (minúsculo) todo só pra mim, com tv paga, frigobar... comecei a sentir que assim, sim, era vida! Ninguém cuidando da minha vida e ninguém se importando comigo.

Claro, é complicado viver com pessoas que não dão a mínima pra você, nem pra ajudar a dar uma dica de emprego... mas, tudo bem, já estava aprendendo a saber que ninguém ajuda ninguém aqui e manda você se virar rápido.
Estava com algumas aulas de português para estrangeiro e na escola para filhos de brasileiros, não era grande coisa, mas era melhor que nada... só que o dinheiro ia embora... aluguel por semana: 85 pounds.

Moravam na casa um rapaz num quarto grande, um casal no outro quarto grande e os donos da casa, na parte debaixo da casa, num quarto grande também. Aqui é assim: sua casa é um quarto, sua vida é ali, cozinha, banheiro é tudo dividido.
Todos eram brasileiros, o rapaz sozinho de Sampa, o casal que alugava de Goiás (ihhh) e os donos de Minas.

Todo mundo me cumprimentou quando cheguei e disseram: se precisar de algo, pode bater aqui na minha porta... ahã... bate na porta e dá com ela na cara... não beeem na cara, mas quase...
Eu acho que se você não quer ajudar ninguém não se ofereça, NUNCA!
Porque fica extremamente chato depois eu ir perguntar se sabem de algo de emprego e falarem "ah, vou ver..." e nada... deixam pra lá e tal...

A goiana, ao se apresentar pra mim, errou o nome, achei estranho, mas não liguei, disse que a irmã morou  com ela e ela sempre acabava confundindo...
Depois comecei a entender, perguntei para ela sobre trabalho e ela disse que ia ver com o marido, no emprego dele. Depois perguntei pra ele e ele disse que ia ver e perguntei do trabalho da mulher - tipo, por que não podem me indicar no dela???? (fui ingênua) e ele disse que ela trabalhava num pub, mas que ia ver no trabalho dele...
Certo, a menina mal falava inglês, com português "tiririco" e trabalhava de garçonete? então eu poderia!
Daí comecei a perceber que ela trabalhava pouco pra alguém que trabalha em pub e sexta à noite, chegava em casa, dei de cara com ela na cozinha, às 9 da noite... que pub é esse?
Até o dia que ela escondeu de mim que ia sair super maquiada (eu a encontrava sempre na cozinha, estava numa fase cozinheira, querendo reverter a situação fast-food instalada desde a casa de Soudemorte), bem, não precisaria esconder de mim, quer sair maquiadéssima, sai! Mas ela escondeu com a touca de frio do casaco... não queria de jeito nenhum que eu visse e aí reparei que ela usava umas sapatilhas e saía com uma maletinha... daí comecei a entender... ou não... ou pensar errado, sei lá... mas estava muuuuito frio, tipo zero grau para usar uma sapatilha à noite...
E ela ia sempre pra academia, ela e o marido, só que em academias diferentes porque ela me disse que na do marido era mais de homens puxando ferro e preferia a outra com mais mulheres.
Ela me encontrava na cozinha e falava, falava, falava... escutava sempre, sempre, ela no celular no quarto dela (ela falava sem parar e super alto, acho que é mal de goiana, já percebi... falar alto e muito).
Ela é aquele tipo de pessoa que se vê frequentemente aqui (dos brasileiros) está aqui ilegalmente, gasta rios de dinheiro com roupas de marca para mandar pros parentes no Brasil só pra mostrar para cidadezinha do fim do mundo que está ganhando horrores (mas não diz que se mata aqui pra isso, sempre quer estar por cima, mostrar que é o rei/rainha de Londres, Elizabeth que se cuide com esses brasileiros ilegais! só para todo mundo os invejarem lá em tiririca da serra)...

Então, é aquela história, a pessoa está aqui e, ao invés da pessoa abrir a cabeça, expandir os horizontes, não conhece nada (porque nem passa na imigração), não aprende o inglês e não entende a cultura deles nem um tiquinho! Vive como se estivesse no Brasil e vendo a Record rs (que é só ter parabólica pra ver)...

Voltando, aí comecei a perceber que ela sempre, mesmo quando não estava tão frio, chegava ou saía com o capuz na cabeça... daí comecei a ligar o fato dela errar o próprio nome, a maquiagem e a maletinha... gastar dinheiro com academia em Londres? mas você não tá juntando pra comprar casa no Brasil?
Tudo ficou meio estranho... fora o fato de eu ter ido perguntar pra ela sobre uma mulher que ela conhecia que fazia barras nas calças (que ficou igual a cara dela, um c*) e ela estava com uma amiga que ia fazer depilação nela e ela ficou conversando comigo e tirando a roupa na boa... eu é que fiquei com vergonha rs

O marido dela era uma figura também estranha... um dia, acordei hipercedo porque ia trabalhar numa faxina, uma mulher que fazia com ajudantes ia me pagar para fazer no domingo. Acordei tipo 5 da manhã naquele dia, estava tomando café na cozinha e ele chega da rua com um outro cara com vários peixes e começam a cortar na pia - estavam limpos já.
Daí o cara fala pra ele:
"Pô cara! De graça! Vamos faturar!"
E o marido da dama diz: "Não fala isso, não, cara!" e faz um gesto para o amigo lembrar que eu estava ali.

Estranhei... e estranhei mais num outro domingo que eu ia sair e uns caras o chamam na porta (caras que não falavam português e muito dos mal encarados, cara de bandido mesmo, maloqueiro, como se diz em Sampa, meu!) e ele foi lá conversar com os caras, que pareciam querer entrar de qualquer jeito na casa e ele pedindo pra os caras se acalmarem... assustei... mas não era da minha conta, desde que não invadissem a casa e levassem o Ewan (meu laptop).

Ele trabalhava num restaurante durante o dia e durante à noite também, fazendo entregas de comida chinesa, ele tinha uma moto, como muitos "brazucas", era motoboy...

Outra coisa muito estranha era o fato de ela sempre falar do sobrinho (com nome do rei da Távola Redonda) e sempre mandar coisas pra ele, até aí, tia mimando, mas uma tatuagem no braço com o nome do menino? Só mãe pra fazer essa breguice, que eu saiba...

Via as coisas, mas nada disso me importava se isso não fosse mexer com a minha vida... ainda bem que não mexeu... e fico até feliz de ela não ter arrumado um emprego onde ela trabalhava... acho que eu não iria, não iria com certeza se fosse realmente o que estava pensando...

2 comentários:

  1. "Português tiririco" huahauh Adorei isso.

    Essa 'galerinha" deve aprontar "poucas e boas" por aí. Melhor ficar sem saber mesmo!

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