sábado, 28 de fevereiro de 2015

O povo da escola - parte 1 jerusaleme e a mineira louca

Trabalhei numa ONG-escola para brasileiros, era voluntária, mas ganhava um trocadinho que me ajudava, aos sábados.

O trabalho era bem interessante: ensinar português para filhos de brasileiros que praticamente não tinham contato com o português do Brasil - além dos pais e, muitas vezes, nem com os pais: explico!

O mais engraçado lá é que muitos pais brasileiros falavam em inglês com os filhos que os respondiam em inglês... tinha hora que parecia que todo o trabalho de duas horas num sábado tinha ido pro espaço: a criança nem saía da sala de aula e o pai/a mãe já estava ajudando a criança a esquecer o que veio fazer ali.
O coordenador é uma pessoa muito decente que mora há mais de 20 anos na Inglaterra - as duas filhas estudavam com a gente e a mulher dele, inglesa, falava o português.
Engraçado que os melhores brasileiros que conheci são os moram há mais de 20 - tirando Collorida, claro. Parece que foi uma geração que mais se ajudou do que puxou o tapete... aparentemente...

O projeto era bem interessante, apesar de além de perceber que muitos pais não levavam a sério (se levassem falariam em português com os filhos) também muitos iam pra lá pra bater papo.
Como era só por duas horas no sábado, muitos pais passavam a manhã toda só de papo.
Alguns por morarem lá e ter se casado com ingleses ainda se achavam muito - como sempre acontece...

Uma mãe irritante queria dizer o que deveria ser ensinado pra filha dela (como toda mãe analfabeta que arruma um trouxa com passaporte) e ela mal sabia realmente escrever, mas vinha com um: no meu tempo a criança aprendia assim...
Bem, no tempo dela na pqp que ela nasceu e aprendeu o "bêabá" se colocava criança pra joelhar no milho e isso eu duvido que ela ia querer, né?
Na verdade, o que irritava mesmo é que além da mulher mal saber escrever em português (e não espere em inglês) ela ainda se achava a pedagoga e não entendia que estávamos lecionando por 2 horas no sábado, não era o mesmo ritmo da escola normal no Brasil, muito menos na Inglaterra... (que é completamente diferente também)
Tudo ela tinha que vir falar: ah, vc tem que dar isso pra minha filha aprender!
A professora, que era aquela figura doce (já falei da resposta bem direta que me deu quando procurava um quarto), ficava de cara feia e tentava ter jogo de cintura, mas depois reclamava da mulher pra mim.

Numa festa da escola, eu dei uma patada na mulher. Meio que sem querer, mas saiu...
Primeiro ela quis que as crianças cantassem "atirei o pau no gato"... tudo bem... daí, quando terminaram, ela queria que cantassem a versão "politicamente correta" e uma outra assistente virou pra mim e disse:
você não vai cantar?
E eu, com a minha doçura: Não, essa letra é ridícula, mal feita! Se é pra não atirar o pau no gato, nem ensine a atirar, depois fazem essa versão forçada aí!
Eu e meu jeito meigo de dizer não à hipocrisia. 
Afinal, eu acho que ou você ensina ou não ensina atirei o pau no gato e não depois ensinar só pra criança cantar aquela versão ridícula de que o gatinho é nosso amigo... é CLARO QUE ELE É! Quem não é são as pragas de mães que comeram um monte de churrasco de gato antes de chegar em Londres... (e agora arrotam kebab de lamb rsrs - quero ver fazer a musiquinha "a ovelhinha-nha- é nossa amiga-ga)

Voltando, a mulher só me olhou com cara de c* - ia me obrigar a cantar a musiquinha?

Era legal trabalhar lá, mas o povo brasileiro eu tentei e muito fazer amizade... mas era incrível como não rolava... ou até quase rolou...
Nem foi a música do gato! Isso aconteceu quase quando estava indo embora... (ihhh e tem mais...)
Ia embora de trem com o povo, parei de perguntar se ninguém sabia de trabalho ou casa...
Mas percebia que toda vez que tentava conversar, entrar na conversa, minha fala ficava pra trás e alguém me cortava pra falar de outra coisa... notei isso várias vezes e decidi só ouvir.
Então, nem tinha como conhecerem meu lado marrenta... ou legal...
Me senti muito só e achava que só "participar" da conversa estaria tudo bem. Mesmo quando chegava na escola no sábado e todo mundo comentava das festas e passeios que foram juntos.
Sempre tinha uma outra professora que depois vinha falar: mas por que você não foi?
Era óbvio: eu não fui convidada, como iria?
Isso também acontecia com uma outra assistente que não morava em Putney (havia um grupinho que morava lá, pelo menos 3 professoras e 1 assistente).
Mas essa professora queria forçar uma proximidade pra dizer que todo mundo havia mesmo sido convidado. Cheguei a ir no aniversário dela - aí fui mesmo convidada - e depois no aniversário dessa assistente, mas muitas das coisas só vinham dizer depois:
nossa! por que você não foi? Sobrou tanto comida!

Uma vez me convidaram no verão - acho que em maio, um domingo beeem quente (27 graus rs). Primeiro iríamos para Brighton de trem. Acordei cedo, toda animada e quando liguei para essa assistente que vou chamar de Badooa (porque ela cada mês estava com um namorado novo do Badoo) que ela morava em Brixton, que é perto de Elephant & Castle, onde morava.

E ela me avisou que os planos haviam mudado (e ninguém nem pra me mandar uma mensagem) e iam pro parque de Hampstead Heath, norte de Londres. E que seria beeem mais tarde...
Daí Badooa me diz: vem aqui pra casa depois vamos juntas!
Tudo bem, ia voltar pra Cohab Elefante?
Vou lá pra casa da outra e de lá pegamos o bus...

Só que o que ela não me avisou é que ela estava acompanhada...
Sim, o namorado do momento estava no quarto que ela alugava. Isto quer dizer: e eu? onde fico se vc mora num quarto?
Fiquei no quarto da vizinha, amiga dela, uma doida brasileira que não falava coisa com coisa...
Badooa não poderia deixar o "jerusaleme" sozinho... (ela só sabia que ele era de lá e nem sabia como se diz pra quem é de lá... muito menos eu rs acabei de achar no google: jerosolimitano, hierosolimitano ou hierosolimita - sim, ela falava jerusalemE) e eu poderia ficar com a amigona dela!

Era uma senhora já, dizia que morava ali, mas alugava casaS por Londres (sei, e você mora num quarto em Brixton...), que trabalhou muito com um irmão nos restaurantes da região de Kensigton, que já tinha visto do Elton John até...todo mundo famoso... mas que começou a alugar casas e pretendia voltar para o Brasil e abrir um restaurante inglês em Minas, na cidade dos vidros, pra quem sabe onde é... já deu a dica de onde ela era...
Dizia que tinha um filho da idade da filha mais velha da Gretchen, falou horrores da Gretchen, mas se o filho tivesse nascido menina também teria posto o nome de Tammy... (o que você não tem que ouvir enquanto a outra descobria se o jerusalem era circuncidado ou não...).

Ela assistia à tv brasileira pelo pc, por um site que muitos brasileiros assistiam.
Naquele momento: dez da manhã em Londres e seis no Brasil passava a missa do Pe. Marcelo na Globo e ela falava bem e mal do padre... não era uma pessoa de confiança e que me enchia de tomar refrigerante...
Daí começou a falar bem do Edir Macedo e sempre que ele ia à Londres ele ia no culto dele.
Não entendi nada: via a missa do Pe. Marcelo, ia no culto do Macedo... não gosta da Gretchen, mas teria posto o mesmo nome se tivesse uma filha... só sandices...

Depois começou a falar do filho que deixou no Brasil, que tinha morado lá com ela, mas não quis ficar porque tinha namorada e a abandonou (a mãe) que ela já tinha netos e que o filho tinha que vir com os netos pra lá, sem a esposa (pelo jeito, se amavam ela e a nora), porque ele tinha que ajudá-la a juntar mais dinheiro pra voltarem pro Brasil pra abrir o tal restaurante inglês...

Peraí... mas ela não alugava casas? Não estava bem de vida?
Até disse que não queria voltar pro Brasil e depois queria...
whatever... louca ou mentirosa demais que nem se controlava em mentir em cima do que tinha dito...
E eu passei mais de duas horas ali... com vontade de ir embora...
Daí decidi que ia embora e ia sozinha pra Hampstead Heath, era só pegar o metrô até lá e ligar pra alguém pra encontrar os outros... o horário combinado no parque era meio-dia e já estava passando.
Fui e bati na porta da casa-quarto da outra.
Eu já estava com um bico enorme de raiva... ainda se tivesse passado o tempo conversando com alguém que falasse coisa com coisas... dava um desconto...
Ela me olhou com vergonha, afinal, é claro que esqueceu de mim descobrindo se o jerusalemE era mulçumano, judeu ou n.d.a.

O cara viu minha cara brava e quando me cumprimentou insistiu se estava tudo bem comigo. Eu disse que sim, mas com a insistência dele me olhando bravo (como deve tratar a mãe dele na terra dele) eu já fui falando: estou aqui há mais de duas horas a esperando, não é pra eu estar com essa cara?
E ele ficou queito.
Fomos andando, tivemos ainda que ir no mercado levar coisas pro piquenique.
Ela também convidou uma outra amiga que estava p*ta da vida nos esperando em Victoria Station, onde pegaríamos o outros ônibus (ainda tivemos que pegar ônibus), não quis pegar metrô depois de me deixar plantada com a mineira louca de pedra.

Hamstead Heath, um lugar lindo... no próximo post.