quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As últimas de London

Tive um desabafo enorme no twitter ontem, não quis apagar e fingir que nunca escrevi.
Tenho depressão e ela parece voltar agora... a vida não anda fácil aqui e eu me sinto esmagada pela cidade.
É como se o Big Ben caisse em cima de mim.

Eu sabia que não seria fácil minha vida aqui, mas não pensei que seria uma "patada" atrás da outra, que eu não tivesse mais vida...

Cinco meses aqui e o que ganhei foram quilos, só isso.

Estou gorda, acabada, cansada, deprimida, ansiosa, revoltada, sufocada e nem consigo chorar: não tenho mais privacidade pra isso.

Não tenho dinheiro para ir aos shows que gostaria e comprar os cds e dvds que queria, entre tantas coisas, pra mim, a vida tem sido muito irônica: eu amava a música daqui e nem ouço o rádio.
Agora eu não tenho mais tv, eu não tenho mais a privacidade para ficar até uma da manhã na internet conversando com meus amigos e família.
Minhas roupas estão todas em malas e todas as minhas coisas num minúsculo guarda-roupa, tudo amontoado.
Não cortei mais meu cabelo, não fiz mão ou pé. A última vez que fiz foi no Brasil, antes de viajar.
Precisava de uma limpeza de pele, minha pele tá só o bagaço... os produtos que trouxe pra limpar estão amontoados, até eu achar onde estão e tirar tudo do armário, eu já cansei... já perdi a vontade de qualquer coisa, fora que o tempo também, muitas vezes é o que eu menos tenho: tempo.

Trabalho, trabalho, trabalho.
Dinheiro?
Uma miséria por semana que vai pra cama que eu alugo por 50 libras por semana  também. Porque eu só alugo uma cama, com um colchão que é só mola, espuma não existe...
Ainda bem que meu irmão mandou pra mim meu rivotril, tomo e durmo direto, nem sinto a dor das molas no meu corpo e nem a dor das minhas mãos e costas inflamadas de tanto faxinar.

Minha amiga Fabiana me perguntou se tudo isso está valendo a pena e eu digo: não, não está, mas eu sou teimosa, eu ainda vou tentar aguentar mais um pouco... ainda vou tentar conseguir outro emprego pra ganhar mais e pelo menos viajar pela Europa e voltar pro Brasil.
Quero tirar ainda meu certificado de Cambridge aqui... eu disse que era questão de honra, sou teimosa e estou sendo, eu sei, orgulhosa.

Infelizmente eu sou mesmo, eu sei que vou chegar no Brasil e minhas tias vão continuar comparando eu e minhas primas, principalmente a que teve uma vida muito mais fácil nos States, sendo babysitter e não pagava aluguel nem comida, e ainda tinha curso pago.
Eu sei que todo mundo vai falar "mas a nossa queridinha ficou 8 meses nos States e sempre consegue bom emprego, ele é fluente! como você voltou do mesmo jeito?"

E outra: acho que não vale a pena ter sofrido tudo isso pra não ter um retorno quando voltar...

Estou cansada, triste e extremamente mal-humorada. Falei palavrão e mandei o povo se fuder no twitter, mas eu tenho meus ataques de raiva porque eu não aguento mais me sentir tão sozinha...

Tô de saco cheio de uma das roommates dormir às 9 da noite e eu ter que usar a internet na sala/quarto da Landlord. Tô cansada de ter que ligar pros meus pais do busão para poder conversar com privacidade - se é que há no busão com tanto brasileiro... mas pelo menos não me conhecem...
Tô cansada de não comer bem, de ter um mísero espaço na geladeira da mulher, cansada de estender minha roupa num varalzinho improvisado no quarto que logo vem a chata e sempre, SEMPRE, tem que lavar as roupas dela em seguida pra tirar as minhas...
Tô cansada da landlord me tratar como se fosse filha dela e querer saber e perguntar da minha vida - ela é gente boa, mas eu não devo satisfação...

Simplesmente, eu estou cansada de não viver.

3 comentários:

  1. Concordo com vc.Sofrer tanto sem trazer nada além dessa experiência de morar em outro país não faz sentido. Imagino que você se sentiria muito mal por isso, voltar e não ter conseguido aproveitar a oportunidade para aprender e conhecer ao menos um pouco do que desejavas.
    Apesar de estar passando por esses momentos complicados use sua teimosia a seu favor.Tente mesmo conseguir seu certificado e não desista de procurar um emprego melhor.
    E deixa quem quiser encher o saco falando sozinho. Se for pra comparar, certamente, tudo isso que vc está passando tem muito mais valor que o "queridinha" passou.

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  2. Como disse a Jac (eu acho que é ela. rs) aí em cima, um ponto importante é você não trazer pro seu cercado problemas que não são seus. Em suma, não ficar se importando com o que os outros dizem sobre você e de como você deveria agir. Não sei como é o esquema aí, mas se você tem um espaço, uma sala, cozinha, um lugar pra você usar o computador, ninguém tem que ficar te amolando. É pra isso que se paga aquela bolada que te cobram por mês, se foi esse o contrato, é direito seu, e ponto. Negócio jurídico é negócio jurídico aqui, em Londres, na China e na Mongólia. Diga isso pra "Landlord" e vamos ver o que ela vai responder.

    Insisto pra você focar na questão que envolve o seu juízo pessoal, Rê. Posso parecer chato analisando e batendo na mesma tecla assim, mas o problema não são exatamente os outros, mas o modo como você mesma "cozinha" as percepções alheias e introjeta em si mesma. Sei que nesse nível a coisa é extremamente complexa, mas é importante, eu diria fundamental, você encarar esse "nó existencial".

    Isso que eu comento aqui não era pra estar num comentário de blog, mas já que a comunicação por outros meios anda difícil..

    Think about it. :)

    Com os meus melhores desejos de sucesso, go ahead!

    Bjo.

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  3. Re, depois das superpalavras do Alê, nem tenho muito o que comentar. Eu a considero uma pessoa muito corajosa e - sim! - forte. Use suas qualidades a seu favor; se acha melhor ficar na sua e não se abrir com as pessoas daí, faça isso. Afinal, eles te apoiaram? Pagaram suas despesas? Te indicaram pessoas ou emprego? Então, foca-se nos seus desejos e tente encontrar o conforto (de confortar-se) em si mesma. Sempre torço por vc! ;)

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