quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A vida de imigrante desempregada

Resolvi sair para procurar emprego depois que arrumei meu currículo, andei por todo o comércio principal de Richomnd distribuindo meu c.v.
Em alguns lugares aceitavam numa boa, em outros já diziam “sem falar bem inglês não aceitamos” e fazia cara fechada, aceitei tudo isso pacientemente e com uma cara de tudo bem, obrigada mesmo assim... eu estou dizendo, serei canonizada. Mostrava um sorriso simpática, sim. Sempre pensava, bem, ele/a não sabem o que eu passo... espero que nunca saibam...
Tinha que sair todo dia da casa do mal então, todo dia inventava onde ir pra levar curriculo, ver emprego, andar pela cidade...
Fui chamada para uma entrevista num Starbucks, aqui tem um em cada esquina, acho que tem mais Starbucks do que McDonalds aqui. E estava marcado para as 11:30, cheguei 11:25 e a menina me disse, a fulana já vem, ela estava te esperando e você está atrasada e eu: mas não são 11:30 e a menina: é, mas pra fulana, é atraso. Imaginei que se trata-se de uma inglesa do exército, e depois de esperar a fulana foi entrevistar outra mulher, porque eu me atrasei, e vi a figura de sotaque e cara latinos que tinha um inglês ruim. Entrevistou-me, como ela tinha um sotaque fácil de entender, latino, não foi difícil falar com ela. Mas nunca me chamaram, acho que é porque eu cheguei 5 minutos antes do horário...
Fui ver um emprego de garçonete num café pequeno, vi o anúncio numa loja – existem lojas que colocam todos os anúncios que você quiser no vidro dela e aí para todo mundo pra ver e anotar. Liguei para a mulher e fui lá, a dona uma polonesa, Ana, (a colônia polonesa é enorme aqui), disse que precisaria de alguém com experiência, mas iria ver como eu me sairia...
Aviso: garçonete é barra, fazer café de milhões de jeitos, chá de outros, pão do jeito queo freguês quer, levar pedidos, anotar pedidos, receber o dinheiro, limpar mesas... trabalhão... fiquei horas sem me sentar ali... me esforçando o máximo, mas a dona e a outra menina que trabalhava com ela, a Mirka (nasceu na Eslováquia e foi criada na República Tcheca e eu já brilhei meus olhinhos pensando em Praga e ela me disse que Praga era umas das cidades preferidas dela...) me empurravam, no bom sentido, tentando fazer com que eu fosse mais ágil em pouco tempo, mas isso não dá para alguém que só ajudou a servir pinga e torresmo no bar do meu pai quando criança e nunca mais trabalhou com isso. E outra coisa, eu tinha muito medo de atender as pessoas, por não  entender bem e não ser entendida... esse foi um medo que está passando agora... mas que é muito, muito difícil tirar, pelo menos pra mim que sou perfeccionista e tímida.
Elas falavam com o sotaque delas e eu entendia bem, Mirka tinha um inglês muito bom, 5 anos de Londres, namorado sul-africano descendente de portugueses. Mas teve uma coisa engraçada: o cara pediu 3 torrões de açúcar e elas, no sotaque delas, diziam “free sugar” pra mim, o cara não queria açúcar e elas falando “free!!!” rssrs era Three o que elas falavam, ainda disseram para mim: one, two, free rs daí entendi que para elas não era livre e sim três rs
Foram bacanas comigo, mas Ana procurava alguém com experiência e me dispensou, mas pagou pelas horas que passei lá. Daí conheci uma amiga dela, brasileira, que me ofereceu para ser babá dos filhos, só que ela iria me pagar 20 libras por semana (claro que teria casa e comida), mas era muito pouco e ela nem tinha falado com o marido (iraniano) , que depois soube que não ia querer de jeito nenhum.
Sai de lá achando que não sirvo pra garçonete e balconista... Ainda tentei outro Starbucks que me chamou, em Richmond  tem um de cada lado da rua... E eu percebi que a menina me entrevistava sem nenhum pouco de paciência... sem vontade... até que ela parou de anotar no formulário padrão, igual da outra, e me disse que precisava de gente com experiência.
A primeira pergunta de todos é se estou legal pra trabalhar aqui, ou qual é meu passaporte, quando sabem, se tranquilizam, mas não tinha o insurance number.
Achei um site de uma rede de casas noturnas dos principais shows e entrei numa de “assista os shows de graça distribuindo flyers na porta do show”, nunca fui fazer isso... ainda queria que eu pagasse 10 libras pra entrar no clubinho... que clubinho? Ingresso só se sobrasse... imagina se sobra pro show que você quer... mas consegui um contato para distribuir flyers e receber por isso.
E lá fui eu distribuir flyers numa feira de faculdade. Consegui distribuir bastante. Fiz o seguinte: para os rapazes eu dava me sorriso irresistível (ohohoh) e eles pegavam o papel. Para as meninas eu fui com a unha pintada com o Show da Risqué. Elas pegavam o papel para olhar melhor a cor da unha rs Foi divertido, pensei que ia conseguir mais, mas infelizmente não rolou... Depois de 10 libras no café da Ana, ganhei 30 libras em 3 horas dando papelziho de propaganda de um pub. Meus primeiros trocados em Londres.
Cadastrei-me em sites famosos daqui de emprego e outro que é famoso pra tudo, ando recebendo proposta golpista, mas isso eu já estou acostumada desde o Brasil e não caio nelas...
Muita gente quer um escravo, tipo quando você procura vaga pra baby sitter, todas querem que seja full-time, ninguém admite que você estude, você dorme, come na casa e tem que cuidar das crianças, da casa e em algumas do cachorro e do gato também, ganhar uma miséria por semana e mal ter folga. Pode até ser um dinheiro bom, mas um dinheiro que você não tem onde gastar – principalmente onde eu quero: estudando. Você se limita.
Fui em outra entrevista no Starbucks, e a menina parecia muito sem paciência comigo, aí me disse que queria alguém com experiência, não ia poder treinar ninguém naquele momento porque era uma época que ia aumentar o movimento, até janeiro... Ela deveria ter me perguntado, com o sotaque horrível dela quando me ligou se eu tinha experiência ou não, e não ficar preenchendo o formulário cheio de perguntas do Starbucks com má vontade...
Ando fazendo faxinas, me mandaram o  telefone de uma brasileira que precisava de ajuda e ando a ajudando, e ela me ajudando... Hoje aplaudo todas as faxineiras, diaristas: que trabalho punk! Acaba com a coluna, com as mãos e tudo mais... cansativo até. E olha que faxina é coisa muito maluca aqui, cheguei a ajudar a limpar 5 casas num dia, das 8 da manhã às 4 da tarde.  As faxinas aqui dão uma postagem única... é muita coisa pra comentar.
Consegui um trabalho de professora assistente, aos sábados, numa ong para filhos de brasileiros aprederem o português, é pouco pra mim, mas vale a experiência. Também tenho aulas particulares de português que são outra grande experiência principalmente tem me feito aprender o inglês e ver que havia aprendido muita palavra errada, em inglês, no Brasil.
Depois fiquei muito p da vida semana passada onde foi fazer um teste, numa escola particular católica, para ser assistente no horário do intervalo, ajudar as meninas pequenas com o lanche, ficar vendo o que acontece no intervalo... e apareceu a dona Cucaracha pra me encher...
Dona Cucaracha deve ser mesmo cucaracha ou desses lados rs Sotaque forte espânico, sobrenome Félix e eu nunca fui feliz perto dela...
A Cucaracha trabalha no lugar há 3 anos, segundo me disse, e se acha a chefe das demais mulheres que auxiliam as crianças. Todo mundo trabalha com a mesma coisa, o mesmo tempo – apenas o intervalo e mais nada, mas ela se acha melhor, mandona. E como eu disse no post abaixo, veio dizer que eu preciso ser expansiva (falou do jeito dela, num inglês mal, no qual eu acho que não se refere a pessoas como expansivas, só no espanhol mal falado dela do fim do mundo). Fique realmente revoltada porque ou a mulher tinha alguém indicada para o cargo  e que faria teste num outro dia da semana ou ela temeu que eu, como professora formada, viesse a crescer lá, diferente dela. Seja qual for a razão, a Cucaracha ainda caminha, infelizmente ninguém jogou um detefon... e se ela for igual a barata do Níquel Nausea, vai adorar detefon rs
Ela mal viu meu trabalho, não gostou que fui legal com as meninas, é uma escola só de meninas até 12 ou 11 anos. Tirou-me de perto de uma menininha porque disse que a menina era “big trouble”, mas eu só via uma menininha, de uns 6 anos, carente... bem, eu já trabalhei com alunos, não sou burra... não sou idiota, só acho que elas tratam de forma sem paciência as crianças e eu procurei ser atensiosa com elas.  Eu acho que meu estudo todos esses anos não foram à toa... acho que sei bem o que faço e como devo tratar crianças. E crianças não se tratam como o ditador da terra da Cucaracha trata/va seu povo, se é assim que ela gosta, ficasse lá... ela deveria se tocar... mas já tá meio velha pra isso...agora já era...
As tiazonas até tocavam um sininho pras meninas falarem mais baixo, achavam ruim! Fiquei pensando: vão no Brasil ver intervalo do fundamental dois com umas 800 crianças ao mesmo tempo... aí elas saberão o que é barulho e algazarra. Não uma refeitório com no máximo 60 meninas.
Em janeiro começo a fazer cleaner numa casa para uma italiana que tem um casal de gêmeos, vou poder treinar as duas línguas, acho que será legal. Irei buscar as crianças na escola e ficar com elas só uma vez por semana enquanto a mãe não chega do curso que faz.
Também me inscrevi numa agência para fazer limpeza em escritórios – trabalharei de manhãzinha limpando ou repondo material e à noitinha limpando tudo. Vamos ver se me chamam.
E essa é a minha luta no momento...  algumas boas pessoas me ajudando e passando informações (como a escola da cucaracha foi uma indicação, a italiana e a agência de limpeza também) para mim e ando muito preocupada em não ficar sem dinheiro...
Vou mudar mais uma vez nesse domingo, tenho que economizar dinheiro e dividirei um quarto com outras duas brasileiras, pelo menos me indicaram trabalho, são pessoas boas e que se preocupam com o outro diferente da maior parte dos brasileiros aqui ou qualquer outra nacionalidade. Novas histórias em breve e ainda há história da mansão do mal pra serem contadas rs

4 comentários:

  1. Caramba, não quero ir mais pra Inglaterra. rs

    Boa sorte aí, Rê, espero que se ajeite logo.

    Beijos

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  2. Apesar dos pesares ainda existem pessoas legais no mundo.
    A vida aí é dureza, mas aos poucos as coisas vão se ajeitando.
    "Everything's not lost" como diria Chris Martin.
    Bjos!

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  3. Oi, Regina!

    Você é bastante corajosa mesmo, estou impressionada. Parece que as coisas estão melhorando e fico feliz por isso.
    Estou escrevendo aqui de Adamantina, acabei de receber sua mensagem no meu celular, foi a Giulia que me avisou. Obrigada por se lembrar de mim. Um grande abraço e que o ano que vem seja bem melhor para você.
    Beijos!!!

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