quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Pessimismo

Quase quatro meses aqui e pelo post abaixo já viram que eu ando de novo sem muitas perspectivas por essas bandas.

Como eu disse, ontem foi niver da minha mãe e fiquei muito triste de estar aqui, mais do que no dia do casamento do meu irmão que vi as fotos e fiquei triste também de não estar...
As coisas vão se juntando, ele me manda as fotos, minha mãe faz aniversário, meu pai, finalmente me entende e me dá apoio...
E aí eu já estou me sentindo sozinha, com saudade dos finais de semana que saía com meus amigos e aqui eu não faço nada, trabalho de sábado, na verdade, e às vezes no domingo dando aula ou faxinando.
Outro dia fui a um restaurante, sexta à noite, estava voltando pra casa de dar aulas e resolvi que não ia esquentar comida, mesmo tendo comida em casa, desci na estação de Highbury & Islington e decidi comer, estava com vontade, vejam vocês, de um prato de Fish and Chips - eu que praticamente não comia peixe no Brasil.
Como eu já contei, sempre tem a opção "take away" e eu prefiro sempre comer no lugar. Sentei-me e esperei o atendimento, o lugar está quase cheio e a única pessoa que ia comer sozinha era eu. Quase pensei em ir embora, mas me lembrei que os ingleses não dão a mínima pras outras pessoas, então, ninguém ia ficar me olhando e apontando "olha, vai comer sozinha!" e relaxei, no Brasil, teria saido correndo do lugar.

Fiquei lá olhando, todo mundo com companhia e me lembrando de que eu tinha amigos para sair e comer, conversar, me divertir no Brasil. Aqui, não. Aqui não tenho ninguém. Estou sempre sozinha e não é que eu não queira fazer amizade com as pessoas com a idade próxima a minha, sim, eu quero, mas parece que ninguém se importa em fazer amizade comigo, me convidar pra algo. Principalmente porque a maioria das pessoas que conheço são casadas, então, acabou...
No dia que estava no restaurante comendo mandei pro meu twitter a frase "I need a female friend to go out in London" ou coisa assim... porque eu queria sair, me divertir e assim, sozinha, anda muito difícil. E como me animar assim?

Daí fico nessa busca por emprego, uma canseira atrás da outra e eu pensando que tinha conseguido um, a mulher me diz que é só um "trial" comigo... tudo bem até aí, desanimei, mas tudo bem. O problema maior que foi a gotinha que faltava pra encher o balde e eu querer chutar foi uma mulher que trabalha no lugar me dizer na hora que estou indo embora.
Ela disse que eu preciso ser mais expansiva, que preciso falar mais o inglês e blábláblá...
E aí percebi que essa mulher poderá ser quem escolherá a pessoa pra trabalhar no lugar. Se ela já me disse isso, é porque colocou defeito, se colocou defeito, não vai ajudar a me escolher pro emprego. Sério! Eu já estou mais do que diplomada nisso! Nem tenho chance... ela já veio falar isso pra mim pra dar desculpinha... já sei...  daí me deprimi de vez...

Eu só permaneci no lugar por volta de duas horas, uma escola em que eu ficaria auxiliando as crianças no intervalo. Não conhecia as pessoas de lá... fico na minha, é normal, eu não conheço, converso, peço ajuda daquilo que não sei, tento me enturmar, mas é aos poucos, não foi me "expandir" do nada. Conversei com as mulheres que trabalham lá, pouco, porque estava ainda vendo tudo como novo... me adaptando... me familiarizando. Quando as crianças chegaram ajudei as que me pediram ajuda. Elas me perguntavam meu nome e eu respondia, tentava brincar um pouco com elas mostrando que meu nome e sobrenome eram difíceis para elas. Estava gostando de ficar ali.
Essa mulher que me falou as coisas foi a que menos ficou comigo no trabalho porque depois ela foi com as outras crianças para o pátio e eu e outra ficamos com as que ainda não tinham terminado o lanche e as outras turmas que chegavam para o lanche - limpando e arrumando o lugar do intervalo.
Então, assim, o que essa mulher sabe de mim para falar as coisas? Eu já sei que se depender dela eu estou fora, só pelo comentário que ela fez, não sou boba, já estou acostumada, mas acho injusto, MUITO injusto esse tipo de julgamento.
Eu luto todos os dias para melhorar meu inglês, para falar e ser entendida, tentei conversar um bom tanto com essa mulher (que também tem sotaque e não é inglesa, imagina Mrs. Félix onde é inglesa?), tentei me explicar, ajudar no trabalho o mais que pude e ainda levo cacetada, porque pra mim é porrada, sim!
Eu estou farta das pessoas me tacharem, estou "por aqui" de me dizerem que eu tenho que fazer isso ou aquilo. Eu tento e só me frustro a cada negativa que recebo...
Estou cansada de me frustrar, acho que é melhor ser faxineira mesmo, estou na base e ninguém me enche o saco e se encher vai dizer "ah, coitada, é só uma cleaner, mesmo"...

Estão me fazendo eu me colocar num lugar muito abaixo do que eu sou, mas eu não aguento mais toda essa pressão e estar sempre sozinha. Eu não aguento mais ouvir "conselhos" de quem não me conhece, mas que deveria entender o meu lado, porque, com certeza, já passou pelo mesmo.
Eu não aguento mais tanta intrasigência de quem não é nada e, na maioria dos casos, menos que eu.
Eu não aguento me esforçar e não ter nunca reconhecimento seja onde eu estiver, aqui ou no Brasil.
Estou farta de não ser nada.
Estava farta de ser a "professora do c@ralh*" como xingou um aluno e estou cansada de ser "saco, mais uma imigrante que não sabe falar direito a nossa língua".

Você não sabem como é frustrante estudar anos de inglês no Brasil e descobrir que só se jogou dinheiro fora - tirando a gramática - que toda sua pronúncia é um lixo, que você não entende p*rra nenhuma que um inglês fala porque você só ouvia aquelas fitinhas e cds malditos que pronunciam ou em inglês americano e lentamente... falando tudo de-va-gar-zi-nho...
Ou pior, ter professores com sotaque americano na Cultura Inglesa ou sem sotaque nenhum, puro sotaque brasileiro e ainda: aprender em todos os lugares que passei - e confirmei isso com uma prima que estudou em outro lugar e ela também aprendeu assim - que "pupil" se pronuncia "pâpil" e chegar aqui e ninguém te entender porque se pronuncia "piulpol" quase como "people"...
Entre outras palavras, mas essa foi assim, o ápice do meu ódio com os cursos que fiz no Brasil.

Junte tudo isso, todo inglês aprendido errado e mal ensinado, saudade da família e dos amigos, estar sozinha e muito solitária e ponha uma grande pitada de veneno, sim, pra mim foi como veneno o que a mulher me disse, e me diz no que que dá...

Dá no  que estou sentido agora...
Frustração, depressão, carência, ódio, raiva, melancolia.

3 comentários:

  1. Eu fiquei só 5 semanas fora e me senti sozinha várias vezes, mas tentava tirar algo de bom disso. Sei que morar, como é o seu caso, é algo completamente diferente. Talvez se tivesse optado por esses cursos de inglês para estrangeiros, como eu fiz, tivesse conhecido várias pessoas. Você une o útil (aulas de inglês) ao agradável (conhece muitas pessoas). Se precisar, me mande e-mail. Eu realmente gostaria de estar aí para ajudar a levantar seu ânimo ;)

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  2. Olha, provavelmente o Canadá não é igual a Inglaterra, mas aqui, qndo eu consegui emprego, logo no primeiro dia já falaram um monte de defeitos que eu mostrei no trabalho ("vc nao é feliz suficiente", "vc nao tá interagindo com as crianças" etc)... e eu tô lá até hoje. Aqui o pessoal é bem mais seco...
    Ma não desiste do trabalho não... volta lá como se nada tivesse acontecido e tenta mostrar pra mulher que ela tá errada. Nesse trabalho com certeza vc vai poder interagir mais com as pessoas, falar mais inglês, do que como cleaner... e vc vai ter seus domingos de volta.

    Bjos e boa sorte!

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  3. Oi Rê, como comentei contigo algumas vezes, uma mudança dessa nunca é simples e fácil. Procura montar um esquema pra se planejar, focar em determinados interesses. E sei que nem é um pouco tranquilo isso, mas tentar "conversar consigo mesma" e entender em que ponto você se acha "travada". Esse "ponto-limite" vai ser a chave da questão pra melhorar a situação. Assim como você pode ter dificuldade em superar isso, só o fato de você identificá-lo com clareza e mentalizar que pode transpor, pode resultar em você descobrir que a coisa nem era tão complicada assim. Nem falo da questão do idioma, falo de algo mais existencial mesmo. Guardadas as devidas proporções, passei por algo semelhante em SP, apesar da proximidade, meio que dei uma "isolada" da minha família e acho que foi fundamental pra eu aprender a lidar (sozinho) comigo mesmo. Pode parecer algo besta, mas normalmente as pessoas não tem com clareza o quanto nós brigamos com nós mesmos nas mais variadas situações, intensidades, e propósitos. Aproveita pra trabalhar isso, é uma belíssima oportunidade. E não esqueça de toda a "bagagem" que você já acumulou com a simples vivência "na raça" dos ares londrinos.

    Torço por você daqui e espero que dê tudo certo. Busque o "the best of" da Regina que ainda está escondido aí.

    ;)

    Bjo.

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