quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O Império do Fado - parte 3: A guerra não muito fria...

Acabaram as pequenas férias e acabaram as alegrias.
No dia que voltei, como disse na postagem anterior, já tive que limpar o quarto que a belezura do Centro-Oeste não limpou e nem se dignaria a limpar a parte dela, pelo menos.
Mas o pior era voltar pro Império comandado por Darth Vedrina eu sua portugatrooper.

Sabe deprê depois das férias?
Sim, eu tive. Porque tive que voltar pras coisas ruins: casa da Marciana, Império do Fado... não voltei para uma casa aconchegante só minha e nem para um emprego razoável. Voltei para o terror, ou, o horror! como diria Marlon Brandon...

Fui trabalhar mais deprimida do que de costume. Infeliz, infeliz, infeliz... pensando no que poderia ser e não era, até pensando em ter ficado no Brasil com meu ex que já namorava outra, aquele doce de leite que já publiquei o quanto ela ria da minha cara...

Fui infeliz trabalhar e com Darth Vedrina no meu pé, mas o pior não foi isso... foi ainda não ter me tocado que participava de uma guerra fria que não era muito fria.
De um lado a russa e as ucranianas e lituanas, de outro, as portuguesas e, no meio do fogo cruzado, eu. 
Demorei a perceber o quanto se odiavam, eu não tinha tempo pra isso, sempre trabalhando como uma condenada para não perder meu pouco sustento. Até que chego para me trocar e uma das lituanas bate a porta na minha cara, uma senhora batida na minha cara e quase choro do lado de fora pensando "o que fiz para merecer tanto ódio? por que não tenho um pouco de paz?". Na verdade, comecei a chorar e disfarcei. Daí escuto uma conversa entre elas e abrem a porta, pego minhas coisas e me mando dali, sem falar nada...
Voltei infeliz pra "casa"... e nem podia chorar na cama que é lugar quente: Bruxa estava no telefone com a filha que queria mais alguma coisa que ela mandasse senão ficaria de mal...

Eu nunca tinha reparado que os cantos onde nos trocávamos eram dois e não divididos por homens e mulheres e sim por portugueses de um lado e leste europeu (e brasileira) de outro. Achava melhor me trocar no lugar delas, o outro tinha os homens e os hoovers, não me sentia fazendo parte dali.
Havia um angolana que se arrumava do lado português também e eu não reparava nisso. Achava que ali era o lado das mulheres, porque tinham mais mulheres mesmo e não percebia a o muro de Berlim ali, entre os dois trocadores ou que nome tem aquilo...
Na verdade, eu mal me trocava... ia já com a roupa de trabalho (uma calça enorme do tipo esportiva e alguma camiseta mais velha) só colocava meu avental e deixava minha bolsa lá - que depois aprendi a não deixar com dinheiro, fui roubada duas vezes, não sei se pelo leste europeu ou pelos portugueses que tinham todo acesso quando subíamos para limpar os andares... poderia até ser Darth Vedrina... ela ficava a maior parte do tempo lá sentada, não tinha o que fazer, a única a olhar se trabalhava direito era eu...

Percebi muito depois a divisão e principalmente entendi tudo quando uma das lituanas me perguntou se eu era portuguesa e eu disse que não, que era brasileira. E ela me disse: mas você fala a mesma língua que eles! E eu respondi que sim, porque o Brasil foi colonizado pelos portugueses, por isso sabia a língua delas. A partir daí, elas me trataram bem porque eu só sabia falar português, mas não era tão do mal. E como ucranianas e lituanas tiveram no tempo da União Soviética que aprender na escola o russo e por isso conversavam com a russa, que era uma mulher bonita e simpática e nunca deixava barato o que os portugueses aprontavam (já contei aqui). Afinal, ela tinha anos ali e um dia a encontrei num ponto de ônibus perto de St. John's Wood Station, ela trabalhava de manhã num hospital dali. Até falei para ela se precisassem de alguém... mas como sempre não estavam contratando...

Uma das portuguesas, a de cara mais amarrada que já devo ter comentado na outra postagem, que nem quando ria a carranca se desfazia, começou a implicar com um lituana (ou albanesa? não lembro) que tinha acabado de chegar, as duas não falavam inglês e nem a língua uma da outra, mas se provocavam a todo momento. Não sei de onde tiraram aquilo, mas sei que foi ódio à primeira vista.

E viva-se assim no Império até as coisas ficarem piores (ah, pensa que tudo é flores, é? claro que teve mais... sempre tem mais pra mim...). A empresa que fazia o serviço de limpeza perdeu a boquinha - parece que era toda de portugueses já e andaram roubando materiais grandes de escritório... foi a conversa que ouvi e não sei se verdadeira - e uma nova empresa foi contratada, só que os empregados seriam os mesmos com uma condição: só os que obtivessem uma certa pontuação ficariam (claro que os efetivados não iam mandar embora... a lei inglesa garante para uma certa idade, a você não ser mais mandado embora do emprego e morrer ali - acredito que depois de uns 50 anos de idade). Nessa mudança também no mês de abril, como expliquei sobre ser o mês que começa a vigorar a parte de receita e impostos etc etc.
Recebíamos 6 e uns quebrados de libra a hora, passaríamos a receber £8,40 a hora, o que era um salarião! ainda mais pra mim e não queria perder meu emprego de jeito nenhum!

E bem nesses dias foram as férias vencidas de dona Darth Vedrina, muito interessante como ela tirou bem quando virava o ano fiscal... e pensamos que tínhamos nos livrado dela... mas não... a Guerra Fria iria continuar e com mais truculência de ambas as partes... e mudança de prédio...
aguardem...

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