quinta-feira, 15 de junho de 2017

Escatologia - limpar banheiros

Quando você tem duas horas e quatro andares de banheiro você começa a conhecer melhor o ser humano, ou pelo menos os costumes de alguns...

Eu ia do décimo terceiro ao décimo sexto todo dia, às vezes mais se me dessem mais uma hora de trabalho e essa hora fosse no banheiro.
Minha sorte é que num andar havia um chuveiro, era um a menos, porque lavar bem aquele box significava levar tempo e quem ia levar  tempo num lugar que inglês não leva nem em casa? Eu jogava uma água pra dizer que havia sido lavado, porque um box é sempre preciso lavá-lo em enxugá-lo.
Não sei se alguma vez eu falei aqui, mas não era só lavar as coisas, elas precisavam ser enxugadas, em todos os lugares que trabalhei. Aí você volta pro Brasil, vai num banheiro e está todo molhado porque não secam!!! Imaginem minha felicidade...

Aconteceram  coisas bizarras como sempre encontrar a mesma pomadinha jogada no banheiro dos homens, todo o dia, nunca pesquisei no Google pra que servia, mas todo dia estava lá e não no lixo para eu jogar embora.

Estes andares que eu limpava eram compostos por três banheiros femininos, separados, com lavabo próprio, 3 masculinos do mesmo jeito e um para pessoas com necessidades especiais. E este era o banheiro que eu sempre tinha que me preparar psicologicamente para limpar.
Por quê?

Porque pessoas sem necessidades especiais gostam de fazer o número dois ali, é mais privado, né?

E para saber que fez o número 2 é simples: ou está a latrina toda suja ou tem papel higiênico por cima, cobrindo.
Como todo papel de banheiro é jogado na privada (assim eu não precisava recolher isso também), era simples, a pessoa deu descarga, mas não bem dada ou deixava sujo: papel higiênico por cima!
E o banheiro especial era o escolhido como especial por quem não era especial.
Como trabalhei em outro prédio de dia por duas semanas, entendi que quem mais faz isso são os homens, sempre eu via um normal correr para o banheiro especial, queria privacidade e eu já ficava irritada porque daqui a pouco eu ia ter que dar jeito naquilo...

No banheiro das mulheres contava com um repositório, ou qualquer nome que você queira chamar, só para os absorventes e graças a Deus era outra empresa que ficava responsável por retirar. Não tinha muito problema no banheiro das mulheres quanto a isso.

Também nenhum dos banheiros era escrito, ingleses no trabalho, pelo menos, não têm costume de emporcalhar com frases imbecis as portas e paredes de banheiros. E não me lembro de banheiro de outros lugares ter visto também...

A coisa mais engraçada é que os espelhos iam até o teto e até lá iam as marcas de respingo da água... nunca soube como faziam isso... só brincando de jogar água para cima.

No lugar que trabalhei por 2 semanas durante o dia vieram reclamar comigo que o espelho estava todo respingado e eu tinha acabado de sair dele. Um maldito foi ao banheiro assim que saiu e fez a miséria de respingar pra todo lado... um inferno!

No banheiro do restaurante francês eu limpei aqueles mictórios masculinos e era bem nojento também, jogava bastante produto de limpeza e dava a descarga.

Nos banheiros que sempre trabalhava o supervisor veio reclamar que não estava limpo e eu só disse: acabei de limpar, se alguém foi lá, não posso fazer nada (não com essas palavras, mas dei a entender que banheiro é difícil de se controlar e é).
Assim como é difícil de controlar o povo que quer porque quer ir no banheiro que você está limpando.

Um dia eu limpava um banheiro e deixei o outro com o balde na porta para ninguém ir. A mulher chegou e pulou o balde, tropeçou nele, reclamou e eu falei por que ela não foi no outro que ainda não tinha mexido e ela fechou a porta do limpo na minha cara...
Eram 3 banheiros, um eu limpei, outro estava limpando, sobrava o terceiro que a fresca Kgona não quis ir, quis kgar no limpo só pra me dar trabalho. 
Só que não voltei mais ao banheiro, eu tinha duas horas, lembram? Duas horas e mais três andares.

Limpar banheiro não é coisa simples e lá havia as cores dos panos, lembram? Havia o azul para escritório, verde para cozinha e vermelho para banheiro. Eu só usava nesse momento o vermelho e o que dava pra passar só o pano ia, não tinha tempo de pensar em muita coisa e a pia eu limpava com o mesmo pano que a privada. Deveria ser diferente? Acho que sim, né? Mas só havia um pano, não dois. A gente usava muito o papel de limpar as mãos ou  o papel higiênico para limpar mais rápido também.

Tudo isso de luva, a Rutinha usava duas em cada mão, não conseguia colocar uma, quanto mais duas...  mas limpei muita sujeira dos outros sem me acostumar com isso e chegar todo dia no trabalho sabendo os quatro andares de banheiro que teria de enfrentar e um com um chuveiro para me ajudar.
Virei expert em banheiro e hoje sei como é usar qualquer banheiro público, sem que não é bem limpo por falta de tempo e pelo uso contínuo então tomo cuidado a ir em um.
E dou muuuuuuito valor a quem limpa banheiros.

Um comentário:

  1. Não deve ser fácil limpar o banheiro alheio. Mas é um trabalho e como todo trabalho deve ser respeitado.

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