sábado, 16 de julho de 2011

Portuguese Teacher: a médica monstra

Durante o período que morei na região da estação de Dalston Junction, norte de Londres, zona 2,  na casa do Leetle (Doolitle ?) , comecei também a dar aulas de português para estrangeiros.

Tive três alunos nessa época, dois por uma agência de aulas de idiomas.
Todos eram aulas particulares e enquanto a agência ganhava por volta de 34 libras a hora, me pagavam míseras 15 com muito sufoco.

A primeira aluna era uma inglesa, médica, que fazia pesquisas sobre doenças silvestres e iria para moçambique, onde já conhecia algumas pessoas via internet; e pretendia, em um futuro breve, ir ao Brasil para estudo também.
O segundo aluno era um espanhol que parecia um robozinho que só fazia copiar as lições, além de um dia esconder praticamente na minha cara a aliança, mas esqueceu do quadro da noiva...
O terceiro era um inglês, meia-idade, jornalista que vivia com o seu "patner" brasileiro. E falava já bem o inglês, dado o convívio e as visitas ao Brasil.

Bem, começarei pela médica.

Quando fui chamada pela escola de inglês, achei num anúncio no Gumtree, conversei com a dona da agência ou gerente, não sei o que ela era... uma mulher com um sotaque horroroso, que depois de meses vim saber que era sotaque indiano e eu mal entendia a mulher...

Eu dizia a ela: bem, o meu inglês não é tão bom, não sei se poderei dar aulas para turmas básicas e ela só dizia que meu inglês era ótimo - o que eu sei até hoje que não é.

E me passou para ir dar aulas para essa mulher.
Tudo bem, tentei falar com ela que não entendia absolutamente de português, mas tinha como parâmetro o francês, no qual ela era fluente, e o espanhol que o marido estudava e que me atrapalhava...
Sim, começou aí, na primeira aula o marido ficou para ver e me incomodava com palavras em espanhol, parecem o português? Parecem, mas não é português, muito menos o do Brasil.
Aí começou toda a tragédia, perguntei para ela qual o português ela queria: Brasil ou Portugal e ela não sabia (aff!!!) disse que tinha amigos em Moçambique e talvez fosse melhor o português da terra de Camões - só que fui contratada para aulas de português do Brasil - daí, ela pediu para eu conversar por telefone com o amigo moçambicano que disse que a influência dos programas de tv brasileiros era muito grande por lá e todo mundo entende o sotaque brasileiro.
Assim, por responsabilidade do rapaz, a escolha foi o português do Brasil.

Ela foi simpática comigo, o marido não participou mais das aulas - ficou lá só pra não deixar a esposinha sozinha - coitadinha! eu poderia ser um monstro! - e, como bom adEvogado: me julgar.

A partir dessa aula, foram marcadas as datas para as outras, que ela mudava sempre em cima da hora e mudou a maior parte das aulas para o hospital St Mary onde ela trabalhava.

Perdi muito dinheiro com essas mudanças em cima da hora: ela teria que assinar num papel que a aula foi mudada de última hora para que eu ganhasse e para essa mulher assinar?
Caminho que fiz em Rosa

Assinou uma de má vontade e ligou pra indiana maluca que cancelou que eu recebesse o dinheiro, como se eu tivesse agido de má-fé, com meu inglês péssimo, só entendi que não iam me pagar as aulas, com argumentos delas e eu, sem poder me defender, fiquei quieta e aguentei... como pegar um overground de Dalston Juction e quando estava chegando em Richmond, ligando para a mulher dizendo que estava a caminho da casa dela para a aula, ela me diz que não estava em casa e sim no trabalho e que não ia dar pra ter a aula naquele dia...
Voltei no mesmo trem.
Eu ainda teria que descer na estação de Richmond, pegar o metrô, andaria umas 4 estações de metrô e mais uns 15 minutos a pé...

E aconteceram outras vezes... mas eu me acostumei a ligar para confirmar se ela ia estar DISPONÍVEL para as aulas antes de sair de casa ou de um compromisso anterior à aula.

Aos poucos, fui percebendo que as aulas não fluiam, eu estava de saco cheio dela, porque ela sempre se atrasava, sempre desmarcava, NUNCA fazia as lições que pedia para ela fazer...
Ela viajava muito a trabalho, numa dessas, ficou 2 semanas sem aula e voltou toda bronzeada, feliz da vida e nada de ter feito as lições extras que pedi... era difícil dar aulas se eu tinha um inglês minúsculo e se ela era uma aluna relapsa.
No final, cansadíssima e não vendo a hora de terminar aquelas 10 aulas que foram combinadas, ela também já estava de saco cheio, claro, ela deveria achar que a culpa era minha.
Sim, de alguma forma, por não falar bem o inglês a aula não tinha como ser boa, mas eu me esforçava muito e ela, não.
E quando eu ia dar aulas para ela no escritório do hospital ela ficava caçando uma sala para termos aulas e estava preocupada com reuniões que teria ou que já tivera naquele dia... ela não se concentrava e jogava todo o estress em mim.
Além de querer traduzir tudo pelo francês ou usar palavras em espanhol, que com certeza o marido insistia em colocar no vocabulário dela para "ajudá-la" a aprender...

Num desses dias, na casa dela, ela queria saber o que era "temporada" e eu disse que naquele caso era season e ela não acreditou em mim, ela abriu o laptop e foi no google procurar e não achou, porque nem saber procurar o significado de uma palavra, um dicionário on line ela não sabia - ou estava tão estressada com o trabalho que nem isso conseguia fazer.

Fiquei muito, muito, muito chateada porque eu não diria algo que não soubesse e outra: sabendo do meu inglês eu preparava as aulas e procurava todo o vocabulário da aula para fazer o melhor possível. Eu sabia da minha deficiência e tentava driblá-la.
Mas naquele dia, pra mim, não dava mais. As outras aulas ela me tratou como se eu fosse a melhor amiga dela, ela sempre me cumprimentava com beijinho no rosto e como ela havia sido tão rude comigo e parecia tão irritada pensei que ela não faria isso. Tipo, eu me esquivei, dei um oi, mas ela insistiu no cumprimento de beijo para se achar meio brasileira.
Não sei se ela percebeu meu recuo, afinal, não é estranho uma pessoa que te trata mal num dia no outro vir cheia de amor pra dar?
Para mim é estranhíssimo, nunca vi isso no Brasil, só quando a pessoa é extremamente falsa e precisa de algo de você...
Na última aula ela também desmarcou e dei graças a Deus, avisei a indiana maluca - a qual eu sempre pedia pra me mandar emails explicando tudo e não me mandava (era melhor ler do que ouvir o inaudível), e aí a aula também não me foi paga porque a mulher não quis assinar o papel, mas eu, de saco cheio deixei pra lá, não aguentava mais aquilo...
Foi um alívio não dar aulas mais para aquela médica estressada e preguiçosa.

Mas ela me ensinou algo: ela queria saber o que era "aluno" e eu disse "pãpil" e ela não entendia o que eu queria dizer e disse que era como "student" e ela "ah! PIUPOL"  ou seja, toda a minha vida de estudante de inglês no Brasil aprendi errado a pronunciar essa palavra... e confirmei com uma prima minha - acho que já contei isso - que ela também aprendeu a pronunciar pãpil, e ela não estudou nos mesmos lugares que eu...
Ou seja, professor de inglês que nunca estudo fora do Brasil e as escolas vão aceitando só por ter um nível alto só quer dizer: gente que aprendeu errado com outros e que vai se propagando por uma nação inteira de estudantes brasileiros...
A palavra se escreve pupil e nunca mais a esquecerei e o quanto sua pronúncia verdadeira é parecida com people.

2 comentários:

  1. Eu tinha um professor de ingles que falava "bury" do jeito que se lê em português. Na aula, eu resolvi falar p/ ele (em ingles): "vc nunca ouviu aquela música do ramones... i don't wanna be buried in a pet sematary?" e falava a pronuncia correta. ele falou, "nao, nao, é bUry mesmo"... e eu insistindo, "entao vc acha que o cara do ramones tá pronunciando errado? hehehhe".
    a verdade é q professor do brasil nunca vai saber pronunciar todas as palavras e seria bom se eles pudessem dar uma revisada na aula antes p/ saber pronunciar todo o vocabulario direitinho... mas isso nao acontece, nao importa se vc teve aula na cultura inglesa, ccaa ou wizard...

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  2. exatamente! o problema do professor no Brasil é que poucos tem vivência fora do país e os que têm, são pessoas que não são professor e não têm didática, a maioria... e aí, é como vc disse, não revisa vocabulário de aula e não sabe quem é ramones dando aula de inglês!rs professor de inglês tem que ser alguém antenado com a cultura inglesa ou norte-americana, mesmo que pouco, mas tem que ter pra não fazer essas asneiras rs

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